É preciso ter estomago para ler os jornais de Israel ultimamente. Se ontem em uma única notícia eu me informava de 5 palestinos mortos, hoje em duas notícias fico sabendo da morte de 9 israelenses (3 no Quênia e 6 em Beit-Shean). O conflito continua cobrando vidas, agora dentro e fora de Israel.
Desta vez li pensando neste fenômeno dos suicidas. Não se tratam exclusivamente de palestinos. No ataque de 11 de setembro nos EUA, eram sauditas, libaneses e marroquinos. Antes deles, japoneses terroristas do Exército Vermelho atacaram o aeroporto Bem Gurion em Tel-Aviv em 1972, sabendo que seriam mortos. Também recentemente, Baruch Goldztein um colono israelense descarregou sua metralhadora contra um grupo de palestinos que vinham rezar na Tumba de Raquel. Sabia que seria morto ao terminarem suas balas. Foi a sua maneira de suicidar-se.
O povo árabe é responsável por um período de grande progresso para toda a humanidade. Foram eles os inventores do telescópio (Abul Hasan), relógio (Kutbi) e escreveram inúmeros tratados de medicina etc. Sob o império Turco-Otomano judeus e cristãos tinham liberdade de credo e conviviam pacificamente. Não podemos achar que todo árabe ou muçulmano seja um terrorista.
Na era moderna, os primeiros suicidas foram os kamikazes japoneses. Pilotos jogavam seus aviões contra navios aliados. Até os dias de hoje, se diz que este ato poderia ser explicado pela doutrina militarista japonesa. Os pilotos aceitavam dar a vida pelo imperador e pela pátria. Por via das dúvidas, o combustível não permitia ao avião retornar a base.
Em algumas situações, soldados partem em missões, chamadas de suicidas devido a sua periculosidade. No entanto, nenhum deles pensa em morrer. Querem completar a missão e voltar para casa.
Os homens bomba que partem para a morte em missões suicidas, são como os kamikazes japoneses. Tem consciência de que vão morrer para completar sua missão. Sua única chance de sucesso, é justamente não voltar para casa. Mas há uma única diferença: os kamikazes saiam em missões militares, e os homens bomba partem, normalmente, em missões de massacres de civis.
Por estes dias, assistimos na televisão uma cena chocante. Uma acompanhante contratada para cuidar de uma senhora de 92 anos, barbarizou a pobre mulher. No mesmo dia, levada para um hospital, não resistiu ao traumatismo craniano e veio a falecer. Todos se perguntaram como era possível um ser humano fazer uma coisa destas com uma idosa de 92 anos!
Devido ao meu trabalho profissional, tenho visto e escutado cenas não menos chocantes. Nesta semana revisando um material apreendido com um pedófilo, vi cenas de homens praticando sexo com crianças de 2, 4 e 9 anos. Que ser humano é capaz de fazer isto com uma criança?
Quem não lembra das cenas de horror em Sarajevo, onde atiradores disparavam contra qualquer um que tentasse atravessar uma rua? Ou as cenas de Tutsis massacrando Hutus? Nem é preciso recordar os campos de extermínio nazistas.
Enfim, acreditem, o ser humano é capaz de praticar qualquer ato contra o seu semelhante. Desta forma, cometer um ato de suicídio a fim de matar o maior número de inocentes começa a ser compreensível.
Jogar um avião repleto de passageiros contra um prédio, um carro carregado de explosivos contra um hotel, explodir-se dentro de um ônibus ou uma cafeteria, são atos com o mesmo denominador em comum: massacrar civis em nome de uma causa.
É praticamente impossível deter um suicida. Somente um serviço de inteligência e informações consegue algum sucesso. Mesmo assim. ao deterem um deles, outros estão sendo formados para o mesmo propósito.
Este tipo de arma cumpre dois papéis. O primeiro é o de causar vitimas, o segundo é o de alimentar o ódio que por sua vez, abastece o sentimento de vingança que então irá criar novos homens bomba.
A única forma de quebrar este circulo vicioso é deter os atos de vingança, que vão fazer com que diminua o ódio, que então não alimentará mais o surgimento de novos homens bomba. Não é uma tarefa fácil, mas tampouco impossível.
Um passo para isso, seria diminuir os pontos de atritos causados hoje pela ocupação. A retirada das colônias e conseqüentemente das forças militares que lá estão para protegê-las, aliviaria sensivelmente a pressão. Este é um passo decisivo para que palestinos e israelenses voltem à mesa de negociações.
O mundo não pode ficar refém de assassinos covardes. Temos de ser mais responsáveis e dignos de nossa posição como seres inteligentes. Sendo capazes de qualquer ato contra nossos semelhantes, que tal um ato de aproximação e paz? Porque não renunciar as armas e decidirmos as diferenças mediante o diálogo?
Alguém tem de dar o primeiro passo. Espero que israelenses e palestinos tenham a grandeza e a honradez para isso. Eu acredito que sim.