Tudo o que Sharon mais gostaria neste momento seria um governo de coalizão nacional. Preferencialmente com o Partido Trabalhista (Avodá) e o Partido da Mudança (Shinui). Isto garantiria a ele uma relativa estabilidade parlamentar de 70 cadeiras (em 120). Mais do que este conforto parlamentar, Sharon teria uma coalizão secular (sem os religiosos), e principalmente a legitimidade de estadista.
Depois de assistirmos a 2 anos de intifada, homens bomba, ataques terroristas com retaliações de toda ordem, inclusive com assassinatos seletivos, não podemos aceitar que alguém queira legitimar o continuísmo do conflito.
Nós que lutamos pela volta imediata do diálogo na mesa de negociações, sabemos que Sharon não é um interlocutor da paz. Hoje, quando mais uma vez, Arafat pede a retomada das negociações, escutamos a negativa de Sharon em fazê-lo. Nada mudou. Suas idéias de conquista e ocupação não retrocederam um centímetro.
Sharon terá de governar com os seus. Terá de fazer alianças com os partidos sanguessugas, que em troca de apoio, cargos, poder e dinheiro para suas instituições vão lhe emprestar um voto de confiança. Para estes partidos, não importa a paz. Eles ganham com a guerra.
Sharon sabe do risco que corre em formar uma aliança deste tipo. Porem em se tratando de política tudo é possível. Tudo o que se diz antes e durante as eleições é passado. Agora se trata de barganhar o máximo em troca de apoio. Nesta barganha princípios e ideologias são relevados a um segundo plano em nome da estabilidade, e da eminência de uma guerra com o Iraque.
Ficar na oposição é a única forma dos Trabalhistas recuperarem sua identidade perdida entre o centro e a esquerda, e recuperarem o respeito e a dignidade a muito distanciada de seus apoiadores. O apoio a Sharon, custou muito caro. Repeti-lo será o seu fim. Mitzna sabe disso e antes das eleições disse que não faria parte de uma coalizão liderada por ele. Esperamos que possa cumprir.
Teremos pela frente dias terríveis. Uma nova onda de atentados para vingar as últimas mortes nos territórios é apenas uma questão de onde e quando. A qualquer momento as sirenes das ambulâncias acudindo aos feridos vão se fazer escutar nas ruas de alguma cidade israelense. É o ciclo de violência se retro-alimentando.
Nada disso seria necessário se o resultado das eleições tivesse sido outro. Talvez israelenses e palestinos acreditem que ainda não chegamos ao fundo do poço. Acreditam que com a força das armas ainda podem dobrar a vontade de um ao outro. Não se importam com o sofrimento e as perdas de vidas que se seguirão num banho de sangue e morte de inocentes que logo irá se apresentar.
Se os tempos não podem ser melhores, cabe a nós, homens de bem, continuar na defesa intransigente do direito a vida. Não vamos nos deixar abater com este resultado. Temos ainda muito que fazer. Permaneçamos unidos e atentos por que sempre haverá o dia de amanhã.
Vida curta ao governo Sharon.