Antissemitismo até quando?

Antissemitismo até quando?

Assim como o racismo contra os negros não tem fim, o mesmo parece ocorrer com o antissemitismo com uma história de dois mil anos. Quando fiquei sabendo dos livros do Mauro Nadav sobre o ódio aos judeus tanto na esquerda como na direita, fiquei curioso com os novos estudos sobre um velho tema. Ao ser convidado para fazer uma resenha, fiquei contente, pois assim saberia que iria mesmo ler e aprender. Estudar mais sobre o antissemitismo não é agradável, mas é preciso pois o desagradável é importante, ou muito importante. O livro “O socialismo dos tolos: antissemitismo e a corrosão dos valores de esquerda” começa pela origem da expressão “socialismo de tolos”, sobre a qual muito li mas desconhecia sua origem. O importante líder de esquerda da Alemanha, August Bebel, foi quem disse, no final do século XIX: “Na verdade, o antissemitismo é o socialismo dos tolos”. É uma declaração sobre a ideia de que a “riqueza” e o “poder” judaicos são a fonte de toda injustiça social. Bebel concluiu: “Nossa luta é contra sistemas de opressão, não contra grupos étnicos ou religiosos. O momento em que aceitarmos dividir a classe trabalhadora com base em religião ou etnia, teremos traído tudo pelo que lutamos”. Bebel, ao morrer em 1913, foi saudado por Lenine e outros líderes mundiais, pois dedicou sua vida pela luta socialista. A leitura é muito agradável porque há detalhes do clima, dos espaços no qual ocorrem os diálogos, num estilo que desperta o interesse do leitor.

Gostaria de transcrever todo o sumário para que se tenha uma ideia do quanto o autor estudou nos mínimos detalhes a incrível história de como se formou o antissemitismo na esquerda. O primeiro capítulo é: “O Socialismo dos Tolos – Das Origens à Contemporaneidade”.

Já o segundo é “As três características fundamentais do antissemitismo de esquerda”. Já o capítulo quatorze é sobre o novo antissemitismo na Europa, e seguem mais doze capítulos. Ao terminar a leitura, me dei conta de quanto foram feitas novas investigações sobre o velho tema. Há muito para se aprender sobre um tema que nunca será agradável, mas hoje é mais necessário do que nunca. O antissemitismo num sentido é democrático, pois, mesmo estando mais à direita (fascismo e nazismo mantêm uma fraternidade), ele integra certa esquerda sim, a começar por Stalin, que perseguiu e mandou matar judeus como o escritor Isaac Babel e médicos judeus.

Na leitura do livro lembrei de uma história que nunca escrevi, mas um dia em Israel minha irmã Gladis comentou. Era o final do mês de maio de 1967, quando já se anunciava a guerra entre o Egito e Israel, quando foi organizada na Faculdade de Direito da UFRGS uma conferência com debate que estaria a cargo de um importante líder de esquerda que era judeu. Alguém me avisou que eu deveria ir, pois alguém precisava debater, em tempos que se debatia mais que hoje. Fui, é claro, e havia um bom público com alguns intelectuais como Marco Aurélio Garcia, que viria a ser um assessor importante do presidente Lula. Israel era definido na época como sendo a ponta de lança do Imperialismo Americano. O conferencista falou por quase uma hora, quando destacou a importância de Gamal Abdel Nasser, líder egípcio, importante no chamado Terceiro Mundo. O clima todo era contra Israel e a favor do Egito, como se fosse uma partida de futebol. Curioso que o Marco Aurélio levou um radinho de pilha, pois escutava a partida de futebol de São Paulo X Internacional, e, quando saiu o gol de Lambari batendo uma falta, ele comentou baixinho. Terminou a conferência e ocorreu um silêncio na plateia. Fiquei quieto aguardando que alguém falasse, mas o tema não era fácil, afinal, o Oriente Médio na época era muito distante.

Levantei a mão depois de um bom tempo, e logo me passaram a palavra. Disse algo mais ou menos assim (afinal, faz quase sessenta anos): “Nasser está sendo muito exaltado, mas desejo recordar o que ocorreu em 1964 quando o líder soviético Nikita Kruschev veio inaugurar a barragem de Assuã. Poucos dias antes de sua visita que durou dezesseis dias, Nasser ordenou a libertação de centenas de presos comunistas e de esquerda. Portanto, se estivéssemos lá talvez poderíamos estar entre os presos”. Logo se estabeleceu um debate, um belo debate que minha irmã Gladis nunca esqueceu. Em 1967, Mauro Nadav talvez não tivesse nascido ou era um menino, e parte da esquerda já não gostava de Israel. O livro se recomenda por si. Leiam o sumário, uma página ou pouco mais, e logo verão que é um estudo indispensável.

Kol Hakavod – com todo o respeito – Mauro Nadav, missão cumprida!

É preciso saber viver

É preciso saber viver

Nos últimos dez dias, os Houthis do Iêmen tem lançado um míssil balístico por dia contra nós, hoje foram dois. Geralmente as sirenes de alerta soam nas regiões de Jerusalém e Tel Aviv, e até o momento, todos os mísseis foram derrubado fora do nosso espaço aéreo.

Vocês têm noção do que é viver assim? Todos os dias, as vezes de dia, mas quase sempre no meio da noite, ter de acordar e correr para um abrigo? Ninguém quer ariscar que a defesa falhe e o míssil caia sobre si. Nossa defesa antiaérea é a melhor do mundo, no entanto não é hermética.

Principais impactos esperados em caso de impacto direto:

  1. Destruição estrutural massiva:
    • Ogivas convencionais de mísseis como o Emad (iranisano) podem demolir edifícios de concreto, como evidenciado pelo colapso parcial de uma escola em Modi’in.
    • Crateras de 8 a 10 metros de profundidade capazes de destruir infraestrutura subterrânea1.
  2. Vítimas humanas em larga escala:
    • Um impacto em áreas residenciais ou comerciais poderia resultar em centenas de mortes, conforme estimado por análises da BBC.
    • Fragmentação de vidros e detritos projetados amplificariam ferimentos, mesmo em interceptações parciais.

Em meio a convivência com este perigo diário, seguimos realizando ataques no Líbano contra o Hizbalah e na Síria contra os novos mandantes.

E a guerra em Gaza, que foi retomada para manter Netanihau no poder e poder passar o orçamento anual de 2025, vai aumentando de intensidade dia a dia. A perda de vidas cresce do lado palestino e a qualquer momento vai chegar para nós também. Sejam as vidas de soldados, sejam de reféns, ou de ambos. Uma questão de tempo.
Se tudo isto não bastasse, o governo passou uma lei que muda a constituição profissional da comissão que nomeia juízes. Saem os profissionais e a ordem dos advogados, entram políticos. Obviamente que com maioria para o governo. A lei já está sendo contestada na suprema corte.

As ruas estão recebendo manifestações diárias com dezenas de milhares de manifestantes por todo o país. Os sindicatos, o comércio, a indústria, o sistema financeiro e as empresas High Tech estão avisando o governo que se a democracia for abalada, vão parar o país.

O inverno está indo embora. A primavera já se insinua com os primeiros dias de calor e logo adiante é Pessach. Não há muito o que ser comemorado.

 

Compreendendo o Antissemitismo Contemporâneo: Uma Análise Necessária

Compreendendo o Antissemitismo Contemporâneo: Uma Análise Necessária

Em um mundo onde as linhas entre crítica política legítima e preconceito se tornaram cada vez mais nebulosas, “O Socialismo dos Tolos” emerge como uma obra fundamental para todos aqueles comprometidos com os valores genuínos de direitos humanos e justiça social.

A Convergência Perturbadora

Um dos aspectos mais perturbadores do cenário atual é a convergência ideológica que ocorre quando grupos com visões de mundo aparentemente opostas encontram um denominador comum: a hostilidade contra judeus e o Estado de Israel. O livro expõe com clareza como, apesar das diferenças retóricas, organizações terroristas como o Hamas e certos setores progressistas acabam reproduzindo narrativas surpreendentemente similares quando o assunto envolve judeus.

Enquanto o Hamas expressa seu antissemitismo explicitamente em sua carta fundadora, chamando pela eliminação dos judeus, setores da esquerda frequentemente adotam uma linguagem sofisticada que disfarça preconceitos semelhantes por trás de termos como “antissionismo” e “anticolonialismo”. No entanto, a obra demonstra que, quando analisamos os efeitos práticos de ambos os discursos, encontramos padrões perturbadoramente semelhantes.

O Silêncio Seletivo

Um exemplo concreto desta dinâmica é a resposta ao massacre de 7 de outubro de 2023 e seus desdobramentos. Enquanto o Hamas executou atrocidades documentadas contra civis, incluindo crianças, mulheres e idosos, certos círculos progressistas demonstraram uma hesitação notável em condenar inequivocamente tais atos. Mais recentemente, a descoberta dos corpos de reféns executados no cativeiro – incluindo uma mãe e seus dois filhos pequenos, um deles um bebê de apenas 9 meses da família Bibas – foi recebida com um silêncio ensurdecedor por parte daqueles que rotineiramente se mobilizam contra injustiças em outros contextos.

Este livro oferece ferramentas intelectuais para identificar e responder a esta hipocrisia moral, explicando como o sofrimento judeu é frequentemente relativizado, minimizado ou completamente ignorado por aqueles que se declaram defensores da justiça universal.

Reconhecendo os Códigos

Uma das contribuições mais valiosas desta obra é sua análise detalhada dos códigos linguísticos e retóricos através dos quais o antissemitismo contemporâneo se manifesta. O livro demonstra como certas expressões aparentemente neutras – como “poder sionista”, “lobby israelense” ou a caracterização de Israel como exclusivamente “colonial” – frequentemente funcionam como substituições para tropos antissemitas tradicionais.

Esta decodificação é essencial para todos aqueles comprometidos com o combate genuíno ao preconceito, pois permite reconhecer manifestações de antissemitismo mesmo quando elas vêm disfarçadas de linguagem progressista ou anticolonial.

Por Que Esta Leitura é Essencial

Em um momento em que o antissemitismo global atinge níveis não vistos desde a Segunda Guerra Mundial, compreender suas manifestações contemporâneas torna-se uma necessidade urgente. O livro oferece:

  1. Uma análise histórica que contextualiza o antissemitismo de esquerda desde suas origens até suas formas atuais
  2. Ferramentas para identificar quando críticas a Israel cruzam a linha para o antissemitismo
  3. Exemplos concretos de como movimentos sociais aplicam padrões duplos quando se trata de judeus
  4. Estratégias para responder a argumentos que relativizam ou justificam violência contra judeus

Para aqueles genuinamente comprometidos com justiça social, este livro representa um convite à coerência moral. Ele demonstra que não podemos combater efetivamente qualquer forma de preconceito se continuarmos a tolerar, ignorar ou justificar o preconceito contra judeus.

Recuperando o Universalismo Ético

“O Socialismo dos Tolos” não é apenas uma denúncia do antissemitismo contemporâneo, mas um chamado para que os movimentos progressistas retornem a seus princípios fundadores de igualdade e justiça universal. A obra argumenta convincentemente que um movimento verdadeiramente emancipatório não pode selecionar quais vítimas merecem solidariedade, nem quais formas de ódio devem ser combatidas.

Em um cenário global cada vez mais polarizado, esta análise representa um farol de clareza moral e intelectual, essencial para todos aqueles comprometidos com a construção de um mundo mais justo – para todos os povos, sem exceção.

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Donald Trump, o Rumble, o Yahoo!, o Discurso de Ódio, o Antissemitismo, e uma lata de Zyklon B.

Donald Trump, o Rumble, o Yahoo!, o Discurso de Ódio, o Antissemitismo, e uma lata de Zyklon B.

por Charles Schaffer

Ainda em final de 2024, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal do Brasil, relator do inquérito das fake news, ordenou que a Rumble e a Trump Media & Technology Group, proprietária da rede social Truth Social, removessem contas de perfis ligados à extrema-direita, acusados de disseminar discurso de ódio e desinformação.

A ordem incluía o bloqueio de contas específicas, o seu acesso por brasileiros, a indicação de representante legal no Brasil (conforme a lei determina), sob pena de multas, inclusive relativas a descumprimentos de ordens anteriores. Em particular, o alvo era Allan dos Santos, com prisão preventiva decretada em 5 de outubro de 2021.

Allan dos Santos é acusado de atuação em organização criminosa para desestabilizar as instituições democráticas brasileira, esquemas de lavagem de dinheiro e crimes contra a honra, entre outros. A extradição dos EUA foi negada, justificada pela Primeira Emenda.

A Rumble e a Trump Media então processaram o ministro Moraes em um tribunal federal na Flórida, acusando-o de tentar censurar o discurso político legítimo nos Estados Unidos, amparado pela Primeira Emenda.

A ação desferida teve um conteúdo pessoal e dirigida contra o Ministro Alexandre de Morais, desconsiderando que toda a atuação do Ministro estava baseada na jurisprudência do STF.

Este caso foi tornado uma nova disputa pessoal, de políticos contra a pessoa de Alexandre de Morais e, como sempre, não contra o STF que tem confirmado todas as  suas decisões. Isto gerou novas repercussões, ataques agressivos por parlamentares e pela mídia, em um debate político nacional já tão polarizado.

Com a recusa da plataforma Rumble em cumprir as determinações judiciais, o STF emitiu uma nova ordem, agora para suspender o acesso à rede social em todo o território brasileiro. Na ordem, foi determinado à Anatel que adotasse as medidas necessárias.

Neste dia 25 de fevereiro de 2025 saiu a decisão do tribunal nos EUA, em Tampa, indeferindo a ação proposta, por não haver nada a decidir, pelo princípio do “ripness” (imaturidade da ação, nada a julgar) já que:

✔ A decisão de Moraes contra Rumble e Trump Media não foi formalmente executada nos EUA.
✔ Nenhuma entidade tentou obrigar as empresas a cumprir as ordens brasileiras em território americano.
✔ Portanto, não há um caso concreto para ser analisado agora.

No julgamento, um precedente foi chamado à pauta:

O caso Yahoo! Inc. v. La Ligue Contre Le Racisme et L’Antisémitisme (9º Circuito, 2006)

O caso Yahoo! Inc. v. La Ligue Contre Le Racisme et L’Antisémitisme, decidido pelo Tribunal de Apelação do 9º Circuito dos Estados Unidos em 2006, é um precedente importante sobre jurisdição internacional e liberdade de expressão na internet.

Ele envolveu uma disputa entre a empresa americana Yahoo! Inc. e organizações francesas de combate ao racismo e antissemitismo.

Em meados do ano 2000, a internet ainda era um território em expansão, onde as fronteiras físicas pareciam dissolver-se diante da vastidão digital. Nesse cenário, o portal Yahoo! destacava-se como uma das principais portas de entrada para o mundo online, oferecendo uma variedade de serviços, incluindo leilões virtuais.

Entre os itens disponíveis nos leilões do Yahoo!, encontravam-se objetos carregados de um passado sombrio: memorabilia nazista, incluindo uniformes, insígnias e até mesmo uma lata de Zyklon B, o gás mortal utilizado nos campos de extermínio, tudo protegido pela Primeira Emenda à Constituição dos EUA.

Para muitos, especialmente na França, país profundamente marcado pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial, a simples exposição e comercialização desses artefatos eram não apenas ofensivas, mas também ilegais.

A Ligue Internationale Contre le Racisme et l’Antisémitisme (LICRA) e a Union des Étudiants Juifs de France (UEJF), organizações dedicadas ao combate ao racismo e ao antissemitismo, não puderam ignorar tal afronta. Indignadas, decidiram agir. Em maio de 2000, ingressaram com uma ação judicial no Tribunal de Grande Instância de Paris, buscando impedir que o Yahoo! continuasse a facilitar a venda desses itens em sua plataforma.

O Yahoo!, por sua vez, argumentou que seus servidores estavam localizados nos Estados Unidos, onde tais vendas eram permitidas sob a égide da Primeira Emenda da Constituição Americana, que protege a liberdade de expressão. A empresa alegou, ainda, que seria tecnicamente inviável restringir o acesso de usuários franceses aos leilões hospedados em seus domínios americanos.

O tribunal francês, no entanto, não se convenceu. Em uma decisão histórica, determinou que o Yahoo! deveria “tomar todas as medidas necessárias para dissuadir e impedir” o acesso de internautas franceses a essas ofertas, sob pena de multa diária de 100.000 francos. Especialistas foram consultados e concluíram que, embora desafiador, era tecnicamente possível implementar filtros que bloqueassem a maioria dos acessos provenientes da França.

Diante da pressão legal e moral, o Yahoo! optou por ajustar sua política global. Anunciou a proibição da venda de objetos nazistas em todas as suas plataformas de leilão, não apenas na França.

Essa decisão não apenas atendeu às demandas legais, mas também refletiu uma responsabilidade corporativa diante das sensibilidades históricas e culturais.

Esse episódio emblemático destacou os desafios intrínsecos à governança da internet, especialmente quando práticas online entram em conflito com legislações e valores culturais de diferentes nações. A controvérsia entre a LICRA e o Yahoo! serviu como um marco na discussão sobre jurisdição, liberdade de expressão e responsabilidade corporativa no espaço digital globalizado.

Vinte e cinco anos depois, com a nova presidência norte-americana, com Donald Trump, o tema de uma Primeira Emenda que abriga e protege o discurso de ódio, teses nazistas, antissemitismo, liberdade a partidos nazistas, atuação da Ku Klux Klan, demonstrações reiteradas da saudação romana, sinal de apoio a Hitler utilizado na segunda guerra, por Elon Musk, Steve Bannon, volta à tona o debate.

Muitos judeus, no mundo inteiro, estão seduzidos pelo canto da sereia do discurso de Trump em apoio Israel na faixa de Gaza, com um projeto absolutamente inaceitável por aqueles que defendem a paz, e, com ela, a única opção compatível com a democracia e os valores judaicos do “Tikun Olam” (melhorar o mundo).

A necessária formatação, ainda que lenta e de longo prazo, de um projeto de dois estados, Israel e Palestina, lado a lado, é pré-requisito para a paz e para o futuro democrático do Estado de Israel.

Esta cegueira surge em consonância com um filosemitismo efêmero e instável, afinal o 47º presidente dos EUA é instável e pode mudar de posição a qualquer momento, basta um aceno de fornecimento de petróleo barato por países como a Arábia Saudita.

Não podemos agir com cegos a esta nova realidade. Um perigo. Não se trata de opinião. Abrir os olhos é essencial, especialmente se queremos reafirmar que “NUNCA MAIS É NUNCA MAIS” mesmo.

Indignação Seletiva: Uma Crítica à Superficialidade do Debate Sobre o “Transfer”

Indignação Seletiva: Uma Crítica à Superficialidade do Debate Sobre o “Transfer”

Vejo nos últimos dias muita gente querida preocupada, e até indignada com a limpeza étnica proposta por Trump em Gaza. Com toda razão, se fosse verdade.

Desde que assumiu, Trump demonstrou ser exatamente quem prometeu: um líder imprevisível e polarizador. Aqueles que duvidaram de suas promessas de campanha logo descobriram a realidade. Funcionários governamentais, minorias e grupos marginalizados que apoiaram sua candidatura rapidamente se arrependeram.

Os Árabes Americanos, que anteriormente foram ativos em sua campanha, mudaram até o nome de sua organização para “Árabes Americanos pela Paz” – um sintoma eloquente da desilusão com Trump.

Onde estão os artigos de indignação quando Trump:

Disse que vai tomar de volta o Canal do Panamá. não vi ainda artigos condenando este ato. F*dam-se os panamenhos.

Afirmou que quer a Groelândia. Alguém escreveu alguma coisa em defesa deles? Deve ser porque a maioria nem sabe onde fica a tal Groelândia. F*dam-se os groenlandeses.

Manteve a taxação de produtos chineses que por sua vez já retaliaram no que está sendo o estopim de uma guerra comercial que vai trazer aumento de preços para produtos no mundo inteiro, não apenas para chineses e americanos. Algum artigo? Unzinho?

Trump disse que deseja que os palestinos de Gaza sejam absorvidos pelo Egito e Jordânia enquanto reconstrói a faixa. Bibi gostou da ideia. Pronto caiu o mundo. Artigos de indignação, limpeza étnica, roubo de terras e por aí vai. Judeus dizendo que o antissemitismo vai aumentar ainda mais, seja lá o que isto signifique. Bem, vamos colocar um pouco de ordem nas coisas.

O silêncio ensurdecedor sobre essas declarações contrasta drasticamente com a avalanche de críticas contra Israel. Esta seletividade moral revela mais sobre os críticos do que sobre a complexidade real do conflito.

Números concretos desmontam o sensacionalismo: a reconstrução de Gaza levará pelo menos 15 anos, com mais de 60% das moradias destruídas. Só a limpeza da destruição, que ninguém ainda sabe onde colocar, uns 10 anos. Então imaginem o que será da vida de mais de um milhão de pessoas vivendo em tendas por todo este tempo. Compreensivelmente, nenhum país árabe se ofereceu para receber famílias palestinas – incluindo Egito e Jordânia, justamente os países mencionados na proposta de Trump.

Na verdade, ninguém sabe nada desta proposta, somente da ideia maluca, que nenhuma pessoa com o mínimo de bom senso, acredita que seja exequível. Da mesma maneira, ninguém sabe quem vai reconstruir, quem vai pagar pela reconstrução e o principal, quem vai governar Gaza.

Aqui em Israel, só os extremistas apoiaram o que escutaram de Trump, quando até o seu círculo mais íntimo não faz a menor ideia do que ele está dizendo. Alguns afirmam que será uma saída temporária, ou seja, eles serão alocados para condomínios em outros países enquanto aguardam que novos condomínios sejam construídos em Gaza para que possam voltar. Sério que precisamos falar de tamanha estupidez.

A maioria absoluta dos jornalistas israelense dá risada disso, até mesmo políticos do governo se calam para não rirem em frente às câmeras. Mas ainda assim, tem gente cobrando que devemos repudiar com veemência esta limpeza étnica proposta.

A verdadeira tragédia não são as propostas de Trump, mas a facilidade com que pessoas bem-intencionadas são seduzidas por narrativas simplistas que alimentam o antissemitismo contemporâneo.

Este governo de Israel é tudo de ruim. Esta guerra já deveria ter sido concluída um ano atrás se houvesse um planejamento para o dia seguinte, para substituir o governo do Hamas.

Tudo isto que estamos assistindo prova que os idiotas dominaram o mundo e o poder está com eles neste momento. Sejam razoáveis e não compactuem.

Mas isso não é tudo, vocês que apontam o dedo para Israel, onde estavam quando os Rohingyas foram expulsos de Mianmar para Bangladesh? Quando os Uyghurs foram removidos de regiões na China? Quando os Armênios de Nagorno-Karabakh foram forçados a deixar a região após conflito com Azerbaijão em 2020?

Tudo isto que estamos assistindo prova que os idiotas dominaram o mundo e o poder está com eles neste momento. Sejam razoáveis e não compactuem.

Meu recado é simples: antes de julgar, busquem estudar o assunto.

Leiam: O Socialismo dos Tolos – A corrosão dos Valore de Esquerda 

O Socialismo dos Tolos

 

Da idiotização ou, abaixo o Prometeu Acorrentado

Da idiotização ou, abaixo o Prometeu Acorrentado

…e o que diz o vento?…muita coisa…
-Mentira! O vento não diz nada
(Alberto Caeiro, in O Guardador de Rebanhos)

Desconfio que o Renascimento, enquanto um movimento cultural e espiritual humano, ainda não ocorreu, pois nos sufocamos, por séculos, em um mundo de conceitos-frankenstein do tipo “atenas-persia-roma-meca-wittenberg”, que se tornaram preconceitos de brancos (de todas as cores), negros (de todas as tribos), orientais (com ou sem petróleo), bárbaros-convertidos (com ou sem graal), gregos (atenienses ou espartanos), romanos-germânicos (com cruz ou suástica), afro-americanos (pastores ou pugilistas), afro-brasileiros (pregadores ou predadores), hispano-americanos (generais ou sindicalistas). E hoje são, por desgraça coletiva, divulgados e impostos – via missionários, professores e loucos de todo gênero – aos quatro ventos (e mais alguns) como conceitos originais (riso, muito riso, sinal da cruz, um passe e língua estranha!!!)

Estamos completamente minados de falsas idéias, de espasmos educacionais, de loucuras programáticas, de um tosco senso de superioridade bacharelada e, temo em afirmar, que os homens das cavernas estavam bem melhor, pois, ao menos, não estavam enganados quantos aos verdadeiros obstáculos e as lutas cotidianas por sobrevivência. Saíam para enfrentar o tigre e caçar a gazela. Defendiam o fogo como se fora sua própria essência (e era…). Não sofriam de depressão, solidão, inveja, consumismo, não visitavam a caverna do vizinho, não faziam culto ao mercado, não comiam isopor e plástico, não arrastavam cruzes na Via Dutra nem se explodiam para ganhar virgens celestiais, não entregavam “lições bíblicas” nas rochas e, sobretudo, não faziam cursinhos preparatórios. Além disso, não faziam sexo virtual nem desenhavam mulheres nuas em uma rocha qualquer! De fato, eles não freqüentavam lojas de “adultos” (gargalhadas!!!)

E por que lutam ou vivem as pessoas hoje? Por nada. As pessoas não lutam, elas vão acordando, a muito custo, para mais um dia (que precisa logo terminar), na cópia insana de seres abstratos, de personagens insípidas, chorando o choro desconhecido, o choro oriundo da oscilação psicológica. É um sofrimento pobre (que causa risos e gargalhadas), e que passa quando termina o capítulo, o funeral e o efeito de vinhos feitos em laboratório, pois faltam os ursos, os tigres, os leões levando crianças. Estamos em uma sociedade pobre, que ama estar no vazio. As estruturas educacionais, culturais, econômicas, políticas e jurídicas (e por que não dizer as miseráveis estruturas religiosas) primam pelo absolutamente idiota e idiotizante!

Há uma necessidade mecanicamente visceral de meios artificiais de prazer ou de percepção de mundo. Há uma glória, incontrolável e orgásmica, por exemplo, em saber lidar com os variados recursos de um celular (aplausos). O cheiro é artificial. O que se vê é virtual. O que se saboreia é um misto de “alguma” coisa com “alguma” coisa. O que se ouve é eletrônico. E o toque é o encontro da mão de espuma com a superfície de concreto…(cara de choro…)

Experimentar um “renascimento” humano, deveria começar pela defesa da caverna e do fogo. É preciso voltar a reconhecer o cheiro natural (será que alguém sabe qual é o cheiro do encontro entre um homem e uma mulher?). É preciso quebrar todos os celulares e recuperar o grito, o urro e o gemido, verdadeiramente orgásmicos, que afastavam ursos, leões e hienas…e ecoavam pelos espaços na terra…É preciso revisitar a nossa própria humanidade sem a imagem artificial, e voltar a comer coisas que tenham o seu gosto, morder a fruta e a carne sem componentes cancerígenos e transgênicos. E, sobretudo, desligar os aparelhos que produzem o som retardado, e tentar ouvir a voz, a vibração, o timbre, até que o cantante desmaie e faça desmaiar…É preciso reaprender a tocar, com o dedo, com a língua, com o tecido epitelial, como fazem os animais e sentir que aquilo que se toca é aquilo mesmo!

Mas, sobretudo, é preciso “fuzilar” (ou melhor, mandar para o espaço) todos os educadores que vivem fazendo comércio da Educação, todos os artistas acometidos de nulidades absolutas, todos os economistas que não puderam resolver o problema básico do pão (infelizmente francês), e todos os juristas (formados até aqui), sejam advogados, delegados, sejam promotores, sejam juízes ou qualquer outro aventureiro, pois não conseguiram fazer o povo acreditar na Justiça (aliás, contribuíram com a inércia, superficialidade e mercenarismo, para o estado de “medo e desconfiança”). Afinal, as pessoas têm medo de advogados, delegados, promotores e juízes e, por culpa deles, não sabem distinguir o que é justo e injusto, o que é verdade e o que é mentira, o que é autoridade e o que é violência. Por culpa deles, o Direito virou ração de porcos! (aplausos!!!)

Porém, aos políticos e líderes religiosos (os piores de todos), deve ser reservada a prisão perpétua e, perpetuamente devem ser obrigados, diuturnamente, de modo incessante, continuado e impiedoso, a ouvir seus próprios discursos, suas loucuras, suas blasfêmias, suas mentiras, suas interpretações loucas de textos antigos. É preciso que saibam, com exatidão, que criaram para o povo alucinações das quais mil anos será pouco, para a devida purificação…(muitos aplausos!!!)

E, por fim, quebrar as correntes do Prometeu (matando-o ou libertando-o) e espantar os abutres que lhe comeram o fígado esses séculos todos. Não há razão para sofrer quando se transfere o conhecimento, quando a luz é entregue, quando o amor reina e quando o homem descobre o seu caminho…(correria, risos e aplausos!!!)

Roma (Isola Sacra Fiumicino), Itália, 20 de Sivan, 5768 (23/6/2008)

Pietro Nardella-Dellova

Imagem: Prometeu Acorrentado, Artus Scheiner