Dos males humanos, a depressão é a pior das doenças. Existe um tabu imenso que se reflete no imaginário humano em relação às doenças psíquicas. É muito mais aceitável que se tenha problemas cardíacos, renais, hepáticos, que inclusive possam resultar em transplantes, ou mortes, mas os males da mente, esses devem ser escondidos no mais profundo baú, em locais inacessíveis, para que ninguém tome conhecimento, porque sofrer da mente é causa de vergonha, representa fraqueza. Quando uma pessoa assume seus problemas mentais em seu meio social, ela passa a ser estigmatizada, desacreditada, passa a carregar uma marca de vergonha. Os seus semelhantes não conseguem ser solidários com essa pessoa, pelo contrário, buscam a distância máxima, e passam a extirpar o doente da sociedade.
No ambiente de trabalho, essa pessoa é alvo de olhares de dó, de críticas, de medo, menos de compaixão. O depressivo geralmente não apresenta um motivo externo para a sua dor, porque é uma doença interna, e independe de fatores externos. Se o doente está numa situação global favorável, se tem uma família, um cônjuge, um bom emprego, se mora bem, então a pergunta não cala nunca: por que essa pessoa está a fazer drama? E surgem as falas equivocadas, sem qualquer embasamento científico, e dessa forma, o doente fica cada vez mais só.
Eu já fui vítima desse mal, e passei exatamente pelas situações citadas, e eram perguntas que eu ouvia diariamente, perguntas que eu não tinha como responder, porque também eu não conhecia as respostas. Hoje, anos após essa vivência, tenho em mim um novo olhar, um entendimento muito mais amplo, e apesar de admitir ser extremamente difícil conviver com um depressivo, ainda assim, sei que tenho condições de fazê-lo, pois já trilhei esse caminho, e tenho gratidão pelos anjos com os quais pude contar durante essa difícil jornada.
Como profissional da saúde, eu realmente sonho com o dia em que as doenças mentais sejam vistas apenas como doenças, e que sejamos todos capazes de acolher o doente que está próximo de nós, esquecendo de nosso ego, e nos doando em humanidade.
Há um fenômeno curioso, descrito no jargão médico como a “lei de Velpeau”, e na visão junguiana como “sincronicidade”, onde coisas de características muito semelhantes e incomuns ocorrem aos pares, ou em trios. Entre ontem e hoje, um claro exemplo deste fenômeno se abateu sobre o Brasil, curiosamente vindo de duas juristas e tratando de coisas distintas mas que compartilham o fundo comum do discurso disruptivo, aquele que se destina a corromper os alicerces das comunicações e dos significados que sustentam a substância abstrata da civilização.
E do que é feita essa substância? Basicamente, do conjunto de relações de confiança. Explico. Quantas vezes você leu ou soube de alguém que observou a queda de uma maçã de sua árvore e iniciou um conjunto de experiências, medidas e formulações teóricas para que se entendesse o fenômeno da queda e as leis da física universal que a determinam? Sabemos apenas de dois episódios, o clássico de Isaac Newton e a vultosa revisão de Einstein, que embora tenha rompido radicalmente com seu antecessor em suas formulações, não causou mudanças práticas nas dimensões em que habitamos como humanos. Em outras palavras, a teoria da gravitação de Newton continua a ser usada na prática do dia a dia, por que é simples e atende às necessidades mundanas.
Assim, ainda que saibamos que a teoria de Newton não é uma explicação válida para o universo das dimensões astronômicas, ela nos abastece plenamente para calcular tudo o que precisamos enquanto humanos terrestres. Temos o conhecimento de tudo isso, e sabemos que podemos confiar, pois é algo amplamente aceito e facilmente verificável, sendo que não temos notícia de que as pessoas ficam observando maçãs caindo e quebrando a cabeça novamente para recriar a teoria ou reverificá-la.
Na minha serara, a prática médica, também valorizamos o conhecimento acumulado pela experiência científica casado com a vivência empírica do dia-a-dia, que constantemente nos informa que as diretrizes da ciência funcionam na prática clínica, de modo que uma boa teoria refletida em bons experimentos cujos resultados são bem conhecidos e facilmente alcançáveis não são cotidianamente reverificados, dado que não se esperam resultados novos com a mera repetição de procedimentos.
Já a prática política, no que tange ao campo da opinião, dos enunciados e das propostas, é hábito saudável que se mantenham no campo dos grandes contratos sociais, entre eles, a Constituição do país, se for o caso de uma república constitucional, ou ao conjunto de valores acumulados pelas jurisprudências e outros códigos. Em síntese, toda sociedade que tem como pretensão a sua evolução, só pode fazê-lo com a confiança nos seus alicerces éticos, morais, científicos, históricos, jurídicos e filosóficos. O emprego de proposições e valores que desarmonizam esses bens abstratos podem sim, em caso de ressonância com algumas estruturas sociais, provocar o solapamento de toda uma sociedade, ou, no mínimo, um trauma grave com enormes perdas humanas, inclusive. Não podemos nos esquecer que todas as catástrofes sociais do século XX – e de outras eras – tiveram como fundamento o domínio das palavras e dos significados. Não se conduz qualquer agrupamento humano sem esse domínio.
Janaína Paschoal e Lindôra Araújo, em um espaço de 24h nos deram uma aula sobre como contribuir para o solapamento das nossas estruturas abstratas que nos mantêm como sociedade. A primeira, em um tweet de hoje, assevera: “Há muitos brasileiros que não concordam com as verdades eleitas pelos formadores de opinião, que são muito fortes, mas não são a maioria! Aliás, penso que o Brasil seja um raro exemplo de país, em que a ditadura é feita pelos que NÃO ganharam a eleição”. A segunda, em parecer exarado pela Procuradoria Geral da República, desincrimina o delinquente da República na sua conduta contumaz de não usar máscaras e promover aglomerações em meio à pandemia de COVID-19, sob a alegação de que “não existe base científica suficientemente robusta que afirme com grande grau de segurança que as máscaras impedem ou diminuem o contágio pelo coronavírus”.
Janaína Paschoal corrompe gravemente e em pouquíssimas palavras, com seu viés patologicamente personalista e autoritário, parte do pressuposto que em uma democracia o eleito pode tudo ao dizer que há uma ditadura dos não eleitos. Nesta formulação sofismática, ela claramente reclama da falta de liberdade dos eleitos imposta por o que ela chama de “não eleitos”, insinuando sutilmente que cada eleição pode (ou deve) fazer de tudo, induzindo o incauto a acreditar que a democracia, regime de instituições estruturadas, estruturantes e estáveis, não é um pressuposto para o exercício de poder por parte de seus eleitos. Quer ela fazer o leitor crer que a vontade do eleito pode facilmente se sobrepor ao conjunto de experiências vividas e praticadas pela sociedade. Assim, chama de “ditadura” o conjunto de forças da sociedade que na realidade são conservadoras, ou seja, as forças que tentam preservar o patrimônio democrático construído até o momento. Aqui jaz um imenso ato corruptor, aquele que pretende através da linguagem sofismática atribuir um valor minoritário, autoritário e individualista a um conjunto que é o que melhor representa o coletivo histórico desenhado por legisladores e cumprido por governantes anteriores, ainda que com qualidades e defeitos que guardam boa distância de danos estruturais graves. O que Janaína nos mostra na realidade é o seu inconformismo com a crítica feita ao seu eleito, que como ela, nutre uma visão peculiar, infantil, paranóica e autoritária de mundo, exibindo pornograficamente a sua estreiteza de visão e sua incapacidade de compreender a nossa Constituição e nossas experiências como nação, dado que não compreende que a Carta Magna é a nossa grande e permanente eleição; que o STF é a instituição que a guarda e que deve ser respeitada; que a ciência é o principal norte de qualquer política pública na nossa civilização, para dizer o mínimo.
Já a Dra. Lindôra, não tão sofisticada em seus métodos e linguagem, ainda que abuse de forma obscena do literalismo na sua compreensão da lei no seu parecer que pretende inocentar um delinquente, (lembrando mesmo o episódio onde o filho de um certo ministro foi absolvido de uma omissão de socorro dado que a vítima morreu no acidente, assim descaracterizando juridicamente a omissão, que só se aplica a vivos!), tenta convencer a sociedade que todo o conhecimento que temos sobre a propagação de vírus respiratórios e suas respectivas medidas de contenção, por mais que secularmente testadas, praticadas, aprovadas e comprovadas, não é válido simplesmente por que ela, com sua douta autoridade de sub-procuradora geral da República, determinou que as informações científicas que temos não são suficientes para caracterizar como infração o seu não uso, ainda que a lei diga o contrário. Em apertada síntese lógica, Lindôra afirmou que a lei é ilegal, tentando justificar sua posição com farta argumentação sofismática e falaciosa.
Tudo isso na mesma semana em que o delinquente da República afirmou que “nossa Constituição é comunista e que isso tem que acabar”, dando a clara impressão de uma ação articulada, o que não seria implausível, dado que estas três pessoas partilham do mesmo projeto de destruição do estado democrático de direito, ardilosamente usando as estruturas constitucionais da República para atingir as suas posições de poder e seus respectivos lugares privilegiadíssimos de fala.
Se há algo a ser aproveitado neste cenário é a compreensão clara dessas mentes doentias, imaturas, deficientes e perversas, eventualmente desonestas (até por que ignoram o significado de honestidade) desfilando agora e à nossa porta, à imagem e semelhança pelo menos simbólica dos desfiles nazistas que adoeceram a sociedade alemã na década de 1930.
As atuais 570.000 mortes e a terra arrasada deixada pela pandemia são indissociáveis desse projeto perverso que infelizmente veio como consequência natural e planejada das manipulações iniciadas já à época do “mensalão” e que se multiplicaram pelo lavajatismo, expressões do moralismo raso que fomenta os projetos fascistas. Caberá aos historiadores, sociólogos, antropólogos e cientistas políticos a tarefa de ligar todos os pontos desse mapa do inferno.
O patético depoimento da Dra. Nise Yamaguchi na CPI da COVID-19 ocorrido ontem no senado é uma síntese de rara riqueza sobre o período que vivemos. Muito mais que um retrato do movimento dos discursos disrutptivos dos quais o atual governo é useiro e vezeiro, consolida-se mesmo como o discurso intempestivo de uma época onde o ego exercia influência desproporcional no progresso de carreira de um profissional da medicina. Explico. Venho de uma formação que marcou um final de era na medicina, era na qual as condutas médicas que levavam alguém à fama, não obstante a diversidade de talentos que a profissão exige e que passam longe do puro conhecimento científico, era a famosa “experiência pessoal” ou “opinião” sobre o assunto. Advogando em defesa da hoje tão temida “opinião”, assevero que opinião é uma categoria intelectual que faz uma escolha dentro de um campo de validade construída por diversos níveis de conhecimento sobre um assunto, e não aquele juízo que para sua admissibilidade exige o solapamento de todo o edifício conceitual e experimental prévio, que é o que aqui chamamos de discurso destrutivo.
Confesso que durante o curso médico cheguei a bater continência ao modelo egóico de conhecimento e prática médica, mas ao mesmo tempo, acuso o aparelho formador (que ultrapassa as fronteiras das escolas médicas) de não me prover o ferramental necessário para que o personalismo pudesse ser identificado e removido dos radares do conhecimento. Posteriormente, na pós-graduação que fiz na área de Histologia na USP pude me alimentar dos alicerces filosóficos e metodológicos da produção científica, e ainda mais posteriormente, já no início do meu amadurecimento como médico aos tardios 16 anos de formado, comecei a estudar e aprender sobre a medicina baseada em evidências, à qual dirigi muitas críticas ainda válidas (não à sua natureza, mas ao seu mau uso), mas que sem a menor sombra de dúvida é o norte de qualquer profissional de saúde que assim queira ser chamado.
De fato, a capacidade da medicina baseada em evidências de prover respostas precisas e definitivas é pequena como uma formiga e lenta como um mastodonte. Mas uma vez que a pergunta correta e metodologicamente bem organizada obtém uma resposta, os céus fazem uma festa, da qual, ainda que na condição de míseros mortais, podemos participar e desfrutar.
Mas há lugar para festas também no inferno, quando determinadas criaturas em determinadas circunstâncias, como a da atual pandemia de COVID-19 e o atual pandemônio político resolvem dar lugar às forças atávicas das falsas e frágeis mitologias que na realidade são meras idolatrias, como bem lembra o Prof.Dr. Ricardo Timm de Souza em sua magistral obra “Crítica da razão idolátrica”, que recomendo a todos.
O momento atual foi propício para que túmulos de um passado de pedestais que muitas vezes serviram mais como cadafalsos aos seus imponentes e eretos próceres se revirassem e fizessem assim ressurgir sob as vestes da farsa esses verdadeiros zumbis que hoje protagonizam o discurso destrutivo que parece exercer mesmo um efeito hipnótico e bestificante sobre seus portadores. Sim, por que duvido que cada um de nós tenha uma boa teoria sobre o que faz pessoas como a Dra. Nise Yamaguchi, que carrega o peso de tradições de sua própria cultura familiar e étnica, da Universidade de São Paulo, do Hospital Albert Einstein e talvez de outras que eu aqui desconheça mas não menos respeitáveis, derrapem na curva da estrada da vida nas proximidades de seu ápice e exponha ao mundo a ridícula cena de rolar montanha abaixo, colidindo com todo o tipo de obstáculo no caminho, deixando um rastro de pedaços e partes tão miseravelmente reduzidos que talvez ao mais experimentado perito não permita identificar o que ali aconteceu.
A questão fundamental a ser aprendida no momento, é que pessoas com esta incrível capacidade propriamente pornográfica de expor suas entranhas mentais existem, e ocupam espaços que não conseguiram se proteger de um “vírus” ardiloso e oncogênico (homenageando aqui a especialidade da nossa “homenageada”) transportado nos seus cérebros. O cenário de barbárie atual, bem análogo ao quanto produzido na década de 1930 na Alemanha, jamais seria possível sem esse “vírus” dormente em segmentos da sociedade, que de tempos em tempos e em lugares diferentes do planeta desperta do seu túmulo como o mito do vampiro e põe em ação o arquétipo do sedutor sugador de sangue humano.
A Dra. Nise nos alerta para o fato de que a ciência e as instituições não bastaram, nas últimas 4 décadas pelo menos, que comigo foram compartilhadas em termos de tempo e lugar na profissão médica, para vacinar a sociedade contra tipos egóicos que na hora certa e lugar certo irão se agarrar a algo que nossa consciência moral mediana nos mantém bem distante para alcançar a fama e o poder. E a falta dessa “vacina”, por sua vez, é certamente por ação deliberada de um grande movimento negacionista anterior cujas sementes agora frutificam. Mas são frutos de árvore podre.
Advertência: o texto abaixo reflete a opinião do autor e não pretende monopolizar qualquer verdade, e sim, através da experiência pessoal vivida, contribuir para o debate e a compreensão dos temas abordados. Críticas aos argumentos são bem-vindas, críticas pessoais nem tanto, para os fins desta matéria.
Vamos sintetizar alguns pontos para melhor compreensão do debate em torno da atuação da ANVISA no campo das vacinas contra a COVID-19.
1) A Rússia começou mal com a Sputnik-V. Fez o registro em sua agência sanitária sem testes de fase 3 e propagandeou isso pelo mundo na voz de Putin. Aliás, o próprio nome Sputnik resgata a simbologia da guerra-fria. Mau caminho.
2) A Rússia não tem sido transparente, na voz do Instituto Gamaleya e isto vem sendo apontado em diversos locais.
3) A Rússia nunca foi um exemplo de transparência. Mas apontar a falta de transparência com base na negativa de se fiscalizar, filmar, fotografar e interagir com todo o aparato técnico-industrial do Gamaleya não me parece honesto. Duvido que qualquer indústria de biotecnologia compartilhe de boa vontade todos os detalhes de seus processos.
4) Foi relatada a presença de adenovírus replicante na Sputnik-V. Fato.
5) Tudo isto faz da vacina Sputnik-V uma vacina ruim? Aparentemente não. Até o momento, pelo menos por parte de Argentina, Chile e México, para nos atermos aos vizinhos mais próximos, não foram reportados efeitos adversos importantes desta vacina. O que podemos afirmar sem muita margem para equívocos é que os moldes técnicos e comerciais da Rússia não se amoldam aos do lado de cá, por sua vez, muito guiados por políticas do FDA, não necessariamente os melhores se examinarmos os problemas que os EUA enfrentaram com fármacos nas últimas décadas.
6) O que eu penso sobre a Sputnik? Penso que é uma vacina no mínimo tão boa quanto qualquer outra. Não fosse assim, já saberíamos pela quantidade de doses já aplicadas no mundo. Se eu tomaria esta vacina? Sim.
Sobre a ANVISA
1) A ANVISA é um órgão de estado com poder e dever de regulamentar tudo aquilo que se refere ao mundo sanitário de nossa República, com poder de polícia.
2) A ANVISA adota parâmetros técnicos rigorosos e tem um corpo técnico altamente experiente e qualificado.
3) O conjunto de normas e regulamentos é fruto de escolhas de humanos organizados em coletivos, e portanto, é uma instância política que usa a ciência como ferramental de trabalho, como deve ser. Mas a ciência não faz escolhas, ela informa sobre o melhor conhecimento disponível. As pessoas fazem escolhas.
4) A ANVISA, infelizmente, não é uma agência independente, como se desejaria. Ela sofre pressões políticas e administrativas de seus dirigentes, indicados pelas instâncias políticas eleitas pelo voto popular. No momento, a ANVISA é presidida por uma indicação pessoal do Presidente da República, no caso, e de forma inédita, um militar e fanático religioso, sem experiência no campo sanitário. Não há que se duvidar que lá está para cumprir um papel político e prestar contas ao seu chefe.
5) Até hoje, o Brasil não enfrentou, desde o nascimento da ANVISA, uma catástrofe sanitária do porte da pandemia de COVID-19. Assim, enquanto “exército”, nunca enfrentou uma guerra. E a pautar-se pelos regulamentos elaborados em tempos de paz e para a paz, não está preparada para a guerra.
6) A ANVISA acerta sempre? Tem o monopólio da verdade? Seus regramentos oferecem sempre o melhor para toda a sociedade? Como médico atuante, penso que nem sempre, com todo o respeito pelo patrimônio já construído.
7) A ciência acerta sempre? Tem solução para tudo? Evidentemente não. A ciência só responde ao passado, sobre o que já foi feito e estudado. Há situações onde o futuro demanda respostas que a ciência pode no máximo prever com alguma margem de precisão. Prova disso é que muitos medicamentos e produtos médicos desenhados e aprovados por agências reguladoras foram retirados do mercado depois de caírem no “mundo real”, algo bem maior do que o pequeno campo de provas que fomenta a informação científica. Uma coisa é testar alguma coisa em 30.000 casos ou pessoas. Outra coisa é o produto cair no mercado de milhões de consumidores. Então, as agências falharam ao autorizar produtos que depois foram banidos? Não. Fizeram o certo. Aprovaram com a informação DISPONÍVEL no momento da aprovação e perseguiram resultados posteriores com a VIGILÂNCIA.
A ANVISA criou problemas só para a Sputnik-V? Não. Todas as vacinas que fizeram submissões não obtiveram o resultado positivo de início. Isto causa estranheza, pois, instituições como o BUTANTAN certamente sabem como fazer a requisição. As sucessivas idas e vindas mostram que algo não dá certo na comunicação da ANIVSA com as indústrias.
9) A ANVISA errou com a Sputnik? Tecnicamente penso que não, mas politicamente sim. Alegam falta de informação. Ora, com falta de informação hábil o correto é a REJEIÇÃO “DE PLANO”, ou seja, sem análise de mérito. A ANVISA fez análise de mérito com informação incompleta.
10) A presença de vírus replicante é justificativa para a rejeição? Ao meu ver, em se tratando de um adenovírus humano conhecido que será injetado em território diferente de seus alvos naturais, não representa ameaça significativa à saúde humana, o que se verifica pelo fato de não haver relatos de efeitos adversos importantes em milhões de vacinados.
11) O que deveria ser feito? Na minha modesta opinião, já que no documento oficial da ANVISA consta o termo “NÃO RECOMENDAMOS A IMPORTAÇÃO”, a vacina deveria ser importada por quem se interessar, pois “não recomendação” não significa proibição. Só não se pode fazer o que a lei proíbe, no estado democrático de direito. Eu importaria a vacina e a submeteria a um estreito programa de vigilância farmacológica, produzindo assim os estudos e informações que talvez os Russos, por excesso de confiança no seu produto, ou por terem uma política de segurança mais frouxa que o FDA (que norteou a ANVISA).
12) Devemos confiar na ANVISA? Sim, mas não como bem absoluto e sagrado. Certamente, para o momento que vivemos, a ANVISA vem trazendo atrasos a problemas mais que urgentes. Se certos procedimentos no momento representam RISCOS, o atraso representa MORTE CERTA, e como disse anteriormente, a ANVISA não tem protocolo de guerra, só de paz.
13) Por último minha sentença de condenação à ANVISA. Enquanto poder de polícia sanitária, a ANVISA deixou de cumprir o seu papel na CENSURA PÚBLICA, VEEMENTE, acompanhada de INTERDIÇÃO dos poderes da República que promoveram, propagandearam e comercializaram o KIT COVID, que certamente produziu prejuízos irreparáveis em termos de VIDAS, custos pessoais e danos aos sistemas de saúde do Brasil, constituindo-se como o maior crime sanitário de nossa história.
Conclusão:
“Tudo é física. O que não for física, pertence ao campo da política”. (o autor)
“That’s all physics. If it’s not physics, it’s about politics”.
Médico especialista em Clinica Médica e Psiquiatria Clínica, nascido no Rio de Janeiro em 20 de julho de 1960. Formado médico em 1984 pela Santa Casa de SP. Ex-médico do SUS por 25 anos, ex-delegado do CREMESP em S.Bernardo do Campo e Diadema (1996-2001) e ex-membro do Conselho Municipal de Saúde de S.Bernardo do Campo (1998-2009). Dedica-se hoje à medicina em consultórioparticular, ao ativismo político e ambiental, sendo também escritor.