O antissemitismo é o preconceito mais antigo conhecido. O ódio aos judeus remonta a Bíblia. Os judeus são o único povo mencionado neste Livro Sagrado que permanece vivo com sua religião, sua cultura, seu idioma e restabelecido no que foi sua pátria ancestral, Israel.

Entre os vários povos bíblicos que desapareceram ou deixaram de existir como entidades distintas ao longo da história posso destacar:

– Amalequitas – Povo nômade do deserto que atacou os israelitas no Êxodo. São mencionados pela última vez no livro de Ester.

– Cananeus – Povos que habitavam Canaã antes da conquista pelos israelitas. Foram assimilados ou expulsos.

– Hititas – Poderoso império na Ásia Menor que entrou em declínio por volta de 1200 a.C. e desapareceu.

– Jebusitas – Habitantes originais de Jerusalém antes da captura pelo Rei Davi. Foram absorvidos pelos israelitas.

– Medianitas – Povo que habitava parte da Mesopotâmia. Foram conquistados pelos persas e babilônios.

– Moabitas – Povo semítico aliado dos amonitas, inimigos de Israel. Desapareceram após invasões no século VI a.C.

– Filisteus – Povo do mar que dominou parte de Canaã. Foram conquistados por Babilônia e desapareceram.

Esses são alguns dos povos proeminentes mencionados na Bíblia que se fundiram com outros grupos ou simplesmente desapareceram ao longo dos séculos seguintes. A ascensão e queda de impérios e reinos levou ao desaparecimento de muitas dessas antigas identidades tribais e nacionais.

Nós aqui estamos e justamente na Bíblia é onde encontramos alguns dos primeiros acontecimentos antissemitas. Aqui vão 3 deles.

O primeiro acontecimento de antissemitismo conhecido na história ocorreu no antigo Egito, por volta de 1650 a.C., durante o reinado de Ramsés II. Os judeus, que eram escravos no Egito, foram acusados de conspirar contra o faraó e foram perseguidos e mortos.

Esse acontecimento é relatado no livro do Êxodo, que faz parte da Bíblia hebraica. Segundo o livro, os judeus foram libertados do Egito por Deus, que enviou Moisés para guiá-los para a Terra Prometida e é hoje lembrada no Pessach.

O segundo acontecimento, que hoje é lembrado em Purim comemora a salvação do povo judeu da Pérsia da trama de Haman, o primeiro-ministro persa, de exterminá-los. A história de Purim é contada no Livro de Ester, que é um dos livros da Bíblia hebraica.

O terceiro acontecimento bíblico que é frequentemente citado como um exemplo de antissemitismo é o da crucificação de Jesus. De acordo com os Evangelhos, os judeus foram responsáveis pela condenação de Jesus à morte. Essa narrativa foi usada por alguns cristãos para justificar o antissemitismo, argumentando que os judeus são responsáveis pela morte de Jesus.

No Império Romano, o antissemitismo surgiu devido a diferenças religiosas entre judeus e romanos pagãos, bem como alguns fatores políticos e econômicos. Restrições foram impostas às práticas judaicas e eventos como a destruição do Segundo Templo em 70 d.C.

Na Idade Média, o antissemitismo se intensificou na Europa. Os judeus eram frequentemente acusados de crimes e heresias, e eram frequentemente perseguidos e mortos. Um dos exemplos mais notáveis de antissemitismo na Idade Média foi a Peste Negra, que matou milhões de pessoas na Europa no século XIV. Os judeus foram acusados de espalhar a peste, e muitos foram mortos em pogroms.

Ainda neste período, na Europa medieval, o antissemitismo foi frequentemente motivado por questões religiosas. Os judeus foram alvo durante as Cruzadas, vistos como “assassinos de Cristo” e sujeitos à violência. As acusações de libelo de sangue também surgiram. Os judeus enfrentaram expulsões da Inglaterra, França e Espanha durante este período.

O antissemitismo continuou a existir na Europa na Idade Moderna. No século XVI, o papa Paulo IV estabeleceu o gueto de Roma, onde os judeus eram forçados a viver. No século XVII, os judeus foram expulsos da Espanha e de Portugal. A Espanha foi unificada sob a Coroa de Aragão e a Coroa de Castela, e a Inquisição espanhola buscou a unidade religiosa.

No século XVIII, a Revolução Francesa trouxe esperança de liberdade para os judeus, mas o antissemitismo continuou a existir.

O caso Dreyfus foi um escândalo político que dividiu a França de 1894 a 1906. Em 1894, o capitão Alfred Dreyfus, um judeu, foi acusado de traição por fornecer informações militares secretas ao Império Alemão. Dreyfus foi julgado e condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa.

No entanto, surgiram dúvidas sobre a culpa de Dreyfus. Em 1896, um documento secreto foi descoberto que indicava que outro oficial, Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, era o verdadeiro traidor.

Apesar das evidências, o governo francês continuou a defender a condenação de Dreyfus. Isso levou a uma onda de protestos, tanto na França quanto em outros países.

Em 1898, o escritor Émile Zola publicou um artigo no jornal L’Aurore, intitulado “J’accuse!”, no qual acusou o governo francês de conspiração para incriminar Dreyfus. Zola foi condenado por difamação e exilou-se na Inglaterra.

Em 1903, um novo julgamento foi realizado para Dreyfus. Dessa vez, ele foi absolvido e readmitido no exército.

O caso Dreyfus teve um impacto profundo na França e no mundo. Ele expôs o antissemitismo profundamente enraizado na sociedade francesa .

Os pogroms foram ondas de violência antissemita na Europa entre os séculos 19 e 20, perpetrados com a conivência ou encorajamento das autoridades. Na Rússia Czarista, centenas de pogroms ao longo de décadas vitimaram milhares e forçaram a emigração em massa de judeus. Na Alemanha nazista, a Kristallnacht em 1938 destruiu propriedades judaicas em todo o país, um prenúncio do Holocausto. Na Ucrânia, Polônia, Romênia e outros locais, pogroms levaram a milhares de mortes, ataques a comunidades inteiras e destruição generalizada, manifestando o ódio antijudaico pré-Holocausto. Foram um dos capítulos mais sombrios da história europeia.

O Holocausto, o assassinato de seis milhões de judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, foi o exemplo mais extremo de antissemitismo na história.

O uso do termo “Holocausto” especificamente relacionado ao genocídio dos judeus pelos nazistas surgiu na década de 1950. Foi popularizado pelo historiador judeu Leonard Dinnerstein em seu livro de 1955 “O Holocausto Americano”, sobre antissemitismo nos EUA.

Em 1959, o escritor e sobrevivente do Holocausto Elie Wiesel usou “Holocausto” em seu livro “Noite” para se referir à sistemática destruição dos judeus europeus. A partir daí, o termo ganhou amplo uso internacional.

A escolha de “Holocausto” remete à escala industrial do extermínio de 6 milhões de judeus pelos nazistas, retratando sacrifícios humanos em massa. Transmite a noção de incineração e aniquilação total que ocorreu nos campos de concentração durante o regime hitlerista.

Atualmente, “Holocausto” é o termo histórico padrão em inglês para o genocídio nazista contra os judeus. Ele carrega todo o peso e significado singular desse evento sem paralelos na história da humanidade.

O antissemitismo permaneceu após a Segunda Guerra Mundial. Na União Soviética, houve ondas de repressão. O conflito árabe-israelense também alimentou o antissemitismo no Oriente Médio. Grupos neonazistas e da supremacia branca continuaram a promover teorias conspiratórias antijudaicas e ódio.

No século XXI, houve uma série de ataques antissemitas, incluindo o assassinato de 11 pessoas em um ataque terrorista à sinagoga Tree of Life em Pittsburgh, EUA, em 2018.

As motivações do antissemitismo são complexas e variadas. Os fatores religiosos, econômicos, políticos e sociais desempenharam um papel na propagação do antissemitismo ao longo da história. Em comum que sempre foram usadas para justificar a perseguição e o assassinato de judeus.

Fatores religiosos

O antissemitismo religioso é baseado na crença de que os judeus são um povo inferior ou culpado por crimes ou heresias.

Fatores econômicos

O antissemitismo econômico é baseado na crença de que os judeus são ricos e poderosos e que controlam a economia.

Fatores políticos

O antissemitismo político é baseado na crença de que os judeus são uma ameaça à ordem social ou política.

Fatores sociais

O antissemitismo social é baseado na discriminação e no preconceito contra os judeus. Essa discriminação pode ser baseada em estereótipos ou crenças falsas sobre os judeus.

Nesta onda atual aparecem os antissionistas, judeus e não judeus, que de pronto se declaram que não são antissemitas. Alguns por sua chamada “ascendência” judaica, e os demais com a tradicional justificativa do estado colonial, imperialista etc.

No que se refere aos judeus, existe o conceito do “self-hate judeu” ou “judeu auto odiador”, que se refere a um judeu que supostamente tem atitudes, crenças ou políticas antissemitas, demonstrando falta de identificação com o judaísmo e até mesmo ódio contra o próprio povo judeu.

Algumas características comumente atribuídas ao self-hate judeu:

– Rejeição ou negação da própria identidade e herança judaica, quando lhe convém.

– Sentimentos de vergonha, culpa ou inferioridade em relação ao judaísmo, as vezes relacionado a traumas de bullying na infância.

– Adoção de estereótipos e preconceitos antissemitas contra judeus como forma de destacar entre os antissemitas não judeus.

– Suporte a políticas ou ideologias antijudaicas e antissionistas, neste caso se intitulando judeu como forma de aceitação entre os não judeus.

– Desejo de assimilação total na sociedade não judaica, encerrando assim seu problema com o judaísmo.

– Ódio irracional ou generalizado contra Israel e o sionismo, como forma de enfrentar seu auto ódio.

– Colaboração com inimigos históricos dos judeus, como uma forma de fazê-los pagar por sua rejeição.

Já os não judeus antissemitas, em colaboração ou em separado, com outros judeus usam a retórica antissionista para disfarçar e legitimar seu preconceito contra os judeus. Eles fazem isso de algumas maneiras:

– Ao demonizar Israel, usando termos como “estado apartheid”, “genocídio” e “nazismo” de forma desproporcional e não aplicados a outros países. Isso mascara o preconceito específico contra o estado judeu.

– Ao negar o direito à autodeterminação do povo judeu, característica única ao caso israelense e que ignora a necessidade histórica de Israel como um lar para os judeus.

– Através do uso de padrões duplos, condenando Israel por ações que ignoram ou perdoam em outros países.

– Ao afirmar que o sionismo é uma ideologia racista ou imperialista, mas sem fazer as mesmas críticas a movimentos nacionalistas não-judeus.

– Utilizando teorias conspiratórias antissemitas, como acusar os judeus de controlar os governos ocidentais e a mídia para beneficiar Israel.

– Promovendo o boicote a Israel, mas não a países com piores registros de direitos humanos, o que sinaliza uma motivação específica contra o Estado judeu.

– Ao negar o direito à autodeterminação apenas do povo judeu, enquanto defende tal direito para palestinos e outros grupos.

Assim, a retórica antissionista serve para encobrir motivações mais profundas de intolerância e ódio aos judeus em geral, e não apenas críticas legítimas às políticas do governo israelense.

Já são centenas de casos de antissemitismo ao redor do mundo desde o início da guerra. Dezenas de manifestações por Palestina Livre – Do Rio ao Mar. Nelas, nenhuma menção ao massacre dos 1400 civis israelenses e o sequestro de outros 240 para Gaza.

Acho que agora já fica bastante claro que o atual conflito com o Hamas não está “criando” antissemitismo no mundo. Ele é apenas o gatilho que dispara a onda de preconceito que nunca deixou de existir e vai continuar existindo.

O pior é saber que enhuma criança nasce odiando. O ódio é ensinado.

Aja agora! Não ensine preconceito.