Depois de assistir ao filme O Pianista, de Roman Polanski, impossível não refletir sobre mais esta mensagem a respeito do Holocausto. As riquezas dos detalhes sobre as diversas facetas desta tragédia, foram magistralmente tratadas pelo diretor. Uma me pareceu a mais importante: o instinto de sobrevivência do ser humano.

O filme é muito triste. Não poderia ser de outra forma. Sem apelar para o horror das brutalidades que vão se sucedendo na tela, Polanski não deixa de nos mostrar as crueldades cometidas contra os judeus. Tampouco os questionamentos sobre a falta de uma reação geral quando 400.000 pessoas foram levadas para viver no Gueto de Varsóvia e de lá para os Campos de Extermínio.

Não faltaram menções sobre poloneses e alemães que ajudaram os judeus. Uma minoria, é verdade, mas ainda assim heróis que mereceram serem recordados. Numa Europa de anti-semitas, estas pessoas arriscaram suas próprias vidas com seu gesto humanitário.

Em meio a toda perseguição, humilhação e degradação da condição humana, vamos sendo levados pelo filme a presenciar cenas de extrema violência. Cenas onde não se pode mais distinguir o ser humano do animal. Onde termina o racional e tem inicio o irracional. Casos verídicos que mancharam de vergonha a toda humanidade.

Wladislaw Szpilman, é um brilhante pianista polonês que vai nos mostrar a saga de um homem na luta por sua sobrevivência. Graças a suas amizades, perspicácia e muita sorte, ele sobrevive onde à maioria pereceu. Hora no Gueto, hora fora dele, Szpilman vai conseguindo manter-se vivo. Ironicamente chega a viver no Bairro Alemão da Varsóvia Ocupada. Presenciou da janela de seu quarto ao levante no Gueto, um exemplo para os poloneses que se imaginavam incapazes de resistir, e um orgulho para os últimos heróis judeus.

Quando tudo parece perdido e a fome o consome, sempre surge alguém para reabilitá-lo e mantê-lo vivo. A esperança sempre viveu ao seu lado. Junto ao seu drama particular, assistimos ao drama de milhares de judeus que sucumbiram. Cada um deles reduzido ao seu mais primário instinto de sobrevivência, buscando em sua individualidade (ou com os seus mais próximos), uma forma de se manter vivo. Acreditando que tudo teria de passar, que seus dramas particularizados teriam fim tão logo fossem para os “Campos de Trabalho” (como queriam acreditar).

A sorte que esteve com Szpilman, não pode estar com todos. A falta de uma visão realista do que estava acontecendo, aliada ao inacreditável ato que estavam cometendo os Nazistas com suas Fábricas de Morte, levaram a morte seis milhões de judeus, entre eles um milhão e meio de crianças.

De uma comunidade de 400 mil almas na Polônia, restaram depois da guerra pouco mais de 10 mil. Uma delas foi Wladislaw Szpilman que lá continuou até falecer aos 88 anos de idade.

Não sei se Szpilman foi um herói ou um covarde na acepção das palavras. Foi sem dúvida um sobrevivente. Foi um pianista que faz com que todos nós, em certos momentos da vida sejamos como ele nos reduzindo a nossa individualidade para sobrevivermos num mundo cada vez mais opressor.

Sua história é uma lição para todos nós do Campo da Paz. Uma voz a nos lembrar que precisamos continuar lutando sempre para que ninguém mais sofra o que eles sofreram. Que o respeito a nossas diferenças passa pelo respeito ao princípio básico de que não existem raças, mas uma única raça: a humana.

Sempre que um semelhante estiver sendo discriminado, todos nós estamos sendo maltratados. Quando um homem oprimir a outro homem, toda a humanidade está sendo oprimida. O clamor de igualdade e fraternidade precisa continuar a ecoar pelo planeta. Nós somos os porta vozes de que um mundo melhor é possível. Um mundo sem guerras onde todos os conflitos possam ser resolvidos de forma pacífica.

Ajude a mostrar que isto é possível.