Israel está vivendo um verdadeiro caos político. Manifestações que reúnem cerca de 400 mil pessoas por todo o país ocorrem todos os sábados a noite. Hoje não será diferente, mesmo depois do atentado ocorrido na quinta-feira. A luta pela democracia está levando o país a um ponto de ruptura.
Aqui não existe uma constituição. O sistema é parlamentarista, mas o poder executivo e legislativo são um só. Os ministros do governo e até mesmo o primeiro ministro são membros do parlamento. Parece que só agora se deram conta do que isto significa.
O terceiro poder, ou o segundo como o conhecemos aqui é a suprema corte. Ela é quem impede as leis que ferem os direitos humanos, quem protege as minorias e revoga decisões do governo que vão de encontro as leis básicas.
O novo governo depois das eleições foi formado entre a direita, religiosos e a extrema direita. Gente sem a menos condição e experiência de governar recebeu um ministério e se tornou “ministro”, alguns deles já cumpriram pena de prisão.
Para evitar ao máximo que o governo crie embaraços para si mesmo, existe a figura da procuradoria geral. Quando o governo quer propor uma nova lei, ela é quem diz se a lei é legal, ou se fere algum princípio. Se o governo quer apontar alguém para determinado cargo, ela pode ir contra e apresentar suas razões. Normalmente o governo acata os pareceres, mas não este governo.
Com a proposta de melhorar o balanço de poder entre o governo (executivo + legislativo) e a justiça (Suprema Corte), eles propuseram passar uma série de leis que tira da justiça qualquer poder de conter o governo quando ele ultrapassa os limites da razoabilidade. É o caminho clássico para uma ditadura.
São propostas de cunho fascistas, que visam dar ao governo o poder que faltava, o de fazer justiça. Desta maneira eles seriam responsáveis pelo executivo, legislativo e justiça. Poder absoluto capaz até mesmo para decidir que não é preciso mais eleições.
É por conta disto que a cada sábado mais e mais pessoas aderem as manifestações. Somam-se aos dias de resistência com diversas ações de luta por todo o país. O tráfego de veículos é interrompido em diversos pontos, manifestações em entroncamentos, paralização do trabalho etc.
Hoje será o décimo sábado seguido de manifestações nacionais. Nem mesmo o atentado de quinta-feira em Tel-Aviv, depois de um dia de resistência impedirá que saiamos as ruas.
Até o momento a situação é de total impasse, onde nem mesmo o presidente consegue acalmar os ânimos. Isto deve-se a duas razões. A primeira de que as manifestações são lideradas por dezenas de organizações civis, sem a participação dos partidos políticos. A segunda de que a oposição política não aceita negociar enquanto o governo não congelar o andamento de suas propostas, o que se negam a fazer.
Também já começam a surgir a separação de amizades, problemas dentro das famílias a exemplo do que aconteceu no Brasil entre bolsonaristas e não bolsonaristas. É uma bola de neve descendo a montanha.
Em meio a este caos social e político, o Ministro do Interior, o palhaço do Tik-Tok como é chamado o extremista de direita Bem Gvir, determinou quinta-feira passada, que o chefe de polícia de Tel-Aviv fosse transferido para um cargo subalterno, em razão de não ter empregado força suficiente contra os manifestantes na cidade. O chefe de polícia geral obedeceu. A procuradora determinou que o ato não era válido e ficava suspenso até que fosse verificado sua legalidade, e assim um novo imbróglio surgiu.
Enquanto isto a Arábia Saudita e o Iran reataram relações diplomáticas depois de vários meses de discussões intermediadas pela China. O atual governo culpa o anterior, e vice-versa. Para os israelenses o que realmente importa é se vamos poder continuar usando o espaço aéreo dos sauditas para voar para o Oriente.
O país está fervendo. Atentados semanais, colonos realizando pogroms, população nas ruas lutando para preservar a democracia e o primeiro ministro viajou por 3 dias para Roma. Foi conhecer a nova primeira-ministra italiana em um encontro de uma hora. Sim aquela com um passado fascista e um presente ainda incerto.