A Rota das Lágrimas (Trail of Tears)– alcunha dada ao genocídio de índios pelo governo americano-, é uma cicatriz aberta na história dos EUA, deixando mais um rastro de desonra no marco da colonização no que tange às primeiras nações. Apesar de terem lutado para permanecerem em seus territórios originais, cinco nações foram deslocadas pelo Ato de Remoção Indígena– uma lei federal que vigorou entre 1830 a 1850 para a remoção pacífica dos índios, visando a permanência deles no leste do Rio Mississippi. Um dos motivos da transferência foi o ouro e as outras riquezas encontradas nas terras indígenas, principalmente as dos Xeroques. Lamentavelmente, em 1831, os indígenas, forçados a fazerem o translado, foram brutalmente assassinados no caminho. Além das lágrimas vertidas pelas milhares de famílias que perderam seus entes queridos durante a rota, bem como o suor propriamente dito da longa caminhada, uma grande mácula de sangue ficou registrada na morte a sangue frio de anciãos, mulheres e crianças durante o percurso. Muitos perecerem de fome ou não resistiram às doenças transmitidas pelos homens das tropas que os conduziram.
Dois séculos após, o que encontramos no estado de Roraima é uma outra rota das lágrimas dos yanomamis brasileiros, seguida do mesmo raciocínio de extermínio. Garimpeiros, ávidos por lucrar com o ouro das reservas dos indígenas, destruíram seu habitat natural, impedindo, pelo punho da arma de fogo e força, que ajuda médica chegasse à população, produzindo, assim, uma condição de precariedade nunca vista nesta nação. As terríveis fotos de crianças yanomamis, desnutridas por causa da poluição da terra e dos rios por conta da grilhagem, só são superadas pelas da Etiópia no ápice da guerra civil em 1984. Fotos estas de cidadãos cadavéricos cujas imagens produziam reações viscerais no público.
Em geral, os órgãos responsáveis pela tutela das minorias foram desbaratados no governo de Bolsonaro num projeto para alavancar (sem nenhum requinte e pudor, porque “a boiada passou”) os mecanismos do capital predatório no país. Evidentemente, a rota das lágrimas não é o primeiro e nem o único projeto de exterminar índios. Entre 1518 a 1521, Hernan Cortês dizimou os astecas no México, em 1622, O capitão Smith tombou 500 em Jamestown- ex-colônia dos EUA, a Tierra del Fuego, a Argentina e o Chile perderam seus Selk’nam nos séculos XIX e XX, os aborígenes australianos sucumbiram aos europeus, e a lista vai e vai. Por que, então, Bolsonaro livraria os yanomamis?