A guerra que ressuscitou a OTAN e uniu a UE

A guerra que ressuscitou a OTAN e uniu a UE

E o tiro saiu pela culatra. Ao invadir a Ucrânia, Vladimir Putin apostou na desunião de uma Europa em crise, mal preparada para enfrentar seus desafios do dia-a-dia, incapaz de lidar com mais uma guerra em suas fronteiras. Os conselheiros diplomáticos e militares de Putin desprezaram a Europa ou, melhor dizendo, só enxergaram a questão do gasoduto Nord Stream 2. Apostaram que Berlim não teria a coragem de suspender a certificação do gasoduto que liga a Alemanha à Rússia. Perdeu. De resto, o próprio presidente russo tratou Macron e Sholz como simples pombos-correio de Washington, o que não são de maneira alguma, mesmo porque os EUA já deixaram claro que não mais pretendem socorrer militarmente o velho continente de forma incondicional.
Esse foi um dos aparentemente muitos erros de Vladimir Putin nesta operação, que deveria ser um mero passeio militar. Soldados russos capturados e filmados afirmaram que, segundo foram informados por seus oficiais, tratava-se de uma simples missão de treinamento.
Putin acreditou que se abria uma janela de oportunidade com a presidencial na França, a chegada ao poder de um novo e inexperiente chanceler alemão e Biden às voltas com as eleições de meio-mandato. Macron, presidente em exercício da União Europeia e Olof Sholz não passariam de fantoches. Ledo engano. Ambos se mostram verdadeiros estadistas. Putin respeitava Angela Merkel, conhecedora do socialismo soviético, da mesma idade que ele, e com quem conversava com frequência. Desprezou o seu sucessor.
A invasão da Ucrânia teve como resultado o inverso do que Putin pretendia, a união da Europa, de toda a Europa, inclusive dos países como Hungria e Polônia, reticentes com relação às diretrizes de Bruxelas.
Ao contrário do que se imaginava, as respostas e sanções mais duras foram adotadas pela UE e não pelos Estados Unidos. Pela primeira vez, a Europa decidiu comprar armas para fornecer à Ucrânia, inclusive aviões de combate. A totalidade dos ativos do Banco Central russo foram bloqueados e todos os bens e investimentos dos oligarcas russos retidos. O comércio com a Rússia, suspenso. O que não é pouco, se considerarmos que juntos os 27 países do bloco são o principal parceiro comercial de Moscou e que quase toda a riqueza dos oligarcas russos se encontra na Europa, em forma de mansões e castelos, iates, carros de luxo, vinhedos, obras de arte, clubes de futebol. A Rússia já sente os efeitos das sanções. Duplamente: 1) o Banco Central russo já anunciou que a situação é dramática e que tenta evitar a asfixia e quebras financeiras, com os bancos sem dinheiro, o rublo derretendo e os juros disparando; 2) com medo de perder suas fortunas, os oligarcas, que são uma das bases de sustentação do regime, voltam-se contra Putin e pedem que abandone a operação. Oleg Deripaska, milionário fundador do gigante do alumínio Rusal, exigiu o fim do “capitalismo de Estado” na Rússia, face à crise provocada pelas sanções ocidentais na sequência da invasão russa. O magnata da mídia, Evgeny Lebedev, usou as páginas de um dos seus jornais para pedir a Putin o fim da guerra. “Presidente Putin, por favor, pare esta guerra“, estampou a primeira página do Evening Standard, de Londres, destacando a imagem de médicos que lutam para salvar uma menina de seis anos vítima do bombardeio de Mariupol, a segunda maior cidade do Donbass. Numa carta aos funcionários do seu fundo ‘LetterOne’, o bilionário Mikhail Fridman denunciou a guerra na Ucrânia, uma “tragédia” que “devastaria” os dois países.
A agressão de Putin teve outra consequência extremamente benéfica para Bruxelas. Deixou escancarada a necessidade de o bloco criar seu próprio sistema de defesa, independente dos Estados Unidos, em torno da arma nuclear francesa. Apesar das várias iniciativas neste sentido, a Europa sempre se mostrou desunida face a essa questão, que parece enfim entrar na ordem do dia. A defesa europeia poderá agora tornar-se uma realidade. A União Europeia volta a ser um interlocutor e um ator da cena política internacional. Não é apenas um apêndice dos Estados Unidos. Quem a vê assim comete um erro crasso. Analistas, especialistas em geopolítica, chegaram a comentar que a invasão da Ucrânia marca o início de uma nova ordem mundial, com dois polos: Estados Unidos e aliados ocidentais, China e Rússia. Era sem contar com o renascimento da Europa.
Certamente, Putin não esperava um pacote de sanções tão violentas, nem muito menos a reação quase unânime do resto do mundo, com exceção de um punhado de militantes da extrema-extrema-extrema esquerda, além da Síria de Bachar el-Assad, da Bielorrussia, do Tadjiquistão e outros satélites de Moscou. Centenas de milhares de pessoas foram às ruas das grandes cidades, logo nos primeiros dias do conflito, para se manifestar contra a invasão da Ucrânia. Os protestos vieram de todo canto. E Putin foi mostrado nú, como o ditador sanguinário que é, um nazifascista que financia a extrema-direita mundial (ler o artigo Ignorância e Má Fé,no Brasil 247), e que já se envolveu em 5 conflitos armados: A segunda guerra na Chechênia, o conflito na Ossétia do Sul e Abjasia, com a Ucrânia em 2014, com a Síria, a quem forneceu armas químicas que seriam utilizadas contra a população civil, e agora com a Ucrânia novamente.
A coragem do povo ucraniano, ao pegar em armas para defender um país que segundo Putin não existia, a determinação e liderança do presidente Zelenski, chamado por Bolsonaro às gargalhadas de humorista, sacudiram o mundo e os europeus em particular. As vozes dos ucranianos decididos a manipular pela primeira vez uma kalachnikov, as imagens dos jovens tentando parar a progressão dos tanques russos com as próprias mãos, das mulheres em fabricar coquetéis molotov, dos velhos mobilizados em transformar sótãos em bunkers, mostraram que a Ucrânia, ao contrário do que vociferam os invasores, é um verdadeiro país, uma Nação com mais de mil anos de história.
Kiev já era o centro do primeiro Estado eslavo, quatro séculos antes de Moscou existir.
Putin não quer apenas reintegrar a Ucrânia à zona de influência russa, quer também exportar o combate ao “marxismo cultural” e à guerra de gênero.
Assim como Bolsonaro, Putin tem o seu Olavo de Carvalho. Chama-se Aleksander Dugin, que se reivindica filósofo, híbrido de neofascismo e stalinismo, teórico da chamada direita iliberal. Dugin viajou o mundo, da Europa aos Estados Unidos, passou pelo Brasil, para manter contato com personagens ligados ao antiglobalismo e à Alt Right. O chamado Duguismo chegou até nós influenciando os protestos de junho de 2013l, quando foi criada a Nova Resistência, anti-lulista, fruto de sua matriz estadunidense, o New Resistance, abertamente pró-Bolsonaro e pró-Trump.
Hoje a Nova Resistência, via twitter, afirma que a Rússia ama os ucranianos e que por isso os bombardeios estão sendo mínimos. Ao contrário, « o outro lado, o lado ucraniano, é o lado do lobby LGBT, do sionismo, do americanismo, da McDonalização do mundo, do desenraizamento cultural, da imigração irrestrita, do fim das fronteiras, da usura, da tirania oligárquica etc. »
A Nova Resistência, no Brasil, é a voz do guru de Putin.
Tudo isso tem seu lado extremamente positivo, pois mostra quem somos, um a um. O mundo que muitos acreditavam totalmente insensível, incapaz de se comover e se mover ao assistir o horror, as violações dos direitos humanos e do Direito Internacional, acordou, chora, tem raiva e se manifesta. Vemos brasileiros que moram na Europa pegar seus carros e atravessar milhares de quilômetros para buscar conterrâneos desconhecidos que fogem da guerra, abandonados pelas autoridades brasileiras.
Enquanto isso a extrema-esquerda, assim como uma parte da extrema-direita, na contramão do mundo, mentem ao afirmar que havia urgência em invadir a Ucrânia para impedir a entrada do país na Otan. Não só não havia negociações em curso como várias autoridades da Aliança Atlântica afirmaram que Kiev não ingressaria na Aliança a curto nem a médio prazo.
É indiscutível que houve uma dinâmica expansionista irresponsável e, portanto, condenável da Aliança Atlântica, sobretudo a partir dos anos 90, quando Moscou estava de joelhos. A Otan, que havia se engajado a não avançar um centímetro em direção da Rússia, se aproveitou para integrar os países do leste europeu. O objetivo da administração Clinton era incorporar a Rússia à Otan. Isso mudou desde 2008. Com relação à Ucrânia, houve inicialmente uma tendência à neutralidade, a exemplo da Suécia e da Finlândia, que embora façam parte da UE não aderiram à Otan. Depois, com a guerra da Crimeia, a adesão à Aliança ocidental passou a ser debatida. Mas ao contrário do que afirmam os defensores cegos de Putin, em nome do anti-imperialismo americano, as discussões em torno da integração da Ucrânia não evoluíram desde então. Por diversas vezes a Otan barrou a candidatura de Kiev por considerar que os parâmetros para a adesão não haviam sido preenchidos. Nada levava a pensar que havia urgência. Dias antes da invasão, o chanceler alemão Sholz reafirmava que não havia perspectiva de entrada do país na Otan. Enquanto isso, a administração norte-americana voltava a aventar a hipótese da neutralidade.
Logo, a adesão da Ucrânia à Otan nem sequer estava na pauta quando Putin levou 150 mil soldados fortemente armados à fronteira.
Ironicamente, o efeito da guerra foi o fortalecimento da Aliança Atlântica, que estava mal das pernas, desorganizada, fragilizada. Em 2019, o presidente francês Macron afirmava que a Aliança se encontrava em estado de morte cerebral; Trump ameaçou tirar os Estados Unidos da Otan e, mais recentemente, em setembro de 2020, o bloco militar foi incapaz de agir num conflito envolvendo dois de seus membros, a Grécia e a Turquia.
Como dizíamos, o tiro saiu pela culatra. Como dizia Yuval Noah Harari, “Putin já perdeu a guerra.”
Em Memória dos Gays e Lésbicas Vítimas do Nazismo

Em Memória dos Gays e Lésbicas Vítimas do Nazismo

Enquanto em São Paulo o deputado Kim Kataguiri, com medo de perder o mandato, visitava o Memorial do Holocausto e fingia “aprender sobre o nazismo”, confessando publicamente que errou ao apoiar a ideia de criação de um Partido Nazista, o Memorial do Holocausto de Paris contava a trágica história dos gays e lésbicas sob o regime de Hitler, para que ninguém mais possa dizer « Eu não sabia. »

Deportados para os campos de concentração, identificados com um triângulo de pano rosa invertido pregado na roupa, os homossexuais foram espancados, estuprados coletivamente e cobaias de experiências nazistas, sobretudo no campo de Buchenwald, o maior em solo alemão, onde atualmente se vê uma placa em memória das vítimas gays.

Essas experiências “médicas” buscavam aprofundar os princípios raciais e ideológicos do nazismo. As mais conhecidas foram as feitas por Josef Mengele, em Auschwitz, que utilizou gêmeos, crianças e adultos, e coordenou experimentos sorológicos em ciganos, tal como fez também Werner Fischer, em Sachsenhausen, para determinar como as diferentes “raças” resistiam às diversas doenças contagiosas. As pesquisas desenvolvidas por August Hirt, na Universidade de Strasbourg, tentaram confirmar a pretensa inferioridade racial judaica.

A homossexualidade foi tornada ilegal na Alemanha em 1871, mas raramente reprimida até o Partido Nazista assumir o poder em 1933. Como parte da sua missão de “purificar” racial e culturalmente a Alemanha, os nazistas prenderam milhares de indivíduos LGBTQI+, a maioria homens gays, vistos como degenerados.
O Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos estima que 100.000 homens gays foram presos pelos nazistas e entre 5.000 e 15.000 enviados para campos de concentração.

Assim como pessoas judias foram forçadas a se identificar com estrelas amarelas, homens gays tiveram que usar um triângulo rosa invertido. Outros exemplos de símbolos foram os triângulos castanhos usados em pessoas de etnia cigana, vermelhos para prisioneiros políticos, verdes para criminosos, azuis para imigrantes, roxos para Testemunhas de Jeová, pretos para pessoas que consideradas “associais”, como prostitutas e lésbicas.

Nos campos de concentração, os homens gays eram tratados com especial severidade, tanto por guardas quanto pelos prisioneiros. “Não havia solidariedade para com os prisioneiros homossexuais; eles pertenciam à casta mais baixa”, escreveu Pierre Seel, um sobrevivente gay do Holocausto no seu livro de memórias I, Pierre Seel, Deported Homossexual: A Memoir of Nazi Terror.

Estima-se que 65% dos homens gays em campos de concentração morreram entre 1933 e 1945.

Mesmo após a Segunda Guerra Mundial, tanto a Alemanha Oriental quanto a Ocidental mantiveram leis homofóbicas. Como resultado, após a libertação dos campos, muitos gays foram novamente encarcerados até o início da década de 1970. A lei discriminatória só seria oficialmente revogada em 1994.

No início da década de 1970, o movimento pelos direitos dos homossexuais começou a surgir na Alemanha. Em 1972, The Men with the Pink Triangle, a primeira autobiografia de um sobrevivente de campo de concentração gay, foi publicada. E no ano seguinte, a primeira organização de direitos gays da Alemanha do pós-guerra, Homosexuelle Aktion Westberlin, resgatou o triângulo rosa como símbolo de libertação.

Desde então, o triângulo rosa invertido que os identificava transformou-se em símbolo máximo do Orgulho Gay, da resistência do movimento LGBTQI+ no mundo.
Embora o triângulo rosa tenha sido resgatado como um símbolo de força e orgulho, é também, em última análise, uma indicação para nunca esquecermos o passado e reconhecermos a perseguição que as pessoas LGBTQI+ ainda enfrentam em todo o mundo. O triângulo continua a figurar proeminentemente em imagens de várias organizações e eventos nos dias de hoje. Desde a década de1990, placas com um triângulo rosa fechado num círculo verde têm sido usadas como um símbolo que identifica “espaços seguros” para pessoas LGBTQI+. Existem memoriais em forma de triângulo rosa em São Francisco e Sidney que homenageiam vítimas gays e lésbicas do Holocausto.

Hoje, essa parte da sinistra memória é contada no Memorial do Holocausto de Paris.

A diretora de atividades culturais do Memorial, Sophie Nagiscarde, lembra que no centro da ideologia nazista os judeus são a primeira obsessão racial, em particular de Adolf Hitler, mas que existiram outras vítimas de primeira hora como as pessoas portadoras de deficiência e os homossexuais.

Outro fato que marcou a curadora da exposição foi a ambiguidade sexual das imagens homoeróticas produzidas por gente como Leni Riefenstahl (cineasta alemã representante dos ideais da estética nazista), a existência de grupos exclusivamente masculinos dentro da Juventude Hitlerista, e a presença de homossexuais notórios nas tropas nazistas. “Acho muito interessante também o fato de que, na ideologia racial ariana, ser homossexual ou lésbica não entrava nos planos do regime nazista. O homossexual era considerado degenerado de um ponto de vista médico da raça ariana”.

A exposição Homossexuais e Lésbicas na Europa Nazista, no Memorial do Holocausto de Paris até 22 de maio de 2022, visa manter viva a memória, numa prova, como se necessário fosse, que ao contrário do que defendem os antissemitas, os judeus não sequestraram o nazismo para benefício próprio. Com frequência os judeus, como faz o coletivo francês Filhos e Filhas de Vítimas do Nazismo, criado pelo caçador de nazistas Serge Klarsfeld, ou como fazemos nós, Judias e Judeus Sionistas de Esquerda, não apenas dividem a história comum do Holocausto como se lançam na preservação da memória das outras vítimas, mortas simplesmente por serem “diferentes ».

Em nome do coletivo Judias e Judeus Sionistas de Esquerda,
Tânia Maria Baibich, Milton Blay, Michel Gherman, Jean Goldenbaum e Mauro Nadvorny

E se não existissem os palestinos

E se não existissem os palestinos

Um dos argumentos preferidos dos antissemitas, de esquerda ou de direita, quando se trata dos judeus, é dizer que eles são apenas parte de uma religião, que não existe um povo judeu, muito menos com direito a uma nação. Na mesma linha de pensamento, os palestinos seriam o povo com direito ao que hoje é Israel.

Claro que neste caso teríamos de admitir a existência de tal povo palestino. Mas será que eles existem? Para poder esclarecer este fato é preciso voltar na história e vamos começar perguntando e eles próprios.

Em 1977, em uma entrevista concedida pelo líder da OLP Zuheir Mohsen, ao jornal holandês Trouw ele declarou: “O povo palestino não existe. A criação de um estado palestino é apenas um meio para continuar a nossa luta contra o Estado de Israel em nome da unidade árabe. Na realidade, hoje não há nenhuma diferença entre jordanianos, palestinos, sírios ou libaneses.”

Em novembro de 2017, a TV oficial da Autoridade Palestina mostrou uma entrevista com o famoso historiador Abd Al-Ghani Salameh sobre os cem anos da Declaração Balfour. Durante a entrevista Salameh explicou que em 1917 não havia um povo palestino. Disse ele: “Antes da Declaração Balfour, quando o governo Otomano terminou (1517-1917), as fronteiras políticas da Palestina como as conhecemos hoje não existiam, e não havia nada chamado de povo palestino com uma identidade política, como conhecemos hoje. As linhas de divisão administrativa da Palestina se estendiam de leste a oeste e incluíam a Jordânia e o sul do Líbano. Como todos os povos da região, (os palestinos) foram libertados do domínio turco e imediatamente passaram para o domínio colonial (britânico e francês), sem formar uma identidade política”.

A razão para esta afirmação parece estar bem clara se voltarmos no tempo. Enquanto os ingleses dominaram o território denominado por eles de Palestina, entre 1920 e 1947, todos os habitantes da região eram denominados de Palestinos; no entanto, os árabes não aceitavam serem chamados desta forma. Em 1919, durante um Congresso de Associações Muçulmanas e Cristãs da região realizado em Jerusalém, foi declarado: “Consideramos a Palestina como parte da Síria árabe, da qual nunca se separou em nenhum momento. Estamos conectados com ela por laços nacionais, religiosos, linguísticos, morais, econômicos e geográficos”.

No ano seguinte em outro Congresso, mas desta vez em Damasco, de cidadãos árabes da Palestina, foi defendida a unidade Pan-Síria. Na verdade, todos os nascidos durante o período do Mandato Britânico da Palestina entre 1923 e 1948 tinham o termo “Palestina” carimbado nos passaportes. Acontece que os árabes ficavam extremamente ofendidos quando chamados de palestinos: “não somos palestinos, somos árabes. Os palestinos são os judeus”.

Em 1920, o Príncipe Faisal, que era simpático à presença de judeus na Palestina, tentava sem sucesso governar a Síria, e terminou por receber de presente o Iraque. Assim nasciam futuros países que não obedeciam a fronteiras naturais, nem mesmo populações afins.

Nesta linha aparece um Mufti radical em Jerusalém que dá início à violência na Palestina. Mohammad Amin al-Husayni, filho de uma importante família muçulmana da cidade, se constituiu em um violento oponente dos ingleses na sua luta pela autonomia da Palestina. Ele se opunha ao estabelecimento de um Estado Judeu no território.

Durante a revolta árabe entre 1936 e 1939, foi um grande instigador de ações contra os ingleses e os judeus. Com o fim da revolta em 1937, perseguido pelos britânicos, fugiu da Palestina, refugiando-se inicialmente no Líbano, depois no Iraque, Itália e por fim chegando na Alemanha Nazista. Lá ele se encontrou com Hitler em 1941 tentando, o apoio dos Nazistas para o pan-arabismo contra o estabelecimento de um estado nacional judaico. Promoveu o recrutamento voluntário de muçulmanos para a SS. Mesmo assim, não teve sucesso.

Finda a revolta, surge um nacionalismo árabe na Palestina, não com a intenção inicial de terem seu próprio país, mas de serem parte da Síria.

Em 1937, o secretário-geral do Alto Comissariado Árabe, Auni Bey Abdul‐Hadi, informa a comissão Peel a respeito da disputa entre judeus e árabes na Palestina que: “Não existe um país chamado Palestina. ‘Palestina’ é um termo inventado pelos sionistas. Não há Palestina na Bíblia. Nosso país foi durante séculos parte da Síria. O termo ‘Palestina’ nos é estranho. Foram os sionistas que o introduziram”.

Anos depois, em 1947, o representante sírio na Assembleia Geral das Nações Unidas, El–Khouri, disse a mesma coisa: “Eu acho que a maioria de vocês, se não todos, sabem que a Palestina era uma Província Síria. Temos laços geográficos, históricos, religiosos e raciais. Não há qualquer distinção entre os palestinos e os sírios”.

Com a partilha da Palestina e a saída dos Ingleses, eclode a guerra em 1948. Após os exércitos árabes invasores serem derrotados, uma parcela de árabes locais que haviam fugido da guerra queria voltar, mas eram considerados quinta coluna pelos que haviam resistido, não sendo, portanto, bem-vindos. Os árabes que permaneceram em Israel durante a guerra e seus descendentes ainda estão em Israel, representando hoje um quinto da população do país. Eles são conhecidos como árabes israelenses. Eles têm os mesmos direitos de judeus e cristãos, com a exceção de que não são obrigados a servirem o exército, podendo fazê-lo se assim o desejarem.

Vejam como é simples resolver o problema do conflito entre palestinos e israelenses. Basta “provar” que o outro não existe. Melhor ainda quando dito por eles próprios, afinal todos temos nossos “Sérgio Camargos”. Esta é a linha de parte da esquerda e da direita em geral. É o que vimos assistindo nestas últimas semanas. Supostos entendidos do judaísmo, antissemitas clássicos, antissionistas e ignorantes da história vem tentando provar a inexistência de um povo judeu. Inexistindo, eles não têm direito a um Lar Nacional. Assim sendo, aquilo que se chama Israel deve ser entregue aos palestinos para formarem seu Estado Nacional.

Todas as informações a respeito da inexistência de palestinos foram obtidas na Wikipédia e em artigos publicados e encontrados na Internet. A pergunta é: e daí?

Exatamente isso. O conflito não vai se resolver com a negação do outro. O conflito só pode ser resolvido com o reconhecimento do outro. É o que vem se tentando fazer há muitos anos, sem sucesso. O processo de Paz está parado há mais de 10 anos. Os lados não se entendem.

Todos aqueles que propagam ideias de destruição do Estado de Israel são inimigos dos dois povos, judeu e palestino. São parte da mesma escória nazista com quem possuem grande afinidade, sejam eles de direita ou de esquerda.

Os dois povos precisam encontrar uma liderança capaz de alcançar um acordo final. Uma solução que beneficie os dois povos. Um projeto que, por mais doloroso que seja, implique em concessões das duas partes. Um plano que permita a reconciliação e a convivência pacífica.

Nós reconhecemos o povo palestino e seu direito a um Estado.

Este é o pensamento de Judias e Judeus Sionistas de Esquerda.

Mauro Nadvorny, Milton Blay, Tania Baibich, Jean Goldenbaum e Pietro Nardella

Entidades judaicas progressistas respondem ao líder do PCO por antissemitismo

Entidades judaicas progressistas respondem ao líder do PCO por antissemitismo

Mais uma vez é necessário que venhamos a público denunciar um caso de ódio antissemita. Desta vez  envolve o sr. Rui da Costa Pimenta, um reincidente, que disse em sua live de 12.02.2022 no canal Causa Operária TV, ao defender a “liberdade de expressão irrestrita”, e apoiar a defesa de Monark acerca da permissão de se fundar um partido nazista no Brasil, que: “(os judeus) tiraram da maleta o seu patrimônio de sofrimento, que é a questão do Holocausto nazista.” Não parou aí e continuou sarcasticamente: “Uma vez que você sofreu uma coisa deste tipo, justifica tudo até o fim dos tempos, né? Serve para encobrir todo tipo de picaretagem”. E prosseguiu com os mais vulgares e tradicionais motes: “O lobby judeu é um dos mais poderosos do mundo capitalista, um dos maiores de tudo” e “Nenhum presidente norte-americano é eleito sem a aprovação deste lobby”. E teve mais: “É o lobby que apoia o Estado de Israel. Um poder no mundo que em grande medida se escora para defender os seus interesses na questão do Holocausto.” “O Holocausto serve como justificativa para os atos políticos do presente.”

Após destilar seu primitivo antissemitismo, Pimenta volta seu ódio aos – como ele mesmo depreciativamente nomeia – “os identitários”. E em uma salada de argumentos que transitam entre a fantasia e o revisionismo, diz: “Os identitários criaram o Holocausto histórico que teria acontecido séculos atrás. Estão tentando construir este patrimônio de sofrimento para impor às pessoas qualquer coisa que passe pela cabeça deles.”

Por fim conclui afirmando que o lobby israelense se une aos empresários e arruína “o programa do rapaz (se referindo ao Monark)”: “Enquanto este pessoal sinistro e perigoso se movimentava, a Esquerda nacional seguia aplaudindo.”

O líder do PCO maldosamente, confunde israelense com judeu, pois assim ataca simultaneamente Israel e os judeus. Em resumo, ele usa de argumentos antissemitas para dizer que apoia a criação de um partido nazista, numa tentativa de evitar que amanhã o alvo seja o comunismo. Poderia ter simplesmente explicado que não há comparação possível entre nazismo e comunismo. Mas fazendo isso teria perdido a oportunidade de expor todo seu antissemitismo.

O negacionismo se vale de desacreditar fatos cientificos, históricos, apoiados em metodologias consagradas por décadas de estudiosos e pesquisadores de inúmeras universidades, para questionar o que denominam o “valor da verdade”. Apoiados em ressentimento, noções validadas por pseudociências, fake news, e impressões tidas como pós-verdade se esmeram em produzir fatos alternativos para confundir e disseminar ódios.

Queremos recordar aqui da obra de Pierre Vidal-Naquet, “Os assassinos da memória”, que elaborou como a “anatomia da mentira” (Vidal-Naquet, 1988, p. 11) se estrutura: ela parte da conclusão e busca fatos que possam fundá-la, e se necessário asfixiará os dados até que confessem o desejado.

Para o adepto do “método revisionista” segundo Vidal-Naquet, não interessa os meios utilizados para garantir suas conclusões: “A mentira pura e simples, o falso, o apelo a uma documentação completamente fantástica”.

Lamentável, Sr. Pimenta. A Causa Operária não merece a liderança de um antissemita que defende um Partido Nazista. Com certeza os companheiros comunistas que foram assassinados por este regime estão dando voltas em seus túmulos.

15 de fevereiro de 2022

Assinam:

Amigos Brasileiros do PAZ AGORA

Associação Cultural Moshe Sharet

Coordenação Apoio Women Wage Peace Brasil

Instituto Brasil-Israel

Judias e Judeus Sionistas de Esquerda

Judias e Judeus com Lula

Judeus pela Democracia

Meretz Brasil

Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil

Rede iberoamericana de Apoio ao Women Wage Peace

O nazismo e o absurdo da liberdade irrestrita

O nazismo e o absurdo da liberdade irrestrita

Hélio Schwartsman, membro do Conselho Editorial do jornal Folha de S. Paulo, voltou em sua coluna do último dia 10 ao tema da liberdade irrestrita de expressão, para relativizar a manifestação de Bruno Monteiro Aiub, aliás Monark, em defesa da legalização de um partido nazista. Limitou-se a ver no YouTuber « bêbado » uma « assustadora inabilidade argumentativa, além de ignorância em relação a nazismo e antissemitismo ».

Provavelmente em tom de ironia ou para tornar o texto mais leve, o colunista da Folha escreveu que enfim podia comentar um assunto em que, por ser judeu, tinha « lugar de fala ». Errou. O nazismo não entra nessa categoria, pois apesar dos 6 milhões de vítimas judaicas, não se trata de um assunto exclusivamente judaico. Negros, ciganos, homossexuais, comunistas, pessoas com deficiência e outras minorias foram perseguidas e assassinadas por não serem arianos puros. Por isso o nazismo deu criação à figura jurídica do « crime contra a humanidade ».

O primeiro julgamento por crimes contra a humanidade foi o Julgamento de Nuremberg, no qual foram sentenciados os líderes da Alemanha Nazista.

O parágrafo 6 da carta do Tribunal Militar Internacional assim definiu os crimes contra a humanidade:

« Assassinato, extermínio, escravidão, deportação e outros atos desumanos cometidos contra a população civil, antes ou durante a guerra, assim como perseguições por motivos políticos, raciais ou religiosos em execução ou relacionados com qualquer crime dentro da jurisdição do Tribunal, com ou sem violação da legislação nacional do país onde foi perpetrado.”

Portanto, por ser o nazismo crime contra a humanidade, a vítima é a humanidade como um todo. O nazismo diz respeito a todos, a começar por aqueles que sofreram e sofrem na própria carne a discriminação.

Schwartsman se diz judeu ainda que relapso, não acredita em Deus e não deve ter entrado numa sinagoga mais do que meia dúzia de vezes em toda a vida, mas gosta de literatura iídiche e de “guefilte fish » (carpa recheada que se come nas festas judias). Mais importante, perdeu grande parte da família no Holocausto.

Em outras palavras, ele é exatamente como eu, você e outros muitos milhões de nós. De tão banal, essa descrição nem merecia estar na coluna do jornalista.

Mas de qualquer forma o essencial não está aí. Está no fato do articulista ver nas palavras de Monark e na chancela do deputado Kim Kataguiri simples ignorância. Se assim fosse, poderíamos, por que não, ver apenas ignorância nos comentários nazifascistas do presidente da República, seus filhotes e asseclas. E desta maneira, desclassificar seus crimes.

Defender a legalização de um partido nazista, com direito à verba pública, captação de recursos e acesso aos meios de comunicação para convencer eleitores de que a democracia deve ser amputada e os direitos civis negados aos negros, pessoas com deficiência, judeus, muçulmanos, LGBTQIA+, nordestinos não constitui crime na visão dos que defendem a liberdade de expressão irrestrita. Mesmo se esse partido, como todos os demais, lute pelo poder, com a diferença de que os de extrema-direita têm por objetivo acabar com a democracia (o que aliás tenta fazer Jair Bolsonaro).

Devemos admitir a existência legal de um partido que ataca a democracia? Se a resposta for sim, onde fica o Estado de Direito, razão primeira da própria democracia?

Não podemos admitir a legalização de um partido que tenha em seu programa a discriminação e o extermínio.

Na França, François Mitterrand, para não levar uma lavada eleitoral histórica, adotou o sistema de voto proporcional. Isso fortaleceu o Front National, de extrema-direita, que entrou no Congresso e nunca mais saiu da cena política francesa, chegando por duas vezes ao segundo turno da eleição presidencial. Agora, Marine Le Pen tem chances de repetir o feito e tentar, no próximo 24 de abril, se eleger presidenta da República. Enquanto isso Eric Zemmour, com um programa discriminatório, islamofóbico, xenófobo e revisionista, entra na disputa eleitoral diante do espanto dos democratas. Tarde demais, a República abriu a caixa de Pandora e hoje não sabe como fechá-la.

Na Alemanha, o AfD, Alternativ für Deutschland, de orientação neonazista, está presente do Bundestag. Na Grã-Bretanha, o partido de Nigel Farage, Independência do Reino Unido, de extrema-direita, conseguiu impor a sua pauta anti-imigração, que desembocou no Brexit, do qual hoje os britânicos sofrem as consequências e se arrependem amargamente.

Na opinião de Schwartsman ou até de outros comentaristas esquerdistas, o Estado não tem o poder de decidir quais são os discursos aceitáveis e quais não são. Isso cabe à sociedade, através do voto. Esses ignoram, propositalmente ou não, que o voto é a percepção que o eleitor tem naquele momento e não a realidade. São contra a democracia representativa.

Fazem verdadeiras acrobacias para explicar que defender a legalização de um partido nazista não significa defender a ideologia nazista. Como se fosse possível uma agremiação nazista não ser nazista. Compara-se o “direito de defender a legalização do nazismo” com o “direito de defender a legalização das drogas”.

Na tentativa de explicar o inexplicável, chegam a lembrar o absurdo de Ionesco ao reconhecerem o direito de um indivíduo de legitimar e patrocinar o antissemitismo.

No que a proposta de legalização de um partido nazista seria diferente da defesa de criação de um partido da pedofilia, da violência doméstica, da homofobia, da misoginia ou até do genocídio?

Embora aqueles que defendem a liberdade irrestrita se digam anti-Bolsonaristas, eles estão de fato com Jair Bolsonaro, pois em nome de um mínimo de coerência teriam de reconhecer o direito do presidente da República declarar-se a favor da cloroquina no combate à Covid 19, mesmo sendo responsável indireto por dezenas de milhares de mortes (inclusive segundo estudos da Universidade de Cambridge), ou ainda no direito à defesa de um torturador, da ditadura, do fechamento do Congresso, do assassinato de 30 mil pessoas, da desobediência à Corte Suprema.

Um absurdo!

Num outro artigo publicado na mesma Folha de S. Paulo em novembro de 2002, sob o título “O nazista e o pedófilo”, Schwartsman afirmava que, pelo mesmo princípio da liberdade irrestrita de expor ideias, não ficaria constrangido em defender também um pedófilo que resolvesse manifestar publicamente sua tara, desde que não tentasse colocá-la em prática.

Os defensores da liberdade irrestrita de expressão negam assim o poder avassalador da propaganda, que no caso do Monark deve ser chamada de apologia. Talvez considerem Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Hitler, « inocente” porque nada mais fez que defender uma ideia chamada nazismo.

Ora, a palavra circula e influencia as pessoas.

Aqueles que defendem a liberdade de expressão irrestrita não reconhecem o peso da palavra, assim cantada por Zeca Baleiro:

O peso da palavra dita, escrita

O peso da palavra grita

Palavra até parada, agita

Qual o peso da palavra?

Qual o peso da palavra?

Amor pra quem se sente só

Carinho pra quem abandona

Respeito pra quem teve dó

Luz pra quem te trouxe à tona

Telhado pra quem tava na chuva

Dois palitos pra quem vive de lona

Auto-domínio pra quem não se curva

E chave pra quem tá na redoma

Qual o peso da palavra?

Liberdade pra quem vive o vício

Destruição pra quem construiu

Ódio pra quem viu o míssil

Vida pra quem resistiu

Qual o peso da palavra?

Vagabundo pro trabalhador

Burro pro analfabeto, esperto pra quem estudou

Sabedoria pra quem sabe viver e nada pra quem desperdiçou

Qual o peso da palavra?

Divisão pra quem tem muito, pouco pra quem tem nada

Salário pra quem vigia a riqueza inalcançado

Calma pra quem controla a plebe tão conformada

O direito de defender a legalização do nazismo deve ser tratado como o direito de defender a legalização do racismo. Não faz o menor sentido, não é possível tolerar esse tipo de disparate.

JUDIAS E JUDEUS SIONISTAS DE ESQUERDA

Tânia Maria BAIBICH, Milton BLAY, Milton, Adriana DIAS, Michel GHERMAN, Jean GOLDENBAUM, Mauro NADVORNY, e Pietro NARDELLA-DELLOVA.