Vimos mais uma vez a público nos manifestarmos com relação ao inaceitável comportamento da polícia israelense no episódio ocorrido em Jerusalém acerca da morte da jornalista palestina Shereen Abu Aqleh. Não bastasse a tragédia da perda de mais uma vida inocente neste interminável conflito, ainda ocorreram confrontos antes de seu funeral, nos quais a polícia israelense utilizou de força desproporcional contra os palestinos enquanto buscava manter a ordem na saída do hospital, quando a multidão carregava o caixão da vítima.
Embora tenha se instaurado uma grande discussão ao redor da autoria do tiro fatal na jornalista, compreendemos que tal autoria é de importância mínima neste caso. Abu Aqleh é vítima da ocupação ilegal de Israel sobre a Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Diante deste problema, que constitui o cerne de praticamente todo o conflito, torna-se irrelevante quais dedos apertaram o gatilho específico que a vitimou, ao passo que incontáveis gatilhos de ambos os lados vêm sendo apertados há décadas.
Desta forma, prestamos nossas condolências ao povo palestino pela perda de Abu Aqleh, e nos alinhamos à postura de pessoas como o deputado Mossi Raz, do partido israelense de esquerda Meretz, que compareceu ao funeral e condenou a violência ocorrida.
Nós nos mantemos em nossa pauta de sempre e continuamos lutando contra a ocupação israelense, assim como pelo direito de Israel e Palestina existirem, viverem e conviverem pacificamente lado a lado em soberania, respeito e cooperação.
Somos o Grupo Judias e Judeus Sionistas de Esquerda. Nosso papel, como progressistas, é tentar defender a verdade, a justiça e os princípios judaicos. Sem concessões, reconhecer os direitos, deveres e sofrimentos de todos: Judeus e Muçulmanos, Palestinos e Israelenses.
Lutamos, assim, contra toda sorte de antidemocracias, neofascismo, nazismo, islamofobia, antissemitismo, homofobia, machismo, misoginia, racismo, intolerância, autoritarismo, teocracias, exploração do trabalhador. Julgamos que os Direitos Humanos o são para todos e todas, independentemente de origem, raça, crença, posição, escolaridade ou qualquer outra forma de discriminação.
Desde 2014, o Grupo vem se organizando e ficando atento aos movimentos neofascistas e neonazistas contemporâneos, assim como movimentos antidemocráticos nos Estados Unidos, Europa, Israel e Brasil.
Quem somos? Somos muitos. Quem são os organizadores diretos do Grupo JJSE? Abaixo um pouco da história de cada um destes organizadores do presente grupo: Jayme Brener, Jean Goldenbaum, Mauro Nadvorny, Michel Gherman, Milton Blay, Pietro Nardella-Dell’ova e Tânia Maria Baibich.
Jayme Brener é Sociólogo, Jornalista e Escritor. Foi correspondente de imprensa na América Central e na Europa. Ganhou o prêmio Jabuti de Melhor Livro Didático de 1999 com “Jornal do século XX”. Acaba de lançar a biografia “Henry Sobel, o rabino do Brasil”.
Jean Goldenbaum é Doutor em Musicologia pela Universidade de Augsburg, compositor e pedagogo musical. É pesquisador do ‘Centro Europeu de Música Judaica’ da Universidade de Música de Hannover. Já teve suas obras apresentadas em 15 países e lançou cinco álbuns. Atualmente dirige um grupo coral e uma orquestra de violões. É vereador pelo SPD (partido socialdemocrata alemão) na região de Solling, ao sul de Hannover, onde reside com sua esposa Paola e seu cão Jake. Mais informações: www.jeangoldenbaum.com
Mauro Nadvorny foi conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, membro fundador do Movimento Popular Antirracismo. Administrador do Grupo Resistência Democrática Judaica. Reside em Israel onde é filiado ao Partido Meretz. É criador do site A Voz da Esquerda Judaica que conta com vários colunistas judeus e judias progressitas e milhares de seguidores. https://avozdaesquerdajudaica.com.br/
Michel Gherman é Doutor em História pela UFRJ e Mestre em Antropologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, tendo atuado ali como professor convidado. É pesquisador do Centro de Estudos de Sionismo e Israel da Universidade Ben Gurion do Negev, onde recentemente concluiu seu Pós-doutoramento e do observatório sobre a Extrema Direita. É professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no qual coordena o Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos e o Laboratório de Religião, Espiritualidade e Política. É coordenador acadêmico do Instituto Brasil-Israel.
Milton Blay formou-se em Direito e Comunicação Social, com curso de formação em Jornalismo Econômico no Jornal Le Monde, com Mestrado e Doutorado na Université Paris 3, Sorbonne Nouvelle, Master no Centre d’Études Diplomatiques et Stratégiques de Paris. Foi professor convidado da Faculdade de Economia da Université Paris 10. Após ter trabalhado em alguns dos mais importantes veículos brasileiros, como Rádio Jovem Pan (quando a rádio formava os grandes jornalistas da imprensa), Jornal da Tarde, Folha de S. Paulo, Revista Isto É, transferiu-se do Brasil para a França, onde reside, tendo sido correspondente na Europa da Revista Visão, Folha de S. Paulo, Rádio Eldorado, Grupo Bandeirantes de Rádio e Televisão entre outros. Trabalhou ainda na Rádio Paris-Lisboa e Radio France Internationale, onde ocupou o cargo de redator-chefe. Participou da equipe que venceu o Prêmio Esso de melhor programa de rádio, ganhou o Prêmio Valmet de Jornalismo Econômico e o Terceiro Prêmio do Movimento de Justiça e Direitos Humanos e da OAB pelo livro O Vírus e a Farsa Populista. Publicou ainda Poemas; Direto de Paris, Coq au vin com feijoada; A Europa Hipnotizada, a Escalada da Extrema-Direita; participou da obra coletiva Brasil no Contexto. Atualmente escreve para o DCM – Diário do Centro do Mundo, e Revista Fórum. Militou no Movimento “Paix Maintenant” e Thot (inserção de refugiados)
Nelson Nisenbaum é Médico e Escritor, especialista em clínica médica. Trabalhou 25 anos no sistema de urgência e emergência da Prefeitura de SBC/SP (SUS), e foi delegado do Conselho Regional de medicina do Estado de São Paulo e membro do Conselho Municipal de Saúde de SBC, SP.
Pietro Nardella-Dell’ova é Doutor em Direito (Direito Civil/Teorias da Propriedade/Anarquismo/Kibutzim em Pierre Proudhon, Gustav Landauer e Martin Buber) pela Universidade Federal Fluminense, UFF. É Mestre em Direito (Sacrifícios, Sistema Jurídico e Relações Dialógicas em René Girard e Martin Buber) pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, USP. É Doutor e Mestre em Ciência da Religião (Literatura/Judaísmo/Direito/Direitos Humanos), com Bolsa CAPES/FUNDASP pela Pontifícia Universidade Católica, PUC/SP. É Pós-graduado em Literatura (O Grau Zero e Outros Graus da Palavra) e Pós-graduado em Direito Civil (Os Direitos da Personalidade e CF/88). É Graduado em Filosofia e Bacharel em Direito. Atuou como Diretor e Gestor de Empresas nas áreas petroquímicas e logística ligadas à FIESP; também como Diretor de Licitações, Materiais e Contratos na Administração Pública e, durante dez anos, como Advogado Operário do Sindicato dos Trabalhadores. De 2000 a 2011, foi Diretor e Coordenador Acadêmico de Universidades Privadas. Foi membro efetivo da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa e, também, da Comissão de Bioética da OAB/SP – São Paulo. É Membro efetivo da Comissão de Notáveis da OAB/BC, Balneário de Camboriú, Santa Catarina; É Membro da “Accademia Napoletana per la Cultura di Napoli”, Nápoles, Itália; Associado ao Grupo Martin Buber, de Roma (para o Diálogo entre Israelenses e Palestinos); Associado ao Grupo “Judeus Pela Democracia” (Israel, USA e Brasil) e do Grupo Jewish/Muslin (de solidariedade entre Judeus e Muçulmanos), de New York. É Autor de vários livros, entre os quais, Pierre Proudhon e sua Teoria Crítica do Direito Civil (2021); Direito, Mito e Sociedade (2020); Antropologia Jurídica, com um capítulo especial sobre Israel e Palestina (2017 e 2018); A Morte do Poeta nos Penhascos e Outros Monólogos (2009); Adsum (1992); No Peito (1990) e Amo (1989), assim como de centenas de artigos e pareceres jurídicos; é Poeta, com vários livros de Poesia publicados, e membro da UBE – União Brasileira de Escritores. Em 2004, criou e coordenou o CPPJ – Centro de Pesquisa e Prática Jurídica “Prof. Goffredo Telles Jr.”. Em 2011 criou e coordenou o Grupo de Estudos e Pesquisas NUDAR – Teorias Críticas Aplicadas ao Direito Civil. É Pesquisador Líder do Grupo de Pesquisa TCTCLAE CNPq (Teorias Críticas e Teoria Crítica Latino-americana e Educação), e da Linha de Pesquisa CNPq “Direito Civil Constitucional, Teorias Críticas, Direitos Humanos e Educação. É Pesquisador Integrante do Grupo de Pesquisa VEREDAS PUC/SP-CNPq para o estudo de religiosidades populares. Desde 1990, é Professor de Literatura, Direito Civil, Filosofia e Filosofia do Direito, Direito Processual Civil e Direitos Humanos em vários cursos (graduação e pós-graduação), entre os quais, Universidade Federal Fluminense; Faculdade de Direito Padre Anchieta; ESA – Escola Superior da Advocacia; EMERJ – Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Atuou como Professor visitante (2011-2013) na Faculdade de Direito da USP, abordando o tema “Direito Hebraico Comparado”. Ministrou Minicursos em várias Sinagogas de São Paulo e em Santa Catarina sobre Judaísmo e Direitos Humanos. Desde 2013 vêm proferindo Palestras nas Universidades Federais e Escola da Magistratura sobre Israel e Palestina e as possibilidades de diálogos entre esses povos. Foi Pesquisador bolsista CAPES/FUNDASP no Programa de Estudos Pós-graduados da PUC/SP. Tem residência em New York, Napoli, Rio de Janeiro e São Paulo, lugares onde atua profissionalmente. Na Itália, trabalha em “investigazioni civili”, onde também dirige o Projeto Sinagoga Scuola (de Judaísmo Italiano, relacionado aos Judeus e Judias italianos do antigo Quartiere Ebraico di Latina). Desenvolve pesquisas em New York, USA, na área de Direitos Humanos e Direito Internacional, e, também, estudos de Judaísmo Humanista, Fontes Judaicas da Filosofia, da Halacha e do Direito no Seminário Rabínico Latinoamericano de Buenos Aires, Argentina. Atualmente, coordena o Curso de Humanidades e Análise Econômica do Direito na EMERJ – Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. Desde 2019, coordena e edita a Revista de Direito Civil de caráter humanista e constitucional (já na sua 8ª edição). Promove, desde 2011, Encontros Inter-religiosos com visão multicultural e, desde 2021, compõe um grupo em formação de Diálogo entre Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Está escrevendo, junto com dois outros Professores da PUC/SP, o livro sobre Monoteísmos: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, sendo responsável pelo capítulo sobre Judaísmo. Tem contrato com uma Editora para escrever sete volumes de Direito Civil Constitucional, um volume de Direitos Humanos e um de Filosofia do Direito. Para 2023, prepara a edição do livro: A Crise Sacrificial do Direito: uma leitura dos Sacrifícios, do Direito e das Relações Dialógicas, e do livro: Judaísmo e Direitos Humanos, e do livro Inflexões Anárquicas e Alguma Poesia no Umbigo da Mulher Amada. É colunista do site A Voz da Esquerda Judaica.nardelladellova.blogspot.com
Tânia Maria Baibich é Doutora em Psicologia Social pela USP, Pós Doutora em Preconceito na Escola pela University of Michigan; Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR (1989 a 2018); Pró-Reitora de Extensão e Cultura (1994-1998); Presidente Eleita do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas por dois períodos (1995/1996); Membro da Comissão Nacional de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (1994); Orientadora de Mestrado e Doutorado e Supervisora de Pós-Doutorado, dentre estes: a primeira Doutora Quilombola do país, a primeira Pós-Doutora surda do país, o único Doutor negro da Rede Municipal de Araucária, do Mestrado da primeira Vereadora negra de Curitiba. Foi Bolsista de Pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa por dois triênios. Publicou 42 artigos em periódicos, 31 capítulos de livro e dentre os livros ressalta o intitulado Fronteiras da Identidade: o auto-ódio tropical. Desde o início da Pandemia é membro da Comissão Coordenadora de Saúde Emocional da Comunidade Israelita de Curitiba. Membro da Equipe de apoio do Women Wage Peace no Brasil.
Faz dois anos e meio que convivemos com a narrativa desinformadora dos negacionistas da covid-19 e suas expressões, algumas das quais viraram chavões, que nos ferem os ouvidos: “versão oficial”, “ausência de contraditório”, “deriva autoritária”, « politicamente correto », “pensamento único”. Tudo é bom para desacreditar a ciência e abusar das fake news para atacar a democracia. O termo « pensamento único » virou até tese de doutorado, a partir do best-seller La Pensée unique, de 1995, do polêmico jornalista francês Jean-François Khan. Ocupa hoje o centro do pensamento populista de extrema-direita e também da esquerda stalinista. A expressão é considerada por Ignacio Ramonet, ex-diretor do Le Monde Diplomatique e ícone da esquerda latinoamericana, como uma « doutrina intimidatória controlada por uma polícia de opinião que asfixia qualquer reflexão livre ».
Estes termos traduzem a vitimização de quem se acha impedido de contestar o conhecimento científico das matérias relacionadas com a pandemia. São pessoas que se sentem ameaçadas pela perda de direitos, liberdades e garantias decorrentes das medidas sanitárias, que classificam de “ditadura sanitária”.
O mais surpreendente é que essas expressões foram transportadas para o linguajar militar, no contexto da invasão da Ucrânia. Enredados num emaranhado de análises geopolíticas de difícil compreensão, muitos se recusam a nomear o agressor e a manifestar solidariedade à vítima. Optaram por viver num mundo paralelo.
Muito se fala por exemplo, do papel da extrema-direita ucraniana no conflito, mas se omite toda referência às organizações congêneres russas.
A história da extrema-direita ucraniana remonta ao período stalinista e ao colaboracionismo com o invasor nazista. Com o colapso da URSS e a independência da Ucrânia, em 1991, estas organizações floresceram, mas nunca atingiram relevância eleitoral. O melhor resultado em eleições foi obtido pelo Svoboda (Partido de todos os Ucranianos), em 2012, com 10,44% de votos e conquista de 37 dos 450 assentos parlamentares. Nas últimas eleições, em 2019, o mesmo partido concorreu em coligação com outras forças de extrema-direita, tendo obtido 2,15% de votos e eleito um deputado.
Apesar da sua impotência eleitoral, o ativismo de algumas destas organizações reforçou-se nas ruas depois do processo do Euromaidan, com o beneplácito de instituições governamentais que permitiram a integração de grupos paramilitares em subunidades da Guarda Nacional. Foi o caso do batalhão Azov, do Corpo de Voluntários Ucranianos do Setor Direito, Kiev-2, e do batalhão OUN, entre outros. Estas organizações combateram nas províncias separatistas do Donetsk e Lugansk a partir de 2014, mas com a invasão da Ucrânia, em fevereiro deste ano, foi o Azov que assumiu o protagonismo na linha da frente, sobretudo em Mariupol, onde se tornou a tropa de elite.
Vejamos agora sob um outro ângulo. Na Federação Russa, o universo das organizações de extrema-direita e neonazistas é muito mais diversificado que na Ucrânia. A Unidade Nacional Russa (RNU), o Partido Nacional Bolchevique (NBP), a Sociedade Nacional Socialista (NSO), a União Eslava (SS), o Movimento contra a Imigração Ilegal (DPNI), o Obraz, o Conselho do Povo Russo (SRN), o grupo terrorista Organização Lutadora dos Russos Nacionalistas (BORN), envolvido em assassinatos de jornalistas, imigrantes e ativistas, são algumas das organizações que os russos veem desfilar a cada 4 de Novembro, desde que Putin substituiu as celebrações da Revolução de Outubro pela efeméride czarista do Dia de Unidade Nacional.
Dentre a extrema-direita leal ao Kremlin, conta-se o Partido Liberal Democrático da Rússia (LDPR), fundado em 1992 por Vladimir Zhirinovsky (1946-2022), representado na Duma por 21 deputados. O ex-vice-primeiro-ministro Dmitry Rogozin esteve muitos anos associado ao partido nacionalista Rodina e foi fundador, em 2007, do partido Grande Rússia, que integrou o xenófobo DPNI.
No quadro do conflito nas províncias do Donetsk e Lugansk o envolvimento político e militar da extrema-direita russa pró-separatista, casos da União da Juventude Eurasiana (EYU), NBP, União Nacional Russa (RNU), o batalhão Svarozhici e a brigada Oplot, sempre foi superior ao dos grupos ucranianos. Disso porém pouco se fala, muito se esconde.
As ligações do Kremlin com líderes e ativistas da extrema-direita europeia também são bem conhecidas e estão descritas no livro Russia and the Western Far Right: Tango Noir (2017), de Anton Shekhovtsov.
Numa vista d’olhos pelas redes sociais e artigos de opinião dos russófilos convictos ou envergonhados, constata-se que qualquer menção à extrema-direita russa é omitida, ou substituída por palavras de desprezo ao encontro do “presidente-comediante” Zelenski e ao seu Governo de “fascistas e nazistas”. Isso demonstra, para além da desonestidade intelectual e da desinformação propagandística, a desorientação daqueles que vivem num limbo ideológico desde a queda do Muro.
Contra os fatos descritos, faltam argumentos até para o eterno chanceler Sergei Lavrov, que ao tentar explicar a inexplicável “desnazificação” da Ucrânia, não teve outra saída senão apelar para o antissemitismo mais abjecto. Em entrevista ao canal italiano de notícias Zona Bianca, Lavrov menosprezou o fato de Zelensky ser judeu e, portanto, antinazista, ao lembrar que Hitler também tinha origens judaicas. Isso não quer dizer nada; disse, acrescentando: “O sábio povo judeu diz que os maiores antissemitas são os próprios judeus.”
Na falta de ter o que falar, podia ao menos ter ficado calado. Mas não, preferiu invocar “o nível mais baixo de racismo contra os judeus, que é acusar os próprios judeus de antissemitismo”; como replicou Yair Lapid, ministro das relações exteriores de Israel.
As críticas jamais se referem ao regime russo, que proibiu o uso da palavra guerra, restringiu a liberdade de expressão e o direito de manifestação, condenando a 15 anos de prisão todos os que se opuserem à verdade oficial. Negam-se a condenar Moscou, seja porque Putin é o grande apoiador dos partidos de extrema-direita no mundo, seja em nome do anti-imperialismo americano. Vindos da esquerda stalinista como da direita extrema, se insurgem contra o que consideram ser uma “deriva autoritária” e a imposição do “pensamento único” na abordagem da guerra na Ucrânia. Vão ainda mais longe na sua ânsia negacionista, usam e abusam das mensagens desinformadoras sobre a invasão, por exemplo ao levantar dúvidas sobre os autores do massacre de Bucha, o que os coloca num plano próximo da infâmia. Espalham fake news, sendo que alguns pseudojornalistas convertidos em pseudo-experts em relações internacionais, não se envergonham em receber ordens diretamente do Kremlin ou do « ideólogo » do regime, Aleksander Dugin, muito próximo do « filósofo » Olavo de Carvalho.
Para estes, stalinistas e ultradireitistas, o regime russo é uma democracia “relativa”, expressão criada, vale a pena lembrar, pelo ditador Ernesto Geisel para explicar que o Brasil sob o jugo militar não era um regime autocrático.
Aqueles que recusam uma palavra de solidariedade para com a luta do povo ucraniano contra o invasor, pelo fato de existirem organizações “fascistas e neonazistas”, ainda não perceberam (porque se negam a fazê-lo) que a agressão russa, ao invés de “desnazificar” a Ucrânia, contribui para o reforço da extrema-direita. E não apenas dentro do território ucraniano. No entanto, dizem-se humanistas.
É hora de dar nome aos bois. O invasor é quem invade, a vítima é o invadido. Simples assim. Quem nega a verdade quer reescrever a história, e quem o faz é revisionista.
O risco de aceitarmos o revisionismo é que fechemos os olhos para os fatos e achemos natural a ameaça de uma guerra nuclear, saída da boca de Sergei Lavrov, o homem que teve a impudência de pedir que a comunidade internacional pare de livrar armas à Ucrânia. O perigo de baixarmos a guarda é que não nos rebelemos quando mísseis são atirados contra alvos residenciais em Kiev, a poucos metros do secretário-geral da ONU, que representa, queiramos ou não, os 8 bilhões de habitantes da nossa casa comum.
Os mísseis russos disparados da Crimeia contra Kiev quando Antonio Guterres se reunia com Volodymyr Zelensky e que mataram a jornalista ucraniana Vira Hyrych, da Rádio Liberdade, foram a prova definitiva de que Putin não negociará, a não ser para evitar uma derrota demasiado humilhante.
Hoje, no momento em que a guerra muda de natureza, ainda há quem minimize a invasão da Ucrânia, da mesma forma que se negou a pandemia, uma “simples gripezinha”. Lembram?
Amanhã, quem sabe, fecharemos os olhos para aqueles que reescrevem a história para negar o holocausto, o genocídio armênio, o ruandês, a apartheid, os territórios ocupados por Israel e, por que não, a ditadura civil-militar brasileira e o nazifascismo bolsonarista.
Delírio? Não, certamente não, pois já estamos a caminho da barbárie, e como diz o ditado gaulês “Impossible n’est pas français!”, impossível não é francês, nem tampouco português.
Há momentos em que não há meio-termo possível, em que somos obrigados a tomar partido, sem ambiguidade e sem “mas”. Este momento é agora. Estamos mergulhados num desses tempos de plena mutação, em que as decisões que tomamos definirão o rumo da História. Nós, que vivemos em democracia, temos a chance de nos manifestar, negada a bilhões de cidadãos no mundo inteiro. É por isso que não temos desculpa, não temos, porém. Somos livres e por isso não temos direito ao silêncio ou à indiferença.
É assim com relação à guerra, é assim com relação à política. A questão que se coloca é queremos ser livres, donos do nosso destino? Ou preferimos enfiar a cabeça na areia tal qual os avestruzes esperando que tudo se « resolva » por si só?
A hipótese do avestruz parece ser a preferida de muitos, mais ainda no que tange à política. O populismo extremista, apesar de todos os pesares, continua a ganhar terreno, com a reeleição de Viktor Orbán, na Hungria, o crescimento da extrema-direita na França e do inominável no Brasil.
Caímos facilmente na ilusão de dizer que ao final de um mandato, ou daqui a seis meses, um ano, o pesadelo terá passado e poderemos regressar tranquilamente à vida que vivíamos antes, inclusive antes da guerra de Putin. Ela diz presente todas as noites, na hora dos telejornais, que transmitem as imagens de horror que nos chegam continuamente da Ucrânia. É inegável que sentimos um soco no estômago, revolta, sentimento de angústia. Mas também sabemos que os efeitos da violência pouco a pouco se banalizam, sobretudo quando estamos longe. A barbárie acaba se transformando em simples imagens.
Hoje, a informação em tempo real nos dá, a cada um de nós, uma responsabilidade muito maior, a de sabermos. Hoje não podemos negar o que se passa porque vemos praticamente ao vivo a bestialidade do massacre de Bucha, a lembrar o de Serebrenica, na Bósnia, em 1995. Não temos desculpas. Não há MAS possível. Nem sequer diante das patéticas explicações de comentaristas militares nas nossas telas. Dizer que Bucha pode ser uma encenação é dizer o mesmo que Putin, é dizer aquilo que a consciência humana não pode nem deve tolerar. É o mesmo que apagar das fotografias os dirigentes soviéticos que tinham sido abatidos sumariamente por Stalin. É o mesmo que não querer ver as provas dos campos de extermínio nazistas antes de serem libertados. É o mesmo que virar de costas para os corpos queimados por napalm no Vietnã.
Esta brutalidade não é de hoje, nem pode ser legitimada pela simples circunstância de uma guerra. Não temos o direito de dizer que, em guerra, é sempre assim, porque não é. Precisamos recuar à Chechênia, no final dos anos 1990 e início deste século, ou à guerra na Síria a partir de 2015, para entender que esta brutalidade e esta crueldade fazem parte da doutrina militar da Rússia.
Não há relativismos possíveis, nem pretensas comparações entre “imperialismos”, sempre evocadas por uma certa esquerda nestas circunstâncias.
Evoquemos a guerra do Vietnã. Os EUA perderam a guerra, em grande parte por força da sua opinião pública e da liberdade de informar, totalmente ausente da Rússia do autocrata Vladimir Putin. O argumento da “equivalência” entre dois imperialismos é uma das razões para esta tal « esquerda » torcer para as tropas do czar, como se estivesse na arquibancada do Maracanã. O mesmo acontece com a extrema-direita, que vê em Putin um “líder” capaz de impor a autoridade que falta às democracias.
É também por isso que temos de tomar partido. Sem “mas”. Dizer que há um invasor e um invadido não basta. É preciso ir além, ter a coragem de afirmar que a democracia – palavra que os dois extremos odeiam – está sendo atacada e que a liberdade não é uma utopia e sim um objetivo.
O medo é outro argumento de peso, do qual precisamos nos livrar. Mesmo se é um elemento fundamental em todas as guerras, temos de compreendê-lo nas suas consequências, sob pena de termos de viver com ele por tempo indefinido.
Por compreensível que seja, o medo de Putin e das suas ameaças nucleares não pode condicionar nossa postura sobre esta guerra. As ameaças tenderão a aumentar, mesmo porque Putin não precisa de pretextos para utilizar armas de destruição de massa, como fez na Chechênia e na Síria. Recorrerá a estas armas porque esta é a sua visão apocalíptica do mundo ou então por instinto de sobrevivência.
É também por isso que não pode haver um “mas”. Devemos dizer claramente de que lado estamos: da invasão da Ucrânia pela Rússia, com a sua miríade de mortos, ou contra esta guerra absurda. O que nada tem a ver com um alegado apoio à OTAN ou ao imperialismo americano.
Neste combate que os ucranianos travam está a democracia. A deles, mas também a nossa. Esta democracia temos de defender sem “poréns”.
Como lembra a colunista Teresa de Sousa, no Público, de Lisboa, há momentos em que a velha frase de Churchill ganha todo o seu significado – “a democracia é o pior dos regimes à exceção de todos os outros.” Para o grande estadista britânico, não havia, mas possível face a Hitler. Por isso lhe devemos tanto. Por isso não há “mas” possível face a Putin.
O sr Jair Bolsonaro, menos de 24 horas após a Decisão do STF – Supremo Tribunal Federal – condenatória do Deputado (bolsonarista) Daniel Silveira, publicou Decreto de Concessão de “Indulto” individual (graça/perdão) ao condenado.
Este Decreto é obviamente um ato NULO de pleno direito, pois a condenação sequer transitou em julgado. Por agora, há una Decisão condenatória, mas sem trânsito em julgado. O réu não pode sequer ser preso; muito menos, “perdoado”. A condenação, com base no Art. 5º, LVII, da CF/88, verifica-se apenas, e apenas, após o trânsito em julgado.
Além disso, o referido Decreto é um flagrante desvio de função. Graça e Indulto não podem ser utilizados desta forma, ou seja, com pessoalidade e particularidade! Este Decreto é apenas um ato miliciano, não tendo nada de constitucional!
Enfim, o Decreto de Graça (perdão) do Jair Bolsonaro em favor do Daniel Silveira é juridicamente nulo, constitucionalmente desprovido de fundamento e é, doutrinariamente um instrumento sem musculatura jus filosófica. Além disso, é, também, um ataque da baixa política bolsonarista contra o STF e, adiante, contra o Sistema Eleitoral, em especial, contra o TSE – Tribunal Superior Eleitoral, a fim de questionar o resultado eleitoral de 2022 e tentar criar ambiente de agressividade social.
Jair Bolsonaro é orientado pelo neonazista estadunidense, Steve Bannon, que assessora Trump e o orientou a criar a confusão eleitoral, incluindo invasão e ataque ao Capitólio. Também é orientado pelo (já finado) Olavo de Carvalho, outro nazifascista contemporâneo, cuja doutrina é a destruição completa das Instituições do Estado Democrático. Anote-se que no dia do Julgamento no STF, o sr. Daniel Silveira tentou entrar no Plenário juntamente com o Deputado Eduardo Bolsonaro (este, assumidamente discípulo de Olavo de Carvalho, Steve Bannon e seguidor de Donald Trump). Eduardo Bolsonaro é aquele que disse que bastaria para fechar o STF com um cabo e um jeep.
Mas, não para por aí. As raízes mais antigas deste ato do Bolsonaro encontram-se na Alemanha nazistificada dos anos 1935. Naquela ocasião, houve uma série de ataques aos segmentos sociais, em especial, Judeus, advindos dos ataques à Constituição de Weimar (documento de nascimento da segunda geração dos Direitos Humanos: sociais e culturais). Não foi diferente a tomada de poder pelo fascista Mussolini, que apoio grupos violentos, armados e antidemocráticos, a fim de estabelecer um Estado Fascista.
Bolsonaro segue a cartilha! Atacar o STF, guardião da Constituição Federal de 1988 (a oitava Constituição brasileira, mas apenas a segunda democrática) é atacar o Estado Democrático de Direito, cujos fundamentos encontram-se entre os Artigos 1º a 17. Ao atacar os fundamentos do Estado Democrático de Direito, Bolsonaro sonha (sonha!) em golpear a República e assumir o poder autoritário. Por agora, conta com o apoio dos Militares do Planalto (aposentados e devoradores do Erário), entre os quais, os Generais (fora da ativa) Braga Netto, Augusto Heleno, Pazzuelo, Ramos etc. Não consta (ainda) que as Forças Armadas estejam ao lado do Bolsonaro nessa trilha miliciana.
Se na Alemanha e Itália dos anos 20 e 30 houvesse um Tribunal como o que se apresenta no STF, certamente não teria havido uma escalada no nazifascismo. Não houve, ao contrário, os Juízes se dobraram diante dos mussolinista e hitleristas. Aliás, não apenas os Juízes, mas os Empresários, os Professores, as Igrejas e outros membros da elite social, legitimados pelas classes sociais economicamente baixas, mas adestradas religiosamente (uma das bases para o nazifascismo e, também, para o trumpismo e bolsonarismo).
Nós, JJSE – Judias e Judeus Sionistas de Esquerda, reconhecemos a grande missão do STF e sua opção pela defesa do Estado Democrático, assim como da CF/88, e manifestamos total apoio ao Colegiado e a cada Ministro em especial.
O coletivo Judias e Judeus Sionistas de Esquerda expressa sua preocupação com os incidentes violentos ocorridos no complexo da Mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém, um lugar sagrado para cristãos, muçulmanos e judeus.
Infelizmente estamos assistindo o recrudescimento da violência em Jerusalém, justamente quando as três religiões monoteístas comemoram suas festividades. Os cristãos a Páscoa. Os judeus o Pessach e os muçulmanos o Ramadan.
Toda violência precisa ser condenada. Nós acreditamos no direito de todos a referenciarem suas crenças e comemorarem suas festividades junto aos seus familiares em paz e com tranquilidade nos seus locais de reza.
É dever do Estado proteger todos os seus cidadãos de qualquer ato de violência. Neste sentido é compreensível o uso de meios de dissuasão e dispersão de agitadores, sempre que de acordo com o uso de força proporcional e racional, jamais letal.
Condenamos veementemente a invasão de lugares sagrados pelas forças israelenses, mesmo que a título de apreender manifestantes que agiram em desacordo com a lei. Nada justifica o emprego da violência desmedida contra todos para conter a violência de poucos.
Conclamamos a todos se absterem de provocações, permitirem a liberdade religiosa e o direito de ir e vir.