O dia sete de setembro me traz lembranças de infância. Lembro que minha escola desfilava na avenida e o sonho de todos nós, os pequenos, era um dia fazer parte da banda.

Muitos anos se passaram e antes de crescer os desfiles das escolas terminaram nem sei por que. Restaram apenas os desfiles militares.

Todo dia sete de setembro somos recebidos por uma enxurrada de artigos do mais extremo eufanismo a mais eloqüente crítica social. Acho que tudo é válido, afinal são duas formas de patriotismo.

Para não deixar passar esta data em branco curtindo apenas o feriado de sol, que para os gaúchos é uma raridade histórica, achei que seria interessante compartilhar algumas questões que estão na pauta do dia.

Uma delas é a nossa tremenda dificuldade em repartir renda. A diferença entre ricos e pobres é abissal. A discrepância de salário entre o mais pobre e o mais rico é colossal. Isto torna o progresso quase inatingível, ou melhor, alcançado por muito poucos e faz do Brasil uma terra de desiguais.

A lógica de que quanto maior o salário, maior o poder aquisitivo, que por sua vez aumenta a produção industrial, que com isso aumenta o emprego trazendo consigo mais serviços que fazem com que o estado arrecade mais e forneça melhores condições de vida para todos, parece inatingível.

Não fosse apenas isso, a gente ainda é levado a cabresto para acreditar que existe um mar de corrupção no governo Lula, coisa que até agora ninguém conseguiu provar, mas que exige a punição de culpados de um crime inexistente.

Tudo o que se provou até o momento foi a existência de um caixa 2 dentro do PT. Também está provado que o dinheiro veio de empréstimos legais realizados por Marcos Valério e suas empresas, para a seguir serem repassados a inúmeras pessoas pelos mais variados motivos. Portanto o único crime comprovado até aqui é o de caixa 2, o mesmo realizado pelo PSDB de Minas Gerais, e o mesmo que é feito, provavelmente pela imensa maioria dos vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores de todas as legendas.

O que estão tripudiando é o fato de que o PT que se dizia o baluarte da ética e da honestidade ter feito isso também. Claro que visto assim, todos os que um dia acreditaram nesta possibilidade se sentem traídos. Mas o interessante é que são apenas estes a se sentirem assim. Todos os que votaram contra dizem o mesmo. Então alguma coisa está errada.

A mídia está fazendo um desserviço ao país. Colocam manchetes do tipo “Dirceu sabia de tudo”, para a seguir ao longo do texto explicarem que alguém disse que escutou alguém falar que Dirceu deveria saber. Isto é de uma irresponsabilidade inominável.
Uma coisa é se mostrar cabalmente, como no caso Maluf, que um valor saiu da contabilidade da empresa Mendes Júnior para a conta de um doleiro. O mesmo valor saiu da conta dele e entrou numa conta no exterior em nome de Paulo Maluf. Isto está correto.

Muito diferente de se falar em corrupção sem provar coisa alguma. Se achincalhar o nome de pessoas sem comprovar nada. Contribuir para que delegados e promotores públicos coloquem a público depoimentos dados em processos que buscam esclarecer fatos e pó fazerem parte dos autos de um processo deveriam ser sigilosos. Ninguém mais respeita a lei e somos todos levados a acreditar que cada um destes depoimentos são a expressão da verdade.

A oposição no Congresso Nacional escolheu Severino para presidir a câmara contrariando um processo histórico que dava este cargo ao partido com a maior bancada. Ele era o máximo até dizer uma das maiores verdades: não existe “mensalão”. Foi o que bastou para tentarem derrubá-lo de qualquer maneira. De íntegro passou a corrupto. Sem ainda qualquer prova de que tenha cometido uma ilegalidade decidiram que ele deve ser cassado.

Estamos diante de uma era McCarthy O período de caça aos comunistas nos EUA nos anos 50, onde pessoas eram acusadas por qualquer coisa que tenham dito que elas disseram. Bastava uma testemunha apontar alguma cosia e imediatamente aquela pessoa era declarada uma comunista sofrendo todo tipo de conseqüência. Não era preciso provar nada, bastava parecer que era.

O Brasil precisa se pensar maior. O cidadão brasileiro precisa exigir que a justiça seja igual para todos. Ninguém pode ser exposto à execração pública sem provas. A polícia, o Ministério Público tem a obrigação de zelar pelos direitos do cidadão de inocência até que se prove ao contrário. Esta é uma condição de civilidade e de cidadania imprescindível para o nosso pleno desenvolvimento como uma nação plena.