I
Meu amor, vem pra cama!
II
Façamos amor por todo este dia, nus (e desnudados) em gozos plurais, multifacetados e libertação plena! Vem, amor!
III
Quando nos cansarmos da cama, faremos amor no sofá, na mesa da cozinha, no corredor, no chão da sala. Vem, amor!
IV
Abriremos nossas pupilas e nossos poros, abençoaremos nossos lábios com nossos próprios corpos, libertaremos nossos fogos e, em urros, voaremos às alturas e, sem trégua, mergulharemos, profundos, em nossos corpos e almas!
V
Lá fora, hoje, meu amor, na rua, há apenas torcida organizada por anencéfalos, e há torcedores drogados carregando suas bandeiras e seus paus, e há repressores, e há reprimidos, e há destruidores da Educação, e há osmóticos, e há repetidores de PowerPoint, e há homofóbicos, e há islamofóbicos, e há banqueiros, e há antissemitas, e há fascistoides, e há nazistas, e há preconceituosos, e há os exterminadores, e há os militaristas, e há machistas, e há psicóticos, e há bipolares, e há espancadores de mulheres, e há autoritários, e há golpistas, e há ignorantes, e há racistas, e há noveleiros, e há midiáticos, e há ressentidos, e há vingativos, e há antidemocráticos, e há os que odeiam, e há egoístas, e há ovelhas, e há curiosos, e há os absolutamente incapazes, e há igrejeiros, e há roubadores de merendas, e há especuladores, e há agiotas, e há roubadores de dízimos, e há escravagistas, e há roubadores de almas e há, por desgraça, a massa assexuada e acrítica, arrastada e centrifugada pelos seus donos! Lá fora, hoje, meu amor, há apenas caixa de gordura e bonecos que marcham!
VI
Vem, amor, vem pra cama!
VII
Vem, amor, vem hoje. A política, meu amor, deixaremos para depois de amanhã, quando se reunirem apenas os esclarecidos, conscientes e libertários!
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Março de 2016
© Pietro Nardella-Dellova
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Imagem: l’Origine du monde, de 1866, é um quadro pintado pelo realista Gustave Courbet