Tempos de guerra e tempos de paz

Tempos de guerra e tempos de paz

Foram duas semanas de guerra. Entradas e saídas do quarto seguro dia e noite. Todos se sentindo como zumbis, devendo horas de sono. E não é apenas poder dormir, é poder ter um descanso. Finalmente acabou.

A volta ao dia a dia não é tão simples. Nem todo mundo acredita  que o Irã vai respeitar o cessar-fogo. Nem todo mundo consegue sair de casa depois do sufoco que passaram. Nem todo mundo tem casa para voltar. Existem milhares de desabrigados espalhados pelas cidades atingidas vivendo em hotéis disponibilizados pelas prefeituras. Alguns sem lenço e sem documento, somente com a roupa do corpo. Tudo foi perdido na explosão do míssil balístico, mas as vidas foram preservadas.
Alguns dos prédios atingidos vão poder ser reformados, outros estão condenados e terão de ser demolidos. Até que sejam reconstruídos, a vida será em um quarto de hotel ou em casas alugadas.
Com esta guerra concluída, nos voltamos para a guerra remanescente em Gaza que se aproxima de dois anos. Se nos minutos finais antes do cessar-fogo, um míssil matou 4 pessoas, ontem à noite, uma bomba plantada pelo Hamas matou 7 soldados.
É preciso terminar com a operação em Gaza que não se justifica mais. Claro que mediante um acordo que traga de volta nossos reféns e não permita ao Hamas voltar a governar o território. Este é o único fim possível e que deve ser implementado o quanto antes. Precisamos voltar a viver em paz.
Nós brasileiros não temos este tipo de violência (guerras)no Brasil, temos outra que na minha opinião, é bem pior. Enquanto aqui com 530 mísseis balísticos disparados morreram cerca de 30 pessoas, no Brasil morrem por dia 106 (dados de 2024) pessoas vítimas da violência. Durante os 12 dias da guerra aqui em Israel  morreram no Brasil cerca de 1270 pessoas.
Foi um período estressante, mas as coisas funcionaram. Sempre fomos avisados de que mísseis estavam a caminho com antecedência. Permanecemos no quarto seguro até chegar o aviso de liberação, tudo pelo celular. Nos locais atingidos a ajuda chegou em menos de 5 minutos. Vidas puderam serem salvas por conta deste pronto atendimento coordenado de ambulâncias, bombeiros, resgatistas e polícia.
Durante todos estes dias, locais de venda de comida e farmácias permaneceram abertos. A maioria das famílias permaneceram próximos de casa e saindo nos intervalos entre uma e outra onda de mísseis.
Nada disso foi agradável, e eu procurei escrever algumas mensagens na minha página do Facebook para dar uma noção aos amigos de como as coisas estavam acontecendo.
Moro entre Tel Aviv e Haifa, quase que na metade do caminho e aqui na minha cidade não fomos atingidos. Próximo de nós sim.
É preciso ressaltar que o Irã jogou seus mísseis nas nossas cidades para matar civis, não contra objetivos militares, ou alvos que podem ser assim considerados.
Neste 12 dias, nossa Força Aérea trabalhou dia e noite a uma distância entre 1500 e 2000 km de casa, 24 horas por dia. Nenhum avião foi abatido, todos os pilotos voltaram para casa. Esta é mais uma façanha israelense.
Tiramos de nossos ombros uma ameaça vital. O Irã prometia acabar conosco há muitos anos. Espalharam seus tentáculos por todo Oriente Médio com proxis que lhes são leais. O que faltou, mas espero que a semente tenha sido plantada, foi derrubar o regime teocrático dos Aiatolás. Tomara o povo iraniano se levante e derrube esta ditadura.

Do Preconceito ao “Método Científico”

Do Preconceito ao “Método Científico”

Assim tem início o primeiro capítulo do meu livro: Os Judeus são a Nossa Desgraça –  Antissemitismo e Direita Radical do Século XIX ao XXI


A Tarde que Mudou Tudo

Berlim, novembro de 1879

A neve caía suavemente sobre Berlim naquela tarde, cobrindo as ruas com um manto branco que parecia querer abafar os passos apressados dos estudantes que se dirigiam ao auditório principal da Universidade Humboldt. Entre eles, Marcus Friedmann, um jovem estudante de direito, ajustava seus óculos embaçados pelo contraste entre o frio exterior e o calor dos corredores lotados.

“Você vai ver, Friedmann, o Professor Treitschke é brilhante!”, exclamou seu colega Hans Weber, enquanto ambos procuravam lugares nas fileiras da frente. Marcus assentiu educadamente, mas algo o incomodava. Nos últimos meses, tinha notado mudanças sutis nas atitudes de alguns professores e colegas. Olhares atravessados, comentários velados, uma frieza que não existia antes.

O burburinho no auditório cessou quando Heinrich von Treitschke, então com 45 anos, emergiu na plataforma. Sua figura imponente, realçada pela barba bem aparada e o olhar penetrante, comandava respeito imediato. Completamente surdo desde a juventude, Treitschke havia desenvolvido uma presença de palco particularmente poderosa, compensando sua incapacidade auditiva com uma voz forte e articulada e uma atenção meticulosa ao ambiente visual. O professor organizou seus papéis com movimentos precisos, quase rituais, enquanto o silêncio expectante crescia.

Na terceira fileira, a Professora Elena Schmidt, da Faculdade de História, observava tudo com olhos críticos. Ela tinha lido os artigos preliminares de Treitschke no Preußische Jahrbücher e pressentia que algo importante – e perturbador – estava prestes a acontecer.

“Prezados colegas…” A voz grave de Treitschke ressoou pelo auditório. Suas primeiras palavras eram medidas, formais, quase entediantes em sua precisão estatística. Números, percentuais, dados sobre distribuição populacional. Marcus relaxou um pouco – parecia apenas mais uma palestra sobre demografia.

Foi então que aconteceu.

“Die Juden sind unser Unglück.”

As palavras caíram no auditório como pedras em um lago plácido, criando ondas que se expandiam em círculos cada vez maiores. Marcus sentiu seu estômago contrair. Ao seu lado, Hans concordava entusiasticamente com a cabeça.

No outro lado do auditório, o professor Heinrich Graetz, historiador judeu respeitado e autor da monumental obra Geschichte der Juden (11 volumes, publicados entre 1853-1875), tomava notas meticulosas. Ele já havia enfrentado Treitschke anteriormente em debates teóricos e, nas semanas seguintes, publicaria uma refutação detalhada deste discurso no jornal alemão-judaico Allgemeine Zeitung des Judentums em 30 de dezembro de 1879, expondo as distorções metodológicas e preconceitos nas teorias de seu colega.

Treitschke continuava, sua voz agora carregada de uma autoridade que transformava preconceito em “teoria científica”. Cada palavra era escolhida com cuidado cirúrgico, cada estatística apresentada com precisão matemática. O veneno era servido em taças de cristal.

“Observe”, dizia ele, “como 9,4% dos estudantes de Direito em Berlim…” Marcus sentiu os olhares se voltarem sutilmente em sua direção. Sua presença ali, percebeu com um aperto no peito, estava prestes a se tornar uma estatística, uma prova da “teoria” que estava sendo construída diante de seus olhos.

A Professora Schmidt rabiscava furiosamente em seu caderno: “Método perigoso – transforma observação em conclusão predeterminada. Usa ciência como máscara.” Ela já tinha visto algo similar em outros contextos, mas nunca tão meticulosamente construído.

Do lado de fora, a neve continuava caindo, indiferente à transformação que ocorria dentro daquelas paredes. Em uma única tarde, o antigo preconceito religioso estava ganhando uma nova e perigosa roupagem. Não mais gritos nas ruas ou acusações religiosas, mas gráficos, estatísticas e linguagem acadêmica refinada.

Quando a palestra terminou, o auditório explodiu em aplausos. Marcus permaneceu sentado, suas mãos imóveis no colo. Hans o cutucou, animado: “Não é fascinante como ele consegue explicar cientificamente o que todos já sabiam?”

A Professora Schmidt guardou seu caderno manchado de tinta e observou os estudantes saindo. Em seus trinta anos de Academia, nunca tinha testemunhado algo tão perturbador: o momento exato em que o preconceito ganhou legitimidade científica.

Marcus foi um dos últimos a sair. Na porta do auditório, olhou para trás uma última vez. Treitschke ainda estava lá, organizando seus papéis com aqueles mesmos gestos precisos, metódicos. O jovem estudante não sabia, mas estava testemunhando o nascimento de algo que mudaria o curso da história – o momento em que o ódio aprendeu a falar a língua da ciência.

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É preciso saber viver

É preciso saber viver

Nos últimos dez dias, os Houthis do Iêmen tem lançado um míssil balístico por dia contra nós, hoje foram dois. Geralmente as sirenes de alerta soam nas regiões de Jerusalém e Tel Aviv, e até o momento, todos os mísseis foram derrubado fora do nosso espaço aéreo.

Vocês têm noção do que é viver assim? Todos os dias, as vezes de dia, mas quase sempre no meio da noite, ter de acordar e correr para um abrigo? Ninguém quer ariscar que a defesa falhe e o míssil caia sobre si. Nossa defesa antiaérea é a melhor do mundo, no entanto não é hermética.

Principais impactos esperados em caso de impacto direto:

  1. Destruição estrutural massiva:
    • Ogivas convencionais de mísseis como o Emad (iranisano) podem demolir edifícios de concreto, como evidenciado pelo colapso parcial de uma escola em Modi’in.
    • Crateras de 8 a 10 metros de profundidade capazes de destruir infraestrutura subterrânea1.
  2. Vítimas humanas em larga escala:
    • Um impacto em áreas residenciais ou comerciais poderia resultar em centenas de mortes, conforme estimado por análises da BBC.
    • Fragmentação de vidros e detritos projetados amplificariam ferimentos, mesmo em interceptações parciais.

Em meio a convivência com este perigo diário, seguimos realizando ataques no Líbano contra o Hizbalah e na Síria contra os novos mandantes.

E a guerra em Gaza, que foi retomada para manter Netanihau no poder e poder passar o orçamento anual de 2025, vai aumentando de intensidade dia a dia. A perda de vidas cresce do lado palestino e a qualquer momento vai chegar para nós também. Sejam as vidas de soldados, sejam de reféns, ou de ambos. Uma questão de tempo.
Se tudo isto não bastasse, o governo passou uma lei que muda a constituição profissional da comissão que nomeia juízes. Saem os profissionais e a ordem dos advogados, entram políticos. Obviamente que com maioria para o governo. A lei já está sendo contestada na suprema corte.

As ruas estão recebendo manifestações diárias com dezenas de milhares de manifestantes por todo o país. Os sindicatos, o comércio, a indústria, o sistema financeiro e as empresas High Tech estão avisando o governo que se a democracia for abalada, vão parar o país.

O inverno está indo embora. A primavera já se insinua com os primeiros dias de calor e logo adiante é Pessach. Não há muito o que ser comemorado.

 

Compreendendo o Antissemitismo Contemporâneo: Uma Análise Necessária

Compreendendo o Antissemitismo Contemporâneo: Uma Análise Necessária

Em um mundo onde as linhas entre crítica política legítima e preconceito se tornaram cada vez mais nebulosas, “O Socialismo dos Tolos” emerge como uma obra fundamental para todos aqueles comprometidos com os valores genuínos de direitos humanos e justiça social.

A Convergência Perturbadora

Um dos aspectos mais perturbadores do cenário atual é a convergência ideológica que ocorre quando grupos com visões de mundo aparentemente opostas encontram um denominador comum: a hostilidade contra judeus e o Estado de Israel. O livro expõe com clareza como, apesar das diferenças retóricas, organizações terroristas como o Hamas e certos setores progressistas acabam reproduzindo narrativas surpreendentemente similares quando o assunto envolve judeus.

Enquanto o Hamas expressa seu antissemitismo explicitamente em sua carta fundadora, chamando pela eliminação dos judeus, setores da esquerda frequentemente adotam uma linguagem sofisticada que disfarça preconceitos semelhantes por trás de termos como “antissionismo” e “anticolonialismo”. No entanto, a obra demonstra que, quando analisamos os efeitos práticos de ambos os discursos, encontramos padrões perturbadoramente semelhantes.

O Silêncio Seletivo

Um exemplo concreto desta dinâmica é a resposta ao massacre de 7 de outubro de 2023 e seus desdobramentos. Enquanto o Hamas executou atrocidades documentadas contra civis, incluindo crianças, mulheres e idosos, certos círculos progressistas demonstraram uma hesitação notável em condenar inequivocamente tais atos. Mais recentemente, a descoberta dos corpos de reféns executados no cativeiro – incluindo uma mãe e seus dois filhos pequenos, um deles um bebê de apenas 9 meses da família Bibas – foi recebida com um silêncio ensurdecedor por parte daqueles que rotineiramente se mobilizam contra injustiças em outros contextos.

Este livro oferece ferramentas intelectuais para identificar e responder a esta hipocrisia moral, explicando como o sofrimento judeu é frequentemente relativizado, minimizado ou completamente ignorado por aqueles que se declaram defensores da justiça universal.

Reconhecendo os Códigos

Uma das contribuições mais valiosas desta obra é sua análise detalhada dos códigos linguísticos e retóricos através dos quais o antissemitismo contemporâneo se manifesta. O livro demonstra como certas expressões aparentemente neutras – como “poder sionista”, “lobby israelense” ou a caracterização de Israel como exclusivamente “colonial” – frequentemente funcionam como substituições para tropos antissemitas tradicionais.

Esta decodificação é essencial para todos aqueles comprometidos com o combate genuíno ao preconceito, pois permite reconhecer manifestações de antissemitismo mesmo quando elas vêm disfarçadas de linguagem progressista ou anticolonial.

Por Que Esta Leitura é Essencial

Em um momento em que o antissemitismo global atinge níveis não vistos desde a Segunda Guerra Mundial, compreender suas manifestações contemporâneas torna-se uma necessidade urgente. O livro oferece:

  1. Uma análise histórica que contextualiza o antissemitismo de esquerda desde suas origens até suas formas atuais
  2. Ferramentas para identificar quando críticas a Israel cruzam a linha para o antissemitismo
  3. Exemplos concretos de como movimentos sociais aplicam padrões duplos quando se trata de judeus
  4. Estratégias para responder a argumentos que relativizam ou justificam violência contra judeus

Para aqueles genuinamente comprometidos com justiça social, este livro representa um convite à coerência moral. Ele demonstra que não podemos combater efetivamente qualquer forma de preconceito se continuarmos a tolerar, ignorar ou justificar o preconceito contra judeus.

Recuperando o Universalismo Ético

“O Socialismo dos Tolos” não é apenas uma denúncia do antissemitismo contemporâneo, mas um chamado para que os movimentos progressistas retornem a seus princípios fundadores de igualdade e justiça universal. A obra argumenta convincentemente que um movimento verdadeiramente emancipatório não pode selecionar quais vítimas merecem solidariedade, nem quais formas de ódio devem ser combatidas.

Em um cenário global cada vez mais polarizado, esta análise representa um farol de clareza moral e intelectual, essencial para todos aqueles comprometidos com a construção de um mundo mais justo – para todos os povos, sem exceção.

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O Socialismo dos Tolos: Antissemitismo e a Corrosão dos Valores de Esquerda

O Socialismo dos Tolos: Antissemitismo e a Corrosão dos Valores de Esquerda

Capítulo 1

O “Socialismo dos Tolos” – Das Origens à Contemporaneidade

 A Perspicácia de Bebel: Contexto Histórico e Significado

A Alemanha do final do século XIX experimentava transformações profundas. A industrialização acelerada, a urbanização e as mudanças sociais dramáticas criavam terreno fértil para movimentos políticos que buscavam explicações simplistas para problemas complexos. É neste contexto que August Bebel, um dos fundadores do Partido Social-Democrata Alemão (SPD), observa um fenômeno perturbador: a infiltração de ideias antissemitas no movimento socialista nascente.

A frase “Der Antisemitismus ist der Sozialismus der dummen Kerle” (“O antissemitismo é o socialismo dos tolos”) foi pronunciada por Bebel em 1893 durante um discurso no Reichstag, conforme documentado em arquivos parlamentares alemães. Este comentário não era apenas uma denúncia do preconceito casual, mas um alerta sobre uma falha estrutural e intelectual no pensamento socialista da época.

O termo “tolos”, usado por Bebel, simbolizava uma crítica à substituição da análise rigorosa por explicações fáceis e preconceituosas. Para ele, o antissemitismo era uma forma de desvio ideológico que afastava a atenção dos trabalhadores das reais estruturas de poder e exploração do capitalismo industrial..

 

O Contexto do Pensamento de Bebel

Para compreender a profundidade da análise de Bebel, é crucial examinar o ambiente político da época.

O movimento socialista enfrentava questões complexas sobre a natureza do capitalismo industrial, as relações de classe e as estratégias para transformação social. Simultaneamente, correntes antissemitas ofereciam explicações simplificadas, personificando problemas sistêmicos na figura do “judeu”.

A análise de Bebel revelava como o antissemitismo funcionava como uma forma de desvio ideológico pernicioso. Ao personificar problemas sistêmicos do capitalismo na figura do “judeu”, esta simplificação permitia que as verdadeiras estruturas de poder econômico permanecessem intocadas e invisíveis. Em vez de examinar as complexas relações de classe e os mecanismos de exploração capitalista, os “socialistas tolos” contentavam-se em substituir análise rigorosa por preconceitos étnicos arraigados.

Esta substituição tinha consequências graves para o movimento socialista. A solidariedade internacional da classe trabalhadora, fundamental para qualquer projeto de transformação social, era minada por divisões étnicas e religiosas artificiais. Ironicamente, esta fragmentação servia perfeitamente aos interesses das classes dominantes, que se beneficiavam da desunião entre os trabalhadores.

Mais fundamentalmente, o antissemitismo comprometia os próprios princípios do socialismo. Um movimento que se proclamava defensor da igualdade e da emancipação universal não podia, sem grave contradição, abraçar ou tolerar preconceitos contra qualquer grupo étnico ou religioso. A presença do antissemitismo sinalizava uma falha não apenas moral, mas também intelectual no coração do projeto socialista.

 Evolução do Antissemitismo na Esquerda

A penetração do antissemitismo no pensamento de esquerda não foi um fenômeno limitado ao século XIX. A revisão dos dados históricos revela que mesmo pensadores influentes como Proudhon e Bakunin, apesar de seu compromisso declarado com a emancipação universal, incorporavam preconceitos antijudaicos em seus escritos.

Por exemplo, Proudhon, em seus textos, associava estereótipos antissemitas à crítica do capitalismo. Bakunin, por sua vez, perpetuava a ideia de que os judeus possuíam características inerentes negativas. Esses casos ilustram como o antissemitismo conseguiu se adaptar e sobreviver mesmo dentro de movimentos que se declaravam progressistas.

No século XX, a Revolução Russa de 1917 marcou um aparente rompimento com o passado antissemita, abolindo leis discriminatórias e promovendo judeus a posições de liderança. Contudo, sob Stalin, o regime soviético desenvolveu uma forma sistemática e sofisticada de antissemitismo estatal.

O “Complô dos Médicos” e o Antissemitismo Soviético

De 1948 a 1953, a campanha contra o “cosmopolitismo sem raízes” atingiu seu ápice com o “Complô dos Médicos” em 1953. Neste evento, 37 médicos, predominantemente judeus, foram presos sob falsas acusações de conspirarem para assassinar líderes soviéticos. Estes eventos são extensivamente documentados nos Arquivos Estatais Russos e em obras como Stalin’s Last Crime de Brent e Naumov.

A Repressão Antissemita na União Soviética Pós-Guerra

A repressão contra judeus na União Soviética, especialmente nos anos pós-Segunda Guerra Mundial, foi marcada por uma série de medidas que visavam a marginalização e a supressão da cultura e identidade judaicas.

Números da Repressão:

– Intelectuais: Cerca de 2.000 intelectuais judeus foram demitidos de seus empregos entre 1948 e 1952, evidenciando uma perseguição sistemática contra a elite intelectual judaica.

– Instituições Culturais: A cultura judaica também foi alvo de repressão, com o fechamento de aproximadamente trinta publicações e dez teatros entre 1948 e 1951.

– Ativismo: O Comitê Antifascista Judaico, um grupo de ativistas judeus, sofreu um duro golpe com a execução de treze de seus membros em 12 de agosto de 1952.

 Persistência do Antissemitismo após a Morte de Stalin:

Mesmo após a morte de Stalin em 1953, o antissemitismo continuou a ser uma realidade na União Soviética. Entre 1953 e 1964, observou-se:

– Fechamento de Sinagogas: O número de sinagogas em funcionamento foi drasticamente reduzido, passando de 500 para apenas 96.

– Restrições Religiosas: Um total de 269 comunidades judaicas enfrentaram severas restrições religiosas, limitando a prática do judaísmo e a vida religiosa dos judeus soviéticos.

Os dados apresentados revelam a extensão da repressão antissemita na União Soviética, que afetou não apenas indivíduos, mas também instituições e comunidades judaicas. A perseguição sistemática e a imposição de restrições religiosas visavam a erradicação da identidade judaica e a submissão dos judeus soviéticos ao regime.

Esta persistência é particularmente notável quando comparada ao destino de outras políticas stalinistas. Enquanto práticas como o culto à personalidade, os expurgos políticos e a coletivização forçada foram amplamente criticadas durante a desestalinização, o antissemitismo institucional sobreviveu sob novas formas. O “antissionismo” soviético pós-1967 forneceu um modelo para como preconceitos antijudaicos podiam ser reformulados em termos aparentemente progressistas.

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Indignação Seletiva: Uma Crítica à Superficialidade do Debate Sobre o “Transfer”

Indignação Seletiva: Uma Crítica à Superficialidade do Debate Sobre o “Transfer”

Vejo nos últimos dias muita gente querida preocupada, e até indignada com a limpeza étnica proposta por Trump em Gaza. Com toda razão, se fosse verdade.

Desde que assumiu, Trump demonstrou ser exatamente quem prometeu: um líder imprevisível e polarizador. Aqueles que duvidaram de suas promessas de campanha logo descobriram a realidade. Funcionários governamentais, minorias e grupos marginalizados que apoiaram sua candidatura rapidamente se arrependeram.

Os Árabes Americanos, que anteriormente foram ativos em sua campanha, mudaram até o nome de sua organização para “Árabes Americanos pela Paz” – um sintoma eloquente da desilusão com Trump.

Onde estão os artigos de indignação quando Trump:

Disse que vai tomar de volta o Canal do Panamá. não vi ainda artigos condenando este ato. F*dam-se os panamenhos.

Afirmou que quer a Groelândia. Alguém escreveu alguma coisa em defesa deles? Deve ser porque a maioria nem sabe onde fica a tal Groelândia. F*dam-se os groenlandeses.

Manteve a taxação de produtos chineses que por sua vez já retaliaram no que está sendo o estopim de uma guerra comercial que vai trazer aumento de preços para produtos no mundo inteiro, não apenas para chineses e americanos. Algum artigo? Unzinho?

Trump disse que deseja que os palestinos de Gaza sejam absorvidos pelo Egito e Jordânia enquanto reconstrói a faixa. Bibi gostou da ideia. Pronto caiu o mundo. Artigos de indignação, limpeza étnica, roubo de terras e por aí vai. Judeus dizendo que o antissemitismo vai aumentar ainda mais, seja lá o que isto signifique. Bem, vamos colocar um pouco de ordem nas coisas.

O silêncio ensurdecedor sobre essas declarações contrasta drasticamente com a avalanche de críticas contra Israel. Esta seletividade moral revela mais sobre os críticos do que sobre a complexidade real do conflito.

Números concretos desmontam o sensacionalismo: a reconstrução de Gaza levará pelo menos 15 anos, com mais de 60% das moradias destruídas. Só a limpeza da destruição, que ninguém ainda sabe onde colocar, uns 10 anos. Então imaginem o que será da vida de mais de um milhão de pessoas vivendo em tendas por todo este tempo. Compreensivelmente, nenhum país árabe se ofereceu para receber famílias palestinas – incluindo Egito e Jordânia, justamente os países mencionados na proposta de Trump.

Na verdade, ninguém sabe nada desta proposta, somente da ideia maluca, que nenhuma pessoa com o mínimo de bom senso, acredita que seja exequível. Da mesma maneira, ninguém sabe quem vai reconstruir, quem vai pagar pela reconstrução e o principal, quem vai governar Gaza.

Aqui em Israel, só os extremistas apoiaram o que escutaram de Trump, quando até o seu círculo mais íntimo não faz a menor ideia do que ele está dizendo. Alguns afirmam que será uma saída temporária, ou seja, eles serão alocados para condomínios em outros países enquanto aguardam que novos condomínios sejam construídos em Gaza para que possam voltar. Sério que precisamos falar de tamanha estupidez.

A maioria absoluta dos jornalistas israelense dá risada disso, até mesmo políticos do governo se calam para não rirem em frente às câmeras. Mas ainda assim, tem gente cobrando que devemos repudiar com veemência esta limpeza étnica proposta.

A verdadeira tragédia não são as propostas de Trump, mas a facilidade com que pessoas bem-intencionadas são seduzidas por narrativas simplistas que alimentam o antissemitismo contemporâneo.

Este governo de Israel é tudo de ruim. Esta guerra já deveria ter sido concluída um ano atrás se houvesse um planejamento para o dia seguinte, para substituir o governo do Hamas.

Tudo isto que estamos assistindo prova que os idiotas dominaram o mundo e o poder está com eles neste momento. Sejam razoáveis e não compactuem.

Mas isso não é tudo, vocês que apontam o dedo para Israel, onde estavam quando os Rohingyas foram expulsos de Mianmar para Bangladesh? Quando os Uyghurs foram removidos de regiões na China? Quando os Armênios de Nagorno-Karabakh foram forçados a deixar a região após conflito com Azerbaijão em 2020?

Tudo isto que estamos assistindo prova que os idiotas dominaram o mundo e o poder está com eles neste momento. Sejam razoáveis e não compactuem.

Meu recado é simples: antes de julgar, busquem estudar o assunto.

Leiam: O Socialismo dos Tolos – A corrosão dos Valore de Esquerda 

O Socialismo dos Tolos