Quer ser um Juiz de Direito, um brilhante Advogado, um Delegado de Polícia, um Defensor, um Professor ou um combativo membro do MP?
Quer? Quer mesmo?
Então, deixe de ser patife, perfumadinho, engomado tipo brilhantina, churrasqueiro, alegrinho e babaca de bunda erguida. Rasgue todo e qualquer resumo e sinopse e não seja um típico “repetidor”. Abra o cérebro para entender e criticar o sistema e, abra, também, o coração, de modo pródigo, para não deixar de ser humano.
E, assim, vá fazer estágio na favela, no morro, na rua, no cortiço, no metrô e ônibus lotados, na fábrica, nas filas do hospital, na encosta do barranco onde seres humanos habitam, abandonados completamente.
Vá conhecer o sistema prisional, animal, irracional, onde seres humanos são desfeitos em carne e ossos!
Vá às fazendas mais distantes conhecer escravizados de verdade e, ainda, freqüente aldeias indígenas e deixe que eles, os índígenas, falem ao seu coração!
É para isso que precisamos de Juízes, Advogados, Delegados, Defensores Públicos, Professores e Promotores de Justiça, e este é o exame, ou seja, o quanto você consegue, neste estágio, manter-se humano, consciente, portas abertas, coração vivo e, após tudo, descobrir que não existe um cargo à sua disposição, com um salário confortável, mas, uma possibilidade para atuar na porra deste mundo desumano e injusto e, com isso, fazer algo, algo substancial, algo humano que, finalmente, não lhe deixe sentir vergonha de si mesmo e, sobretudo, não lhe permita ficar correndo, de porta em porta, atrás das tetas públicas!
© Pietro Nardella-Dellova, in “Palestra Sobre Direito Crítico”, PUC/SP, 1998