Escrevo estas linhas ainda sob a dor e o impacto de mais dois atentados cometidos por homens bomba palestinos. Outra vez a covardia destas ações vitimaram 7 inocentes. O círculo de violência toma novo fôlego. Os inimigos da paz festejam seus atos insanos.
Em 30/08, ao escrever um artigo intitulado “Caminho Para a paz’, comentei sobre o fato de que nada estava sendo feito em favor do entendimento por parte de Israel. Dizia que as incursões cirúrgicas continuavam vitimando civis, e concluía que persistindo esta situação, novos atentados eram uma questão de tempo. Lamentavelmente foi o que aconteceu.
Nestas 6 semanas de relativa calma, o único movimento israelense foi o plano “Gaza + Belém Primeiro”, que não se sustentou pela absoluta falta de coordenação entre as forças de segurança dos dois lados. Sem estes encontros, para planejar os aspectos de segurança, o plano ruiu. Vale recordar que dois anos atrás, palestinos e israelenses patrulhavam em conjunto estas áreas.
Pelo lado palestino, foram marcadas eleições para o seu parlamento em janeiro de 2003. Arafat mais uma vez pediu o fim dos atentados contra civis em Israel. Mas como das outras vezes, suas palavras não conseguem se transformar em ações.
Como resultado dos dois últimos atentados, o exército israelense voltou a invadir os prédios dos escritórios da AP em Ramalah. Destruiu quase todos os prédios que ainda restavam exigindo a rendição de cerca de 20 homens procurados que estariam recebendo guarita no local. Mais violência, mais destruição e mais mortes.
Se tudo isso não bastasse para estragar o feriado Farroupilha, comemorado no dia de hoje no RS, tive o desprazer de receber uma mensagem dirigida a mim e outros membros do campo pacifista, acusando-nos de culpados pelos atentados e de sermos colaboracionistas. A mensagem escrita por um membro do Kibutz Bror Chail, traz a tona os ares de intolerância e ódio que vitimaram Itzhak Rabin. Segundo ele, depois de questionar porque o movimento pacifista não toma atitudes contra o terror diz textualmente… “Porque se calam? Onde está a sua dignidade, sua imparcialidade, sua honestidade? Esta é a paz que vocês pregam, a paz da liquidação e do extermínio de Israel.”
Esta gente em nada se difere dos grupos terroristas. Ambos lutam pela solução do aniquilamento de um lado como única forma de sobrevivência do outro. Os dois não aceitam a convivência pacífica entre os dois povos, nem mesmo a solução de dois estados lado a lado. Para eles, a violência se justifica. Sua luta é pretensamente pela justiça e pela liberdade de seus povos. Na verdade justificam apenas seus desejos de vingança e de revanche.
A direita radical israelense não aceita os palestinos como um povo. Sua própria identidade nacional é questionada. São jordanianos, árabes de outras nacionalidades etc. Os palestinos não existem e portanto esta terra é somente do povo judeu, assegurado por Deus. E neste pensamento, até mesmo a Jordânia nos pertence.
Eles acreditam que almejar a convivência com um povo inexistente, sob a sua ótica é ameaçar a existência do Estado de Israel. Na sua visão, condenar a violência e a morte de civis, de qualquer lado, é ser colaboracionista.
Realmente sou colaboracionista da paz e da reconciliação. Colaboro com o que posso para que os dois povos encontrem o caminho do entendimento. Repudio com toda veemência todas as atitudes de palestinos e israelenses que levem a mais mortes, destruição e desentendimento. Jamais vou me colocar ao lado dos que pregam a violência como meio de atingir seus objetivos escusos. Daqueles que pregam o ódio de irmãos contra irmãos.
Incapazes de atingir suas metas, deliciam-se com atentados e assassinatos de civis. Lançam homens como bombas, ou tanques com seus canhões para matar indiscriminadamente. As lideranças palestinas e israelenses, estão ambas comprometidas com a guerra.
O mundo precisa escutar a voz dos que já não podem mais gritar. A voz de mais de 2.600 vítimas perdidas nesta barbárie. Não se pode apoiar quem perdeu a razão. Esta é a guerra entre dois povos que perderam a razão.
Parem a matança, tragam de volta a esperança.