O acordo de paz agoniza. O cessar fogo que trouxe um pouco de alento para as duas sociedades, israelense e palestina, apesar de não estar sendo cumprido a risca, diminuiu muito o estado de violência e mortes diárias.

Três anos de Intifada acabaram com os últimos resquícios de confiança que haviam sido conquistados em Oslo. Os dois lados não conseguem cumprir com o que acordaram. Não por que não possam fazê-lo, mas por que não acreditam que o outro vá cumpri-lo. E neste estado de vamos ver o que “vocês”, fazem primeiro, ambos deixam de implementar os passos mais importantes.

Sharon depois de um pequeno show televisivo onde mostrava centenas de soldados retirando uma dúzia de colonos de alguns postos ilegais, não foi adiante. Nenhuma colônia foi desmantelada até agora. A flexibilização da vida nos territórios continua na retórica e a libertação de prisioneiros parece uma novela sem fim. Centenas de prisioneiros detidos sem acusação formal que já poderiam ter sido soltos, permanecem presos. Os postos de checagem continuam infernizando a vida das populações palestinas.

Abbas por seu lado, tenta manter um frágil acordo com os grupos militantes evitando a confrontação a todo custo. Tentar o desarme como exige Israel seria o estopim de uma guerra civil. Evitar ataques terroristas depende dos serviços de inteligência que por sua vez precisam da ajuda de Israel. Esta ajuda esta sendo dada a conta gotas. Abbas depende das benesses de Sharon para se manter e até conquistar mais poder.

Enquanto isso, o número de desempregados em Israel já se aproxima de 200.000 pessoas. O número de cidadãos vivendo abaixo da linha de pobreza cresce a cada dia. Os serviços sociais de ajuda foram extintos ou tiveram cortes deixando milhares de pessoas sem qualquer provento. Justamente as mais necessitadas.

Tudo isto não tem impedido a construção do muro de separação que tenta “envelopar” Jerusalém, a futura capital dos dois estados e outras regiões, erguendo um novo muro da vergonha. A um custo de quase U$ 1.000.000,00 de dólares por km (serão 115 km), este dinheiro poderia ser empregado nos programas sociais e na retirada dos colonos dos territórios. O cessar fogo já demonstrou o quão inútil será esta obra. A paz irá por fim derrubá-lo.

Não bastasse a deterioração econômica e todos os males que dela advém, a sociedade israelense vai deteriorando seus valores morais de tolerância e grandeza cultural. Recentes informes de Organizações de Direitos Humanos chocam a todos. Entre julho de 2002 e julho de 2003, a ACR em seu relatório conta que os militares assassinaram 80 palestinos. Em vinte casos eles aceitaram sua responsabilidade. Nas operações durante este período 90 mulheres, crianças e homens inocentes (normalmente passantes) foram mortos e mais de 300 ficaram feridos.

O relatório que também condena os atentados terroristas, fala dos problemas que a ocupação trouxe. O incremento de atos de sadismo e barbárie como o de um soldado que cravou uma Estrela de David na mão de um palestino num bloqueio. A grande maioria dos casos não é punida, e poucos sequer são investigados. Por esta razão, os elementos anormais dentro do exército se sentem livres para continuar agindo desta maneira, aumentando o ódio e a desconfiança por parte da população palestina sob ocupação.

A paz deixa de ser apenas uma ambição mas passa a ser uma necessidade para uma sociedade doente. Os israelenses precisam deste remédio para curar não apenas suas feridas, seqüelas de toda esta tragédia, mas principalmente para ajudar a curar suas almas.

Neste domingo último, dia 22, aconteceram encontros entre as comunidades árabes e judaicas ao redor do mundo. Foram palestras, piqueniques, bate papos, ou simples encontros para se conhecerem melhor. Um exemplo de civilidade e esperança que demonstra a todos que o diálogo ainda é o melhor caminho.

Porto Alegre que já foi pioneira nestas atividades, ficou de fora. Talvez por que tudo o que já havia para ser dito o foi. Talvez por que as pessoas tenham cansado umas das outras, ou simplesmente por que começaram a perder a fé no fim do conflito. Uma pena que desta vez tenhamos ficado na contra mão da história. Justo agora quando começam a se colher os frutos de nossa perseverança, e mais e mais pessoas se juntam na corrente pela paz.