Quão simbólico é que os primeiros corpos que recebemos do Hamas sejam os de um homem idoso, uma mulher e duas crianças — uma de 4 anos e outra com menos de um ano. Os quatro são indefesos, pessoas que não fizeram mal a ninguém. Um homem e uma mulher que cresceram com os valores do kibutz, socialistas, com uma crença na igualdade, na solidariedade e na esperança de paz. Povo da terra. O que chamamos de “Pessoas da bela Terra de Israel”.

Duas crianças que acabaram de começar suas vidas. Inocentes, que não conhecem as palavras guerra, paz, amor ou ódio. Para elas, só existe amor sem palavras.

Ver a cerimônia em Gaza, quando o Hamas, no auge de sua brutalidade, trouxe crianças e bebês palestinos para celebrar o assassinato de crianças e pessoas inocentes, e observar o comboio desses quatro santos, traz-me imediatamente à mente a memória de 1,5 milhão de crianças, milhões de mulheres e idosos que foram assassinados ao longo da história do povo judeu. A consciência coletiva ativa imediatamente os sensores do sistema de sobrevivência. Uma vez fugimos, agora estamos lutando. Ao mesmo tempo, prometemos a nós mesmos não esquecer. Não esquecer que fomos estrangeiros no Egito, que fomos queimados para mudar de religião na Espanha e em Portugal, que em pogroms na Rússia nossas aldeias foram incendiadas e seus habitantes assassinados, que 6 milhões de judeus foram brutalmente mortos nas câmaras de gás na Alemanha. Mas, acima de tudo, não esquecer que não somos eles. Não estamos nos vingando; estamos nos defendendo, estamos pedindo justiça. Não acreditamos em “olho por olho”, porque, se o fizermos, viveremos em uma terra de cegos.

Nós não somos eles. Não estamos devolvendo na mesma medida a barbárie que sofremos em 7 de outubro de 2023. Não nos vingamos. E quem são “eles”? Eles não são chamados de egípcios, espanhóis, portugueses, russos, alemães ou palestinos. Eles fazem parte desses povos. São os mais extremistas, fanáticos, fundamentalistas entre eles, monstros que saíram do mundo animal — porque os animais não fazem o que eles fazem. Animais não matam nem caçam por prazer, não estupram, não cortam membros e festejam, não queimam outros vivos. Não, não são animais. São seres humanos que perderam sua humanidade. E nós não devemos perder nossa humanidade, nosso judaísmo, nosso sionismo. Sim, também temos nossos “eles” — refiro-me aqui a Ben Gvir, Smotrich e similares. Eles não somos nós. Eles não são judeus. Eles não são sionistas. Eles também perderam sua humanidade. Precisamos buscar fundo, entender o que significam as frases “Ame o seu próximo como a si mesmo” e “Nação contra nação não empunhará a espada, nem aprenderão mais a guerra”, e o que precisamos fazer para chegar lá. Pela cura, pela reconciliação, pela paz.

Devemos trabalhar com todas as nossas forças, em todos os lugares, com cada homem e mulher, menino e menina, para mudar a narrativa do medo, do ódio e da guerra para uma narrativa de esperança, amor e paz. Estas não são palavras vazias ou ingênuas. São mantras que devemos recitar todos os dias, como uma oração, para transformar a consciência pessoal e coletiva de nosso povo e do povo palestino. Quando você diz Israel, deve dizer Palestina. Quando diz Palestina, deve dizer Israel. Não é um ou outro. Existe apenas um com o outro. No meio disso, milhões de pessoas, misturadas umas com as outras. Devemos encontrar as forças positivas em ambos os povos e marchar juntos contra o ódio. Caminhar significa, além das palavras, sustentar as palavras, transformar as palavras em discurso, ação e conexão.

Espero que o passo dado por um grupo de pessoas da Galileia para criar um espaço — “Galileia Para Todos: espaço para cura, reconciliação e paz” — ajude a construir um lugar com uma narrativa diferente na Galileia. Espero que tenhamos a energia e a força para influenciar a região, para criar um farol de luz, pequeno, mas capaz de extinguir a escuridão em que vivemos!

Com toda a dor, tristeza e raiva — nós não somos eles! Abençoadas sejam as almas de Oded Lifshitz, Shiri, Ariel e Kfir Bibas.