A renúncia dos ministros do gabinete da AP sob a chefia de Arafat é, sem dúvida, o fato mais marcante da semana no Oriente Médio. Para não sofrer um voto de censura, os ministros entregaram seus cargos. Alguns eram acusados de incompetência, outros de corrupção, mas o gabinete como um todo sofria ataques por sua inoperância.
Pode-se tirar várias conclusões sobre este ocorrido. A primeira delas, e creio eu, a mais significativa, é a lição de democracia que surge no seio do povo palestino. Não podemos nos esquecer que Israel é a única nação democrática na região. Quando vemos que os palestinos almejam um estado democrático, sabemos de onde tiraram este conceito.
A segunda lição é sobre a divisão do poder. A sociedade palestina dá sinais de cansaço com a velha guarda. Esta liderança que os guiou até aqui não está sendo capaz de trazer estabilidade, paz e segurança para seu povo. A intifada apoiada por estes líderes não produziu nada além da perda da pequena autonomia que dispunham. Trouxe pobreza, desemprego e a repulsa das nações pelos métodos empregados como os homens bomba.
A terceira lição é sobre o futuro. O povo palestino deseja ter seu próprio estado. Uma nação democrática e liderada por uma nova geração de homens não contaminados com relações junto a grupos terroristas e o antigo poder, que se apropriou de verbas públicas destinadas a melhoria das condições em que se encontram a maioria do povo, abaixo da linha de pobreza. Ao marcar a data das eleições para Janeiro de 2003, Arafat mostrou um gesto de grandeza.
A quarta lição é o reconhecimento explícito de que não podem vencer Israel pela força. Ao renunciar a violência contra civis, a Fatah, que possui a maior milícia armada, mandou um recado a suas congêneres. Resistir à ocupação sim, terror não. Este passo dado no momento em que já se tornou difícil conseguir novos voluntários para se suicidarem, é muito bem vindo.
Neste momento em que assistimos a mudanças significativas no campo palestino, cabe a nós refletirmos sobre o que Israel pode fazer em contra partida. Algumas medidas são óbvias, tais como aliviar o cerco às cidades, aldeias, vilas e campos de refugiados; permitir a entrada de trabalhadores e retirar-se gradualmente das áreas “A”. Outra apesar de óbvia implica em conflitos políticos. Temos de desmantelar alguma colônias. Esta retirada traria um imenso reconhecimento por parte da comunidade internacional, da disposição de Israel em fazer a sua parte.
Talvez seja o momento de aprendermos uma das lições do povo palestino. Talvez fosse a hora de dizermos não a velha geração de Sharon e conclamarmos por eleições gerais em Israel. Uma nova liderança não contaminada com crimes de guerra e com o ódio aos árabes poderia implementar as tarefas que nos cabem realizar. Esta liderança que está hoje no governo não soube solucionar o conflito, e levou o país quase a um estado de bancarrota econômica.
Uma nova liderança palestina e israelense seria capaz de superar os obstáculos pessoais que envolvem o conflito nos dias de hoje. Teriam como dar um basta à guerra de Sharon e Arafat que já vitimou mais de 2000 vidas. Receberiam de seus povos um voto de confiança para buscar a paz e a reconciliação.
A paz que possa permitir a convivência de dois povos lado a lado em seus respectivos estados. E a reconciliação que permita que os dois povos possam estar trabalhando na mesma terra e tendo como sua capital Jerusalém.
Existe um longo caminho a ser percorrido. Ninguém se iluda que o poder possa ser entregue por aqueles que o usaram para propósitos escusos ou pessoais, sem luta. Eles não desistem tão fácil. Cabe aos dois povos não se deixar abater, não permitir sua volta ou permanência no poder.
Que novas vozes se façam escutar. É chegada a sua vez.