É numa sala de estar qualquer que a imagem do embaixador de Israel na ONU usando uma estrela de David amarela pousa na tela da televisão. Estou ali, sentado, olhando para aquele símbolo que desperta em mim sentimentos contraditórios, como se a história estivesse sendo retorcida nas mãos do tempo.
A estrela amarela, marcada pela desumanização de uma época, foi utilizada para evocar emoções em relação a conflitos contemporâneos. Mas aqui, nessa mistura de passado e presente, perde-se algo irrecuperável: a dignidade do incomparável.
Esse tecido amarelo carrega o peso de seis milhões de vidas judias exterminadas, de crianças que nunca cresceram, de famílias que nunca mais se reuniram. Usá-la para outra causa, por mais justa que seja, é esvaziar esse peso, é tornar o singular plural, o específico genérico.
Dani Dayan acertou na veia. O homem que guarda as memórias do Holocausto em Yad Vashem apontou a irresponsabilidade do gesto. “Hoje somos donos do nosso destino”, disse ele. Sim, temos um país, temos um exército. O povo judeu já não está à mercê de regimes genocidas. Por que, então, utilizar um símbolo que remete ao desamparo absoluto?
Toda tragédia é uma ferida no tecido da humanidade. Mas nem todas as feridas são iguais, nem todos os cortes são tão profundos. Querer nivelar o Holocausto com outros eventos trágicos é como tentar comparar o oceano com uma lagoa. Ambos têm água, mas a dimensão e o impacto de cada um são imensuráveis.
A bandeira azul e branca que hoje trazemos em nossas lapelas é mais que um pedaço de pano. É um compromisso com a memória, um pacto com a verdade. Ela nos diz que temos a responsabilidade de ser melhores, de fazer melhor. E é esse o símbolo que deve nos representar quando falamos em nome de uma nação que conhece, mais do que qualquer outra, o custo da indiferença e da incompreensão.
Neste momento de reflexão, tenhamos a coragem de respeitar o peso das estrelas, de cada estrela, e entender que algumas tragédias, como o Holocausto, estão além de qualquer comparação. E isso não é uma fraqueza; é um ato de humanidade.