No azul
destes céus do rosto risonho,
rasgados os véus,
eu crio o sonho – o sonho é branco
e um jardim de flores perfumadas,
os amores da amada
(do rosado, às vezes, cor de trigo)
(e ela me envolve em abrigo feito seda clara)
tão rara, tão alva e transparente de fios azuis,
que me guiam ao peito e aos seus rios e risos,
insinuantes e graciosos,
em que sou navegante pelos céus azuis da amada
que vem como brisa,
porque o seu Poeta tem o amor mais doce,
o amor mais puro, o amor mais delicado,
o amor mais inocente,
o amor mais liberto e intenso – amor-suavidade!
E este
amor não me faz pedinte,
não faz de mim
um homem triste,
este amor me faz completo:
um Homem-Poeta!
Sou, então,
homem livre
livre para voar e estar,
e andar:
livre para viver
e receber da natureza a Poesia
e ter
liberdade para respirar
o ar que se me entrega
e não quero destruir notas tais,
maravilhosas.
Sou
homem livre
para pensar
e não pensar
e seguir
o caminho que seguir
e rir com voz alta,
livre para estar
além da pauta…
Sou homem livre
da humana morte
e não espero ser forte
espero
ser.
O amor do Poeta é amor que humaniza
porque
aquela mulher
bebeu do amor,
sentiu
todos os poros
e converteu-se
em Mulher-Poesia
na experiência de terra-céu-encanto….
Adiante estou leve,
pois levo comigo a certeza de que tenhas sido amada,
muito amada, amada plenamente na leveza…
agora, trago-te uma vez mais a gratidão
por ter amado mulher, assim, tão única, tão linda, tão vida…
Vai agora, amor – vou também,
abre bem as tuas asas
e voe como águia nas alturas,
e sejam tantos os mundos,
tantas serão as criações do amor
com a mulher amada,
cujas faces trazem a lua e a descoberta!
© Pietro Nardella-Dellova
Conversa de Corredor, in “A Morte do Poeta nos Penhascos e Outros Monólogos”. São Paulo: Ed. Scortecci, 2009, p. 73-86