Noite de Natal: Entre a Ignorância e o Antissemitismo

Noite de Natal: Entre a Ignorância e o Antissemitismo

Por Charles Schaffer

Uma resposta à publicação de 27 de dezembro de 2024, no site Poder360, de Antonio Carlos de Almeida Castro, Kakay: https://www.poder360.com.br/opiniao/noite-de-natal-entre-a-melancolia-e-a-tristeza/

Pois, senhores, a política brasileira, e, em especial, a política baiana de hoje, inverteu esse princípio elementar. Em lugar de verdade, verdade e mais verdade, mentira, mentira e mais mentira: só mentira, mentira e mentira. Mentira nas instituições. Na administração, mentira. Na tribuna e no telégrafo, e nos jornais, mentira, rementira e arquimentira.”

— Rui Barbosa, A Imprensa e o Dever da Verdade, Edições do Senado Federal, Vol. 272, pág. 43.

 “Ao derredor do poder formigueja a multidão venal, e os governos, se algum embaraço topam, é em dar vazão ao número de mascates da palavra escrita.”

— Ibidem, pág. 25.

 

Dois dias após o Natal, Kakay traz um texto emotivo e melancólico sobre sua cidade materna, Patos de Minas, em Minas Gerais. Fala de suas memórias de aconchego e segurança, conversas sem fim, poesia e serenatas. Uma época sem televisão, de um Natal de alegrias e tristezas injustificadas.
O presépio montado com cuidado pela mãe para um Cristo imerso em um bercinho de palha. Um texto sereno para uma cidade serena. Em sua escrita, como sempre, Kakay cativa o leitor com seu calor humano. Não obstante, interrompe a sua exposição singela para inaugurar um tributo ao governo mais antissemita da história da República no Brasil, desde Getúlio Vargas, que deportou Olga Benário para morrer nas câmaras de gás nazistas, ela e seu filho.
Cita que, “segundo a ONU”, cerca de 14.500 crianças foram mortas na Faixa de Gaza. Por ignorância e viés de confirmação, não faz referência ao fato de que a ONU é fonte secundária e que replica, sem checar, os números do “Ministério da Saúde de Gaza”, que é o próprio Hamas. A fonte primária desses números, o Hamas, é mencionada em letras pequenas, em nota de rodapé. Segundo essa fonte, nenhum terrorista morreu, o que sugere uma falta de pontaria imensa de Israel, ou extrema, que teria como alvo as cabecinhas das crianças.
A própria ONU já revisou os números para 3.500 crianças. Existem apenas duas fontes primárias sobre o conflito em Gaza: o tal “Ministério da Saúde”, controlado pelo Hamas, e as Forças de Defesa de Israel (IDF). Em análise recente, 98% das notícias — incluindo as da ONU, Anistia Internacional, CNN, BBC e agora Kakay — baseiam-se unicamente nos dados do Hamas. Dessas, 20% sequer citam a fonte. Agem como Kakay, que ignora todos os princípios do direito ao utilizar fontes secundárias e deixar de apresentar o outro lado.
Apresentar o contraditório? Nem pensar!
Para Israel, mais de 20 mil terroristas foram mortos, todos identificados com nomes e sobrenomes. Esses terroristas não usam uniformes verdes, mas andam de jeans com RPGs ao braço. O Hamas considera crianças até os 18 anos quando recruta combatentes a partir dos 14 ou 15 anos e utiliza terroristas disfarçados de mulheres para enganar o exército israelense.
Kakay ignora isso.
Nem menciona as dezenas de mulheres estupradas coletivamente pelos terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023, muitas delas sequestradas, feitas escravas sexuais em Gaza e, possivelmente, grávidas. Algumas, tem-se informações, já tiveram filhos dos seus estupradores. Ele também ignora as crianças queimadas vivas, pessoas degoladas pelo Hamas, ou um feto arrancado pelos terroristas da barriga de uma mulher grávida com uma faca. Jovens de uma rave metralhados, habitantes de kibutzim socialistas no sul de Israel executados apenas por serem judeus.
Nenhuma referência aos 250 reféns feitos pelo Hamas, dos quais 100 deles continuam em cativeiro. Outra boa parte foi executada e morta. A meta do Hamas, inscrito em seu próprio Estatuto, é exterminar os judeus. Basta ler. Primeiro o povo do Sábado, depois o povo do Domingo.
Mas Kakay não está nem aí.
A seguir, Kakay fala de Herodes, impõe a ele a identidade judaica que não tem e diz que Israel mataria Jesus se estivesse em guerra, na linha daqueles que dizem que Jesus seria palestino. Trata-se de um verdadeiro clássico do antissemitismo que aponta para os judeus como deicidas e que justificou pogroms russos, massacres durante as cruzadas, expulsão dos judeus da Inglaterra, Espanha, França, Portugal etc., torturas e mortes durante a Inquisição, inclusive no Brasil e na América Espanhola. Kakay não está nem aí.
Remeto à ignorância de Kakay sobre o tema, um jurista de primeira estirpe, mas um verdadeiro bronco em assuntos do Oriente Médio. O viés de confirmação cega, que ataca a verdade.
Herodes não era judeu; e os judeus de Jerusalém estavam sob o domínio romano. Jesus (Yeshua), filho de Miriam e Yehoshua, era judeu e religioso, chegando à posição de rabino, estudioso e professor das escrituras judaicas.
Jesus nasceu, cresceu e cumpriu a tradição judaica, incluindo o ´Brit Milá`,  cerimônia da circuncisão e o ‘Bar Mitzvá’, rito de passagem à idade adulta.
Mas a ignorância e a omissão não param por aí, nem na nesciedade do texto escrito por Kakay. Ao resgatar a ideia do ‘deicídio judaico’, Kakay dá voz ao antissemitismo histórico que culminou no Holocausto nazista.
Sendo católico, como se apresenta, Kakay deveria saber que o Papa Paulo VI, no Concílio Vaticano II, onde tivemos a Declaração “Nostra Aetate” (Nossa Era). No documento, publicado em 1965, foi recontextualizada a relação entre cristãos e judeus e deixou-se institucionalmente claro pelo Vaticano que Jesus nasceu como judeu e viveu dentro da tradição judaica, que os primeiros seguidores de Jesus eram judeus, assim como os apóstolos.
O Vaticano reconheceu que o cristianismo tem raízes no judaísmo e que a separação entre as duas religiões ocorreu após os eventos da morte de Jesus. Nada fala sobre palestinos, cuja identidade distintiva do povo árabe só surgiu na década de 1940. Mais recentemente, reuniões históricas entre papas e líderes judaicos, como o encontro de Papa João Paulo II com rabinos em Jerusalém, reafirmaram o combate ao antissemitismo. Este documento do Vaticano, que contradiz os discursos de grande parte da esquerda brasileira, que corre desta a presidente do PT até Lula, passando pelo Sr. Genoíno, Frei Betto, Janja e muitos outros. Uma vergonha.
Kakay não está nem aí.
Ele romantiza sua cidade na saudade de uma infância feliz e ataca Israel e os judeus como deicidas. Poderia refletir sobre a história de violência e racismo em Patos de Minas Gerais. Poderia traçar uma crítica histórica à trajetória de sua Patos de Minas Gerais até os dias de hoje. Que ela nasceu como Santo Antônio dos Patos em 1820 e trouxe sua estaca de fundação em um terreno marcado pelos massacres dos indígenas na expansão bandeirante. As Nações Xacriabás, Araxás e outros grupos menores são hoje etnias extintas.
Patos de Minas Gerais, como boa parte das cidades brasileiras, cresceu economicamente pelo trabalho escravo, especialmente na agricultura. Kakay, ao brincar de fazendeiro nesta sua cidade natal, como relatou saudoso, poderia agregar escravos neste seu forte apache à brasileira. Quando do Estado Novo, Patos esteve com Minas Gerais no apoio ao ditador Getúlio Vargas, mantendo inclusive um pequeno grupo de integralistas na região.
A discriminação, violência e racismo em Pato de Minas Gerais não são apenas coisas do passado, é atual: Madalena Gordiano, feita escrava doméstica desde os oito anos de idade, foi liberta apenas em 2020, um dos episódios mais tristes de exploração e de racismo estrutural no Brasil.

Seria mais correto, honesto e útil Kakay cuidar da história de sua cidade, Patos de Minas, das dezenas de Madalenas Giordanos que a sua cidade produziu, ao invés de atravessar dois mares, milhares de quilômetros, para debruçar suas lentes embaçadas pela ignorância e viés preconceituoso sobre aquilo que não conhece, o Oriente Médio, Israel e a Palestina.

Kakay, que fez um trabalho excelente em denunciar a Lava Jato, poderia também estudar um paralelo histórico, o caso Dreyfus, na França, em 1894, quando o oficial de artilharia Alfred Dreyfus, judeu, é julgado por alta traição (espionagem para os alemães) e condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, na Costa da Guiana Francesa.

Como Émile Zola apresentou na sua denúncia do julgamento injusto, marcado pela perseguição aos judeus, o militar francês foi também chamado de “judeu porco”, “judeu sujo”, entre outras. Rui Barbosa, em “Cartas de Inglaterra”, também dissertou sobre o caso Dreyfus.
A acusação de dupla lealdade em face dos judeus é reconhecida como antissemitismo pela carta da IHRA, da qual dezenas de países são signatários; o Brasil é membro observador, e várias cidades e estados, como São Paulo, Rio de Janeiro etc.
A Sra. Gleisi Hoffmann e os seus, entretanto, vivem de apontar para uma suposta “dupla lealdade” dos judeus brasileiros da diáspora, imputando a pecha de estrangeiros sobre estes. Vai além, ao demarcar aos judeus como responsáveis pela morte de Cristo.
Este é o Brasil antissemita, de um governo antissemita, de partidos antissemitas sob o qual os judeus, uma minoria de não mais de 0,5% da população brasileira, está vivendo.
As manifestações de antissemitismo cresceram mais de mil por cento ao longo do mandato Lula III, com impulso e estímulo do próprio governo. E olha que, sob o governo anterior, base de comparação, não houve economia no Brasil em manifestações antissemitas e nazistas.
Juristas brilhantes e formadores de opinião, como Kakay, o Marco Aurélio Carvalho, Lenio Streck e todo o grupo “Prerrogativas” têm o dever ético e moral de combater o antissemitismo no Brasil. E agora!!!
Mesmo que, na autocrítica, tenham que cortar na própria carne. Ou se tornarão apenas lacaios do ódio.

 

Tragédia Climática no Rio Grande do Sul: Uma Angústia de Filho da Terra

Tragédia Climática no Rio Grande do Sul: Uma Angústia de Filho da Terra

Como um filho da terra gaúcha, nascido e criado em Porto Alegre, meu coração se aperta ao presenciar a tragédia climática que assola o Rio Grande do Sul. Inundações de proporções épicas, jamais vistas antes, transformam nossa amada terra em um cenário de sofrimento e destruição.

Os números frios da estatística não conseguem traduzir a dor imensa que toma conta de cada gaúcho. Mais de 100 vidas já foram ceifadas por essa fúria da natureza, e esse número tende a aumentar consideravelmente à medida que os corpos soterrados pelas águas forem encontrados.

Milhares de famílias tiveram suas vidas completamente transformadas. Casas, memórias e sonhos foram tragados pela correnteza, deixando para trás um rastro de dor e incerteza. Muitos perderam tudo, outros tantos foram obrigados a abandonar seus lares sem saber quando poderão retornar ou o que encontrarão ao voltar.

A distância física me separa da minha terra natal, mas a dor da minha gente ecoa em meu coração. Acompanho pela mídia os acontecimentos e, por um lado, me sinto aliviado pela onda de solidariedade que toma conta da população. Doações, trabalho voluntário e apoio mútuo demonstram a força e a união do povo gaúcho em um momento tão difícil.

Por outro lado, a notícia de saques e assaltos, inclusive contra socorristas, me deixa estarrecido e indignado. Em meio à tragédia, a ganância e a falta de caráter de alguns indivíduos demonstram o lado mais sombrio da natureza humana.

Pela primeira vez em muitos anos, a desgraça não distingue cores, idades, classes sociais ou times de futebol. A fúria da natureza uniu os gaúchos em um sentimento comum de dor e luto. Neste momento, a única coisa que importa é a vida.

As previsões indicam que mais chuvas estão chegando, o que significa que o pior ainda pode estar por vir. É urgente que as autoridades tomem medidas imediatas para garantir a segurança da população e minimizar os danos. A evacuação de áreas de risco e a busca por abrigos seguros são medidas cruciais para salvar vidas.

Mas a tragédia que assola o Rio Grande do Sul não deve ser vista apenas como um evento isolado. Ela é um lembrete cruel das consequências da ação humana sobre o meio ambiente. O clima está mudando, e eventos extremos como este se tornarão cada vez mais frequentes e intensos.

Precisamos agir agora para evitar que catástrofes como essa se repitam. Investimento em obras de prevenção, educação ambiental e políticas públicas sustentáveis são medidas urgentes para proteger nossa terra e garantir um futuro melhor para as próximas gerações.

Mesmo diante da devastação, a esperança não se apaga. A força e a resiliência do povo gaúcho são notáveis. Juntos, vamos superar este momento difícil e reconstruir nossa terra.

Viva os socorristas e todos os voluntários que estão sendo fundamentais para dirimir o sofrimento de tanta gente.

Sou gaúcho, nascido e criado nas terras do sul. E, mesmo estando longe, meu coração estará sempre com a minha gente. Acredito na força e na união do povo gaúcho para superar essa tragédia e construir um futuro melhor.

Lula ofendeu os judeus, os ciganos, os gays, os deficientes…

Lula ofendeu os judeus, os ciganos, os gays, os deficientes…

Há pouco mais de um ano, nos braços da minha mulher, em plena madrugada, eu comemorava a vitória de Lula presidente. Como havia dito dias antes Gilberto Gil num show na Île de Ré,” Lula para acabar com o pesadelo”. Naquele noite chorei copiosamente, de felicidade, talvez mais ainda de alívio. Tinha consagrado os últimos dois anos a fazer campanha pela eleição de Lula, criando o Coletivo Judias e Judeus Sionistas de Esquerda e o Comitê de judeus com Lula/Alckmin, atuando em plataformas de esquerda. Derrotar Bolsonaro se transformou em obsessão. Trabalhamos duro na relativamente fácil tarefa de fortalecer a convicção dos progressistas e convencer os indecisos, e na muito mais difícil de trazer para o nosso campo os conservadores avessos a Lula, muitos dos quais denunciavam a ambiguidade com relação aos judeus e a Israel. Lembrávamos então, incansavelmente, que Lula foi o primeiro presidente brasileiro a visitar Israel e sempre defendeu a tese de Dois Estados.
Vencemos!
Pessoalmente, me orgulho de ter conseguido virar o voto de ao menos cinquenta eleitores judeus; uma gota d’água que contou na apertadíssima vitória.
Hoje, me sinto desiludido, envergonhado, ofendido. Peço desculpas a todos aqueles com quem argumentei que Lula tinha provado, em dois mandatos, ser um chefe de Estado equilibrado, moderado. Eu, como todos os judeus que votaram Lula, amplamente majoritários, queiram ou não queiram nossos detratores, estamos todos ofendidos, envergonhados, desiludidos com Lula, que ousou o inimaginável, ao declarar, em Adis Abeba:
“Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus.”
Entendo que Lula queira passar por um “gauchista” para satisfazer seu eleitorado de esquerda e por um humanista diante daqueles que denunciam os horrores da guerra, no Brasil como no resto do mundo, já que nunca desistiu de ser visto como um líder mundial. Só que agora caiu no discurso fácil do “os judeus estão agindo como os seus algozes.”
Lula realmente ultrapassou a linha vermelha. Comparar o que acontece em Gaza com o Holocausto é revisionismo ignóbil !
Lula não ofendeu “apenas” os 17 milhões de judeus, ofendeu todos os perseguidos, assassinados e gazados nos campos nazistas – ciganos, deficientes, comunistas, homossexuais, testemunhas de Jeová, em nome da raça pura e do pensamento único. Em outras palavras, o presidente do Brasil ofendeu todas as vítimas, as minorias, ofendeu a Humanidade.
Recebeu em contrapartida os elogios merecidos do Hamas. Até então, nenhuma liderança árabe tinha ido tão longe quanto o brasileiro. Que presente ao grupo terrorista!
Domingo, na Etiópia, Lula enterrou seu histórico humanista.
Pode se criticar a ação militar de Israel e os crimes de guerra cometidos, deve se criticar o governo Netanyahu, de extrema-direita, e clamar por um cessar-fogo, mas falar em genocídio e holocausto é uma mentira de quem não quer a paz, de quem, por um motivo ou outro qualquer, quer importar o conflito para tirar benefícios.
A cada fala (sem comparação com esta, que ultrapassou todos os limites da decência) , Lula libera a palavra e os atos dos profissionais da discriminação.
Ao invés de colocar lenha na fogueira do antissemitismo, o presidente deveria se lembrar que como responsável pelo clima reinante no Brasil precisa agir com responsabilidade e não como um mero militante sem papas na língua.

Ao Excelentíssimo Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

Ao Excelentíssimo Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,

Escrevo-lhe hoje para abordar a sua recente declaração sobre nunca ter escutado da morte de mulheres e crianças em guerras. “O Brasil foi um país que condenou de forma veemente a posição do Hamas no ataque à Israel, mas não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel, a pretexto de derrotar o Hamas, estar matando mulheres e crianças, coisas jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento”, foram suas palavras. Acredito que essa declaração, embora compreensível em termos de experiência pessoal, não reflete a realidade brutal dos conflitos armados.

É verdade que ninguém é obrigado a ser especialista em todos os assuntos, mas a cautela e o bom senso são essenciais para evitar equívocos e declarações que podem ser interpretadas como desinformação ou falta de sensibilidade.

A guerra, em qualquer forma, não é bela. Mesmo em uma “guerra de travesseiros”, existe o potencial de causar danos, ainda que leves. No entanto, quando falamos de guerras reais, as consequências são infinitamente mais graves.

Infelizmente, a história demonstra que os civis são sempre as maiores vítimas em qualquer conflito. Dados de guerras recentes comprovam essa triste realidade:

  • Guerra do Iraque (2003-2011): 1 militar para 15 civis mortos.
  • Guerra do Afeganistão (2001-presente): 1 militar para 24 civis mortos.
  • Guerra Civil Síria (2011-presente): 1 militar para 9 civis mortos.

As grandes guerras mundiais também evidenciam essa disparidade:

  • Primeira Guerra Mundial (1914-1918):
    • Militares: Entre 9 e 10 milhões de mortos (aproximadamente 60% do total).
    • Civis: Entre 6 e 12 milhões de mortos (aproximadamente 40% do total).
  • Segunda Guerra Mundial (1939-1945):
    • Militares: Entre 20 e 25 milhões de mortos (aproximadamente 30% do total).
    • Civis: Entre 50 e 60 milhões de mortos (aproximadamente 70% do total).

É importante salientar que estas proporções podem variar de acordo com a fonte consultada, mas a mensagem central é clara: os civis pagam o preço mais alto em qualquer guerra.

Quando falamos em civis, incluímos, com pesar, mulheres e crianças – seres humanos indefesos que sofrem as consequências cruéis da violência armada.

Com base em tais dados, torna-se questionável a utilização do termo “genocídio” para descrever a situação em Gaza. Segundo informações das mortes fornecidas pelo grupo terrorista Hamas, o número de mortes seria de 1 terrorista para menos de 3 civis.

É importante lembrar que a guerra é uma tragédia humana que causa sofrimento imenso a todos os envolvidos. As estatísticas de mortes servem apenas como um retrato frio e numérico da devastação, cada vida perdida representa uma história individual e irreparável.

Dando seguimento ao seu contrassenso, você acusou Israel de cometer genocídio contra civis palestinos na Faixa de Gaza e comparou as suas ações em Gaza à campanha de Hitler para exterminar os judeus. “O que está a acontecer em Gaza não é uma guerra, é um genocídio”, disse Lula aos jornalistas em Adis Abeba, onde participa na cimeira da União Africana. “Esta não é uma guerra de soldados contra soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças.”

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não aconteceu em nenhum outro momento da história. Na verdade, aconteceu: quando Hitler decidiu assassinar judeus”, disse o presidente brasileiro.

Sua comparação é um insulto a memória dos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas por serem judeus. É uma infâmia, só usada por antissemitas com a clara intenção de despertar antissemitismo. É de uma irresponsabilidade que não condiz com a postura de um estadista e afasta em definitivo o Brasil de qualquer chance de um dia mediar as partes.

Gostaria de salientar alguns pontos adicionais:

  • A guerra em Gaza não é um conflito isolado. Ela faz parte de um contexto histórico mais amplo de conflito entre Israel e Palestina, que já dura décadas.
  • A situação em Gaza é complexa e multifacetada. Há diversos fatores que contribuem para a violência, incluindo questões políticas, religiosas e sociais.
  • É importante buscar soluções justas e duradouras para o conflito. A violência apenas gera mais violência e sofrimento para ambos os lados.

A guerra em Gaza poderia ter um fim rápido se o grupo terrorista Hamas depusesse as armas e libertasse os reféns. A paz é sempre a melhor solução, e a responsabilidade por evitá-la recai sobre os ombros de todos os envolvidos.

Acredito que a sua posição como líder de uma grande nação como o Brasil lhe confere a responsabilidade de defender a paz e o respeito à vida humana. Espero que reflita sobre as informações aqui apresentadas e reconsidere suas declarações sobre a guerra em Gaza.

Atenciosamente,

Mauro Nadvorny

O Brasil que me encanta e que aprendi a amar e respeitar… (um texto de abril de 2019)

O Brasil que me encanta e que aprendi a amar e respeitar… (um texto de abril de 2019)

1.
Queridas Amigas e Amigos, aprendi a amar (e respeitar) o povo brasiliano (que nunca será brasil-eiro para mim!) porque sempre o identifiquei com pessoas grandes, tais como: Gianfrancesco Guarnieri, Fernanda Montenegro, Clara Nunes, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Zumbi dos Palmares, Padre Antonio Vieira, Frei Vicente do Salvador, Rabino Henry Sobel, Jair Rodrigues, Elis Regina, Geraldo Vandré, Tom Jobim, Chico Buarque, Ivan Lins, Alcione, Inezita Barroso, Marisa Monte…
2.
E o identifiquei com Milton Nascimento, Vinícius de Moraes, Francisco Alves, Pixinguinha, Silvio Caldas, Antonio Conselheiro, Beto Guedes, Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga, Adoniran Barbosa, Ney Matogrosso, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Vicente Celestino, Tonico e Tinoco, Maximiliana Reis, Cacau Melo, Sônia Ferreira (estas três dos Monólogos da Vagina), Villa-Lobos, Oswald de Andrade, Letícia Sabatella, Paulo Autran, Guimarães Rosa, Osman Lins, Cecília Meireles, Cora Coralina, Manoel Bandeira, Gregório de Mattos, Alfredo Bosi, Antônio Cândido…
3.
E, ainda, o identifiquei com João Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Renato Russo, Cazuza, Rita Lee, Maysa, Zilka Salaberry, Gonzaguinha (e, também, Luis Gonzaga), José Oiticica, Sérgio Sampaio, Roberto Carlos, Don Paulo Evaristo Arns, Almir Sater, Catulo da Paixão Cearense, Pontes de Miranda, Clarice Lispector, Caio Mário da Silva Pereira, Goffredo Telles Jr., Roberto Lyra Filho, Pastor Mozart Noronha, Luiza Erundina, Chico Xavier, Marielle Franco, Eduardo Matarazzo Suplicy, Marina Silva, Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, Celso Lafer, Graça Aranha, Ruy Barbosa, Orlando Gomes, Joaquim Nabuco, Álvares de Azevedo, Fagundes Varella, Leonardo Boff, Frei Betto, Tiradentes, Franco Montoro, Ulisses Guimarães, Ayres Brito, Celso de Mello, entre outros e outras…
4.
O Brasil que aprendi a amar – e respeitar, não tem nada, absolutamente nada, a ver com o Bolsonaro e filhos, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel, João Figueiredo, Paulo Maluf, Celso Pitta, Silas Malafaia, Edir Macedo, R. R. Soares, Valdomiro, Hernandez, Ricardo Salles, Ernesto Araújo, Olavo de Carvalho, André Mendonça, Sérgio Moro, Dallagnol, Hamilton Mourão, Heleno, Ramos, Braga Netto, Damares, Pazuello, Regina Duarte, Sérgio Camargo, Weintraub, Mário Frias, Milicianos, Sertanejo Universitário, BBB, Vereador Dr. Jairinho, e outros resíduos do esgoto neofascista!
5.
Penso que essa coisa toda odiosa não é a cara do Brasil e, por isso mesmo, nem me leva a odiar o Brasil. Acho que estourou um cano do esgoto…
6.
Em breve, o esgoto voltará ao esgoto, e o Brasil voltará a ser o que sempre foi: um país de criatividade, pluralidade, diversidade, democracia, tolerância e inteligência cultural, jurídica, literária, musical, social e constitucional.
7.
NOTA
IMPORTANTE
O presente texto foi escrito em abrir de 2019. Nas primeiras listas cabe, ainda, muita gente boa. Outrossim, nesta última lista cabe, com certeza, muito lixo… Ainda olho para a lista dos bons…
Abril de 2019
Pietro Nardella-Dellova
Mídia digital, extremismo e regulamentação

Mídia digital, extremismo e regulamentação

A imprensa–cujo objetivo é reportar os fatos, verificá-los a fim de transmiti-los ao público– e sua liberdade só são garantidas quando não ferem os princípios da ética jornalística. A ruptura desse princípio não pode ficar impune tampouco o veículo que a perpetrou. Dois casos mostram como o abuso da liberdade de imprensa está sendo contido no Brasil. No entanto, a falta de regulamentação das plataformas de mídia digital faz com que canais digitais se transformem em multiplicadores de um fenômeno da contemporaneidade chamado ‘a crise da verdade’.(Hoggan e Kloubert, 2022) Este fenômeno se calca na difusão da distorção dos fatos e tem como consequência a divisão quase pela metade dos indivíduos numa dada sociedade sobre a percepção objetiva e histórica dela. Essa divisão é promovida pela velha máxima de Júlio Cézar “dividir e conquistar”, foi estratégia de Joseph Goebbels durante o nazismo e é ainda utilizada pelos governos de ultradireita para fomentar o ódio e polarizar a população. Isso tem que ser contido.

A Jovem Pan News é um exemplo desse acervo de fake news, propaladas para consolidar o governo de extrema direita de Bolsonaro entre 2018 e 2022. Em 1942, Antônio Augusto Amaral de Carvalho funda a Jovem Pan, uma radiodifusora que hoje faz parte do histórico jornalístico do país, contando com sua expansão em 100 emissoras, entre canais de notícias e plataformas, espalhadas pelo território brasileiro. Dois programas são o carro-chefe da emissora: “Morning Show” e Os Pingos nos Is Estreado em 2012, “Morning Show”, inspirado no formato americano de shows de matinê, no início contava com a com a chefia do jornalista Zé Luiz que um ano após deixou o programa por desavenças com a produção. O “Morning Show” foi progressivamente se transformando em canal proliferador de lorotas quando em 2021 ajudou a impulsionar desinformação sobre a pandemia de Covid-19. O negacionismo sobre os efeitos letais do vírus se deu ao mostrar entrevistas com médicos no YouTube, defendendo drogas sem eficiência comprovada e com críticas ao uso de máscaras. Uma das comentaristas do programa, a influenciadora digital Zoe Martinez, é investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) por incitar o golpe no dia 08 de janeiro na invasão dos três poderes. Martinez defendeu que as Forças Armadas destituíssem os ministros do Supremo Tribunal Federal. A caribenha naturalizada brasileira cresceu e enriqueceu às custas das plataformas digitais e na alocação de vídeos e comentários contra o comunismo. Sem nenhuma sustentação teórica e sem bases históricas, a influenciadora ratifica o mito de uma falência comunista em Cuba sem apresentar nenhum outro contraponto; produzindo, assim, uma visão tendenciosa sobre esse cenário. Uma pergunta fica. Por que a Jovem Pan só a demitiu quando o MPF foi acionado?

O mesmo aconteceu com os comentaristas da corporação Paulo Figueiredo e Rodrigo Constantino. Figueiredo e Constantino ambos residentes nos EUAs, utilizam o mesmo apelo da primeira emenda constitucional americana para defender a liberdade de imprensa no Brasil e instituir a indecência e antiética jornalísticas. Figueiredo é neto do último presidente militar e ex-sócio de Donald Trump na rede de hotelaria, seguidor do já defunctus guru Olavo de Carvalho. Além do processo de investigação do MPF da Jovem Pan, o ardil é réu de um esquema corrupto apelidado de Operação Circus Máximo em que Figueiredo responde por falcatruas de 20 milhões de reais entre propinas de diretores do Banco de Brasília e a empresa dele na construção da Trump Tower no Rio de Janeiro. De novo, a Jovem Pan só o despediu depois que o MPF se manifestou.

Já Constantino foi taxativo ao afirmar que houve golpe do Supremo Tribunal Federal no resultado das eleições de 2022 que elegeu o candidato Luís Inácio da Silva. Constantino, detentor de uma fortuna de 50 milhões de reais, já passou pela Veja, O Globo, Valor Econômico como colunista e comentarista de economia. Como escritor, seus títulos revelam o perfil de extrema direita na atuação de sua carreira. Um deles é Esquerda Caviar (2014) cujo nome manifesta a posição pejorativa com a qual Constantino trata a oposição no Brasil. Outras produções em palestras denotam a tese central que circunda o seu trabalho, replicando o cerne da ideologia neoliberal no século XXI expressa na seguinte equação: o aumento da produtividade de uma dada sociedade é igual ao aumento da inequidade social, retirando desta sociedade os pobres e idosos. A mesma estratégia da Jovem Pan sobre a demissão se aplica ao infrator.

Tanto em formato radiofônico como digital, Os Pingos nos Is começam com o jornalista Reinaldo Azevedo em 2014, visando oferecer um panorama geral de notícias políticas com comentaristas e críticos. Azevedo, envolvido num suposto áudio comprometedor com a irmã de Aécio Neves, pede demissão em 2017 e o programa se delineia, então, como ultraconservador. Entre 2020 e 2022, Os Pingos nos Is têm em seu quadro os comentaristas Augusto Nunes, Ana Paula Henkel, Guilherme Fiuza e Guga Noblat. Os três primeiros foram responsáveis pela defesa do bolsonarismo, e, diretamente, pelo crescimento do homicídio, feminicídio e de todo potencial destruidor de uma sociedade, corroborado pela fome, miséria, doenças, baixa qualidade na educação, e sistema de saúde pauperizado, etc. Nunes foi demitido porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impedi-o de chamar o atual presidente de “ex-presidiário”. Henkel se demitiu, Fiuza teve seus perfis sociais suspensos por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Guga Noblat, no modelo fake copiado da Fox News americana, tinha o papel mediador no debate, apresentando contra-argumentos aos temas como forma de equilibrar o rol altamente faccioso do show. Pediu demissão da Jovem Pan News em 2022.

Nunes é o exemplo de um extremista latente em que os princípios e atos ultraconservadores se manifestam na medida em haja uma liderança que os avalizam. Com uma carreira longa no jornalismo, Nunes trabalhou como repórter no Estado de S. Paulo e revista Veja, mediou entrevistas no Roda Viva e na TV Cultura, dirigiu as revistas Veja, Época e a Forbes brasileira, os jornais Jornal do Brasil e Zero Hora, for fim, foi amplamente premiado na sua função. No entanto, pelo menos na aparência, sua conduta muda justamente quase um ano após a vitória de Bolsonaro quando Nunes esbofeteia o jornalista Glenn Greenwald ao vivo no show Pânico da Jovem Pan. Greenwald, assumidamente casado com o deputado federal David Miranda e os dois sendo pais adotivos de dois filhos, investigava o imbróglio que colocou o presidente Lula na cadeia. A redação da Pan liberou uma nota se desculpando sobre o comportamento do jornalista. Contudo, nenhuma advertência ou punição mais severa veio da emissora, muito pelo contrário, ela só se pronunciou no momento em que o TSE se manifestou contra a retórica vilipendiosa do jornalista contra Lula.

Surpreendentemente, Fuiza é neto do jurista Sobral Pinto e com uma carreira difusa no jornalismo e na literatura tombou para a ultradireita, defendendo o discurso do ódio e tomando uma postura antidemocrática.

A resposta à negligência da Jovem Pan face à responsabilidade de seus profissionais reside no que é conhecido como capitalismo predatório. Neste sistema, o foco central é o lucro e notadamente o ganho que a veiculação da imagem e da notícia trazem no índice de audiência da corporação comunicativa junto com a influência política e o poder que geram. Neste tipo de comunicação, não cabe nenhum comprometimento ético do profissional e nem da empresa que o representa, muito menos as consequências em que esse veículo produz direto na população (a desinformação elevando o número de vítimas da Covid-19, etc.), ou seja, sua capacidade em provocar mortes. Como representação latente, esta máquina de poder comunicativo funciona conforme a teoria freudiana da psique. O Id social é um depositório das forças inconscientes contra tudo o que é progressista e diferente do padrão de ideias e comportamentos da época e encontra um superego (líder) que lhe escancara a porta para se manifestar. A Jovem Pan serviu de canal para todos aqueles que cultivaram o ódio da diferença se expressarem e só foi barrada agora por pais disciplinadores (STF e TSE). Neste país, precisamos mais desses pais em formas de leis e decretos que impeçam as plataformas digitais de lesionarem a ética com que o jornalismo se compromete. Precisamos desenvolver a consciência de que este é o fio condutor que o capitalismo usa para continuar empreendendo suas desumanidades.