Para discernir coisas diferentes em vinte tópicos
O amar o próximo, o estrangeiro e a solidariedade com os inimigos como ética (não moral)
Moisés, na Torá, estabelece como “cláusulas pétreas”:
1) amar o próximo como a si mesmo;
2) amar o estrangeiro e;
3) ser solidário com seu inimigo.
Jesus, um Mestre do Judaísmo da Escola de Hillel, relembra o “amar o próximo como a si mesmo” também como cláusula pétrea e fundamento da Torá.
Nem Moisés nem Jesus sugerem um amor com carga “moral”, mas um amor com carga “ética”, isto é, o amor como “ethos”, “modus” de convivência social. Não é um amor ao próximo “hétero”, “gay”, “mulher” etc, mas o amor que não nasce nem se justifica em moralidade e, sim, em eticidade. A mesma coisa ensinou o grande Rabino Hillel, anterior a Jesus, sendo ambos da mesma Escola.
Mas, depois de muitos anos, vêm Trump, Bannon e Bolsonaro, e ensinam algo muito diferente de Moisés, Hillel e Jesus: “ame apenas os que são iguais a nós, isto é, os fascistas, e odeie os outros, odeie os gays, odeie as lésbicas, as trans, os esquerdistas, os democratas, os constitucionais”.
Voltando à origem, Moisés, Hillel e Jesus nunca se preocuparam com a orientação sexual de qualquer pessoa, mas os trumpistas e bolsonaristas, sim!
NOTA
Eu não sou Negro, eu não sou Gay, eu não sou Palestino, eu não sou Mulher, eu não sou Indígena, eu não sou Locatário, eu não sou Morador em situação de rua, eu não sou Umbandista, eu não sou Candomblecista, eu não sou dependente químico, eu não tenho deficiência física…
Tenho “apenas” EMPATIA com todas essas pessoas e respectivas lutas e, embora não sejam meus lugares de fala, fico ali, no banquinho, ao lado delas em plena solidariedade ativa!
Pietro Nardella-Dellova
Concurso Público, quer? Quer mesmo?
Judias e judeus sionistas de esquerda repudiam discurso pró-nazista de Monark e Kataguiri
As horas que seguiram às declarações perversas de Bruno Monteiro Aiub, vulgo Monark, e do deputado Kim Kataguiri, do Podemos, em defesa da legalização de um partido nazista no Brasil e do direito dos nazistas expressarem livremente as suas ideias, foram marcadas por uma ebulição social raramente vista. E isso é positivo, pois mostrou quem é quem.
Monark colocou a culpa na cachaça, como se alguém passasse a fazer apologia do nazismo por ter bebido uma a mais. Implorou compreensão e disse que estava bêbado. Foi desligado do Flow Podcast. O deputado Kataguiri, apoiador de Sérgio Moro, por seu lado, usou o argumento raso de sempre: “sua fala foi tirada do contexto e mal interpretada, afinal, ele seria o maior defensor de Israel no Parlamento”.
A temperatura subiu tanto que o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, saiu de seu berço esplêndido, prometeu investigar Monark e Kataguiri e, célere como nunca, abriu uma apuração por possível apologia do nazismo. Ao instaurar as investigações, o PGR lembrou que “todo discurso de ódio deve ser rejeitado, para que a tolerância gere paz e afaste a violência do cotidiano.”
A embaixada da Alemanha no Brasil comentou que “defender o nazismo não é liberdade de expressão, pois quem defende o nazismo desrespeita a memória das vítimas”.
A comunidade judaica em peso se manifestou, seja através de suas Instituições, seja por meio de grupos militantes como nós, Judias e Judeus de Esquerda, que reclamamos a cassação do mandato do deputado federal Kim Kataguiri.
Os Ministros do STF, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, qualificaram o episódio de criminoso.
Apologia do nazismo é crime e não tem discussão. Em nome da supremacia racial, o nazismo instaurou uma indústria da morte, inclusive com métodos de gestão para aumentar a produtividade dos assassinatos em massa em campos devidamente estruturados para este fim.
No episódio desta terça-feira, uma vez mais, os judeus estiveram na linha de frente. Inevitável, pois o tema fala da morte de seis milhões de judeus. Houve manifestação de ONGS de defesa dos direitos humanos, do povo negro, dos LGBTQI+, das pessoas com deficiência, mas outros ainda não se manifestaram da mesma maneira, pois é bom lembrar que o nazismo foi o terror de todos aqueles que, aos olhos dos genocidas de Hitler, tinham alguma “anormalidade”. Ou seja, não representavam a pureza da raça ariana.
Seria salutar que todas as entidades que militam pela igualdade de gênero, pela igualdade racial, contra o capacitismo e contra a ideologia supremacista, se levantassem. O combate é de todos. O nazismo, que tem no bolsonarismo a versão brasileira, deve ser repudiado por todos que são diuturnamente discriminados e pelos defensores dos direitos humanos. Sem exceção!
A prática do racismo, pois é disso que se trata, constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão. O Artigo 3°, inciso IV, da Constituição de 1988, estabelece como objetivo fundamental da República “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Mesmo assim, dos presentes na plataforma, só se salvou a deputada Tábata Amaral, que saiu em defesa do bom senso.
A defesa do nazismo por um youtuber com quase 4 milhões de seguidores e um deputado federal eleito com 465.310 votos mostra que a sociedade está doente. Monark e Kataguiri não estiveram sós na loucura. Expoentes da esquerda, como Glenn Greenwald e Rui Costa Pimenta, do PCO, se manifestaram contra a ilegalidade do nazismo, sempre em nome da liberdade de expressão irrestrita. A eles se juntaram os apresentadores neofascistas da Rádio Jovem Pan, que compararam o nazismo ao comunismo, pedindo a criminalização deste, a exemplo do que fez o regime polonês de extrema-direita.
Ou ainda aqueles que compararam os campos de concentração e extermínio à privação da liberdade de quem não quer se imunizar contra o coronavírus. Sem falar em Adrilles Jorge, que aproveitou a ocasião para fazer uma saudação nazista ao vivo, pelo que foi demitido.
O fato é que a defesa da criação de um partido nazista no Brasil não é um fato isolado, soma-se a uma onda de declarações despudoradas e descomplexadas de racismo, que encontram eco e espaço em um país onde o neonazismo se instalou e é legitimado pelo Presidente da República e seus asseclas.
Segundo a antropóloga Adriana Dias, professora da Unicamp, que se dedica à pesquisa do tema no Brasil desde 2002, existem hoje pelo menos 530 células neonazistas atuantes, sobretudo nos Estados do sul-sudeste, congregando 10 mil pessoas. Isso representa um aumento de 270% de janeiro de 2019 a maio de 2021. São grupos majoritariamente masculinos, que negam o Holocausto, têm ódio do feminino, do negro, dos nordestinos, dos judeus, do LGBTQIAP+, dos imigrantes, das pessoas com deficiência.
É preciso lembrar que o flerte de Bolsonaro com o nazismo não data daquela recepção calorosa da deputada alemã de ultradireita, Beatrix Von Storch, neta de um ministro de Adolf Hitler, em julho de 2021. Os vínculos com a ideologia autoritária e mortífera são antigos. A pesquisadora descobriu uma carta, assim como um banner com a foto de Bolsonaro, publicadas em três sites neonazistas, em dezembro de 2004. A foto tem um link que levava ao site, que o então deputado federal tinha na época. Na carta que Bolsonaro envia aos neonazistas, tratados como “eleitores cativos e prezados”, o presidente agradece o apoio e acrescenta: “Todo retorno que tenho dos comunicados se transforma em estímulo ao meu trabalho. Vocês são a razão da existência do meu mandato”.
O material que compromete Bolsonaro foi recuperado pelo marido da pesquisadora nos seus arquivos, e depois garimpado por ela no Internet Archives, um depositório da memória da WEB, quando ela preparava uma palestra. A carta constava do principal site nazista em língua portuguesa e nesse portal havia ainda um banner para o site do deputado. O material é de 2004.
Bolsonaro gosta de brincar de nazista, tendo posado para fotos ao lado de um sósia de Hitler e de manter um discurso ambíguo em relação ao assunto, elogiando o desempenho estratégico do ditador na II Guerra Mundial. Chegou a dizer, em 2019, após uma visita à Yad Vashem, “que o nazismo era de esquerda”, no que foi desmentido, inclusive pelo Museu do Holocausto.
O flerte de Bolsonaro com o nazismo vai muito mais longe, tendo se manifestado na década de 1990, quando declarou que seu bisavô foi soldado de Hitler. Em um discurso na Câmara Federal, em 1998, parabenizou oito alunos do Colégio Militar de Porto Alegre que elegeram Hitler como o personagem histórico mais admirado em um levantamento feito pela revista Hyloea. Hitler ficou à frente de Jesus Cristo, Tiradentes e Mahatma Gandhi. Na ocasião, os jovens argumentaram que escolheram o líder nazista por causa de sua “inteligência e audácia”, “dom da palavra” e “poder de indução”.
Como Judias e Judeus de Esquerda, somos comprometidos com a Democracia, a Justiça Social e os Direitos Humanos, seja na luta contra o bolsonarismo, na defesa do direito dos Palestinos a um Estado próprio, como, também, na condenação de todos os preconceitos e discriminações.
Em outubro, os eleitores deverão virar esta página sombria, mas muito trabalho ficará por fazer. A mediocridade, a boçalidade e a perversidade que permeiam a internet vão exigir a regulação efetiva da midia. É uma das condições para a reconstrução do Brasil.