Por: Charles Schaffer
Benjamin Netanyahu demonstra desamor por Israel, na medida em que coloca os seus interesses pessoais e mesquinhos sempre à frente do amor e lealdade pelo Estado de Israel. Ficam atrás ainda a história e o sofrimento dos judeus e mesmo a libertação dos reféns.
Não fosse isto, amasse Israel antes de tudo, teria renunciado no exato momento em que o promotor do Tribunal Penal Internacional apresentou sua denúncia. Ou muito antes, envergonhado de ser o primeiro chanceler israelense que não soube cuidar dos seus cidadãos, permitindo o massacre de 7 de outubro. Assim será lembrado.
O atual primeiro-ministro faz jus às falas de Golda Meir, uma verdadeira estadista que, em sua sabedoria, disse que “a única maneira de eliminar a guerra é amar mais nossos filhos do que odiar nossos inimigos.” Para Netanyahu, seu ódio e seus inimigos estão em primeiro lugar e vão do Hamas e Hezbolah até a democracia representativa israelense e o sistema judiciário que quer puni-lo.
Não se duvida que Benjamin Netanyahu tenha algum afeto pelo Estado de Israel, mas com certeza este afeto é mediado sempre pela sua sobrevivência política e pessoal. Estas vêm sempre antes de qualquer outra coisa.
Benjamin Netanyahu cresceu politicamente navegando sobre o cadáver fresco de Yitzhak Rabin, assassinado em 15 de novembro de 1995 por judeus extremistas com os quais ele compartilhava uma ideologia em comum.
Netanyahu assumiu a chancelaria pela primeira vez em 18 de junho de 1996, sete meses depois do assassinato de Yitzhak Rabin, em uma Israel que ainda vivia seu luto. A lápide no túmulo de Rabin, que marcaria o fim do período do luto judaico, ainda estava por ser colocada.
Netanyahu enterrou os acordos de Oslo, promoveu mais e mais assentamentos ilegais e, hoje, coloca em risco os acordos de Abraão, o acordo de paz com o Egito conquistado por Menachem Begin há 46 anos e toda uma série de conquistas de Israel e dos judeus sobreviventes do Holocausto e dos seus filhos.
Ainda antes da guerra, e o que provavelmente contribuiu para a falha em proteger os cidadãos israelenses e prevenir o massacre de 7 de outubro, dedicou todos seus esforços e foco em dar um golpe no judiciário.
Para se manter no poder e não ser encarcerado, formatou uma coalizão com ministros racistas e supremacistas, cujas falas lembram de um período trágico em que os israelenses e judeus em todo o mundo clamam por nunca mais se repetir.
Os ministros Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, e sua extrema direita, trazem uma ideologia absolutamente incompatível com os princípios judaicos mais sensíveis. Eles vêm traçando falas desavergonhadas e sistemáticas na defesa de um genocídio palestino, o que contribuiu para a representação da África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça, na ONU.
Eles não representam a comunidade israelense, não têm poder de fato, mas são o esteio para a permanência de Benjamin Netanyahu no poder e para evitar seu julgamento e condenação por corrupção. Netanyahu tem vários processos, foi denunciado por quebra de confiança, por aceitar subornos e por fraudes e agora deve acumular novas denúncias.
O dia 7 de outubro é fruto também de uma negociação ruim, malfeita, uma “tragédia”. Conduzida por este mesmo primeiro-ministro, de forma amadora, em 2011, foram trocados 1.027 presos palestinos, muitos deles com sangue judeu nas mãos, por um único soldado israelense, Gilad Shalit.
Pelo menos uma centena destes presos participaram dos estupros, violações, degolas, que incluíram judeus sendo queimados vivos, promovidos pelo Hamas no massacre do dia 7 de outubro. Dentre mais de mil presos trocados estava Yahya Sinwar, hoje chefe do Hamas em Gaza.
Esta é a índole e o caráter deste líder que jamais poderá ser chamado de estadista, pelo contrário, um homem covarde e moralmente fraco que, no intuito de permanecer no poder e não ir preso, tem, pelas atrocidades sob o seu comando e conduta, concorrido com a destruição da imagem de Israel no mundo, dando vazão para que os antissemitas retraídos em seus armários tentem justificar seus discursos de ódio.
Benjamin Netanyahu vem prolongando a guerra contra o Hamas, evitando soluções que deem guarida a um novo status na região de Gaza, com a implementação de uma nova gestão, em uma aliança entre o Fatah, países europeus e árabes, solução que já poderia ter iniciado no Norte e centro da faixa de Gaza.
Mas Benjamin Netanyahu quer prolongar a guerra, para se safar da justiça, e faz jus a outra máxima de Golda Meir: “A única alternativa à guerra é a paz e o único caminho para a paz são as negociações.” Deixemos claro, não necessariamente com o Hamas, mas com a liderança do Fatah, com a Arábia Saudita e com o Catar. Benjamin Netanyahu não tem o menor interesse nisto.
Benjamin Netanyahu foi denunciado pelo promotor do Tribunal Penal Internacional (TPI), que é uma instituição séria.
Seu diploma legal, o Estatuto de Roma, é muito claro quando diz que o:
“Tribunal será uma instituição permanente, com jurisdição sobre as pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, de acordo com o presente Estatuto, e será complementar às jurisdições penais nacionais. (…) Relembrando que é dever de cada Estado exercer a respectiva jurisdição penal sobre os responsáveis por crimes internacionais.”
Isto significa que a atuação do TPI é preponderante quando os Estados Nacionais não são capazes de colocar no banco dos réus seus próprios criminosos, quando há falha no seu poder de fazer justiça, quando não possuem as ferramentas adequadas para destituir um primeiro-ministro que coloca seus interesses pessoais à frente dos interesses nacionais.
É neste momento que o TPI é acionado e ganha jurisdição (competência para julgar) líderes que cometem “crimes de maior gravidade”. A denúncia, no caso, foi de “crimes de guerra” e “crimes contra a humanidade” (não de genocídio, que com estes não se confundem).
Como dissemos, houvesse um mínimo de honra e caráter e seu amor por Israel fosse maior que seus interesses pessoais, Benjamin Netanyahu teria renunciado. Mas não, ele é um líder fraco e covarde.
Israel, portanto, tem sua responsabilidade e culpa direta, não é apenas o primeiro-ministro e o seu governo.
Tem faltado iniciativa dos demais líderes, da oposição e, ao que parece, o ferramental jurídico e constitucional não tem sido suficiente para destituir Benjamin Netanyahu. A movimentação de rua, da população, ainda é incipiente.
É certo que há o hábito, uma convenção, de que Israel não deve trocar lideranças em meio a uma guerra. Mas vivemos uma situação excepcional, Benjamin Netanyahu está destruindo o futuro do Estado de Israel e comprometendo a história do povo judeu.
Algo tem que ser feito logo, a oposição deve convocar e sair às ruas com a população o quanto antes, convocando a população para que o voto de desconfiança e novas eleições sejam realizadas o quanto antes.
O movimento tem que ser diário, o judiciário deve ser acionado, todos devem participar.
Só assim Israel poderá resgatar, algum dia, sua imagem e credibilidade. E isto não ocorrerá no curto prazo.