Pqp, que semana! Dia após dia, nos demos conta, atônitos, que a demência tomou conta do mundo. O desvario, a insanidade, se espalharam e transformaram nosso maltratado planeta num imenso manicômio. É pouco dizer que andamos de cabeça para baixo; em questão de horas tivemos de engolir Milei, para quem o aquecimento global é mera invenção do marxismo cultural, e Gert Wilders, para quem o QI dos muçulmanos é baixo porque pertencem a uma raça inferior; vimos jovens americanos elogiando Bin Laden e acadêmicos das melhores universidades celebrando o Hamas.
Vivemos sentimentos de angústia e temor face à incompreensão; é de dar gargalhadas da ingenuidade com que se chegou a imaginar o pós queda do Muro de Berlim como a porta de entrada na nova era do Iluminismo de Rousseau, Voltaire, Montesquieu, que deveria desembocar no fim da história, prometido por Fukuyama.
Ao invés disso, o mundo transformou-se num TikTok gigante.
Se não for pelo lado da loucura, como explicar então que jovens norte-americanos, após terem lido a “Carta para a América”, escrita por Osama Bin Laden depois do 11 de setembro, infestaram a rede social com vídeos de aplausos entusiastas ao cérebro dos atentados, explicando que Washington e os judeus são os responsáveis por todos os males ?
“Os Estados Unidos e os países ocidentais estão muito longe de serem perfeitos, sabemos disso. Mas é preciso gigante confusão interior e valores muito turvos para considerar que a voz odienta de um terrorista que matou a eito deve ser celebrada, difundida, admirada e validada”; escreveu a colunista do Público, de Lisboa, Maria João Marques, acrescentando: “ Para promover, celebrar e admirar um terrorista do calibre de Bin Laden, é preciso estar com a hierarquia de valores muito destrambelhada. Como se o ódio ao Ocidente , à cultura onde cresceram e a si próprios, fosse o maior motor das suas vidas.”
Em defesa dos jovens, poder-se-ia apelar para a ignorância da História. Mas o mesmo argumento não vale para os casos de apologia do Hamas, que muita gente insiste em chamar de “resistência palestina”.
Em universidades, onde até ontem se divulgava o saber, hoje difunde-se o negacionismo. A pseudo-defesa dos palestinos (aqui confundidos com o terrorismo do Hamas) na verdade nada mais é do que um misto de negação do direito de existência de Israel e puro antissemitismo, que parecem ter tomado conta das universidades anglo-saxônicas e de seus outrora doutos mestres. Alunos judeus chegaram a ser atacados e ameaçados por eles, como contou o jornal britânico The Guardian, ao citar entre outras a Universidade de Oxford, tida como a melhor do mundo.
O professor da Corrnell University, Russell Rickford, se declarou extasiado pelo ataque do Hamas.
Em Stanford, um professor chamou os alunos de judeus “colonizadores” e minimizou o Holocausto. Em comunicado, associações de alunos de Harvard culparam Israel pelos assassinatos, estupros e raptos cometidos pelo Hamas.
Por falar em estupros, na Universidade canadense de Alberta a diretora do Sexual Assault Center — criado para receber queixas de abuso sexual e providenciar ajuda às vítimas —assinou uma carta coletiva que negava a prática de violência sexual pelo Hamas no ataque terrorista de 7 de outubro. Isto embora o horror seja conhecido como o “pogrom sexual do Hamas”.
Portanto, apesar dos testemunhos e vídeos, não teria havido atrocidades sexuais contra judias, tudo não teria passado de um filme de ficção.
Antes, o ódio anti-Ocidente vinha da extrema-direita, contra o internacionalismo, o multiculturalismo, a imigração, o feminismo, a liberdade sexual, a laicidade. Agora porém, o ódio ao Ocidente vem também, e talvez sobretudo, da extrema-esquerda, contra o capitalismo, o que parece “normal”, contra a democracia representativa, a liberdade de expressão, a família, a religião, as raízes judaico-cristãs.
Em menos de 80 anos, o ódio se alastrou da extrema-direita nazifascista para a extrema-esquerda, que flerta com o stalinismo. Esta extrema-esquerda, de norte a sul, de leste a oeste, voltou aos idos do século XIX, quando a Europa era profundamente antissemita, com a diferença de que hoje milita pelo fim do Estado de Israel (criado em 1948). No século XIX, Charles Fourier, um dos fundadores do socialismo francês, chamava os judeus de “parasitas, mercadores e usurários”. Entre seus discípulos, o socialista utópico Alphonse Toussenel e o pai do anarquismo, Pierre-Joseph Proudhon.
No fundo, o discurso de boa parte da esquerda atual não difere muito daquele que condenou o capitão Dreyfus por traição, em 1894, pelo fato de ser judeu.
Em nome do combate ao Ocidente, alia-se com os terroristas do Hamas, da Jihad Islâmica e do Hezbollah, com os teocratas do Irã e do Catar, com os ditadores da Rússia, da Síria, ou de outros tantos países que não ficariam tristes em ver Israel desaparecer do mapa.
Na narrativa dos antissemitas, os primeiros habitantes da Palestina não têm o direito de ali estar. Para eles, a história da região só começa com a Nakba, a catástrofe do êxodo de 600 mil palestinos, em 1948. Uma história contada por um único lado, já que na época 850 mil judeus foram expulsos dos países árabes onde moravam. O que aconteceu com estas centenas de milhares de judeus parece não ter a menor importância.
Ao contrário do que afirmam os anti-sionistas, o antissemitismo pandêmico é mais uma prova, como se preciso fosse, da necessidade vital de existência de um Estado judaico.
A única solução de fato para aqueles que genuinamente sonham e militam pela paz, consiste na criação de um Estado Palestino soberano, convivendo em cooperação e segurança com Israel. Não há outra opção, todo o resto é balela.
Mauro Nadvorny – 65, Diretor de Produto, Tel Aviv
Milton Blay -72 anos, jornalista e escritor, Paris
Nelson Nisembaum – 63 anos, médico, São Paulo
Tânia Baibich – 69, Psicóloga e professora universitária, Curitiba