A semana que passou nos brindou com mais atos de violência perpetrados pelos dois lados. Dois palestinos se explodiram em meio a civis israelenses, e Israel arrasando o QG da Autoridade Palestina, matou civis que protestavam contra o cerco a Arafat.

O fato novo é que Israel decidiu calar de uma vez tanto a radicais e moderados no campo palestino. Novamente foram fechados os escritórios de Sari Nusseibeh, presidente da Universidade de Al-Quds em Jerusalém Oriental. Mais uma vez, o Dr. Nusseibeh recebe o tratamento que Sharon dispensa aos palestinos que oferecem uma solução política para o conflito.

Tudo indica que Sharon já fez a sua opção. Aguarda pelo inicio da guerra contra o Iraque. Acredita que os palestinos irão apoiar novamente Sadam Hussein. Com isto poderá agir livremente com sua opção militar. Tentará consolidar a ocupação e destruir o sonho de dois estados vivendo em paz lado a lado. Pretende mostrar ao mundo que os palestinos continuam apoiando o terror. Portanto sua guerra contra eles é tão legítima como a dos americanos contra o Iraque.

Talvez isto não passe de uma visão pessimista do que ainda está por acontecer. Os fatos apontam para isso mas a realidade pode ser outra. A dinâmica dos acontecimentos podem levar a outro desfecho. Torço por isso por ser um otimista inveterado, mas não podemos nos iludir. Tudo está se encaminhando para a perpetuação do conflito. Não há solução política se avizinhando. Uma das razões disso tem nome: a indiferença.

O que está acontecendo é que a indiferença parece estar tomando conta da situação. Ninguém mais parece se importar com as mortes diárias de civis israelenses e palestinos. O mundo parece estar se cansando desta situação e as notícias repetitivas de assassinatos mútuos já não dizem mais nada. Parecem notícias velhas de pessoas que não querem se entender e preferem o auto-extermínio através de atos de terror que ceifam vidas e acirram o ódio, ao inicio de negociações que levem a paz e a reconciliação.

Assim sendo, todos perdem. Perdemos nossa credibilidade frente às nações e somos taxados de criminosos por todos. Palestinos por se utilizarem ações terroristas contra civis israelenses. E israelenses por utilizarem o terrorismo de estado contra os palestinos. A cada dia novas vítimas da mesma velha idéia. Aquela que acredita que um lado, mais cedo ou mais tarde, vai ceder a legítima demanda do outro. E nesta espera obstinada por quem vai ceder primeiro, mais de 2.600 vítimas não vão estar presentes quando este dia chegar. Mas o pior é que este dia nunca vai chegar. Não se trata de ceder, trata-se de compreender. Somos dois povos com o legítimo direito de viver em paz nas terras de nossos antepassados.

A indiferença para nossa tragédia vai fazendo de nós seres insensíveis à dor do próximo. Nos preocupamos exclusivamente com a nossa dor, como se ela fosse única e causada somente pelo outro. Deixamos de perceber que a dor está sendo causada única e exclusivamente por culpa de uma liderança incapaz de renunciar as armas. São eles, Sharon e Arafat que neste momento nos infligem uma guerra que está matando a todos nós. Sua incapacidade de renunciar ao rancor e a revanche de anos de beligerância, nos levam a acreditar que o outro é que tem a culpa pela situação, quando na verdade todos nós somos culpados pela situação em que nos encontramos.

O mais dramático nisso tudo, é que esta indiferença esta arruinando todos os preceitos éticos e morais nos quais estão baseados os alicerces de nossas religiões. Esta indiferença que está fazendo com que não mais nos importemos com o que acontece uns com os outros, e que faz com que está barbárie seja aceita como algo natural, vai levando os dois povos a descrença na justiça e na solidariedade. Se palestinos e israelenses se mostram indiferentes com o seu futuro comum, então nenhuma outra nação vai se importar conosco.

Por isso que nós do campo pacifista somos importantes. Não nos deixamos contaminar pela indiferença e somos antes de tudo a diferença. Somos os que continuam bradando do fundo de nossos corações para que parem a matança e nos devolvam a esperança. Somos o baluarte da razão sobre a paixão; do amor sobre o ódio; da tolerância sobre o preconceito; e da reconciliação frente o rancor.

Não sou indiferente. Eu me importo.
A paz é possível, faça você também a diferença.