Diante do lamentável fato ocorrido com o Sobel, vejo manifestações de todo tipo circularem pela Internet numa velocidade que só mesmo estes tempos de hoje podem permitir.

De um lado, o bom humor judaico e não judaico fazendo graça do ocorrido. De outro os antisemitas de sempre impondo a condição de ladrões a todo povo judeu em geral, e a Sobel em particular.

Acima de tudo vejo as correntes de solidariedade que vem de todas as direções e que fazem de Sobel uma das pessoas mais queridas da comunidade. E não faltam razões para isso, ao menos aparentemente.

Talvez o caso mais emblemático de todos seja o de Vladimir Herzog. Assassinado pela ditadura, Sobel não permitiu que ele fosse enterrado como suicida (versão dos assassinos), e literalmente peitou os milicos.

Sobel tem também a seu fazer um brilhante trabalho ecumênico, principalmente na aproximação da igreja católica com o judaísmo.

Tudo isso não apaga o fato de que ele furtou algumas gravatas de lojas em Miami. Para alguém como ele, a única explicação condizente será cleptomania. Como esta não é uma doença que se adquire da noite para o dia, me atrevo a dizer que a doença era de conhecimento de seus amigos mais próximos e nunca tratada com a devida importância.

Pessoalmente não guardo boas recordações de Sobel. Durante minha militância em movimento juvenil certa vez durante a ditadura, acompanhamos uma família que fazia Aliá cujos filhos eram nossos companheiros, até o aeroporto. Fomos com faixas e bandeiras de Israel para nos despedir. Lá estavam alguns proeminentes membros da comunidade que horrorizados com nossa festa queriam que enrolássemos as bandeiras de Israel. Passados poucos dias, Sobel veio ao estado fazer uma palestra. Lá estávamos nós para ver e escutar o grande rabino. Ao final o acontecido no aeroporto foi questionado e a resposta dele: porque não portar também bandeiras do Brasil? Contado de forma muita resumida e trazido para os dias de hoje, sem dúvida parece ter pouca importância, mas na época foi um balde de água fria numa juventude sionista.

Durante o caso Elwanger também não guardo boas recordações de Sobel. Ciente de todas as dificuldades que o Movimento Popular Anti-racismo enfrentava, nunca se envolveu. Lá estavam judeus e negros unidos contra um nazista e ainda tendo de lutar contra as forças da comunidade judaica que tentavam impedir uma ação contra o ressurgimento do neonazismo.

Mesmo depois de encerrado o caso, foi incapaz de se manifestar em defesa de uma organização não judaica que até hoje tem dois membros acionados na justiça a pagar custas de um processo que moveram em nome da honra.

A mim, sempre ficou a nítida impressão de um Sobel que gosta de holofotes, muito mais do que uma pessoa realmente comprometida com um mundo melhor. Um sujeito esquisito, egocêntrico cujo nome adquiriu muito mais respeito do que a importância de suas atitudes, até esta semana.

Contudo me permito ainda lamentar o que está acontecendo. Deixando de ser egoísta talvez, ou mesquinho, me rendo ao fato de que seu passado representou um marco importante pata a restauração da democracia no Brasil e para o diálogo judaico-cristão.

Não vou assinar nenhuma lista de solidariedade, esperando a compreensão de quem chegou até aqui, mas desejo a ele que se recupere plenamente tratando de seu distúrbio e que futuramente tenha um pouco mais de humildade para com todos que o cercam e admiram.

Não é minha atenção ferir suscetibilidades e tampouco abrir uma linha de discussão. Respeito a todas opiniões contrárias e peço apenas que tratem a minha como mais uma dada entre tantas.