Quando escrevo sobre atentados terroristas ou assassinatos de supostos colaboradores com Israel, acabo desagradando a muitos membros da comunidade palestina. Mas quando escrevo sobre o terrorismo de estado com a morte de civis inocentes por parte de Israel, recebo mensagens iradas de muitos membros da comunidade judaica. Em comum, todos eles encontram justificativas para a barbárie.

O ser humano é capaz de qualquer atitude. Por força de minha atividade profissional sou testemunha disso. Pais que estupram seus filhos, homens que matam e esquartejam o corpo da vítima, roubos e assaltos que deixam as pessoas sem nada mais para poder sobreviver etc. Sim o ser humano é capaz de atos que nem os animais seriam capazes.

Por isso quando vejo que desagrado a ambos os lados, percebo que estou no caminho certo. A paz e a reconciliação entre nós e os palestinos será um processo lento, difícil mas inexorável. Provavelmente tão dolorosos quanto os crimes cometidos em nome das justificativas encontradas para os assassinatos de crianças. Relevar este passado não será uma tarefa fácil. Somente a compreensão de que em comum temos a mesma dor pelos que partiram, irá servir como um acalento para os novos tempos.

Sei que não é uma tarefa agradável se falar de paz quando em um único final de semana forças do exército de Israel tiraram a vida de 13 palestinos. A maioria atingida pelo efeito colateral dos erros militares. Por isso expresso minhas condolências as famílias em nome de todos os que, junto comigo, repudiam a morte de inocentes, sejam eles israelenses ou judeus.

Tudo isto acontece depois de cerca de 30 dias sem atentados suicidas e depois da implementação do plano Gaza + Belém. Será esta a resposta de nosso governo aos pequenos passos de esperança que surgem? Yitzhak Rabin, que foi assassinado por um radical israelense disse certa vez: “Eu vou continuar negociando pela paz como se não houvesse terrorismo e vou combater o terrorismo como se não houvesse nenhuma negociação de paz”. Já sabemos o que Sharon está fazendo para combater o terrorismo, mas o que é que ele está fazendo para negociar a paz? Nada que possa indicar um desejo em concluir o que teve inicio com os acordos de Oslo.

Já sei que muitos vão me perguntar sobre o que os palestinos estão fazendo para negociar a paz. Neste momento o Conselho Palestino sequer pode reunir-se uma vez que seus membros não podem se movimentar entre Gaza e os territórios. A AP está sendo jogada aos braços dos radicais islâmicos e Arafat é tratado de forma humilhante. Ainda assim obtivemos 30 dias sem atentados suicidas. Para quem acha que isto é pouco vale lembrar que há pouco tempo Sharon pedia apenas 7 dias para iniciar negociações.

Estamos entrando no período das festividades judaicas de Ano Novo e Yom Kipur. Datas importantes do calendário judaicas. Foi no Yom Kipur de 1973 que o Egito iniciou uma guerra com Israel. Com o país paralisado no Dia do Perdão, Anuar Sadat lançou seu exército sobre o Sinai e foi seguido pela Síria no Golan. Não existe ofensa maior para os judeus do que serem perturbados no dia mais importante de seu calendário. Mesmo assim, anos depois, Sadat discursava em Jerusalém e dava inicio ao processo de paz com Israel.

Fomos capazes de relevar uma agressão covarde no dia em que perdoamos nossos desafetos e inimigos para solucionar um conflito. Tivemos a capacidade de enxergar uma oportunidade para alcançar a paz com o mais importante país da nação árabe, e não remoemos o passado de guerras e desavenças para impedir o processo de seguir adiante. Retiramos milhares de colonos do Sinai. Desmantelamos Iamit, uma cidade inteira para honrar o acordo. Fizemos o que tinha de ser feito, e até hoje não tivemos mais de lançar nossos filhos a uma nova guerra com o Egito que já havia custado milhares de vidas no passado.

Neste Dia do Perdão está na hora de relembrar o exemplo do caminho seguido depois de 1973. Buscar a paz a qualquer custo. Nada é mais importante, nada é mais significativo do que ela quando perdoamos os que nos feriram. Está na hora de darmos o exemplo.

Quando iniciamos o ano de 5763 de nosso calendário, quero perdoar a todos que nos agrediram de morte e nos causaram tanta dor. Espero que vocês também possam de alguma forma nos perdoar pela dor que meu povo causou a vocês.

Que neste ano possamos olhar para o futuro, e alcançar o momento em que possamos conviver em paz lado a lado. Que as armas sejam substituídas pelas enxadas e o esforço da guerra pelo da reconstrução. Que 5763 seja um ano pela vida.