A Federação Israelita do Estado de São Paulo, como entidade representativa da comunidade judaica paulista, tem suas ações baseadas no diálogo e troca de ideias entre todas as formas de pensamento.
Causa-nos estranheza que um veículo de comunicação como o site Brasil 247, que em sua apresentação se coloca como “defensor da democracia plena e do multilateralismo na política externa”, demite um articulista que “ousou” assinar uma carta aberta com o “Coletivo Judias e Judeus Sionistas”, expressando sua opinião diversa ao artigo do site que generaliza de maneira injuriosa e mentirosa o movimento sionista.
Episódios antissemitas têm se repetido com frequência, o que esperamos dos veículos de comunicação é que denunciem esses casos sem dar espaço para novas agressões.
O coletivo Judias e Judeus Sionistas de Esquerda vem a público informar que nosso companheiro Milton Blay foi demitido do Brasil247 devido a atritos irreconciliáveis com a direção do Portal.
Todos nós encontramos um clima bastante hostil de parte de alguns colunistas, editores e leitores no que se refere a questão do antissemitismo. O que nós entendemos por antissemitismo, eles entendem como antissionismo.
Infelizmente no episódio do diretor de assuntos internacionais do portal, mais uma vez este desentendimento veio à tona e as posições, no calor do momento, subiram de tom. Todas as tratativas de entendimento não obtiveram sucesso, culminando com a saída de Milton Blay.
Queremos deixar claro que ratificamos o que escrevemos em nossa Carta Aberta. Nossa percepção como judeus é de que quando alguém menciona teses conspiratórias se referindo a “sionistas”, está cometendo uma atitude antissemita.
Cumpre informar que tivemos apoio de parte dos colunistas, bem como disponibilidade na plataforma para combater o antissemitismo e disposição para debates sobre o sionismo.
Deixamos aqui todo nosso apoio ao companheiro Milton Blay, seguimos juntos na luta por um mundo livre de preconceitos.
Nós, do Coletivo Judias e Judeus Sionistas de Esquerda, denunciamos a atitude insuportável do editor internacional do site e da TV 247, José Reinaldo de Carvalho, pelo motivo que segue:
Na abertura do programa ‘O mundo como ele é’ desta quarta-feira, 30 de março de 2022, ao apresentar a efeméride do dia, no caso ‘O dia da Terra Palestina’, José Reinaldo disse: “Os sionistas, que tanto em Israel como fora das fronteiras desse Estado perseguem os palestinos, fazem campanhas insidiosas contra os palestinos, inclusive em muitos países. Mesmo no Brasil, os sionistas se infiltram nas organizações políticas progressistas, partidos políticos, movimentos sociais ou, quando não o fazem se aliam a lideranças de diferentes partidos para condenar a luta dos povos palestinos e árabes. Então nesta ocasião em que a gente homenageia o povo palestino, a gente ao mesmo tempo fica vigilante em relação a estas tentativas dos sionistas de desestabilizar esta luta e também de desestabilizar o movimento de solidariedade.”
Ao apresentar desta forma a relação entre os sionistas e os palestinos, José Reinaldo de Carvalho generaliza de maneira injuriosa e mentirosa a atitude dos sionistas, muitos dos quais apoiam a luta palestina pela autodeterminação. Nós, sionistas de esquerda, não só nos solidarizamos com os palestinos como apoiamos efetivamente seus direitos a uma terra, a um Estado. Afirmar, como fez o apresentador do programa, que os sionistas querem desestabilizar o movimento de solidariedade é uma mentira grotesca, que merece reparação. Trata-se de uma versão contemporânea do Protocolo dos Sábios de Sião, onde generaliza-se os judeus e incita-se contra eles ódio coletivo.
A acusação de infiltração é gravíssima.
Diante da narrativa do apresentador, qualquer judeu que aparecer na TV247 ou no site Brasil247 a partir de agora, seja o Mauro Nadvorny, Jean Goldenbaum, Milton Blay ou outros enquanto convidados como Michel Gherman e Nelson Nisenbaum, poderão ser taxados como infiltrados.
Isto que é totalmente descabido e inaceitável.
As palavras saídas da boca do editor internacional do Brasil 247, transformam esta mídia, para a qual alguns de nós colaboramos, em porta-voz do antissemitismo, que aliás vem se alastrando no site e na TV. Episódios antissemitas têm se repetido com frequência. Vale lembrar que os colaboradores judeus do Brasil 247 viram-se obrigados a pedir o bloqueio da área de comentários, que inexplicavelmente não conta com um moderador. Milton Blay já foi chamado de “judeu de merda” e ameaçado de violência física, Jean Goldenbaum e Mauro Nadvorny já sofreram agressões semelhantes.
Frente a esta deriva, o coletivo ‘Judias e Judeus Sionistas de Esquerda’ vem através desta Carta Aberta denunciar o editor internacional do Brasil247, que desrespeitou os limites da verdade e da decência, deixando-se levar por um antissemitismo conspirativo.
Não há como ser de esquerda e desconhecer o princípio da Autodeterminação dos Povos. Se quem me lê não sabe nada sobre isso, desculpe, mas você pode ser um humanista, um progressista, um bom sujeito, entretanto, você não é de esquerda.
De acordo com os ensinamentos do professor Carlos Alberto Husek (*), o princípio da autodeterminação dos povos deve ser analisado em conjunto com os princípios da soberania e da independência nacional. Com base nele, entende-se que é possível contrariar a existência de uma ordem internacional superior, continuando os Estados a figurar como sujeitos principais e primários do sistema internacional.
O princípio da autodeterminação dos povos confere a eles o direito de autogoverno e de decidirem livremente a sua situação política, bem como aos Estados o direito de defender a sua existência e condição de independente.
Autodeterminação significa o direito que os povos de todos os Estados possuem, de determinar a forma que será legitimado seu direito interno, sem que haja influência de qualquer outro país. Assim, os países possuem o direito de se autogovernar, sendo, portanto, considerados soberanos.
No Artigo primeiro, tanto no PIDESC – Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, como no PIDCP – Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos – consta a seguinte afirmação: “Todos os povos têm o direito de autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente sua condição política e perseguem livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural “.
A primeira vez que se ouviu falar deste princípio foi na obra Marxismo e Problema Nacional, publicada em 1913 pelo futuro secretário geral da União Soviética, Joseph Stálin. Esta noção tem origem nas lutas anticoloniais e anticapitalistas da Revolução Comunista de 1917.
No início da segunda guerra, os Estados Unidos e Grã-Bretanha assinaram uma declaração onde foram declarados os objetivos do mundo pós-guerra e a definição de vários princípios, entre eles o Princípio da Autodeterminação dos Povos. No mesmo ano os Aliados também assinaram a Carta do Atlântico. Em janeiro de 1942, 26 países assinaram a Declaração das Nações Unidas, que ratificaram esses princípios. A ratificação da Carta das Nações Unidas em 1945, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, inseriu o direito de autodeterminação no âmbito do direito internacional e diplomático.
Segundo Pietro Costa (**), em “DIREITOS HUMANOS” E “AUTODETERMINAÇÃO” DOS POVOS NO PROCESSO DE DESCOLONIZAÇÃO, é no triênio após a Segunda Guerra Mundial – na fase final da parábola colonizadora iniciada com a chamada “descoberta” da América – que o princípio da autodeterminação é sistematicamente utilizado para deslegitimar as últimas, mas tenazes resistências das potências coloniais europeias. Não é, contudo, a primeira vez que vem salientado o potencial “anticolonialista” do princípio de autodeterminação. O nexo entre autodeterminação e anticolonialismo é mais antigo e emerge estando conectado com o projeto de uma nova ordem mundial delineada por Woodrow Wilson, presidente dos Estados Unidos, durante os anos da Primeira Guerra Mundial.
Como bandeira da esquerda, este princípio justificou nossa contrariedade as invasões americanas a diversos países sob os mais diferentes pretextos. Da mesma maneira as intervenções políticas dos Estados Unidos em inúmeras nações.
As tentativas de parte da esquerda em acomodar este princípio de acordo com suas conveniências é patético. Jogar a culpa pela invasão de um país por outro, no país agredido é o mesmo que justificar o estupro culpando a vítima.
Neste disparate vale tudo. Vale trazer a opinião de um membro do partido Neonazista AfD alemão, a opinião de um ex-general americano em declaração na expoente do fascismo midiático americano Fox News e acobertar o fato de que a Rússia tem hoje no poder um ditador sanguinário de extrema direita.
Nem mesmo os inúmeros crimes de guerra cometidos diariamente contra a população civil, demovem estes supostos humanistas de esquerda de sua ortodoxia dogmática. Pararam no tempo e ao escutarem Rússia se imaginam na União Soviética. Os mesmos crimes cometidos pelos EUA, agora cometidos pela Rússia, recebem uma interpretação transcendental. Putin, sendo oriundo da KGB, o serviço secreto da extinta União Soviética, recebe o status de anti-imperialista, mesmo cometendo crime igual. Lamento informar, mas Putin é parte do fim, ele se beneficiou e segue se beneficiando do fim do antigo regime.
Funciona assim: são contra, como princípio, se comemorar a morte de qualquer pessoa, mesmo sendo ela uma pessoa execrável do ponto de vista humano. No entanto fazem festa pela morte de Olavo de Carvalho. Às favas os ideais de um mundo melhor, do humanismo, de não se igualar aqueles fascistas que destilam ódio. Tudo se justifica quando se trata da visão de mundo baseada numa realidade distópica onde o único opressor é o Tio Sam.
Este mundo fantasioso de vocês pode servir bem aos seus propósitos, mas ele não existe, a realidade é outra. Nela os mortos civis no país invadido são reais, a destruição indiscriminada no país invadido é real, a tentativa de ocupação de um país livre é real, a ditadura no país invasor é real, a censura no país invasor é real, a criminalização de manifestações no país invasor é real, e isto vocês não podem esconder.
Vocês são à esquerda do passado. Uma esquerda fundada em mentiras que serviram a propósitos espúrios de líderes preocupados com nada além do seu bem estar e dispostos a sacrificar o povo em epopeias com propostas de odisseias em um mundo utópico.
Judias e Judeus Sionistas de Esquerda
Mauro Nadvorny, Tânia Bilbich, Milton Blain, Pietro Nardella e Jean Goldenbaum
* Assistente Doutor do Departamento de Direito das Relações Tributárias, Econômicas, Internacionais e Comerciais da Faculdade de Direito do Centro de Ciências Jurídicas, Econômicas e Administrativas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
** Professor Catedrático de História do Direito Medieval e Moderno na Universidade de Florença, na Itália. Editor-chefe da revista Quaderni Fiorentini per la Storia del Pensiero Giuridico Moderno.
Como já escrevi ontem, anteontem e trás-anteontem, está cada dia mais difícil, senão impossível, saber o que quer realmente Vladimir Putin. Se é que ele sabe o que quer, o que nós, como muita gente, duvidamos. O czar parece descontrolado.
Ontem, numa mensagem vinda do kremlin, aventava-se a possibilidade de Moscou não mais reconhecer a Ucrânia como um Estado. O que a transformaria, quase que automaticamente, numa província russa. Seria, portanto, a anexação pura e simples do país, ou seja, a mudança unilateral do mapa europeu, portanto do mundo.
Hoje, as forças armadas russas anunciaram um cessar-fogo temporário e a abertura de corredores humanitários a partir de quatro cidades: Kiev, Kharkov, Sumy e Mariupol. O exército russo, através do canal oficial Russia Today, informou que a medida foi tomada levando em consideração “a situação humanitária catastrófica e sua forte deterioração” nas cidades mencionadas, a pedido pessoal do presidente francês Emmanuel Macron em conversa por telefone com o presidente russo Vladimir Putin.
Apresentada desta maneira, a abertura dos corredores humanitários parece ser uma medida de bom senso, para salvar a população civil. Mas como tem sido sempre desde os preparativos da invasão, a versão russa é mentirosa, é mera propaganda.
Efetivamente, Moscou parece disposto a abrir os corredores, “a ser realizado sob controle, inclusive de drones”. Acontece que esses corredores, enquadrados por forças russas, saem dessas quatro cidades e levam para a Rússia e para a Belarus, em outras palavras os civis que deixarem a Ucrânia estarão nas mãos dos inimigos ao passar a fronteira. Isso explicaria a hesitação dos civis ucranianos em sair dos bunkers em que se encontram há mais de uma semana em situação deplorável, sem eletricidade, sem aquecimento em temperaturas negativas, dependendo das ongs para beber e se alimentar. Kiev respondeu que se trata de uma « opção inaceitável », ” imoral “.
É totalmente absurdo!
O governo russo já notificou a abertura de corredores humanitários na Ucrânia à ONU, à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha. E ao fazê-lo mentiu uma vez mais. O Kremlin alegou que a abertura dos corredores humanitários atendeu a um pedido do presidente francês Emmanuel Macron, pedido este desmentido pelo Elysée. Em nome da Europa, Macron pediu o fim da ofensiva russa e o respeito do Direito Internacional Humanitário. « Isso não é sério. É de um cinismo moral e político que me parece insuportável. O gesto russo é um discurso hipócrita que consiste em dizer vamos proteger as pessoas e levá-las à Rússia. Pessoas estão morrendo, estão exaustas (oficialmente, 406 civis, inclusive crianças, já morreram). E não conseguimos obter um cessar-fogo »; lamentou Macron.
Mais de 1,5 milhão de pessoas já fugiram da Ucrânia, segundo dados divulgados pelo Acnur, a agência da ONU para refugiados.
Putin afirmou também que está disposto a abrir negociações amplas com a Ucrânia e acabar com a guerra, com a condição de que as autoridades de Kiev aceitem todas as exigências de Moscou. O que é totalmente incongruente, na medida em que se Kiev aceitar todas as condições impostas por Moscou o que restará a negociar?
Para parar a guerra e iniciar essas negociações, Putin exige a retirada de tropas das zonas de combate, o desarmamento do governo ucraniano, o compromisso de que a Ucrânia não integrará a Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN — e passará a ter o status de neutralidade, o reconhecimento das repúblicas independentes do leste do país. Ou seja, a rendição.
Desde o início da invasão, o ditador russo declarou que um dos objetivos era desnazificar a Ucrânia. A respeito, muito se falou do Batalhão Azov, grupo armado neonazista integrado ao exército ucraniano. Sábado, contudo, chegou a notícia da morte no campo de batalha de Volnobaka, de Vladimir Zhoga, comandante do batalhão neonazista Sparta, das forças separatistas pró-Rússia Sparta em Donetsk. Foi uma grande perda para os militares russos, que perderam dois oficiais superiores no final-de-semana.
O Bataljon Sparta é uma unidade militar do estado proclamado da República Popular de Donetsk. Foi formado por voluntários que anteriormente serviram em um esquadrão antitanque liderado por Arsen Pavlov. A unidade foi acusada de vários crimes de guerra, documentados em vídeos. O batalhão foi destacado nas seguintes operações de combate durante a guerra na Ucrânia: 2014 na Batalha de Illovaisk. 2015 na segunda batalha pelo aeroporto de Donetsk. 2015 na batalha por Debaltseve. Em março de 2016 em uma escaramuça perto de Dokuchaievsk. Em setembro de 2016, a unidade foi implantada na supressão de um golpe esperado perto de Slavyansk.
A morte de Zhoga escancara o fato que os russos, que afirmam querer desnazificar a Ucrânia, também têm os seus nazistas. Putin quer, portanto, desnazificar os outros para ficar só com seus nazistas. Como se houvessem bons nazistas e maus nazistas.
Em nome da coerência e do respeito aos nossos valores e princípios, nós, JJSE – JUDIAS E JUDEUS SIONISTAS DE ESQUERDA, denunciamos como crime de guerra quando um míssil israelense destrói um hospital em Gaza. Do mesmo modo, nós, JJSE, denunciamos quando as forças russas bombardeiam os hospitais de Donetsk e Chernihiv.
Condenamos a absurda violação do território ucraniano pela Rússia, do mesmo modo que condenamos ocupações ilegais e a violação dos territórios palestinos.
Para nós, se trata do mesmo crime de guerra e das mesmas violações do Direito Internacional e dos Direitos Humanos.
Nós, JJSE, denunciamos ataques aéreos israelenses que atingem escolas na Faixa de Gaza, e, da mesma forma, denunciamos os ataques com bombas russas que destroem a escola de Severodonetsk, a universidade da cidade ucraniana de Kharkiv ou o orfanato de Lviv.
Nós, JJSE, consideramos que o ex-primeiro-ministro israelense, Bibi Netanyahu, deveria ser denunciado ao Tribunal Penal Internacional de Haia por crimes de guerra, assim como consideramos que Vladimir Putin deva ser posto no banco dos réus do mesmo TPI.
Do mesmo modo, denunciamos, individualmente, a violência e a ilegalidade do ataque estadunidense contra o Iraque, e os crimes cometidos contra o povo iraquiano. Também condenamos os ataques da Arábia Saudita contra o Iêmen e o uso de drones norte-americanos na Somália.
Nos posicionamos contra o imperialismo desumanizador estadunidense, assim como sua voracidade contra o mundo e contra o expansionismo da OTAN para o leste europeu, tendo em vista que não existem as mesmas condições objetivas de sua criação.
Reconhecemos, e desde sempre denunciamos, a fúria golpista estadunidense na América Latina, em especial no Chile, Argentina, Brasil, e suas conexões com o lavajatismo que levou ao golpe de 2016.
Condenamos veementemente os ataques de garimpeiros contra populações indígenas brasileiras e a violência racista, direta e estrutural, contra negros, verificada diuturnamente.
Denunciamos também a violência contra religiões de matriz africana, a intolerância contra a diversidade cultural e sexual.
Denunciamos, sem negociação, a homofobia contra a população LGBTQIA+ e a misoginia explícita dos grupos Moro-Bolsonaristas.
Nós, Judias e Judeus Sionistas de Esquerda, somos contra todo e qualquer tipo de discriminação e temos como compromisso único o respeito aos Direitos Humanos e ao Direito Internacional, seja onde for, em Israel, Palestina, Somália, Iêmen, Brasil, como na Ucrânia e Rússia.