Por que digo – e afirmo, que sou anarquista?

Por que digo – e afirmo, que sou anarquista?

1

Por que eu digo – e afirmo sempre, que sou anarquista?

2

Digo que sou anarquista (prefiro a palavra anárquico) pela manhã, pela tarde, noite e madrugada? Por quê? Qual razão?

3.

Porque vivo, aliás, existo, em sociedade! E, entre seres humanos maravilhosos há, também, asnos, asnos conservadores, asnos midiáticos, asnos convictos, asnos militarizantes, asnos dogmáticos, asnos crentes, asnos místicos, asnos idólatras, asnos pregadores, asnos alucinados, asnos noveleiros, asnos criadores de asnos… e todos esses asnos consideram um anarquista como alguém que seja capaz de fazer o que apenas asnos fazem!

4.

Mas, enganam-se os asnos! Sou anarquista – e asno não serei, porque ser anarquista significa, desde sempre, não ser conservador, midiático, convicto, militarizante, dogmático, crente, místico, idólatra, pregador, alucinado, noveleiro e criador de outros asnos… Ser anarquista é ter a opção de não ser nada disso…

5.

Optei pela palavra “anarquista” ou “anárquico” por ser, então, a mais confusa e mal utilizada. Até os bodes e os cabritos, bem como as ovelhas que andam pelas ruas quebrando orelhões, vidraças e ônibus se chamam (a si mesmos) de anarquistas. Mas, são apenas bodes, cabritos e ovelhas – alucinados, quebradores de orelhões, vidraças e ônibus!

6.

É preciso dar a essas palavras, ou seja, anarquista, anarquismo, anárquico, anarquia, o seu exato sentido, o sentido grego (e, mais ainda, o sentido judaico), assim como para a outra palavra, que uso com orgulho incontido, “ateu”! Neste caso, não tem a ver com as forças incompreensíveis do Cosmos, da Natureza (que respeito!), mas com a futilidade e idiotia das teologias que bloqueiam o mundo! Falarei disso oportunamente…

7.

Por que eu digo – e afirmo sempre, que sou anarquista? Porque é preciso resistir à cola asfáltica, ao mundo ensebado, à uniformização, à anulação, à destruição da criatividade! É preciso respirar, sonhar, amar, viver, viver, viver, sem muros e sem senhores! É preciso viver sem cascos! 

*

Dezembro de 2014

Pietro Nardella-Dellova

Por que digo – e afirmo, que sou anarquista” in INFLEXÕES ANÁRQUICAS E ALGUMA POESIA NO UMBIGO DA MULHER AMADA. (prelo)

Vem, vem pra cama, amor…

Vem, vem pra cama, amor…

I

Meu amor, vem pra cama!

II

Façamos amor por todo este dia, nus (e desnudados) em gozos plurais, multifacetados e libertação plena! Vem, amor!

III

Quando nos cansarmos da cama, faremos amor no sofá, na mesa da cozinha, no corredor, no chão da sala. Vem, amor!

IV

Abriremos nossas pupilas e nossos poros, abençoaremos nossos lábios com nossos próprios corpos, libertaremos nossos fogos e, em urros, voaremos às alturas e, sem trégua, mergulharemos, profundos, em nossos corpos e almas!

V

Lá fora, hoje, meu amor, na rua, há apenas torcida organizada por anencéfalos, e há torcedores drogados carregando suas bandeiras e seus paus, e há repressores, e há reprimidos, e há destruidores da Educação, e há osmóticos, e há repetidores de PowerPoint, e há homofóbicos, e há islamofóbicos, e há banqueiros, e há antissemitas, e há fascistoides, e há nazistas, e há preconceituosos, e há os exterminadores, e há os militaristas, e há machistas, e há psicóticos, e há bipolares, e há espancadores de mulheres, e há autoritários, e há golpistas, e há ignorantes, e há racistas, e há noveleiros, e há midiáticos, e há ressentidos, e há vingativos, e há antidemocráticos, e há os que odeiam, e há egoístas, e há ovelhas, e há curiosos, e há os absolutamente incapazes, e há igrejeiros, e há roubadores de merendas, e há especuladores, e há agiotas, e há roubadores de dízimos, e há escravagistas, e há roubadores de almas e há, por desgraça, a massa assexuada e acrítica, arrastada e centrifugada pelos seus donos! Lá fora, hoje, meu amor, há apenas caixa de gordura e bonecos que marcham!

VI

Vem, amor, vem pra cama!

VII

Vem, amor, vem hoje. A política, meu amor, deixaremos para depois de amanhã, quando se reunirem apenas os esclarecidos, conscientes e libertários!

*

Março de 2016

© Pietro Nardella-Dellova

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Imagem: l’Origine du monde, de 1866, é um quadro pintado pelo realista Gustave Courbet

Sim, sou Judeu, sou de Esquerda, sou Sionista

Sim, sou Judeu, sou de Esquerda, sou Sionista

Sim, sou de Esquerda, porque de Esquerda foram todos os meus patriarcas, de Esquerda foi Moisés, de Esquerda foram os Profetas, de Esquerda foram os maiores Pensadores do Judaísmo e de Esquerda foi aquela parte da minha família que viveu e sobreviveu em ghettos” no sul da Itália, contra todas as opressões, inclusive nazifascsitas.

Sim, sou Sionista, porque Sionistas foram todos os grandes homens e mulheres do Judaísmo por terem, em alto e profundo, uma relação direta de ancestralidade e comunhão com Eretz Israel. Sim, o meu Sionismo não é o mesmo sionismo dos “sionistas” que ocupam e esbulham as terras palestinas, porque o meu Sionismo é pleno de Judaísmo, e o sionismo deles, de ódio e antijudaísmo.

Sim, sou Sionista, e o meu Sionismo pressupõe defender Israel e sua integridade sempre e para sempre. Sim, é o Sionismo do “Am Yisrael Chai”, porque Israel é a melhor coisa que aconteceu nos últimos 2000 anos. Mas, o meu Sionismo não é islamofóbico nem anti-Palestino. É o Sionismo que respeita o Direito Internacional, as Resoluções da ONU e o direito inquestionável dos Palestinos de terem, também, seu Estado e sua independência soberana. Sim, sou Sionista e compreendo, em alto e profundo, que os Palestinos são filhos do mesmo patriarca Avraham.

Sim, sou Sionista, e sou Judeu, e sou de Esquerda, e amo a Torá, os Profetas, os Escritos, o Talmud, o Zohar e tudo aquilo que é fruto da alma e inteligência judias, da caminhada judaica e da experiência do Judaísmo no mundo – nos últimos 4.000 anos.

SHABAT SHALOM UMEVORACH

(© Pietro Nardella-Dellova)

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ph.: a fachada da minha Sinagoga no sul da Itália!

Bolsonaro, Temer, Moro e Collor e a derrota da direita estúpida e da extrema-direita

Bolsonaro, Temer, Moro e Collor e a derrota da direita estúpida e da extrema-direita

Hoje, 22/6/2022, Bolsonaro será julgado pelo TSE – Tribunal Superior Eleitoral, e é provável que aquele Tribunal o julgue inelegível. O conjunto de provas é farto, substancial, público, notório, jurídico: Bolsonaro atentou contra a Democracia, colocou em xeque o sistema eleitoral (diga-se, reconhecidamente, interna ou externamente, como sistema exemplar!). articulou, desde a facada (dizem que falsa!), um golpe.

Golpe encabeçado por ele, e promovido por setores neofascistas e atrasados das Forças Armadas, do sistema especulativo financeiro, dos ruralistas de pouco cérebro e muita voracidade destrutiva, da ala “política” mercenária, dos crentes tipicamente malafaístas, de movimentos expressivamente neofascistas (como o MBL, por exemplo!), da mídia especializada em antidemocracia e, também, de grupos repressores da sexualidade (caso para profissionais da área!).

Bolsonaro é o representante de uma direita burra, emburrecida, idiotizante, e que, há muito, abandonou os padrões (liberais) civilizados de economia, religião e política, e inclinou-se, amarrou-se, colou-se e prendeu-se à extrema-direita com ares nazifascistas! Os apoiadores e representados de Bolsonaro, e promotores do golpismo, estão entre a burrice adorniana (repetição de discursos vazios denunciada por T. Adorno) e a fúria hitlerista e mussolinista.

Mas, Bolsonaro, hoje certamente com sua derrota decidida pelo TSE, é um dos representantes desta extrema-direita (que quer se vender apenas como direita liberal). Michel Temer, Sérgio Moro e Fernando Collor são os outros “escolhidos” para representar o que se tem de pior no Brasil – a extrema-direita maquiada de direita democrática.

Michel Temer, um dos artífices do já reconhecidamente golpe contra o Mandato de Dilma Rousseff (só não é reconhecido por quem defendeu, sem qualquer argumento, o próprio golpe!), foi escolhido para dar existência e corpo aos promotores do golpismo. Com ele estavam todos os promotores do golpismo posterior (o golpe dentro do golpe), entre os quais, a ala neofascista dos militares! Braga Netto já estava com Temer, não nos esqueçamos! Mas, Temer foi derrotado, está derrotado, e saiu com os mais baixos índices de popularidade. Sua idade (e ligações) impede sua prisão!

Sérgio Moro, como se sabe, foi “condenado” como juiz suspeito. Era o escolhido pela extrema-direita para ocupar o lugar de Bolsonaro (a saída antecipada do Ministério da Justiça foi teatral, até porque não apenas se manteve ligado a Bolsonaro, como fez campanha e assessoria eleitoral para Bolsonaro). Moro foi “construído” com uma máscara de “herói” contra “corruptos” desde a farsa da Lava-Jato, cujo objetivo era a prática da “lawfare” contra um alvo específico: Lula. Moro está meio vivo, meio morto: zumbi!

Moro foi “construído” pela extrema-direita do mesmo modo que Fernando Collor. O discurso colocado em suas bocas (nada democráticas, honestas ou justas) era contra o comunismo (comunismo?!), contra a corrupção (corrupção?!) etc. Ambos condenados: Moro por suspeição (e há mais investigações em curso que envolvem bilhões na 13ª Vara, assim como denúncias de Tony Garcia e Tacla Duran); Collor, finalmente, por corrupção!

Voltando a Bolsonaro, o último representante dos promotores do golpe dentro do golpe, hoje ele será julgado inelegível pelo TSE. Dezenas de outras investigações seguem, incluindo crimes de genocídio no Tribunal Penal Internacional, o caso das joias sauditas, os bilhões da Caixa, a falsidade das carteiras de vacinação etc. e, finalmente, o golpismo de 8 de janeiro de 2023.

O que há de comum entre Bolsonaro, Temer, Moro e Collor, além da expressa antidemocracia, ódio aos trabalhadores, ataques diretos e indiretos à CF/88, inclinações militares ao golpismo, violência contra a economia, misoginia e corrupção intrínseca? Todos eles são representantes, construídos e mascarados pela extrema-direita (que já foi mais oculta e, hoje, anda à luz do dia e nas mídias desavergonhadas)! Mas, não só. Todos eles representam, com suas condenações políticas, econômicas e jurídicas, a derrota da extrema-direita!

© Pietro Nardella-Dellova

Para discernir coisas diferentes em vinte tópicos

Para discernir coisas diferentes em vinte tópicos

1. Fé é uma coisa; abuso malafaísta, outra!
 
2. Liberdade de expressão é uma coisa; apologia e prática de crime, outra!
 
3. Política é uma coisa; bolsonarismo, outra!
 
4. Sexo livre é uma coisa; crime sexual, outra!
 
5. Ética é uma coisa; moral, outra!
 
6. Justiça é uma coisa; lavajatismo, outra!
 
7. Jornalismo é coisa; JP, outra!
 
8. Esquerda é uma coisa; PCO e similares, outra!
 
9. Autoridade monetária é uma coisa; camposnetismo, outra!
 
10. Dignidade militar é uma coisa; villasboasismo, braganettismo, maurocidismo…, outra!
 
11. Israel é uma coisa – Estado; Netanyahu, outro – governo de extrema-direita!
 
12. Palestina é uma coisa; Hamás e similares, outra!
 
13. Amor é uma coisa; amar, outra!
 
14. Enamorar-se é uma coisa; assediar, bem outra!
 
15. Judaísmo é uma coisa; Cristianismo e Islamismo, outras!
 
16. Ser Professor é uma coisa; ser biqueiro, outra!
 
17. Ser Estudante é uma coisa; estar matriculado, bem outra!
 
18. Amar a mulher do próximo é uma coisa; amar a mulher do distante, bem outra!
 
19. Relação conjugal afetiva é uma coisa; casamento, bem outra!
 
20. Amizade é uma coisa; contato, coleguismo e perfil, bem outra!
 
(© Pietro Nardella-Dellova)
Mídia digital, extremismo e regulamentação

Mídia digital, extremismo e regulamentação

A imprensa–cujo objetivo é reportar os fatos, verificá-los a fim de transmiti-los ao público– e sua liberdade só são garantidas quando não ferem os princípios da ética jornalística. A ruptura desse princípio não pode ficar impune tampouco o veículo que a perpetrou. Dois casos mostram como o abuso da liberdade de imprensa está sendo contido no Brasil. No entanto, a falta de regulamentação das plataformas de mídia digital faz com que canais digitais se transformem em multiplicadores de um fenômeno da contemporaneidade chamado ‘a crise da verdade’.(Hoggan e Kloubert, 2022) Este fenômeno se calca na difusão da distorção dos fatos e tem como consequência a divisão quase pela metade dos indivíduos numa dada sociedade sobre a percepção objetiva e histórica dela. Essa divisão é promovida pela velha máxima de Júlio Cézar “dividir e conquistar”, foi estratégia de Joseph Goebbels durante o nazismo e é ainda utilizada pelos governos de ultradireita para fomentar o ódio e polarizar a população. Isso tem que ser contido.

A Jovem Pan News é um exemplo desse acervo de fake news, propaladas para consolidar o governo de extrema direita de Bolsonaro entre 2018 e 2022. Em 1942, Antônio Augusto Amaral de Carvalho funda a Jovem Pan, uma radiodifusora que hoje faz parte do histórico jornalístico do país, contando com sua expansão em 100 emissoras, entre canais de notícias e plataformas, espalhadas pelo território brasileiro. Dois programas são o carro-chefe da emissora: “Morning Show” e Os Pingos nos Is Estreado em 2012, “Morning Show”, inspirado no formato americano de shows de matinê, no início contava com a com a chefia do jornalista Zé Luiz que um ano após deixou o programa por desavenças com a produção. O “Morning Show” foi progressivamente se transformando em canal proliferador de lorotas quando em 2021 ajudou a impulsionar desinformação sobre a pandemia de Covid-19. O negacionismo sobre os efeitos letais do vírus se deu ao mostrar entrevistas com médicos no YouTube, defendendo drogas sem eficiência comprovada e com críticas ao uso de máscaras. Uma das comentaristas do programa, a influenciadora digital Zoe Martinez, é investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) por incitar o golpe no dia 08 de janeiro na invasão dos três poderes. Martinez defendeu que as Forças Armadas destituíssem os ministros do Supremo Tribunal Federal. A caribenha naturalizada brasileira cresceu e enriqueceu às custas das plataformas digitais e na alocação de vídeos e comentários contra o comunismo. Sem nenhuma sustentação teórica e sem bases históricas, a influenciadora ratifica o mito de uma falência comunista em Cuba sem apresentar nenhum outro contraponto; produzindo, assim, uma visão tendenciosa sobre esse cenário. Uma pergunta fica. Por que a Jovem Pan só a demitiu quando o MPF foi acionado?

O mesmo aconteceu com os comentaristas da corporação Paulo Figueiredo e Rodrigo Constantino. Figueiredo e Constantino ambos residentes nos EUAs, utilizam o mesmo apelo da primeira emenda constitucional americana para defender a liberdade de imprensa no Brasil e instituir a indecência e antiética jornalísticas. Figueiredo é neto do último presidente militar e ex-sócio de Donald Trump na rede de hotelaria, seguidor do já defunctus guru Olavo de Carvalho. Além do processo de investigação do MPF da Jovem Pan, o ardil é réu de um esquema corrupto apelidado de Operação Circus Máximo em que Figueiredo responde por falcatruas de 20 milhões de reais entre propinas de diretores do Banco de Brasília e a empresa dele na construção da Trump Tower no Rio de Janeiro. De novo, a Jovem Pan só o despediu depois que o MPF se manifestou.

Já Constantino foi taxativo ao afirmar que houve golpe do Supremo Tribunal Federal no resultado das eleições de 2022 que elegeu o candidato Luís Inácio da Silva. Constantino, detentor de uma fortuna de 50 milhões de reais, já passou pela Veja, O Globo, Valor Econômico como colunista e comentarista de economia. Como escritor, seus títulos revelam o perfil de extrema direita na atuação de sua carreira. Um deles é Esquerda Caviar (2014) cujo nome manifesta a posição pejorativa com a qual Constantino trata a oposição no Brasil. Outras produções em palestras denotam a tese central que circunda o seu trabalho, replicando o cerne da ideologia neoliberal no século XXI expressa na seguinte equação: o aumento da produtividade de uma dada sociedade é igual ao aumento da inequidade social, retirando desta sociedade os pobres e idosos. A mesma estratégia da Jovem Pan sobre a demissão se aplica ao infrator.

Tanto em formato radiofônico como digital, Os Pingos nos Is começam com o jornalista Reinaldo Azevedo em 2014, visando oferecer um panorama geral de notícias políticas com comentaristas e críticos. Azevedo, envolvido num suposto áudio comprometedor com a irmã de Aécio Neves, pede demissão em 2017 e o programa se delineia, então, como ultraconservador. Entre 2020 e 2022, Os Pingos nos Is têm em seu quadro os comentaristas Augusto Nunes, Ana Paula Henkel, Guilherme Fiuza e Guga Noblat. Os três primeiros foram responsáveis pela defesa do bolsonarismo, e, diretamente, pelo crescimento do homicídio, feminicídio e de todo potencial destruidor de uma sociedade, corroborado pela fome, miséria, doenças, baixa qualidade na educação, e sistema de saúde pauperizado, etc. Nunes foi demitido porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impedi-o de chamar o atual presidente de “ex-presidiário”. Henkel se demitiu, Fiuza teve seus perfis sociais suspensos por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Guga Noblat, no modelo fake copiado da Fox News americana, tinha o papel mediador no debate, apresentando contra-argumentos aos temas como forma de equilibrar o rol altamente faccioso do show. Pediu demissão da Jovem Pan News em 2022.

Nunes é o exemplo de um extremista latente em que os princípios e atos ultraconservadores se manifestam na medida em haja uma liderança que os avalizam. Com uma carreira longa no jornalismo, Nunes trabalhou como repórter no Estado de S. Paulo e revista Veja, mediou entrevistas no Roda Viva e na TV Cultura, dirigiu as revistas Veja, Época e a Forbes brasileira, os jornais Jornal do Brasil e Zero Hora, for fim, foi amplamente premiado na sua função. No entanto, pelo menos na aparência, sua conduta muda justamente quase um ano após a vitória de Bolsonaro quando Nunes esbofeteia o jornalista Glenn Greenwald ao vivo no show Pânico da Jovem Pan. Greenwald, assumidamente casado com o deputado federal David Miranda e os dois sendo pais adotivos de dois filhos, investigava o imbróglio que colocou o presidente Lula na cadeia. A redação da Pan liberou uma nota se desculpando sobre o comportamento do jornalista. Contudo, nenhuma advertência ou punição mais severa veio da emissora, muito pelo contrário, ela só se pronunciou no momento em que o TSE se manifestou contra a retórica vilipendiosa do jornalista contra Lula.

Surpreendentemente, Fuiza é neto do jurista Sobral Pinto e com uma carreira difusa no jornalismo e na literatura tombou para a ultradireita, defendendo o discurso do ódio e tomando uma postura antidemocrática.

A resposta à negligência da Jovem Pan face à responsabilidade de seus profissionais reside no que é conhecido como capitalismo predatório. Neste sistema, o foco central é o lucro e notadamente o ganho que a veiculação da imagem e da notícia trazem no índice de audiência da corporação comunicativa junto com a influência política e o poder que geram. Neste tipo de comunicação, não cabe nenhum comprometimento ético do profissional e nem da empresa que o representa, muito menos as consequências em que esse veículo produz direto na população (a desinformação elevando o número de vítimas da Covid-19, etc.), ou seja, sua capacidade em provocar mortes. Como representação latente, esta máquina de poder comunicativo funciona conforme a teoria freudiana da psique. O Id social é um depositório das forças inconscientes contra tudo o que é progressista e diferente do padrão de ideias e comportamentos da época e encontra um superego (líder) que lhe escancara a porta para se manifestar. A Jovem Pan serviu de canal para todos aqueles que cultivaram o ódio da diferença se expressarem e só foi barrada agora por pais disciplinadores (STF e TSE). Neste país, precisamos mais desses pais em formas de leis e decretos que impeçam as plataformas digitais de lesionarem a ética com que o jornalismo se compromete. Precisamos desenvolver a consciência de que este é o fio condutor que o capitalismo usa para continuar empreendendo suas desumanidades.