Dos males humanos, a depressão é a pior das doenças. Existe um tabu imenso que se reflete no imaginário humano em relação às doenças psíquicas. É muito mais aceitável que se tenha problemas cardíacos, renais, hepáticos, que inclusive possam resultar em transplantes, ou mortes, mas os males da mente, esses devem ser escondidos no mais profundo baú, em locais inacessíveis, para que ninguém tome conhecimento, porque sofrer da mente é causa de vergonha, representa fraqueza. Quando uma pessoa assume seus problemas mentais em seu meio social, ela passa a ser estigmatizada, desacreditada, passa a carregar uma marca de vergonha. Os seus semelhantes não conseguem ser solidários com essa pessoa, pelo contrário, buscam a distância máxima, e passam a extirpar o doente da sociedade.

No ambiente de trabalho, essa pessoa é alvo de olhares de dó, de críticas, de medo, menos de compaixão. O depressivo geralmente não apresenta um motivo externo para a sua dor, porque é uma doença interna, e independe de fatores externos. Se o doente está numa situação global favorável, se tem uma família, um cônjuge, um bom emprego, se mora bem, então a pergunta não cala nunca: por que essa pessoa está a fazer drama? E surgem as falas equivocadas, sem qualquer embasamento científico, e dessa forma, o doente fica cada vez mais só.

Eu já fui vítima desse mal, e passei exatamente pelas situações citadas, e eram perguntas que eu ouvia diariamente, perguntas que eu não tinha como responder, porque também eu não conhecia as respostas. Hoje, anos após essa vivência, tenho em mim um novo olhar, um entendimento muito mais amplo, e apesar de admitir ser extremamente difícil conviver com um depressivo, ainda assim,  sei que tenho condições de fazê-lo, pois já trilhei esse caminho, e tenho gratidão pelos anjos com os quais pude contar durante essa difícil jornada.

Como profissional da saúde, eu realmente sonho com o dia em que as doenças mentais sejam vistas apenas como doenças, e que sejamos todos capazes de acolher o doente que está próximo de nós, esquecendo de nosso ego, e nos doando em humanidade.