Não foram as fotos dos apertos de mãos que mais me impressionaram no encontro em Akaba. Foram duas palavras. Sharon falou pouco antes em “ocupação” e Abbas disse com todas as letras “terrorismo”. Foi difícil mas foi preciso nomear a realidade.

Como esperado, o recado foi muito bem compreendido pelos radicais dos dois lados: colonos em Israel e os grupos militantes palestinos. Tanto uns, como os outros já colocaram sua objeção ao novo acordo de paz.

Sharon já fala em desmantelar os postos ilegais, como se alguma colônia tivesse legalidade para lá permanecer. Abbas disse que o terrorismo contra os israelenses precisa acabar onde quer que eles vivam. Reconheceu o fato de que a intifada tornou-se uma ofensiva terrorista contra civis.

O que existe em comum entre os dois neste momento é que ambos são chamados de traidores pelos respectivos grupos radicais. Os colonos acham que possuem o direito divino as terras que ocupam e que a palestina já existe e se chama Jordânia. Os terroristas acreditam que a Palestina deve ser formada pela Cisjordânia, Gaza e Israel e que sua luta é de resistência à ocupação sionista de suas terras.

Num local onde a religião e política se misturam, e cada povo acredita que o seu Deus é melhor do que o do outro, todos os dias é preciso pisar em ovos pelo caminho do entendimento. Ainda está fresco na memória de todos, os assassinatos de Sadat e de Rabin. Uma prova inequívoca de que tratar de paz não atrai necessariamente apenas simpatia e boas intenções.

O maior dilema dos dois líderes será então o de transformar em atos o que apregoaram em seus discursos. Cada um a sua maneira, terá de enfrentar aqueles que nunca aceitaram conviver em paz e dividir o mesmo território. Quais estratégias vão utilizar é o dilema que suas consciências já enfrentam. Eles sabem que não existe meio termo e que o enfrentamento parece inevitável. Quando e como vão realizar a tarefa e quais serão as conseqüências é o que todos querem saber.

Este é o momento das forças do campo da paz israelense e palestina, com o apoio do campo da paz de todo o mundo apoiarem Sharon e Abbas. Não é preciso concordar politicamente com eles, basta exigir o cumprimento do que foi acordado e demonstrar o que todos já sabem: a maioria dos habitantes aceita o acordo de paz.

O principal é restabelecer o mínimo clima de confiança que permita as partes implementarem suas tarefas concomitantemente, sem exigir que o outro as cumpra primeiro. E o mais difícil, compreender que nem o desarme dos terroristas, ou o desmantelamento das colônias vão acontecer de uma só vez num curto espaço de tempo. Podem acontecer atentados, assim como a ocupação de terras palestinas. Tais atos não podem servir de pretexto para interromper o processo.

Mais uma vez, ressurgiu a chance de reconciliação. Não sabemos quando isto vai acontecer novamente e nem quantas vitimas mais serão necessárias para que volte a acontecer. Por isso, o momento é este. A hora é agora.

Façam um esforço por nós todos, por nossos filhos e as mais de três mil vítimas desta guerra. Existe paz no fim do túnel e sua travessia é um imperativo em nome da humanidade que ainda nos resta.