Ao aguardar 24 horas para comentar a desocupação de Hevat Gilad, deparo-me com uma triste notícia: um atentado contra um ônibus no norte de Israel, vitimou 8 civis e deixou dezenas de feridos. Mais uma barbárie que se soma a tantas outras. Meus respeitos às famílias por suas perdas.

Hevat Gilad talvez entre para a história. Pode ser que seja a primeira colônia (ilegal) desmontada pelo governo de Israel. Neste caso, o exército agiu de acordo com a lei. Retirou cerca de 1000 manifestantes, a maioria colonos de direita, que tentaram resistir ao desmantelamento. O confronto deixou cerca de 30 feridos.

Pela primeira vez em muito tempo, gostaria de cumprimentar o governo pela sábia decisão. Espero que esta tenha sido a primeira de uma série que só terminará quando todos os colonos tiverem sido retirados e todas as colônias desmanteladas.

Esta colônia inexpressiva teve um grande simbolismo. De um lado a determinação da direita radical em assumir o “direito inalienável” do povo judeu a grande Israel. De outro o Campo Pacifista que enxerga nas colônias um entrave às negociações de paz.

Seria muita ingenuidade achar que o governo israelense esteja incorporando as idéias pacifistas e que pretenda desmantelar todas as colônias ilegais, e posteriormente as ilegais. Mas um recado acaba de ser dado. O governo vai cumprir suas decisões, mesmo que para isso seja necessário o uso da força. Até então, o uso dela estava restrito a repressão de atividades pacifistas.

O que aconteceu tem muito a ver com a disputa pelo poder dentro do partido trabalhista. Ben Eliezer que pretende concorrer à indicação de líder do partido, resolveu dar uma demonstração de força para saciar a ala “pomba” do partido. Se o resultado lhe favoreceu ainda não sabemos. Por hora, estamos felizes que finalmente um pequeno passo tenha sido dado.

Mesmo que o carro bomba que explodiu ao lado do ônibus não tenha uma relação direta com Hevat Gilad, não se pode esconder o fato que este atentado será explorado pela direita como uma prova de que a cada passo que Israel retrocede, os palestinos avançam com o terror. De nada irão servir as explicações que lembrem os recentes massacres de Rafia e Gaza. A dinâmica do Oriente Médio se move rapidamente em direção às revanches e vinganças.

Mais uma vez, os radicais comemoram sua vitória. Até parece que a Jihad coordenou esta ação com os colonos. Não fosse impossível, diria que uns estão ajudando aos outros. Novamente alimentaram o circulo vicioso do ódio. A conseqüência esperada e desejada por eles, será a paralisação da retirada das colônias (os colonos agradecem) e a retomada das ações de agressões contra civis (os radicais agradecem), que elevam a espiral da violência e reprimem o Campo Pacifista (a direita agradece).

Talvez fosse o momento do governo israelense e da AP tomarem medidas que surpreendam a todos nós. O governo israelense poderia surpreendentemente dizer que não irá se deixar intimidar por estas ações e manter o desmantelamento das colônias. A AP poderia nos surpreender e reprimir os responsáveis por mais este crime, tomando ações que levem ao desmantelamento das redes terroristas.

Se cada lado tivesse uma ação positiva, seria possível quebrar este circulo vicioso de ataques e revanches. Os radicais de ambos os lados receberiam um recado claro de que suas ações não serviriam mais para balizar as atitudes bélicas das autoridades. Desta forma, se daria um grande passo rumo ao entendimento, abrindo o caminho para o retorno a mesa de negociações.