Terminal urbano

Paçoca, pipoca e cocada;

Criança peralta, moça bonita e catraca;

A fumaça que abate os pobres pulmões

Invade o ar

Como estes perfumes de moça.

Pessoas afadigadas entram e saem

Em grandes caixotes de metal

Com seus corpos cambaleantes

E ossos cansados,

Amontoa-se todos nestes caixotes motorizados

Umas chegam de muito longe

Outras não vão a lugar nenhum

Neste vaivém do terminal urbano

O homem da cocada passa gentilmente

Oferecendo os seus doces

Para os paladares amargos dos passageiros

Cada qual ao seu modo diz não

E talvez sim,

Cada qual carregando seus sentimentos

Quem saiba segredos, sonhos,

E talvez sorrisos disfarçados.

 

 

O nosso fado amor garboso

O nosso fado amor garboso

Hoje estou a embebedar-me

No vinho do teu amor fagueiro

que não canso de provar-me

Mergulho-me

na tua dorna

para ser pisado

pelos teus pés

O flâmeo que teu rosto

adorna!

estás a despir

então conheço

a tua verdadeira e bela forma

Na alcova do teu amor

fagueiro

aproveito o repouso

Aos teus lábios

provo o mais puro mosto

Ah o nosso fado amor

garboso!

Não és mesmo dócil?!

Na verdade és a edil

Que dá as ordenanças

A duquesa que está a eclipsar

As donzelas mais belas

do nosso universo

nem há palavras

para exprimir

e falar de ti

é preciso suprimir

o verso

Ou desaguar-me

no teu infinito

amor perverso

no qual

estou preso

acorrentado e

submerso!

La sensación del mundo 

La sensación del mundo 

Carlos Drummond de Andrade na sala de seu apartamento em 1982, prestes a completar 80 anos Foto: Rogério Reis / Tyba / Rogério Reis / Tyba

No son palabras, el dolor o grito

O cansancio,

¡Que traigo conmigo en mi pecho!

Lo que me trae, lo que traigo,

¡Es el sentimiento del mundo!

Hay sonrisas y abrazos,

Más traigo sólo la sensación del mundo,

Tampoco son las noticias de las guerras en el este…

¡¡No!!

deseos de la revolución

o la poesía de Drummond,

Hay gritos a medianoche o al mediodía de la humanidad….

Más, lo que traigo conmigo en mi pecho,

Es sólo el sentimiento del mundo

Hay CDs o viejos libros polvorientos en el estante…

Lo que traigo,

¡No! ¡No es una dolor tardia!

Tampoco se trata de una flor para mi amor

¿Lo qué llevo conmigo en mi pecho? ¿Lo que llevo en mis manos?

Es sólo la sensación del mundo

À Carlos Drummond de Andrade, inspirado no poema “Sentimento do Mundo” .

Poeta Noturno

Poeta Noturno

Noite de festa alegria, família reunida e poesia

Ano novo chegando

Cá estou, só.  Na companhia da solidão,

Não quero ser o poeta noturno

Que se enfada com o calor do verão,

Que faz conjecturas políticas, com rimas caducas

E bebe na utopia da revolução,

Ano novo chegando,

Eu não quisera ser o poeta noturno

Que está acordado a meia noite do século XXI

Contando estrelas

Do Cruzeiro do Sul

 

Desaguar

Desaguar

É preciso desaguar amarguras num lago de belas canções

E das agruras fazer doces composições

E da solidão fazer o flerte

Em pingos de emoções

No anoitecer mirar o cintilar da paisagem

Contar casos, bobagens…

Desaguar.

 

O Lupanar da Solidão

O Lupanar da Solidão

Neste lupanar

O som de um espasmo no ar

É rua 18

Casa 1938

A porta aberta

Sugere mistério

A rua deserta

É um eterno sacrilégio

Não tem vida,

Não tem dramaticidade

nem dor

é um lupanar

sem amor

que a solidão

esta a gozar

gozar com despudor