ENTRE
DOIS PASSOS
e um giro indescritível
do Advérbio ao Verbo
I
entre
dois passos
de um movimento que avança,
esta mulher me inspira e me atira
ao céu, ao mar, à terra, ao fogo,
à dança e à poesia
que nascem desses elementos
com letras soltas e dois pontos
e se perdem – e se salvam – em rima libertária,
desequilíbrio entre acordes de uma ária,
água que escorre
(ficamos tontos)
no movimento em que, aberta,
esta mulher
gira,
esperando na sua boca
as palavras
que trago na minha boca,
esperando
colocar na sua boca, em carícias,
as palavras e o verbo que se faz carne
de um perdido e mago – um querubim!
e, sem trégua – nem ar – rouca, desnuda,
nas delícias do seu bronzeado jardim,
orvalho, fonte, rio, mar, dilúvio, purificação:
gosto de tantos
sabores,
esta mulher, assim, quase muda,
salivando palavras confusas,
triunfante,
II
e a mais bela das flores à mão,
avança,
dança, quebra, sussurra, toda amável,
e,
em voz de um contralto indecifrável,
liberta, úmida, entregue, rubra, vencida,
canta um verbo,
impera, manda, ordena:
entra!
*
Pietro Nardella-Dellova:
“Dois Passos e um Giro Indescritível”, 2012
texto incluído no meu novo livro INFLEXÕES ANÁRQUICAS E ALGUMA POESIA NO UMBIGO DA MULHER AMADA, prelo
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imagem: pintura da artista Iza Borgonovi Tauil. Rio de Janeiro