Não dá para perder a mostra de fotografias de Porto Alegre do fotógrafo judeu nascido na Ucrânia Sioma Breitman. Está no Santander Cultural, e os painéis ocupam todo o térreo, com reflexões do artista sobre a fotografia e a vida. Ele dizia que a técnica se aprende, o conhecimento se compartilha, e o talento se exercita. Nasceu na cidade de Olgopol, em 1903, Ucrânia, filho mais velho de Nissin Breitman, que era fotógrafo. Em 1923, chega ao Estado após passar uns anos em Buenos Aires, onde também trabalhou em fotografia. Suas fotos da enchente de 1941, que levou a cidade a construir o nosso muro da vergonha, estão na exposição. Também os retratos de Getúlio Vargas, Erico Verissimo, muitas noivas e pessoas desconhecidas. Fotos que resistem ao tempo e podem ser conferidas na exposição do Farol Santander, que terminará no domingo, dia 24 de abril (esse dia será grátis).
Não dá para perder, pois são fotos que já viajaram o mundo, com exposições em Paris, Estados Unidos, Israel, Portugal, Espanha, Brasil, entre outros. Sioma Breitman usava, segundo uma das curadoras da exposição, quase sempre uma única fonte de luz, era um escultor de luz e sombras, pois ele realmente fazia o que queria com essa única fonte de luz. Meu primo Wremyr Scliar conheceu o Sioma, e numa entrevista descreve como era esse artista que precisa ser mais conhecido. Relembra os laços que ligam as famílias Breitman e Scliar desde que saíram da Ucrânia: “Sioma morou um tempo em Cachoeira do Sul, e seus irmãos eram casados com minhas primas-irmãs. A relação com Sioma era estreita, já que ele se ligava por esses laços de parentesco aos Scliar. Foi nesse período, final dos anos 1940, que conheci Sioma. Eles sempre vinham de Cachoeira do Sul para os aniversários e visitas aos demais membros da família Scliar”.
“Desde cedo, ainda adolescente, Sioma interessou-se pela fotografia, inicialmente como aprendiz num estúdio em Kiev”, segue contando Wremyr. “Ele participava ativamente da vida comunitária judaica no bairro Bom Fim. Extrovertido, uma figura elegante, com voz e opiniões muito firmes, ideias avançadas. Me lembro de dois episódios, típicos da sua personalidade. Ao final da Segunda Guerra, na Praça da Alfândega, durante a celebração da vitória dos aliados, ele retirou seu manto vermelho e pediu para que fosse hasteado, incluindo assim a União Soviética na homenagem que se realizava. Como a banda militar não possuía a partitura do hino soviético, Sioma propôs que ela tocasse novamente a Marselhesa, que fora tocada em homenagem à França. Criou o primeiro curso de russo da UFRGS. E, no auditório daquela universidade, foi o leitor-intérprete, instantâneo, na cabine de som, das legendas em russo de um memorável festival de cinema russo. Sioma, mais do que fotógrafo de personalidades, era, ele mesmo, uma personalidade humana e criadora, respeitado e admirado.” Sugiro a quem se interessar um belo curta-metragem sobre Sioma Breitman que está no YouTube, feito pela fotógrafa Eneida Serrano e uma grande equipe.
Por fim, na exposição há uma foto de 1960, com integrantes do grupo alemão Zugspitz Artisten, que caminharam num cabo de aço da Prefeitura Nova ao Edifício União. A foto foi tirada quase da altura do equilibrista, ele está de costas, com um capuz preto. Uma multidão assistiu ao espetáculo, e, se olharem bem, verão que eu estava lá no meio da multidão. Nunca vi nada igual. Acreditem, não dá para perder as fotos artísticas de Sioma Breitman, um amante da cidade e do País, que veio da Ucrânia para Porto Alegre e, por ser sábio, ensinou: “A técnica se aprende, o conhecimento se compartilha, e o talento se exercita”.