Um dos grandes símbolos da resistência democrática á ditadura Argentina, foram as Mães da Praça de Maio. Há mais de vinte anos elas se reúnem todas as quintas-feiras para pedir justiça: que devolvam os desaparecidos, ou seja, que lhes seja devolvido o que a ditadura lhes tomou, os corpos de seus entes queridos.
Estas manifestações repetitivas semanalmente chamam atenção pela persistência destas mulheres, pelo seu inconformismo e mais do que tudo pela necessidade de manterem viva a esperança. Faça chuva ou faça sol, lá estarão elas clamando por justiça até que a encontrem.
Uma nova Praça de Maio está surgindo na Cisjordânia. Ela fica na pequena aldeia de Bil’in que fica próxima dos assentamentos de Kiryat Sefer e Matityahu que estão lentamente se apropriando de suas terras. Todas as sextas-feiras a população da aldeia juntamente com ativistas do campo da paz israelenses, e internacionais, promovem uma manifestação pacífica contra a construção do muro que vai separar a aldeia das terras de cultivo que ainda restam. Ela tem inicio com uma concentração na Praça de Bil’in de onde se dirigem para o local da construção do Muro de Separação.
Assim como as Mães da Praça de Maio, os manifestantes da Praça de Bil’in pedem por justiça: não aceitam o confisco de suas terras para a expansão de assentamentos israelenses, e principalmente não querem que a construção do Muro de Separação retire o sustento de sua população, as terras nas quais eles plantam a gerações.
As manifestações em Bil’in vem sendo o centro da resistência a ocupação na Cisjordânia e chama a atenção pela forma não violenta de clamarem por seus direitos. Elas ocorreriam sem nenhum problema não fosse a decisão do governo de Israel de não permitir que continuem ocorrendo. Para isso, a polícia e o exército vêm tomando a aldeia de assalto impondo aos seus habitantes toque de recolher, e tentando impedir que manifestantes de fora cheguem ater eles, decretando a aldeia território militar fechado.
Todo este aparato não consegue impedir que ocorram as manifestações que acabam em atos de violência e prisões arbitrárias. Muitas destas ações foram filmadas e demonstraram em juízo que os manifestantes foram atacados com força desproporcional e às vezes até com extrema violência. Vários militares já foram condenados por mentirem alegando terem sido atacados primeiro.
Nesta última sexta-feira, dia 9 de setembro não foi diferente. Cerca de 300 pacifistas foram a Bil’in se somar aos seus habitantes na manifestação semanal. O exército tentou impedir sua aproximação, mas ainda assim a maioria conseguiu chegar até a aldeia que se encontrava sob ocupação. Ao se dirigirem a Praça de de Bil’in foram violentamente atacados com bombas de gás lacrimogêneo e disparos de balas de borracha. Alguns jovens passaram a jogar pedras e pelo menos um soldado fez disparos com balas verdadeiras.
Entre os manifestantes israelenses estava Uri Avnery, ex-membro do parlamento israelense (Knesset) que neste dia comemorou 82 anos. Várias pessoas foram presas, mas apenas uma delas permanece detida. Chama-se Abdalah Abu Rahme, um dos líderes dos manifestantes de Bil’in, conhecido por sua devoção a manifestações pacíficas contra a ocupação e a construção do Muro de Separação.
A história se repete. Muitas de suas manifestações foram reprimidas pela polícia, até com o uso de violência. Muitas mães da Praça de Maio foram presas e até assassinadas. Nada fez com que elas desistissem.
Muitos manifestantes da Praça de Bil’in também têm sido presos. As manifestações também estão sendo reprimidas com violência, mas não conseguem impedi-las por que nas duas praças o que se pede é por justiça.