Iklas Kouli, uma mulher de 35 anos, deixou sete filhos órfãos neste domingo. Acusada de ser uma colaboradora, foi retirada de sua casa e fuzilada por homens da Al-Aqsa, um grupo da Fatah. Iklas foi denunciada por seu filho Bakir Kouli de 17 anos, depois de ter sido barbaramente torturado.
Sua história foi contada para um repórter da Associated Press e publicada no jornal Haaretz. Ela foi mais uma vítima da falta de lei e ordem que impera nos territórios. Seu filho ainda com as marcas da tortura, disse que contaria qualquer coisa que eles quisessem ouvir para acabar com seu suplício. Segundo um líder da milícia, a tortura é a única forma de fazer com que os traidores confessem seus crimes.
Os colaboradores são palestinos acusados de espionagem a favor de Israel. Estima-se que existam cerca de 200 pessoas detidas nestas condições hoje em dia. A maioria está em Gaza, onde as prisões ainda podem receber prisioneiros. Na maioria dos países, crimes de espionagem são punidos com a morte ou prisão perpétua.
Entre os crimes de espionagem dos quais são acusados os colaboradores, está o de ajudar Israel a incrementar sua política de assassinar palestinos apontados como promotores de atentados terroristas.
O que existe em comum entre o fuzilamento desta mulher e os assassinatos seletivos praticados por Israel, é a falta de um julgamento. Em ambos os casos, uma pessoa, ou um grupo delas, admite a si o direito de julgar, condenar e executar aqueles que segundo suas convicções cometeram um crime. Em nenhum dos casos estes condenados tem direito a serem julgados por um tribunal de justiça e a receberem assistência de um advogado.
Mas existe mais uma semelhança entre eles. Os condenados à morte são sempre palestinos. De um lado são mortos por uma força militar organizada e por outro pelas forças que deveriam protegê-los. Ironicamente elas são inimigas, mas acabam realizando o mesmo tipo de trabalho sujo: eliminar o inimigo ou o traidor.
Por mais doloroso que possa às vezes parecer, o direito a um julgamento justo é um direito de todo ser humano e um dever do estado. Quem irá julgar o acusado é a sociedade, nunca a vítima. Cabe a sociedade provar sua culpa e ditar a sentença. Esta é uma premissa de toda sociedade democrática e civilizada. O que estamos assistindo acontecer nos territórios, é à volta ao estado absolutista da Idade Média, onde os poderosos faziam o papel de juízes. Existe uma população totalmente a mercê dos desígnios dos novos poderosos: Israel e as milícias palestinas.
O campo pacifista, quando aponta estes crimes cometidos em nome de um estado, é também acusado de traição. Tanto as forças palestinas que executam seus próprios cidadãos, como o governo de Israel que executa terroristas, acusam os pacifistas de traidores por estarem querendo proteger a vida de criminosos. Tentam encobrir seus crimes através do manejo do conteúdo emocional que está por trás de cada um deles. Israel se justifica por estar tirando a vida de terroristas que contribuíram para a morte de cidadãos israelenses. As forças palestinas dizem estar depurando sua gente daqueles que contribuíram com o inimigo prestando informações que levaram a morte de líderes palestinos.
Em qualquer um dos casos, e por qualquer ótica que se queira olhar não existe justificativa para estas ações. Muito menos podem ser aceitas acusações contra aqueles que pregam justiça dentro de um estado de direito. De outra forma, logo estarão matando aqueles que discordam de sua política e aí será tarde de mais pois terão morto a democracia.
Numa situação como esta, qual deve ser a reação desta população? O que se pode esperar dela? Em quem, ou no que, podem acreditar? Qual a solução para esta situação que contribui para aumentar as cifras de baixas diárias?
São muitas as perguntas e tão poucas as respostas. Não resta dúvida que tudo passa pelo estabelecimento de um Estado Palestino. Um estado de direito com um regime e instituições democráticas. Um lugar onde as pessoas possam retomar suas vidas e acreditar novamente na justiça dos homens.
Um passo importante neste caminho é reivindicarmos o fim dos assassinatos de pessoas sob qualquer pretexto, por mais nobre que possa parecer. Precisamos acabar com toda forma de violência e recuperar a crença na justiça. Não basta a independência para se tornar um país. É preciso muito mais para se tornar uma nação.
Basta de violações aos direitos humanos. De passo em passo, vamos chegar a paz e a reconciliação.