Empatia é palavra suave para um ato árduo: sentir a dor alheia como se fosse sua. Não é fácil abrir o coração à tristeza do próximo; requer uma generosidade de alma que só floresce nas horas mais sombrias. Em Israel, no Dia do Memorial – o Yom Hazikaron – essa empatia se torna um rito coletivo. Cada israelense carrega a memória de alguém que a guerra levou. Quando a sirene toca, o país inteiro se imobiliza em dois minutos de silêncio. E não há ali desconhecidos: todos choram juntos. Confesso que essa cena, a cada ano, ainda me emociona e quase devolve minha fé na união pelo sofrimento partilhado.
Mas a realidade faz questão de testar essa fé. Na noite do Yom Hazikaron de 2025, em Ra’anana, nem mesmo a solenidade daquela data escapou à barbárie. Uma cerimônia em memória de israelenses e palestinos mortos – realizada em uma sinagoga reformista – foi atacada por um grupo de extremistas. Pedras e insultos voaram pelas janelas, estilhaçando vidraças e calando preces. Famílias inteiras tiveram de sair sob escolta da polícia, com o medo nos olhos. Houve feridos, houve pânico, houve sacrilégio naquele recinto dedicado à lembrança dos caídos. Por instantes terríveis, judeus fugiram de judeus dentro de uma sinagoga — algo impensável até que se tornou realidade.
Sim, existem pessoas más. Gente que age com intenção, método e frieza. Os agressores se julgam patriotas, mas não passam de profanadores do luto alheio. Gritaram “traidores” aos que rezavam, sem enxergar que a verdadeira traição à pátria é semear o terror entre os próprios irmãos. Não há simetria possível aqui: quem atira pedras contra compatriotas em pranto não defende valor algum — apenas conspurca a memória que a nação deveria honrar. Justificar tamanha agressão seria corromper ainda mais o sentido de decência. Nenhum pretexto, desculpa ou contexto atenua o que se viu.
Fico a pensar no significado desse abismo moral. Se nem mesmo nossos mortos conseguem mais unir os vivos, que futuro espera este país?