Existe uma grande falácia com respeito a dois tipos de pesquisas realizadas constantemente em Israel. Uma questiona sobre o apoio ao Primeiro Ministro Ariel Sharon. A segunda sobre o apoio a permanência das colônias nos territórios. Recentemente Uri Avneri escreveu um artigo interessante sobre isso, intitulado “A Vaca Louca”.

Aparentemente contraditórios, os resultados expressam exatamente a relação existente hoje entre o passional e o racional no seio da sociedade israelense.

A fim de melhor compreendermos seu significado, façamos uma analogia a uma cena comum de nosso cotidiano. Um estuprador vem atacando meninas de uma escola. Imaginem então que um grupo de pesquisadores apresente um questionário às meninas desta escola. Qual seria o resultado para a pergunta: “O que você acha que deveriam fazer com este estuprador?” Sem sombra de dúvida o resultado apontaria para algum tipo de agressão física (castração), ou da exterminação física (execução), do agressor por uma ampla maioria.

Se olharmos para este contexto podemos compreender que estas meninas, que podem ser as próximas vítimas de um agressor em potencial, responderam com a emoção do momento. Pois bem, a sociedade israelense de hoje se sente como estas meninas. Todos são alvos em potencial de um terrorista. Por isso respondem com tanta ênfase seu apoio àquele que lhes promete paz e segurança.

O terrorismo palestino que encontrou a forma de atingir um país que possui um dos melhores exércitos do mundo com uma arma imprevisível, age como efeito de um problema cuja solução está nas mãos do agredido: o desmantelamento das colônias que impedem o avanço de qualquer negociação séria no caminho da paz e da reconciliação.

Isto parece estar sendo bem compreendido pela sociedade israelense, e se comprova quando as pesquisas apontam para uma ampla maioria que quer o fim da colonização dos territórios ocupados. Esta questão é tratada de modo racional.

Mas se esta causa e efeito são visíveis, porque então continuam as colônias em seus lugares e os atentados terroristas ocorrendo cada vez mais com maior intensidade? Trata-se de um problema de difícil solução.

Vejamos as colônias: elas hoje compõe um população de cerca de 200 mil pessoas vivendo nos territórios. Foram para lá pelos mais variados motivos sendo os principais o ideológico (assegurar a grande Israel), e financeiro (casas subsidiadas). Como retirar estas pessoas, de que forma compensá-las, como fazê-las desistir do sonho da grande Israel, são questões complicadas.

Ao mesmo tempo em que tem de lidar com estas questões, terroristas se explodem em meio à população fazendo crer, erroneamente, que estas colônias são necessárias a segurança do Estado de Israel. Causa e efeitos se misturam e criam um circulo vicioso de ódio difícil de ser quebrado. Quem deveria dar o primeiro passo? Israel atacando a causa e desmantelando suas colônias? Ou os palestinos atacando o efeito e terminando com o terrorismo?

A resposta parece óbvia. Cada lado tem que fazer o seu tema de casa simultaneamente dentro de um acordo, que permita aos colonos voltarem para Israel com dignidade, e os palestinos desmantelando os grupos terroristas, possam vislumbrar a criação de seu estado livre da ocupação israelense.

Esta é a chave para o caminho da reconciliação. E de que forma podemos contribuir para que isto aconteça o quanto antes evitando mais perdas de vidas? Apoiando o Campo Pacifista que critica a ambos os lados de forma equilibrada para que façam o que é certo e justo. Não aceitamos mortes de inocentes causadas por quem quer que seja. Não apoiamos a barbárie sob nenhuma circunstância. Não aceitamos justificativas cínicas para a morte de civis israelenses ou palestinos.

Se os homens de bem querem ajudar, critiquem a situação como um todo e não apenas um dos protagonistas.

Um mundo melhor é possível com a paz agora.