O nosso ódio de cada dia

Se me perguntassem hoje como nasce o ódio, eu não saberia responder com precisão, mas arriscaria dizer que talvez ele nem nasça, talvez sempre estivesse ali, esperando apenas que alguém o despertasse com uma palavra fora do lugar, uma lembrança incômoda ou, mais comumente, com aquele silêncio que diz tudo quando não se diz nada, porque nesta terra, onde cada pedra parece guardar uma memória e cada sombra carrega um nome perdido, aprendemos a armazenar o rancor como se fosse um bem valioso, protegido com zelo antigo, transmitido de geração em geração com o mesmo cuidado de quem entrega uma herança sagrada, embora feita não de posses, mas de feridas — e dessas, temos muitas — tão profundas e tão antigas que já nem sabemos se são realmente nossas ou se apenas continuamos a sangrá-las por fidelidade à dor de quem veio antes, e talvez seja por isso que odiamos com tanto empenho, porque há nisso uma estranha forma de pertencimento, como se, ao odiar, confirmássemos que ainda estamos vivos, ainda somos daqui, ainda sabemos o que é sofrer com convicção.

E, no entanto, se alguém nos arrancasse esse ódio, se nos deixassem apenas com a carne viva da dor que fingimos não sentir, talvez fôssemos forçados a encarar aquilo que evitamos há tanto tempo: os restos emocionais de uma guerra que nunca termina, as perdas que nos recusamos a chorar, os erros que colocamos nos ombros dos outros para não admitir o peso da nossa própria mão no gesto que machucou, e é aí, justamente aí, que tudo se complica, porque odiar é mais fácil do que lembrar com amor, mais fácil do que perdoar sem esquecer, mais fácil do que reconhecer, com vergonha e espanto, que atrás de cada rosto que chamamos de inimigo pode existir apenas outro alguém igualmente assustado, igualmente ferido, igualmente apegado ao rancor como escudo contra um mundo que insiste em não fazer sentido — e, se me permitem a heresia, talvez o ódio nos una mais do que qualquer promessa de paz, não porque seja justo ou bom, mas porque é compreensível, é simples, e sobretudo é eficaz, funciona como armadura contra a vulnerabilidade — e quem, aqui, nunca desejou ser invulnerável, nem que fosse por um instante?

Mas então vem a pergunta, e com ela a dúvida que me roubou o sono por tantas noites: se retirarmos o ódio, com o que ficamos? Com a dor pura, com a ausência de uma culpa alheia onde antes encontrávamos consolo, com a solidão de uma responsabilidade que não se divide, com o desconforto de saber que já não há um culpado claro e, por isso mesmo, não há redenção garantida — apenas o risco de despencar num abismo silencioso onde nem mesmo a autocompaixão consegue nos salvar — e isso, meus caros, pode ser mais cruel do que qualquer inimigo armado, porque é uma violência interna, sem nome, e ainda assim, talvez, necessária, porque só por ela talvez pudéssemos um dia encontrar algo parecido com a verdade — não uma verdade absoluta, essa pertence aos fanáticos e aos deuses — mas uma verdade pessoal, imperfeita, feita de contradições e hesitações, e que talvez por isso mesmo seja mais digna de confiança do que todas as certezas que usamos como espadas morais.

Não afirmo, vejam bem, que esse caminho seja redentor, tampouco acredito que a dor nos torne melhores, como gostam de repetir aqueles que nunca a sentiram de verdade, eu só digo que a dor, quando despida do ódio, revela o que há de mais insuportável em nós: a fragilidade essencial, a carência de sentido, o medo de não sabermos o que fazer com a liberdade de já não odiar, e talvez seja por isso que continuamos a cultivar o rancor com tanto esmero — não por vingança, mas por medo de não saber quem somos sem ele, medo de que, ao baixar o punho, descubramos a mão vazia e, o que é mais triste, incapaz de acolher.

E agora, enquanto escrevo esta última linha, hesito se devo encerrá-la com um ponto ou com uma interrogação, porque não sei se a pergunta que me faço é também aquela que vai ficar com você, leitor: será que, livres do ódio, seríamos fortes o bastante para suportar aquilo que sobra de nós?

O Silêncio Estilhaçado

Empatia é palavra suave para um ato árduo: sentir a dor alheia como se fosse sua. Não é fácil abrir o coração à tristeza do próximo; requer uma generosidade de alma que só floresce nas horas mais sombrias. Em Israel, no Dia do Memorial – o Yom Hazikaron – essa empatia se torna um rito coletivo. Cada israelense carrega a memória de alguém que a guerra levou. Quando a sirene toca, o país inteiro se imobiliza em dois minutos de silêncio. E não há ali desconhecidos: todos choram juntos. Confesso que essa cena, a cada ano, ainda me emociona e quase devolve minha fé na união pelo sofrimento partilhado.

Mas a realidade faz questão de testar essa fé. Na noite do Yom Hazikaron de 2025, em Ra’anana, nem mesmo a solenidade daquela data escapou à barbárie. Uma cerimônia em memória de israelenses e palestinos mortos – realizada em uma sinagoga reformista – foi atacada por um grupo de extremistas. Pedras e insultos voaram pelas janelas, estilhaçando vidraças e calando preces. Famílias inteiras tiveram de sair sob escolta da polícia, com o medo nos olhos. Houve feridos, houve pânico, houve sacrilégio naquele recinto dedicado à lembrança dos caídos. Por instantes terríveis, judeus fugiram de judeus dentro de uma sinagoga — algo impensável até que se tornou realidade.

Sim, existem pessoas más. Gente que age com intenção, método e frieza. Os agressores se julgam patriotas, mas não passam de profanadores do luto alheio. Gritaram “traidores” aos que rezavam, sem enxergar que a verdadeira traição à pátria é semear o terror entre os próprios irmãos. Não há simetria possível aqui: quem atira pedras contra compatriotas em pranto não defende valor algum — apenas conspurca a memória que a nação deveria honrar. Justificar tamanha agressão seria corromper ainda mais o sentido de decência. Nenhum pretexto, desculpa ou contexto atenua o que se viu.

Fico a pensar no significado desse abismo moral. Se nem mesmo nossos mortos conseguem mais unir os vivos, que futuro espera este país?

Não te rendas

Não te rendas

Quando se está passando por uma forte crise emocional, a sensação do desamparo contamina tudo. Parece que o mundo perde a graça, as referências de sempre ficam machucadas e, sobretudo, não há saídas até onde a vista alcança.

O que acontece no terreno pessoal vale, grosso modo, para a vida social e política. Andei pensando como deveria se sentir um democrata genérico nos anos 30 do século passado. Fase em que a razão estava em estado de choque. A extrema-direita avançava em muitos países. No Brasil, os galinhas verdes andavam assanhadíssimos. Burguesias europeias, assustadas com os ecos da Revolução Russa, apoiavam grupos nazistas e fascistas para formar diques de contenção contra as organizações dos trabalhadores. Enormes manifestações de massa na Alemanha nazista encantavam congêneres a mancheias. A maré montante reacionária deve ter desanimado/deprimido o pacífico democrata. O que fazer?

Se alguém imaginou que há uma onda mundial semelhante hoje em dia, não errou muito o alvo. Crescimento de gastos militares (US$ 2,5 trilhões ao ano, mais de 40% concentrados nos Estados Unidos), xenofobias à tripa forra, crise de hegemonia dentro do capitalismo, fortalecimento de grupos neonazistas, novas tecnologias massificando desigualdade, exclusão e desespero. À diferença dos anos 30, não há um contraponto revolucionário para enfrentar a barbárie. Como resistir?

Para não se cair no imobilismo ou no cinismo, acho útil lembrar de atos de resistência em conjunturas adversas. É possível, e necessário, dizer não. Quero, a propósito, compartilhar uma descoberta recente. O fato aconteceu na Holanda, há 84 anos.

Invadida pelo exército alemão, a Holanda capitulou em maio de 1940. Não demorou muito e o modelo hitlerista começou a ser replicado, com a ajuda de quinta-colunas locais. Legislação antissemita, repressão às organizações de esquerda. No início de 1941, mais de 400 judeus de Amsterdam foram presos e deportados para o campo de concentração de Buchenwald. Agressões antijudaicas nas ruas eram frequentes.

As deportações motivaram uma resposta liderada pelo proscrito Partido Comunista Holandês. Os comunistas convocaram uma greve geral para protestar contra as perseguições antissemitas. Redigiu-se um panfleto onde se convidava os moradores da capital holandesa a paralisarem a cidade por um dia. No dia 25 de fevereiro de 1941, uma terça-feira, calcula-se que cerca de 300 mil pessoas paralisaram suas atividades. Foi ali, nas ruas holandesas, que brotou, exuberante, um exemplo de solidariedade e camaradagem que estão na base do projeto político da esquerda revolucionária.

Pegos de surpresa, os nazistas temeram que as manifestações se alastrassem e se transformassem no embrião de um levante geral contra a ocupação. A repressão foi selvagem. Houve mortos e feridos. Dezoito grevistas foram presos e executados. De acordo com o historiador Jacob Presser, houve, além da repressão policial, um segundo elemento de pressão contra a greve.

Membros do Conselho Judaico local pediram aos grevistas que interrompessem as manifestações, que se prolongaram por dois dias. Temiam que, enfurecidos, os nazistas recrudescessem a perseguição antijudaica. Achavam melhor a passividade, “esperar até as coisas esfriarem”. Anos depois, lideranças judaicas no gueto de Varsóvia repetiram a mesma postura quando souberam que jovens de várias tendências políticas estavam organizando a luta que levaria ao levante armado, em abril de 1943. “Melhor não provocar os alemães”, dizia Adam Czerniakow, presidente do Judenrat, o Conselho Judaico do gueto.

Não é meu objetivo polemizar sobre qual seria a melhor estratégia em ambos os casos. Meu interesse é registrar que, mesmo em condições dolorosamente desfavoráveis, é possível reagir às opressões. Individuais e coletivas. Cada pessoa, cada povo, escolherá a melhor forma de fazê-lo, levando em conta as condições subjetivas e objetivas do momento. Uma boa tradução deste espírito de luta, desta vontade de continuar, tão urgente na atualidade, está muito bem expressa no início do poema No te rindas (Não te rendas), do uruguaio Mário Benedetti.

No te rindas, aun estas a tiempo
de alcanzar y comenzar de nuevo,
aceptar tus sombras, enterrar tus miedos,
liberar el lastre, retomar el vuelo.

No te rindas que la vida es eso,
continuar el viaje,
perseguir tus sueños,
destrabar el tiempo,
correr los escombros y destapar el cielo.

Abraço. E coragem.

Estatística

Sou apenas um número

Burocratas de metas em busca do conhecimento

Nessas manhãs frias de verão chuvoso

Pedras atiradas ao esmo! Contras todos e tudo,

Pra refrescar o corpo cansado, o dia exausto

Um pouco de cerveja barata e alguma poesia

Maratonar no sol escaldante do meio dia

É proibido pensar!

A única filosofia é a dos números da estatística

Pra calcular a nossa pobreza

Do dia a dia!

Israel em Guerra – 91º dia

Israel em Guerra – 91º dia

15 soldados ficaram feridos ontem, de acordo com dados da IDF. Na Faixa de Gaza, 14 soldados ficaram feridos, dois deles gravemente e 12 levemente. Um soldado ficou gravemente ferido fora da faixa. O número de feridos desde o início da operação terrestre é de 1.020.

A Procuradoria do Estado informou que um residente de Jerusalém de 35 anos, Yehezkel Varshvar, foi acusado de decapitar um burro e colocá-lo em um cemitério muçulmano na Cidade Velha de Jerusalém cerca de uma semana atrás. O Ministério Público submeteu hoje a acusação ao Tribunal de Magistrados de Jerusalém e pediu a prisão do arguido até ao final do processo judicial contra ele. Ele é acusado de entrar em um local de culto ou sepultamento sem permissão, violar uma disposição legal, ferir e abusar de animais e violar o dever do proprietário.

As FDI anunciaram que aviões de guerra atacaram infraestruturas terroristas e uma posição militar do Hezbollah em al-Sha’ab e Magdal Zon, no sul do Líbano.

Altos funcionários da administração do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, estão fazendo planos para o envolvimento americano em um conflito regional mais amplo, segundo reportagem do site americano “Politico”. Quatro fontes familiarizadas com os planos, incluindo um alto funcionário da administração, descreveram que em conversas internas estão discutindo possíveis cenários que poderiam envolver os EUA noutra guerra no Médio Oriente.

Nos últimos dias, altos funcionários da Autoridade Palestiniana manifestaram preocupação, em conversações com responsáveis ​​da União Europeia, de que as iniciativas de ajuda que retiram residentes de Gaza para tratamento possam dar origem a uma ampla onda de milhares de habitantes de Faixa de Gaza que não vão regressar à região. O primeiro-ministro palestino, Muhammad Ashteyeh, conversou nos últimos dias com o presidente de Chipre e disse que o medo palestino é que, se a ajuda não for trazida para a Faixa de Gaza, ela seja usada pelos elementos em Israel que desejam encorajar a imigração palestina generalizada.

Os ministros do Gabinete manifestaram-se ontem contra a constituição da equipa que irá investigar a conduta do Exército no dia 7 de outubro e no período que antecede o massacre, e também criticaram a identidade dos membros que integrarão a equipa. O chefe do Estado-Maior, Hertzi Halevi, esclareceu que é o exército quem decide quando investigar a sua conduta, e o ministro da Defesa, Yoav Galant, disse aos ministros que apoia a decisão. “Este é o papel dele, verificar e investigar. Se o chefe da Casa Civil decidir constituir uma equipa de investigação, eu o apoio, disse o ministro.

Um foguete disparado da Faixa de Gaza atingiu um edifício público em Sderot. Não houve feridos e danos foram causados ​​em uma das paredes do prédio. Uma mulher que estava lá dentro permaneceu no espaço protegido e não foi ferida. Segundo comunicado da prefeitura, outro foguete disparado contra a cidade caiu em área aberta.

Direitos Humanos para todos, se você não for judeu

Direitos Humanos para todos, se você não for judeu

A Human Rights Watch (HRW), uma organização de direitos humanos, globalmente, está enfrentando um escrutínio por alegações de viés contra Israel em sua abordagem ao conflito israelense-palestino. A crítica vem de Danielle Haas, uma editora sênior que está deixando a organização depois de afirmar que a HRW politizou sua postura. Em um e-mail interno vazado para o The Times of Israel, Danielle diz que a resposta da HRW aos ataques do Hamas em 7 de outubro, que resultaram na morte de 1.200 pessoas no sul de Israel, desviou-se dos princípios de profissionalismo, precisão, imparcialidade e do dever de advogar pelos direitos de todos.

Um resumo dos principais pontos levantados por ela:

  1. Ela trabalhou na Human Rights Watch (HRW) por mais de 13 anos e destaca a mudança na abordagem da organização em relação ao trabalho em Israel-Palestina ao longo do tempo.
  2. Descreve a evolução da HRW e como seu enfoque, tom e estrutura mudaram, levando a respostas inadequadas aos eventos, como os massacres do Hamas em Israel em 7 de outubro.
  3. Ela critica a HRW por falhas na condenação explícita dos ataques contra civis israelenses, destacando a politização do trabalho da organização, a falta de equilíbrio editorial e a manipulação de narrativas.
  4. Aponta desequilíbrios na atenção dada aos abusos de direitos humanos em Israel em comparação com outros países e destaca o relatório de “Apartheid” de 2021 como um ponto crítico que desencadeou preocupações.
  5. Revela a falta de diversidade de opiniões e experiências na HRW em relação a Israel-Palestina, destacando a exclusão de vozes críticas e a resistência à correção de imprecisões.
  6. Menciona a perda de credibilidade da HRW entre os israelenses e cita a relutância de grupos de socorro em compartilhar informações com a organização devido a preocupações com o uso inadequado dessas informações.
  7. Expressa frustração pela falta de ação da administração da HRW diante das preocupações levantadas sobre viés interno, falta de equilíbrio e clima hostil.
  8. Conclui desafiando a HRW a enfrentar os problemas internos, corrigir preconceitos, garantir o profissionalismo, e fazer da defesa dos direitos humanos uma prioridade genuína, e não uma fachada para crenças políticas.

Um outro documento, mas da Cruz Vermelha Internacional de 1944, informa que o Campo de Auschwitz não era um campo de extermínio.

O documento é uma carta do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, datada de 22 de novembro de 1944, endereçada ao Sr. McClelland. Nela, é informado que um de seus delegados conseguiu entrar no campo de concentração de Auschwitz. Ele diz que se trata de um Campo de Prisioneiros, e não de um Campo de Extermínio.

É sabido que nesta época o campo exterminava milhares de judeus por dia.

O que existe em comum aqui, são informações de duas organizações internacionais de direitos humanos com um viés antissemita de uma, e de anti-Israel de outra.

Segue o e-mail de Danielle Hass na Íntegra e o documento de Cruz Vermelha.

Prezado Human Rights Watch,

Por estarmos vivendo em tempos perigosos e sendo esta uma organização de direitos humanos dedicada à liberdade de expressão, diálogo aberto e direitos para todos, estou enviando um último e-mail antes de deixar a HRW. Estou esperançoso, porém cauteloso, de que uma organização com a missão de “Expor. Investigar. Mudar” possa fazer exatamente isso quando se trata de suas próprias práticas em relação ao seu trabalho em Israel, com autenticidade e sem retaliação.

Quando entrei na Human Rights Watch há mais de 13 anos como editor sênior, o fiz com anos de experiência em jornalismo cobrindo o conflito israelense-palestino e tempo na academia.

A Human Rights Watch parecia ser uma boa combinação de ambos; uma organização líder de direitos humanos dedicada à pesquisa rigorosa, focada no direito internacional e no sofrimento humano, com o mandato de promover mudanças. Eu acreditava, e permaneci por causa, da missão mais ampla.

Mas à medida que a organização cresceu e sua composição mudou, também mudaram o foco, tom e enquadramento do seu trabalho em Israel-Palestina. Após os massacres do Hamas em Israel em 7 de outubro, anos de tendência institucional culminaram em respostas organizacionais que quebraram a profissionalismo, abandonaram os princípios de precisão e imparcialidade e renunciaram ao dever de defender os direitos humanos de todos.

As reações iniciais da HRW aos ataques do Hamas falharam em condenar claramente o assassinato, tortura e sequestro de homens, mulheres e crianças israelenses. Incluíram o “contexto” de “apartheid” e “ocupação” antes mesmo de o sangue secar nas paredes dos quartos. Essas respostas não foram, como alguns caracterizaram internamente desde então, um erro de comunicação no tumulto após o ataque do Hamas. Não foi a falha de alguns em seguir mecanismos internos robustos de edição e controle de qualidade, como outros têm afirmado.

Isso não aconteceu no vácuo.

Pelo contrário, a resposta inicial da HRW foi a concretização de anos de politização do seu trabalho em Israel-Palestina, que frequentemente violou padrões editoriais básicos relacionados à rigorosidade, equilíbrio e colegialidade quando se trata de Israel.

Foi a expressão de anos de enquadramento histórico e político seletivo que sempre pôde contextualizar e “explicar” por que vidas israelenses judias foram perdidas na violência palestina.

E foi a dominação do trabalho de Israel-Palestina da HRW por algumas vozes que abafam outras a ponto de aqueles que se sentem desconfortáveis com a abordagem e os processos da HRW – e eles existem – se sentirem silenciados.

Para ser claro: o foco e a crítica às políticas e ações israelenses são válidos para uma organização de direitos humanos.

Mas o que sei depois de mais de 13 anos na HRW é o seguinte:

* Israel foi destaque no relatório global anual do World Report de direitos humanos que supervisionei por mais de uma década, quase tão extensivamente quanto potências mundiais como China, Rússia e Estados Unidos, e o capítulo Israel-Palestina sempre foi mais longo do que os de gigantes que violam direitos, como Irã e Coreia do Norte.

* O relatório “Apartheid” de 2021, aplaudido internamente por seu objetivo de afetar uma “mudança narrativa”, selou o declínio. A HRW sabia que seu argumento cuidadoso e legal raramente seria lido na íntegra. E há pouca dúvida de que não foi, por aqueles – incluindo apoiadores do Hamas – que agora usam o termo com uma facilidade chocante. É um presente de uma palavra para aqueles que desejam caracterizar Israel em poucas palavras e com o mínimo de nuances possível, um “contexto” padrão para qualquer destino que caia sobre Israel e israelenses judeus; 120 pesquisadores da HRW assinaram recentemente uma petição pedindo sua inclusão em um comunicado à imprensa sobre reféns israelenses.

* Fóruns internos nominalmente dedicados a Israel e Palestina foram, na prática, em grande parte dedicados a expressões de indignação sobre os abusos israelenses e suas consequências, reais e especulativas. O foco em Israel dominou esses espaços tanto antes quanto depois de 7 de outubro, incluindo os links compartilhados; o espaço concedido aos colegas para expressar suas realidades vividas e traumas; e, finalmente, a defesa.

* Alguns tipos de expertise em Israel-Palestina foram mais valorizados do que outros. Não havia valor atribuído a ter um membro da equipe israelense judeu que falasse hebraico, tivesse coberto o conflito israelense-palestino para a mídia internacional, tivesse um rico histórico acadêmico e 17 anos de imersão no país. O perfil daqueles incumbidos do trabalho relacionado à HRW é diferente. O único contato que tive com conteúdo Israel-Palestina ao longo dos anos, apesar de trabalhar virtualmente em todas as outras áreas do mundo, foi como editor do World Report. Recebi insinuações veladas e resistência quando destaquei imprecisões factuais no capítulo Israel-Palestina que foram corrigidas posteriormente.

* A HRW tem tão pouca credibilidade para a maioria dos israelenses que eles nem confiam na organização com seus corpos. Zaka, o grupo de socorro de emergência que coletou partes do corpo após os massacres do Hamas, disse que não queria falar com a HRW porque seus membros não tinham fé de que a organização não distorceria e abusaria de seus relatos de testemunhas sobre o carnificina que haviam presenciado.

* Quando mencionei a constelação de minhas experiências ao longo dos anos para um gerente sênior, sentindo muito parecido com antissemitismo, ele respondeu: “Você provavelmente está certo.” Ele não perguntou ou fez mais nada.

Três semanas após os massacres de 7 de outubro, a Human Rights Watch disse à equipe que estava “orgulhosa” de sua resposta à crise.

A autoafirmação falhou em abordar produções que incluíram, mas não se limitaram a:

O primeiro anúncio da HRW após os massacres de 7 de outubro que mal abordou o que aconteceu, contrastando duramente com seus milhares de comunicados ao longo dos anos condenando uma série de abusos de direitos humanos:

“Grupos armados palestinos realizaram um ataque mortal em 7 de outubro de 2023, que matou várias centenas de civis israelenses e levou a contra-ataques israelenses que mataram centenas de palestinos”, disse a Human Rights Watch ao lançar um documento de perguntas e respostas sobre os padrões do direito humanitário internacional que regem as hostilidades atuais.”

Um comunicado de imprensa inicial que poderia facilmente ser interpretado como culpando a vítima:

“Os ataques ilegais e a repressão sistemática que têm atormentado a região por décadas continuarão enquanto os direitos humanos e a responsabilidade forem ignorados.”

Um artigo sobre os ataques israelenses em Gaza sendo devastadores para os palestinos com deficiências que não mencionou o impacto devastador dos ataques do Hamas em israelenses com deficiências. Incluíam aqueles assassinados em 7 de outubro, entre eles uma garota de 17 anos com distrofia muscular e paralisia cerebral morta em um festival de música; aqueles que agora são deficientes por causa dos ataques; e reféns israelenses com condições de saúde preexistentes que vão de problemas cardíacos a diabetes.

Falta de contexto ao usar figuras controversas que vieram de um ministério controlado pelo Hamas:

“O repórter do [Washington Post] Adam Taylor citou Omar Shakir, diretor de Israel e Palestina na Human Rights Watch, que disse: ‘Todo mundo usa os números do Ministério da Saúde de Gaza porque geralmente são comprovadamente confiáveis. Nos momentos em que verificamos nossos próprios números para ataques específicos, não estou ciente de nenhum momento em que tenha havido alguma discrepância significativa.”

Não é lógico, não é possível e não é o caso que todos na HRW concordem com o trabalho em Israel antes e depois de 7 de outubro ou se sintam seguros. Em vez disso, é um indicativo profundamente preocupante de que os funcionários estão se autocensurando porque temem o isolamento se falarem e que nada será feito mesmo se o fizerem. É um aviso de que estão intimidados pela maneira como os críticos da Human Rights Watch são discutidos internamente e pelo tom e conteúdo das brincadeiras antes e durante as reuniões, em listas de e-mails e nas conversas por mensagem.

Talvez eles também não estejam tranquilizados por respostas como a que a alta administração me enviou em resposta a um e-mail recente que enviei a eles, no qual eles disseram “apreciar” meu “feedback” e “aprender” com ele.

Eu espero que sim, mas duvido.

As sérias preocupações profissionais que levantei ao longo dos anos com o Escritório de Programas, o Conselheiro Geral e os gerentes do MENA nunca foram a lugar algum. Eles sempre foram recebidos – parecia – através de um filtro de eu ser judeu e/ou israelense, mesmo que funcionários muçulmanos e árabes e aqueles com posições políticas evidentes sejam confiados como defensores e para supervisionar pesquisas.

Além disso, meus comentários não são um “feedback”.

Ao contrário, eles representam uma acusação e um desafio para a Human Rights Watch: enfrente os problemas de longa data que infectam seu trabalho em Israel e o clima interno hostil que os ataques do Hamas trouxeram à tona, mas não criaram. Enfrente os preconceitos conscientes e inconscientes que os informam. Aborde imprecisões por omissão.

Faça isso não porque você está sob pressão para ser visto ouvido, mas porque respeita o profissionalismo e a expertise de seus muitos colegas ponderados e sérios de diversas origens, que não podem fazer seu trabalho sem medo de estigma e retaliação se falarem.

Faça isso porque se preocupa com a saúde da organização, mantendo seus padrões internos e garantindo que a defesa dos direitos humanos não seja um disfarce para crenças políticas, ou pior.

Faça isso porque você não quer apenas reivindicar seu manto de autoridade moral, mas conquistá-lo.

Dani

Tradução do documento:

COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA

AGÊNCIA CENTRAL DOS PRISIONEIROS DE GUERRA DE GENEBRA

Chiques psen LSSZ? Telefone 423 06 Tag “INTERCROIXROUGE Divisão de Assistência Especial Lembrar na resposta G.44/Sec JES/GB GENEBRA, 22 de novembro de 1944. Palácio do Conselho-Geral

Estritamente confidencial

Prezado Sr. McClelland:

Em resposta à sua carta de 17 de novembro, na qual nos perguntou se um delegado do Comitê Internacional da Cruz Vermelha havia conseguido visitar o campo de Auschwitz, estamos em condições de fornecer as seguintes informações:

É um fato que um de nossos delegados conseguiu entrar neste campo. Ele abordou o Comandante com o objetivo de organizar um esquema de possíveis remessas de auxílio para os prisioneiros civis lá. Segundo sua impressão, o campo era um tipo de “campo de concentração extenso” onde os detentos eram obrigados a fazer vários tipos de trabalho, incluindo trabalho fora do campo. Nosso delegado nos disse que não conseguiu descobrir qualquer vestígio de instalações para exterminar prisioneiros civis. Este fato corrobora um relatório que já tínhamos recebido de outras fontes, ou seja, que nos últimos meses não havia mais exterminações em Auschwitz. De qualquer forma, este não é um campo contendo exclusivamente judeus.

Estamos fornecendo-lhe estas informações pessoal e confidencialmente, porque obviamente não desejamos publicar o fato de que esta visita foi realizada. Se isso se tornasse conhecido pelo público, poderia criar a impressão de que o Comitê Internacional tinha meios à sua disposição para intervir em favor dos detentos deste campo. Além disso, as Autoridades Detentoras poderiam ser tentadas a afirmar que esta visita de um delegado da Delegação Americana

29, Alpenstrasse

Sr. Roswell McClelland

Assistente Especial do Ministro Americano