Porto Alegre, 18 de maio de 2004.

 

Caro Jô

 

 

Venho por meio desta solicitar que a entrevista concedida no dia de ontem (17/05), não vá ao ar pelas razões que vou descrever.

Antes de tudo permita-me te agradecer pela entrevista concedida ao Jô Onze e Meia, no SBT, no ano de 1999. Naquela ocasião buscastes compreender o funcionamento da tecnologia que recém surgia no mercado. Tivemos uma parte séria e depois brincamos com o pessoal da banda. Esclarecemos ao seu público como funcionava esta revolucionária tecnologia explicando desde o surgimento do Polígrafo até a invenção israelense.

Infelizmente desta vez, parece-me que tudo que podia dar errado aconteceu. A Lei de Murphy triunfou.

Há cerca de um mês através do teu site um e-mail contando que pela primeira vez no Brasil, uma pessoa tinha sido inocentada em um tribunal com a ajuda de um laudo meu. Explicava o ineditismo deste fato num país que nunca conheceu o Polígrafo. Duas semanas depois, recebi um telefonema da tua produção perguntando-me se eu gostaria de participar do programa. Aceitei e na sequência a menina da pré-entrevista me contatou. Expliquei a ela quem eu era, o que fazia, as diversas histórias que eu colecionava ao longo destes anos atuando com o equipamento, e que dispunha de um novo produto chamado Detector do Amor. Também expliquei a ela que tenho um contrato com a Rede Bandeirantes para me apresentar semanalmente no Programa Boa Noite Brasil com exclusividade. Importante aqui ressaltar que só fui ao seu programa depois que devidamente autorizado pelo diretor do programa em consideração a sua pessoa, visto que nunca, apesar de constantemente assediado, fui autorizado a isso.

Com relação ao Detector do Amor, expliquei que este programa (assim como toda esta tecnologia), só funciona no mundo real. Seria preciso conversar com pessoas realmente apaixonadas para poder se fazer alguma demonstração. Ela então sugeriu aproveitar a campanha da namorada no maestro, para convidar algumas delas para falarem ao vivo.

Concordei e disse a ela que seria perfeito.

A data inicial que foi marcada teria sido na quarta-feira passada. Tudo certo liguei na segunda-feira pela manhã para confirmar. Tudo certo, me disseram. Então, como costumo fazer nestas ocasiões, marquei uma série de compromissos em São Paulo. No início da noite me ligaram para passar os dados do voo, e logo a seguir para desmarcar tudo. Como resultado disso, tive de ir a São Paulo de qualquer forma, pois alguns compromissos ficaram impossíveis de serem adiados.

Durante a semana, foi então definido que a gravação seria nesta segunda-feira que passou. Inicialmente me comunicaram que a gravação iria ao ar no mesmo dia. Por educação avisei alguns familiares e amigos próximos. Pouco tempo antes do início me avisam que a gravação não iria mais ao ar nesta segunda-feira, e que provavelmente ficaria para dentro de 20 a 30 dias. Novamente por educação, liguei para os familiares e amigos comunicando o ocorrido.

Tudo isso seria perfeitamente compreensível e até relevável se não fosse o que ocorreu durante a gravação. Para minha surpresa não tivestes sequer a delicadeza de me apresentar de forma condizente. Te voltaste diretamente para o Detector do Amor e fizestes justamente o que não podias fazer. Pedistes ao convidado anterior tendo presente na plateia sua esposa para fazer uma declaração de amor para a primeira convidada! Não obstante minha insistência de que não funcionaria assim, insististes em chamar pessoas que nada tinham para ser testado deixando no ar a impressão de que o programa não funciona.

Ao retornares quisestes testar o Detector de Mentiras sem ao menos perguntar o que era, como funcionava, quem havia inventado etc. Eu tive de provocar isso. Ao perceber que irias tratar o programa com o mesmo desdém tomei o cuidado de te informar que o programa não detectava bobagens. Ainda assim continuastes querendo que o programa desse algum resultado. Para coroar a noite forçastes uma mentira e ficastes discutindo comigo que não se tratava de uma história mentirosa. Neste ponto não estava mais ocorrendo uma entrevista, mas um bate-boca.

Na sequência cometestes a primeira grande indelicadeza. Ao te informar que esta tecnologia já era utilizada no mundo inteiro, colocastes deliberadamente em dúvida minha afirmação para na sequência repetir a pergunta para que eu respondesse no microfone ligado ao programa. Estavas me chamando de mentiroso. Sabias que era necessário calibrar o programa e mesmo assim dissestes no ar que minha resposta não era verdadeira, tendo eu que explicar que o programa não estava calibrado para a minha voz.

O pior ainda estava por vir. Ao informar por intervenção do convidado anterior, que já tinha um laudo desde o ano de 2001 em meu site, dizendo que Paulo Maluf mentia ao dizer que não tinha contas no exterior, e que suas contas não eram superfaturadas, tratasse disso com desprezo como se todos os políticos fossem corruptos e este dado nada significava. Tentei te mostrar que estavas sendo indelicado e falei do laudo do Gil Rugai que também não destes maior importância. Contei sobre o uso pela primeira vez no Brasil, durante um tribunal do júri que absolveu um réu acusado de ter mandado sequestrar e matar sua noiva (a razão de toda a entrevista) e para coroar a noite tu dizes que seria uma leviandade da justiça levar isso em consideração, ou seja, que eu estava sendo leviano em buscar fazer justiça.

Para tua informação, cerca de 20% dos presos brasileiros pagam por crimes que não cometeram. O uso desta tecnologia pode ajudar a polícia a trabalhar de forma mais inteligente. Pessoas inocentes poderiam ser logo dispensadas e os verdadeiros suspeitos melhor investigados. Isso faria com que os inquéritos fossem mais bem elaborados e concluídos em menos tempo aumentando a eficiência da polícia.

De toda forma gostaria de deixar claro que na minha opinião fostes extremamente agressivo durante o programa (pegaste pesado na opinião dos outros entrevistados), desrespeitoso para comigo na condição de teu convidado (inconveniente na opinião dos meus amigos presentes na plateia) o que tornou o que poderia ter sido uma boa entrevista, num enorme bate boca que não prestigiam a mim e muito menos a ti.

Por tudo isso estou esclarecendo que não autorizo o uso de minha imagem ou voz gravadas para aparição em seu programa.

Em havendo interesse de sua parte em refazer a entrevista de forma a esclarecer as pessoas do uso desta tecnologia, como o fizemos há 5 anos, pode contar comigo, de outra forma declino.

Com apreço,

Mauro J. Nadvorny