Israel entre a cruz e a espada

Israel entre a cruz e a espada

Israel vive nestes dias um dilema sem precedentes: que estratégia adotar contra o Hamas, em Gaza. O desafio é praticamente insolúvel, não há uma boa solução, face à existência de mais de 150 reféns. Tudo vai depender, muito provavelmente, da maneira como o Hamas vier a utilizá-los: como moeda de troca ou como escudos humanos.
A escalada da violência, porém, torna a negociação , seja direta ou através de um mediador internacional, praticamente impossível.
Toda e qualquer referência ao passado, em particular no caso do soldado Shalit, negociado contra a libertação de 1.023 militantes do Hamas presos em Israel, não faz o menor sentido. A situação é totalmente diferente, é inédita.
O Hamas, disse o expert francês em estratégia e questões militares israelenses Pierre Razoux, “faz tudo para atrair Israel para a ratoeira de uma operação terrestre.”
Aparentemente com sucesso.
Uma ação mais moderada seria entendida como fraqueza, sobretudo pelo Irã, provocando novos ataques .
Em contrapartida, uma ação contundente de Tsahal, com milhares de mortos entre os civis palestinos, deixará a imagem de Israel abalada a um ponto talvez nunca antes visto e suscitará a equiparação moral com o movimento terrorista. Os riscos são enormes: não trará de volta os reféns, não acabará de vez com o Hamas, irá fomentar revoltas entre os palestinos da Cisjordânia, poderá precipitar a entrada do Hezbolá na guerra, deixará um número incalculável de soldados israelenses mortos, além de provocar atentados mundo afora (como ocorreu ontem na França).
A operação terrestre vai se desenrolar num verdadeiro labirinto, que o Hamas domina de A a Z, com seus mais de 500 quilômetros de túneis. Sem falar do risco maior, de uma internacionalização do conflito, com a entrada do Irã.
Antes do desastre do dia 7, Netanyahu e sua gangue deram de ombros e negligenciaram as advertências egipcias e de seus próprios generais. Hoje, o primeiro-ministro vomita palavras firmes – “Vamos destruir o Hamas!” – sem querer enxergar que seu tempo passou e que ao fim dessa guerra irá para a prisão, não mais por corrupção, mas por crime político.
Não foi sequer capaz de formar um governo de união nacional, limitando-se a abrir espaço para os generais Benny Ganz e Gadi Eisenkat, ex-comandantes supremos das forças armadas israelenses, para que se ocupem da administração da guerra. O líder político da oposição, Yair Lapid, foi descartado, por exigir a demissão dos dois extremistas de direita, messiânicos, Ben Gvir e Smotrich, responsáveis diretos pelo que aconteceu no dia 7.
Este gabinete de guerra está com seus dias contados.
Netanyahu vocifera contra o Hamas, mas não tem nenhuma autoridade para tanto. É dele a estratégia que transformou o movimento terrorista no que ele é hoje, uma milícia hiper armada, de 40, 50 mil homens, muito bem formada e financiada. Netanyahu fortaleceu deliberadamente o Hamas e debilitou a Autoridade Palestina, com o único objetivo de impedir qualquer negociação que abrisse caminho para a partilha em dois Estados.
Netanyahu, o Irã e o Qatar são os grandes responsáveis pela encruzilhada em que Israel se encontra.
Quem o defende argumenta que não se troca um líder em meio a uma guerra. Não é bem assim; em maio de 1940, o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain foi substituído por Winston Churchill, com o resultado de conhecemos.

O medo ancestral

O medo ancestral

No sábado, 7 de outubro, eu e outros 14,7 milhões de judeus acordamos com sentimentos diversos: imensa tristeza, angústia, dor, revolta, agonia, desconsolo, tensão, incompreensão, estupefação; uma mistura de coisas ruins que atravessaram nosso despertar. Uns choraram, outros gritaram, outros explodiram de ódio, outros ficaram inertes, sem reação, outros clamaram por vingança. Todos ávidos por notícias e por saber se os seus estavam bem. Naquele momento, todos nos tornamos israelenses.
De início, foi difícil perceber que por trás destas emoções confusas havia algo maior, que talvez fosse melhor ocultar dos algozes do Hamas: medo. Um medo ancestral, que causa terror e insegurança Medo que foi transmitido a todos nós, judeus seculares e ortodoxos, de esquerda e de direita, geração a geração, durante milhares de anos. Um medo que vem da escravidão no Egito, da destruição dos dois templos, do cisma pós Salomão, das Cruzadas, dos pogroms, da Inquisição, de tantos êxodos, que fizeram de nós um povo errante, e por fim do maior genocídio da História, que matou em dimensão industrial 6 milhões de judeus.
Este medo, queiramos ou não, vive em cada um de nós, embora não exista hoje nenhum Estado onde o antissemitismo seja institucionalizado, com exceção do Irã e Qatar. Nem por isso o ódio aos judeus desapareceu. Ao contrário, o antissemitismo está mais vivo que nunca, sobretudo nos extremos, na esquerda radical, que transformou o anti-sionismo em anti-Israel e enfim em antissemitismo, e na extrema-direita nazifascista.
O pedagogo Gabriel Douek, do Instituto Brasil-Israel, ao falar do antissemitismo como componente integrante do atual debate, lembrou que “a imagem do judeu branco, rico, religioso e armado, controlador da mídia e detentor de todo o poder (econômico), ganhou força nas últimas décadas.”
É claro que o medo existe , bem como a coragem entre aqueles que aguardam, em seus tanques, a ordem para entrar em Gaza. Ele é visível, concreto, entre aqueles que devem correr para os bunkers a cada vez que as sirenes tocam, entre a mãe que chora a filha refém, entre aqueles que viram o perigo e a morte por estar simplesmente dançando. Mas não é deste medo que falo. O medo de todos os judeus, de Israel como da Diáspora, é de outra natureza. É o medo de quem perdeu seus alicerces.
Apesar das guerras enfrentadas, inclusive a do Yom Kippur, há 50 anos, que as forças de Israel venceram por verdadeiro milagre, havia, em cada um de nós, inclusive entre os seculares ateus, de esquerda, que não frequentam as sinagogas nem comemoram as festas, nem muito menos pretendem fazer aliá, como eu, o sentimento de que Israel era uma espécie de porto seguro. Por isso muitos se tornaram sionistas, defendendo a existência de Israel ali onde esta. Pois bem, isso desabou, perdemos nossa rede de proteção, como o trapezista que, do dia para a noite, tem de fazer suas proezas sabendo que tiraram a rede de proteção do circo. Se cair, morre.
O sentimento profundo neste momento é o da vitória dos terroristas e que nada mais será como antes.
O antes era bom? claro que não, é obvio que Israel (e sobretudo a extrema-direita israelense) carrega uma enorme responsabilidade por ter negligenciado a situação dramática dos palestinos, por não ter dado a importância que a criação de um Estado palestino ao lado de Israel, em cooperação e segurança, exigia … e segue exigindo. Muito embora seja sempre preciso lembrar que o Hamas não representa os palestinos nem nunca se preocupou com a criação de um nação vivendo em paz com seu vizinho. O Hamas só quer a destruição total de Israel. É o que está, preto no branco, em sua Carta.
O Hamas governa a Faixa de Gaza com mão de ferro, segundo os princípios da sharia (lei islâmica), controlando a forma como as mulheres se vestem e são tratadas, chegando a impor a segregação de gênero. É um governo corrupto, ditatorial, que reprime os meios de comunicação, controla as redes sociais, combate a oposição política e as organizações não governamentais.
Por isso o Hamas não representa o povo palestino, que em Gaza sofre muito mais que na Cisjordânia ocupada.
O problema é que este movimento, que é tudo o que de mal existe, obteve uma enorme vitória, ao ter abalado quase 15 milhões de judeus, ao ponto de hoje termos medo. Sentimo-nos destabilizados.
Mesmo que derrote o Hamas, Israel não será mais o mesmo, inclusive – e talvez sobretudo – no imaginário de cada judeu.

Só um governo de união poderá derrotar o Hamas

Só um governo de união poderá derrotar o Hamas

No quarto dia de guerra entre Israel e o Hamas, a resposta israelense avança. O primeiro passo, fundamental, há quem use o termo vital, é a formação de um governo de união nacional em Israel. Netanyahu negociou com Benny Gantz, ex-ministro da Defesa, e com o chefe da oposição, Yair Lapid, que colocou como condição a demissão de Smotrich, ministro da Economia e ministro delegado da Defesa, e Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional, os dois maiores expoentes da extrema-direita israelense. Após 9 meses de divisão interna, que debilitou Israel, só um governo de união será capaz de levar à vitória sobre os terroristas. No modelo do governo de união de 1967, na guerra dos Seis Dias, entre o trabalhista Levi Eshkol e seu rival de direita Menahem Begin.
Netanyahu, até sábado, só agiu pensando em seus próprios interesses, ou seja para escapar da prisão, acusado de corrupção. Agora não tem outra opção senão abrir mão de sua gangue.
Bibi é um criminoso; colocou Smotrich e Ben Gvir em postos chaves para a segurança de Israel, apesar de nenhum dos dois ter sequer feito o serviço militar. Gvir, dispensado por ser considerado um extremista perigoso.
Netanyahu, agora se sabe, não levou a sério as informações dos serviços egípcios, que advertiram Israel dos preparativos da operação do Hamas. Ele diz que não…mente.
O correspondente da televisão francesa, Charles Enderlin, contou, às lágrimas, que vários generais tentaram ir à Knesset para avisar os deputados sobre o que se preparava em Gaza, tendo a entrada barrada por ordem do governo.
Embora se esquive, a responsabilidade de Benyamin Netanyahu é total, como se leu no Haaretz. E é dupla, eu diria. Primeiro, por não ter dado ouvidos às advertências; segundo por ter negligenciado a segurança do país, colocando pessoas totalmente ineptas à frente dos serviços secretos e das forças armadas. Uma vez terminada a guerra será preciso constituir uma Comissão de Inquérito e tirar todas as consequências.
Gaza está sob cerco, sem fornecimento de energia, água e mantimentos.
Os próximos dias serão de grande instabilidade, extremamente difíceis. Tanto o Hamas como o Hezbolá são movimentos fascistas, que dependem totalmente do Irã, tanto do ponto de vista do financiamento como do armamento. Tudo o que aconteceu foi preparado em Teerã, mesmo se isso é negado pelo aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã. A pergunta agora é se o outro braço do Irã, o Hezbolá, vai se unir ao Hamas e entrar plenamente na guerra.
Israel terá de tomar medidas complicadíssimas, de onde a necessidade imperiosa de formação de um governo de união.
Israel não pode atacar o Hamas como o fez no passado. Para uma parte importante da população e das forças armadas, até hoje administrou-se “aspirina para tratar de um câncer”. Será preciso ir muito além para que episódios como os que vimos no sábado não se repitam. Será preciso atacar a raiz do problema, sabendo-se que a raiz é Teerã, Mas como? de que forma, o que isso significa? E como controlar a Faixa de Gaza e entregá-la à Autoridade Palestina?
O Hamas não é mais um simples movimento terrorista, tornou-se uma verdadeira milícia, com 40 mil homens armados.
E qual será a atitude do Hezbolá, que tem 150 mil mísseis de alta precisão e longo alcance? Entrará no conflito ou não?
Outra questão espinhosa: Como tratar do problema Hamas sem provocar a generalização da guerra? Esse será o principal dilema do governo israelense que deverá ser formado ainda esta semana.
A prioridade vai ser dialogar com o mundo árabe, que neste momento se aproxima de Israel, e tentar acelerar os acordos de Abraham, sobretudo com a Arábia Saudita, para formar um eixo de países islâmicos que ajude Israel a recolocar os moderados da Autoridade Palestina no controle de Gaza, como assim foi até 2007, quando houve um golpe de estado liderado pelo Hamas. Riad tem autoridade para isso, por ser a sede da Meca.
Para tanto, é imprescindível que o Irã não entre diretamente na guerra. Aliás, este é o recado dos Estados Unidos, que estacionou em Haifa um porta-aviões.
O mundo parece estar se dando conta de que o Irã é um problema sério e não só para Israel. Teerã entrega drones à Rússia para atacar a Ucrânia, está por detrás do Hamas, do Hezbolá, da Síria, do Iraque, do Iêmen e do terrorismo islâmico no mundo inteiro. Lembrem-se da Argentina!
O militantes do Hamas não atacaram Israel porque lutam por um Estado palestino, quem acredita nisso vive no mundo dos contos de fadas. Não são resistentes como quer a extrema-esquerda stalinista, são combatentes a serviço do Irã, que os armou.
Teerã está extremamente preocupado com a aproximação da Arábia Saudita e Israel, pois esse acordo representaria a paz entre Israel e o mundo árabe, entre as civilizações judaica e islâmica.
O Irã e seus braços armados não acreditavam que o governo ultranacionalista de Israel fosse capaz de negociar acordos de paz com os árabes, mas foi o que aconteceu.
Impedir o avanço desses acordos foi o principal objetivo do ataque à Israel.
E qual será a estratégia para derrotar o Hamas? o exército israelense vai optar pela operação terrestre, que parece ser a única forma de salvar os reféns?
A ONU quer convencer o Hamas a devolver crianças, mulheres e idosos. Até agora não há notícia de negociações.
Israel desmente que tenha aberto o diálogo para troca de prisioneiros, reféns e corpos.
A sensação é de que os próximos dias serão terríveis e que perderemos muita gente mais nesta guerra, soldados como reféns. Mas existe outra alternativa?
Um eurodeputado francês, Raphael Gluksman, propõe a adoção pelo ocidente de sanções pesadas contra o Irã, que está na origem de todo o mal; o isolamento total da República Islâmica. Isso evitaria, segundo ele, que os civis palestinos sofressem ainda mais. Tudo indica porém que a decisão já foi tomada e que a invasão de Gaza é iminente.

Depois de perder a alma, Israel corre o risco de perder a vida

Depois de perder a alma, Israel corre o risco de perder a vida

Desde a criação do Estado, em 1948, uma boa parte da diáspora judaica, provavelmente a maioria, nunca se permitiu entrar nos assuntos internos de Israel, sob o argumento de que cabia aos seus cidadãos, aqueles lá nascidos ou que fizeram aliá, decidir o seu destino dentro das regras democráticas. Dispersos pelo mundo, esses judeus temiam reforçar o coro da crítica à Israel e colocar o foco sobre si, traumatizados pelo histórico de perseguições.
O silêncio durou mais de 70 anos, precisamente até a formação do atual governo israelense, de longe o mais à direita que Israel já teve.
Hoje, face ao perigo que pesa sobre a democracia, judeus, de Israel e de fora, se manifestam. No país, em gigantescos protestos, os maiores jamais registrados, reunindo em todas as cidades centenas de milhares de pessoas. Fora de Israel, a diáspora se solidariza. No Brasil, grupos como os Judeus pela Democracia, Judias e Judeus Sionistas de Esquerda, o movimento Paz Agora e outros tomam partido.
Numa carta aberta publicada no Times of Israel, três jornalistas israelo-americanos disseram: “Os judeus da diáspora têm simultaneamente o direito e a responsabilidade de dizer não ao governo que destrói os fundamentos da sociedade israelense e a ética democrática.”
Nas últimas semanas, manifestantes foram detidos e a violência policial levou um manifestante ao hospital com ferimento grave em uma orelha, atingido por uma granada de atordoamento.
A causa que mobiliza o país é uma reforma proposta pelo governo, que permitiria ao governo nomear os juízes da Suprema Corte e à Knesset derrubar decisões da Suprema Corte com maioria simples, além de dar ao Parlamento o direito de adotar leis impossíveis de serem modificadas pelos juízes, mesmo em caso de flagrante ilegalidade. Em outras palavras, visto que Israel não tem Constituição e que se trata de um regime parlamentarista, o país estaria totalmente nas mãos do governo. Não existiria nenhum contrapeso institucional capaz de evitar um regime autocrático e teocrático. Ou seja, o primeiro-ministro teria superpoderes absolutos, ilimitados. Enquanto o Judiciário perderia sua independência, minando o Estado de Direito.
Nas democracias modernas existem três poderes, executivo, legislativo e judiciário. Todos têm suas atribuições definidas e convivem em harmonia. No sistema parlamentarista israelense, executivo e legislativo são o mesmo. Todos os membros do governo são também parlamentares, inclusive o primeiro-ministro. O único poder que garante um contrapeso é o Judiciário. Se ele perder seu peso, teremos uma ditadura.
Os judeus deixariam então de se orgulhar do fato de Israel ser a única democracia do Oriente Médio.
Bibi, como o premiê é conhecido, argumenta que a mudança é necessária para tirar a Justiça das mãos de “magistrados elitistas e tendenciosos”.
Nada disto é por acaso: o primeiro-ministro estava na iminência de ser julgado por corrupção. Eis porque nomeou ministros com ficha suja, que, como ele próprio, se verão livres da Justiça graças ao novo texto legal. Um escandaloso toma lá, dá cá.
Como obteve apenas 32 dos 120 assentos no Parlamento, Netanyahu formou uma coligação de seis partidos, liderada pelo Likud, nos quais encontramos três de extrema-direita e duas forças representativas dos setores ultra-ortodoxos. O que decorre disto é evidente: a gestão de áreas sensíveis entre as mãos de partidos que de humanismo, democracia, laicidade e honestidade nada têm.
No entanto, alguns poucos judeus da diáspora continuam defendendo o silêncio. É inegável que quem tem a última palavra sobre a política israelense são os seus cidadãos, mas também é verdade que Israel conta – e muito – para todo o povo judeu, mesmo para aqueles que não têm a intenção de emigrar para Israel, dentre os quais me incluo. Israel é uma espécie de seguro de vida, de porto seguro para todos nós, judeus sul-americanos, europeus, americanos, africanos, asiáticos, vítimas frequentes do antissemitismo, de direita como de esquerda.
Também por isso, não somos indiferentes ao que se passa em Israel. Temos, quase todos, familiares no país e, para além disso, foi naquela terra que nasceu o povo judeu, onde forjou a sua identidade espiritual, ética, religiosa, ideológica e nacional. Uma terra cuja Declaração de Independência, de 1948, e leis sucessivas, garantiram o seu carácter democrático, a liberdade religiosa e onde os direitos cívicos são assegurados pela independência do Poder Judiciário e sua rigorosa separação do poder político.
Pois é exatamente este Israel que está em perigo com o governo de coalizão liderado por Benjamin Netanyahu, com participação de partidos ortodoxos de ultradireita, racistas, homofóbicos, misóginos, que a socióloga franco-israelense Eva Iliouz não hesita em taxar abertamente de fascistas.
Esta coligação governamental coloca em risco não apenas os alicerces do Estado como ataca o judaísmo laico, que permitiu a nossa sobrevivência, mesmo após o extermínio de um terço dentre nós. De acordo com uma pesquisa recente, 41% dos judeus israelenses são laicos e, em toda a população judaica, apenas 30% afirmam confiar no “Grão Rabinato”.
O escritor marxista norte-americano David Horowitz, fundador do movimento Nova Esquerda, nos Estados Unidos, qualifica o que se passa em Israel como um “golpe de Estado constitucional”. Outros comparam Israel aos regimes iliberais da Hungria, Polônia, Itália.
Um dos objetivos da coligação é impor a discriminação religiosa, que permite à extrema-direita ultra-ortodoxa até mesmo determinar quem é e quem não é judeu à luz da sua árvore genealógica e de sua tendência ideológica. O partido Shas apresentou um projeto de lei considerando passível de sanções a oração mista de homens e mulheres e as vestes “impudicas” no Muro das Lamentações. Enquanto Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional, condenado por racismo e próximo do Kahanismo terrorista, defende a separação entre homens e mulheres nas escolas, hospitais e outros lugares públicos.
Como se não bastasse, vários partidos da coalizão estão empenhados na anexação da totalidade da Cisjordânia, o que enterraria qualquer possibilidade de negociação futura, bem como a criação de um Estado Palestino. Gvir vai além, já defendeu no passado a deportação de todos os árabes, inclusive dos territórios palestinos, uma vez anexados. Assim, Israel ganharia um lugar definitivo no banco dos réus da comunidade internacional, dando razão àqueles que o acusam de ser um país colonizador, racista, onde reina a apartheid. Na melhor das hipóteses, palestinos e árabes israelenses passariam então a ser “oficialmente” cidadãos de terceira classe, uma vez que de segunda já o são. A paz seria para todo o sempre uma palavra vã.
A manter-se no poder, a coalizão poderá destruir a coesão da sociedade israelense, assim como os fundamentos da sua identidade democrática. 66% da população são contra a reforma em curso e quase 20% ameaçam retirar os seus capitais do país, enquanto outros se preparam para deixar Israel.
Yuval Noah Harari, um dos grandes pensadores contemporâneos, autor de Sapiens: uma breve história da humanidade, já avisou: se o projeto de lei for aprovado, irá para outro país.
Harari denuncia um golpe de estado em andamento.
Aparentemente, Bibi se mostra indiferente à insatisfação geral, pensando unicamente na permanência no poder e desta forma evitar a prisão; tanto assim que o projeto de lei tramita normalmente no Knesset, que já aprovou um artigo transferindo à maioria parlamentar a indicação dos magistrados da Corte Suprema. Reforma que o presidente israelense, Isaac Herzog, qualificou de “uma marcha para o abismo”.
Caso o projeto de lei seja adotado, o jornal Haaretz prevê uma guerra sem fim, que in extremis poderá destruir o próprio Estado de Israel.
Após o violento motim pogrom levado a cabo por numerosos colonos contra a cidade palestina de Huwara, na Cisjordânia, em resposta ao assassinato de dois irmãos judeus naquela cidade, o deputado de extrema-direita Zvika Vogel, presidente da Comissão de Segurança Nacional do Parlamento israelense, não hesitou: “Quero ver Huwara cercada e queimada.”
Bezalel Smotrich, outro membro extremista do governo, disse em entrevista que Israel deveria eliminar a cidade de Huwara e adotar uma solução radical que implicaria na morte de 7.000 habitantes. Palavras que até o Departamento de Estado norte-americano qualificou de “irresponsáveis e repugnantes”. Foi obrigado a se desculpar, alegando ter sido mal interpretado. A eliminação de populações rima com “solução final”.
Os judeus democratas, todos os judeus democratas, do mundo inteiro, têm a obrigação de apelar para o fim de uma coalizão que ameaça a democracia, o judaísmo progressista, o sonho de paz. No ar, ouve-se um grito de alerta contra o fascismo judaico que está destruindo Israel, depois de destruir os palestinos.
Israel perdeu a alma.
Está na hora de deixar as coisas claras, nos seus devidos lugares. E o de Netanyahu é no tribunal e não à frente do governo.

Um ano depois, a guerra entrou num labirinto

Um ano depois, a guerra entrou num labirinto

“A Rússia é uma charada embrulhada num mistério”

Ao comemorar um ano, a guerra da Rússia contra a Ucrânia não avançou um milímetro rumo à paz. Não se vislumbra neste momento, apesar da resolução da ONU (votada pelo Brasil) exigindo a retirada das tropas invasoras e a favor de uma paz justa, nenhuma possibilidade de negociação, nem sequer de diálogo. Ao contrário, depois de mais de 300 mil mortos, nos próximos meses o risco é a multiplicação do número de vítimas. Moscou prepara a grande ofensiva da primavera, que, segundo Zelenski, já teria começado. O ocidente acelera o fornecimento de armas à Kiev e se prepara para um conflito duradouro.

Putin, escrevia o Financial Times, “só ouve Ivan, o Terrível, Pedro, o Grande, e Catarina, a Grande. Para ele e para os seus émulos, a captura da Ucrânia é um desígnio da Santa Rússia reclamado pela História grandiosa dos seus heróis. No discurso sobre o estado da nação, esta semana, o déspota do Kremlin referiu-se à guerra como uma ameaça do Ocidente à existência da Rússia, repetindo o que vários Romanov, Lenine ou Staline disseram”.

“Muito claramente, a hora não é de diálogo”, anunciou o presidente francês, Emmanuel Macron, na Conferência de Segurança de Munique, onde aproveitou para fazer o seu mea culpa por ter acreditado na palavra de Vladimir Putin.

“Há um ano falei com Putin e ele assegurou-me que o grupo de mercenários Wagner não tinha nada a ver com ele – que era apenas um projeto empresarial. Acreditei nisso. Hoje vemos que o grupo Wagner está envolvido na guerra russa contra a Ucrânia. Tornou-se numa nova ferramenta mafiosa para criar crimes e injustiça”.

Para quem não sabe, Wagner é uma organização paramilitar de origem russa, que se apresenta como uma espécie de empresa militar privada, uma rede semioficial de mercenários ligada ao governo russo, que atua em várias regiões do mundo, sobretudo no Donbass, leste daUcrânia, Síria e África. Muitos o descrevem como sendo um grupo de fachada do Departamento Central de Inteligência (GRU) das Forças Armadas Russas, utilizado como braço de apoio em conflitos onde a Rússia está engajada. O grupo recebe equipamento e usa instalações das Forças Armadas.

Em Munique, os dois países motores da construção europeia falaram de uma só voz. “Penso que é sensato que nos preparemos para uma guerra longa”, disse o chanceler alemão Olaf Sholz, que salientou a necessidade de armar a Ucrânia. “Não são as armas que fornecemos que prolongam a guerra, é exatamente o oposto. Quanto mais cedo o presidente russo perceber que não conseguirá atingir o seu objetivo imperialista, maiores são as probabilidades desta guerra acabar em breve e da tropa conquistadora russa bater em retirada.”

Os tambores de guerra soam e os ocidentais fingem acreditar que a Ucrânia pode ganhar a guerra. Ou sonham com isso. Temem que após uma eventual vitória russa na Ucrânia eles serão os próximos alvos.

O fato de o conflito ter a Europa como palco não é um mero detalhe.

Além de partilharem a cultura europeia, os ucranianos surpreendem ao resistir à agressão de um inimigo que, além dos horrores que já praticou na Ucrânia, pretende ir mais longe e, se o deixarem, atingirá a UE e os seus regimes democráticos. Isto é particularmente claro nos países da zona tampão dos tempos da URSS (criada a partir do pacto germano-soviético assinado por Molotov-Ribentrop), que têm mostrado solidariedade ativa com a Ucrânia. Esses países conhecem o sentimento hegemônico do gigante russo desde os tempos do império czarista, tanto assim que aderiram todos à OTAN, para obter proteção.

O poderoso Exército russo foi humilhado, para surpresa de muitos observadores ocidentais que sobrestimavam a sua força (e, sobretudo, a sua qualidade), enquanto se enganavam nos efeitos das sanções econômicas, até hoje pouco eficazes.

Putin, segundo o jornal lisboeta Público, errou os cálculos e os ucranianos ridicularizaram os seus sonhos imperiais. Mas jamais se confessará vencido e será tentado por uma grande escalada. Esta aliás já começou com os ataques às infra-estruturas e objectivos civis, procurando vergar a Ucrânia pela exaustão. É contudo altamente improvável que Moscou consiga obter vitórias militares decisivas.

A parte mais forte, a Rússia, não consegue vergar a mais fraca. Enquanto a a parte mais fraca, a Ucrânia, não pode vergar a mais forte. Sem soluções militares, restam as opções diplomáticas, mas também aí não há soluções à vista, apesar do plano chinês de paz. A Ucrânia, prometem Biden e os aliados europeus, não pode perder um centímetro do seu território. Mas a Rússia jamais admitirá negociar a paz sem recuperar a Crimeia, que lhe pertenceu, de fato, do século XVIII até 1954.

Winston Churchill escreveu um dia que “a Rússia é uma charada embrulhada num mistério dentro de um enigma”.

A leitura da extrema-direita europeia (com exceção da Itália de Giorgia Meloni) e de uma parte da extrema-esquerda, relativiza a gravidade da invasão, já que, em última instância, seriam os EUA e as forças militares submetidas a Washington os verdadeiros responsáveis, por terem montado “um cerco à Rússia”. Ou seja, sugerem que o conflito não é uma questão de invasão ilegal de um país – a Ucrânia – por outro – a Rússia -, mas sim uma proxy war da Rússia com a OTAN e o Ocidente, que no fundo exprime uma atitude nostálgica e “ocidentalofóbica”.

Os que pensam assim são nostálgicos dos tempos da Guerra Fria e da URSS, da divisão do mundo em zonas de influência, em que cada país teria uma soberania limitada em termos de política externa e de alianças geopolíticas face à potência dominante. Assim, as Repúblicas Socialistas Soviéticas (como os Bálticos, a Ucrânia, a Moldávia, os países do antigo Pacto de Varsóvia), seriam “o quintal dos russos”. Enquanto a América Latina e a Europa Ocidental seriam “o quintal dos Estados Unidos”.

A guerra levou a Europa a olhar para o passado, para os conflitos que a destruíram na primeira metade do século XX, e que acreditava enterrados para sempre. Foram precisos 11 meses de resistência ucraniana para que os líderes europeus percebessem que esta é uma guerra europeia. E que o fim do caminho levará à integração de Kiev à União Europeia. Os líderes europeus, na sua maioria, perceberam que é essa a sua missão neste momento preciso da história. Como escreveu o jornal Le Monde, em editorial, “se a guerra russa começou como uma ameaça existencial para a Ucrânia, transformou-se, um ano depois, numa ameaça existencial para a Europa”.

Putin, escreve a analista Teresa de Sousa, cometeu um erro colossal: “quanto mais intensificar os combates, quanto mais destruição causar, quanto mais crimes de guerra cometer, maior será o apoio e a solidariedade europeus.

Não se trata apenas de uma questão de dever de solidariedade para com um povo que sofre a brutalidade do agressor. É uma questão de avaliação geopolítica. No Palácio do Eliseu, ao receber Zelensky em 9 de fevereiro, na companhia de Scholz, Macron foi explícito: “A Rússia não pode vencer, não deve vencer.” Macron abandonou seu discurso sobre “garantias de segurança” para Moscou e a necessidade de “não humilhar” Putin. Em dezembro passado, já tinha prometido apoiar a Ucrânia “sem falhas, até à vitória”. Os sinais são inequívocos, a Europa vive o pior conflito desde a 2° Guerra Mundial.

O fato de Suécia e Finlândia abandonarem a neutralidade para bater à porta da Aliança Atlântica é significativo. Por outro lado, os países bálticos olham para a Ucrânia e vêem o legado de opressão durante a era soviética: execuções e prisões em massa, expropriações, deportações em massa para o gulag etc. E as minorias russófilas nestes países não são mais do que os descendentes dos colonos que Stalin lá plantou para dominar esses países, onde a língua oficial era – por imposição do Kremlin – o russo.

Para Susi Dennison, investigadora de assuntos políticos no European Council on Foreign Relations, “a guerra em curso na Ucrânia fomentou a união do Ocidente e da Europa em particular, além de expor um abismo entre a percepção do Ocidente sobre a Rússia e a de outros países.”

“Um ano após a invasão russa, está em curso uma remodelação determinante da ordem internacional. O Ocidente, unido pela primeira vez em anos, redescobriu o seu propósito. Entretanto, noutras latitudes, há uma competição crescente pela liderança geopolítica entre as potências emergentes.

Na Europa, o conflito suscitou preocupações quanto à capacidade do continente se defender e à escala do seu apoio ao esforço de guerra ucraniano, com as ofensivas de primavera se aproximando. Ao mesmo tempo, também pôs a nu a complexidade da UE se retirar, a longo prazo, da dependência que há muito tem da energia russa.”

A opinião pública europeia está convencida da necessidade de apoiar a Ucrânia na sua luta. Uma nova pesquisa, levada a cabo em dez países europeus, bem como na Índia, na Turquia, na China e na Rússia – divulgada pelo European Council on Foreign Relations constatou que os europeus continuam unidos no seu apoio à Ucrânia e no seu desejo de ver a Rússia derrotada no conflito.

Apesar das dificuldades no abastecimento energético do bloco e dos danos causados nas economias nacionais, a Europa mantém o embargo ao combustível russo. Quanto à percepção que os europeus têm da Rússia, mais de dois terços dos cidadãos da UE (66%) e da Grã-Bretanha (77%) veem a Rússia como um “adversário” ou “rival” , contra 71% dos americanos.
Há um abismo entre a percepção do Ocidente sobre a Rússia e a de outros países. Embora exista alguma semelhança em quererem o fim do conflito, as condições em que isto pode ser conseguido diferem. Na Europa e nos EUA, por exemplo, a opinião predominante é de que a Ucrânia precisa recuperar todo o seu território, mesmo que isso signifique uma guerra mais prolongada. Já na China, Turquia e Índia, a maioria prefere um fim rápido da guerra, com a cessão de uma parte do território ucraniano à Rússia.

O resultado mais relevante revelado pelo estudo mostra como os cidadãos vêem o estado do mundo e a futura ordem global. No Ocidente, o legado da Guerra Fria continua a moldar a opinião pública. Há uma forte convicção de que estamos entrando novamente num mundo bipolar, liderado, respectivamente, pelos EUA e pela China. Mas, noutros países, em particular entre potências emergentes, como a Índia e a Turquia, a visão é outra. Seus habitantes vêem seus países como atores em crescimento no panorama internacional e prevêem o desenvolvimento de uma ordem mundial multipolar, dividida entre diversos centros de poder. O Ocidente seria apenas um polo dentre muitos, e não seria nem o definidor da ordem internacional nem o líder da democracia global.

Os próximos meses serão determinantes para a construção deste mundo pós-Ocidental cada vez mais dividido. A guerra deixou visível a ponta do iceberg. Num futuro, provavelmente próximo, estaremos mergulhados num mundo novo, extremamente instável e conturbado.

Olhos nos olhos

Olhos nos olhos

Ao discursar na sessão de reabertura do Ano Judiciário no STF, no último dia 1° de fevereiro, portanto após a invasão dos 3 Poderes protagonizada pelos vândalos fascistas , o procurador-geral da República, Augusto Aras, voltou a se ilustrar. Mostrou-se indigno, amoral, sem vergonha nem brio. Antonio Augusto Brandão foi mais Aras do que nunca; covarde. Inventou uma desculpa, mais esfarrapada impossível, para declarar que graças à sua ação – ou omissão – o Brasil se manteve democrático. Embora a verdade seja outra, a democracia renasceu apesar do Ministério Público Federal e não graças a ele.

Aras devia ter aproveitado a ocasião para renunciar ao cargo e assim permitir que, em seu lugar, seja nomeado um verdadeiro procurador-geral da República. Entretanto, como era de se esperar, fez exatamente o contrário. Dirigiu-se ao presidente da República e, na maior “caradura”, disse que teve  atuação ” estrategicamente discreta” sob o governo Bolsonaro pela boa causa. Dessa maneira teria evitado que “extremistas de todas as naturezas e ordens manifestassem contra o regime democrático”.

O discurso de Aras no STF foi risível, se não fosse trágico. O PGR não foi discreto, como agora afirma, foi cúmplice dos crimes de Bolsonaro. Hoje, declara ser generoso e fiel à Constituição. Quanto à generosidade, não faz parte de suas atribuições, bastava ter sido fiel à Lei Magna. O que não foi nos últimos 4 anos.

Seu papel era criar as condições judiciais para que os responsáveis por crimes hediondos, como por exemplo os cometidos durante a pandemia, fossem condenados e devidamente punidos.  Aras prevaricou. Foi diretamente responsável por evitar a atuação da Justiça.

Com a sua fiel escudeira bolsonarista Lindôra Araújo, que ganhou a vice procuradoria depois de ter pedido o arquivamento das investigações do capitão sob o argumento mentiroso de que não havia provas científicas de que as máscaras protegiam contra o coronavírus, tiveram até hoje um só e único objetivo: evitar que a PGR cumprisse o seu dever de representar a sociedade. Ambos foram meros advogados, além de tudo medíocres, da família Bolsonaro e seus asseclas. Agiram como se estivessem a mando do Palácio. Assim atuaram nos últimos quatro anos.

Agora,  vem ressaltar o trabalho da Procuradoria Geral da República contra os golpistas do dia 8 de janeiro e tentar compensar a leniência que o caracterizou. A PGR ofereceu 525 denúncias, 14 pedidos de prisão e 9 requerimentos de busca e apreensão.
Aras protelou enquanto pode, mas não teve outra saída. Foi a Advocacia Geral da União que pediu ao Supremo, no próprio dia 8, a prisão em flagrante dos golpistas envolvidos nos ataques e a de Anderson Torres, secretário da Segurança do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.

Como sempre, Aras tentou empurrar com a barriga. Só depois anunciou a criação do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos, com o objetivo de “identificar os núcleos de comando do movimento” e as “autoridades com prerrogativa de foro que tenham participado, cooperado para ou incentivado” os ataques.

Aras também foi pressionado pelos seus comandados. Em carta assinada por 184 integrantes do MPF, foi cobrado a apurar envolvimento e omissão de autoridades do governo nos atos golpistas registrados no país. Para os procuradores, a investigação da relação de autoridades com os movimentos responsáveis por esses atos é fundamental, bem como o pedido de instauração de inquérito policial para apurar  a ação criminosa dessas autoridades que gozam de foro privilegiado.

Teve de sair de sua toca.

Augusto Aras é cínico, insolente. Teve a desfaçatez de, olhos nos olhos de Lula,  em pleno STF, pronunciar uma ode à democracia.

“Nós, cidadãos do estado democrático de direito, precisamos dizer todos os dias: democracia eu te amo, eu te amo, eu te amo, porque esta democracia conquistada a duras penas exigiu sangue, suor e lágrimas de muitos brasileiros e de muitos outros que não antecederam no processo civilizatório”.

Antonio Augusto Brandão, o Brasil que derrotou a barbárie o dispensa de tamanha ternura, desse triplo “eu te amo”, que ousa falar em processo civilizatório e ao mesmo tempo viola a Constituição.

Chega de declarações de amor hipócritas, este Brasil exige “apenas” a aplicação do Direito. Nada mais, nada menos.