O que pareceu um alento, um cessar fogo de 72 horas com negociações marcadas para acontecer no Cairo, se dissipou em 2 horas. Os dois lados se acusam de terem violado os termos acertados, o que provavelmente significa que ambos têm razão e ninguém falou sério em parar as hostilidades.
O número de vítimas não para de crescer, principalmente o de civis palestinos. Além da perda de vidas, a destruição material é imensa. Os dados apontam que 25% da população de Gaza não terá para onde voltar quando as armas silenciarem.
Do lado israelense, além de 3 civis, agora já são 61 soldados que perderam a vida e um desaparecido. Israel diz que ele foi aprisionado, mas o Hamas nega.
Eu creio que já estamos assistindo ao fenômeno da revanche. O soldado desaparecido fazia parte de um grupo de três soldados atacados por um suicida. Dois morreram, e o terceiro por não ter sido encontrado, acredita-se que tenha caído em mãos do Hamas. Acontece que não mais somente o Hamas e a Jihad Islâmica que estão combatendo. Pessoas sem filiação a qualquer grupo estão se somando a luta para vingarem seus mortos. Logo vão aparecer mais suicidas. Não é mais o Hamas que defende Gaza, é a sua população que luta pela vida.
Israel vai ganhar esta guerra perdendo. Afirmação estranha, mas é o cenário mais provável. Militarmente a vitória vai ser incontestável ara onde se quiser olhar. A maioria dos túneis, senão em sua totalidade, serão destruídos. O inimigo terá sofrido um número de baixas considerável em combatentes, e a perda de armamento de difícil e lenta reposição.
No mais, a vitória será do Hamas. Com a finalização do número de vítimas civis, principalmente de mulheres e crianças e a destruição de milhares de moradias, os tribunais serão inundados por pedidos de condenação por crime de guerra e indenizações, cujo resultado desta vez, pode ser bastante doloroso para Israel.
Mais ainda. O fim do bloqueio a Gaza, principal demanda do Hamas poderá ter de ser atendida, ou os túneis voltarão a ser construídos um a um. E ainda é preciso lembrar que no cenário político, são poucos os países que ainda apoiam Israel incondicionalmente. Na ONU o quadro é desolador.
Existe também o componente sociológico oriundo desta guerra. De um lado o aumento formidável do antissemitismo. Todo judeu passou a ser um israelense e como Israel é visto como o agressor, nós judeus estamos recebendo a parte que nos toca. No entanto, nunca se viu antes as comunidades judaicas tão divididas como agora. Se antes qualquer atitude agressiva de Israel era compreendida como um ato de sobrevivência contra um mundo árabe que desejava sua destruição, agora não mais. O número de judeus que declaram “não em meu nome”, cresceu exponencialmente. Não são judeus que passaram a apoiar o Hamas, mas judeus que disseram que não aceitam este massacre desproporcional.
De outro, o fenômeno da xenofobia israelense. Pacifistas, membros de partidos de esquerda e árabes em geral passaram a ser hostilizados e agredidos fisicamente sob o olhar complacente da polícia. É verdade que foram anunciadas algumas prisões, mas a falta de leis que impeçam o racismo se faz ais do que necessária. Uma lei que impeça além destes grupos fascistas continuarem agindo, que autoridades se pronunciem incitando a sociedade contra as minorias.
Agora nos resta torcer para que as lições das falhas deste cessar fogo tenham sido absorvidas e sirvam para balizar um novo entendimento que proporcione uma nova trégua. Uma parada que permita aos diplomatas fazerem seu trabalho enquanto a população dos dois lados possa ter uns dias de alívio.