Ao contrário do que muitos pensam – e defendem – as pautas econômicas e, em especial, o Ajuste Fiscal, não são os mais importantes, pois a Economia depende quase nada do cenário interno e muito, muito mesmo, do cenário internacional – que anda se arrastando…

As pautas mais importantes que, por vezes, escapam à análise, são aquelas que se referem à Pessoa, à Sexualidade e aos Direitos Fundamentais. Pois bem, está em curso – e não vai parar, pois é a doentia ideia fixa da Bancada Religiosa, uma assustadora gama de apresentação de projetos e aprovações açodadas que dizem respeito diretamente à Repressão Sexual e contra a Liberdade do ser humano Integral (corpo, emocional, intelectual e relações sociais). Por quê?

Porque é na repressão sexual e na guerra declarada contra a liberdade sexual, que os religiosos unidimensionais, teológicos e hierarquicamente excludentes, de caráter patriarcal e fálico, mantêm-se no domínio e no poder social (digo, com poder de morte sobre pessoas!). Reconhecer a pluralidade sexual, a liberdade sobre o próprio corpo é, e sempre foi, um assunto proibido.

É na religião unidimensional e patriarcal, especialmente no contexto medieval, que nasceu a absurda (e insustentável) masculinização da divindade. É na teologia medieval que o “Elemento Feminino” (Ruach HaElohim) foi substituído pelo inexplicável “Espírito de Deus”. É na teologia patriarcal que Lilith, a libertária, desaparece de cena sendo substituída pela contrita e silenciosa Eva, a pecadora – e culpada dos males do mundo. É na teologia medieval que um Mestre do Judaísmo, Jesus, perfeitamente casado, é tornado um inexplicável celibatário.

É na mesma teologia medieval que a mãe do citado Mestre se torna uma virgem (apesar de ter sido mãe de vários outros filhos!). É na teologia medieval que o adultério é atribuído apenas à mulher (especialmente a partir da falsa história da adúltera sendo trazida aos pés de Jesus (há adúltera, mas não adúltero na historieta repressiva!).

É na teologia medieval (e a partir dela) que os males do mundo são identificados com bruxaria e, por sua vez, bruxaria com “libertinagem” sexual. É na teologia medieval, travestida de reforma, que a repressão sexual encontra o ápice. É na teologia pós-medieval, agora, travestida de pentecostalismo e neopentecostalismo (expressão maior da Bancada Religiosa no Parlamento brasil-eiro), que a repressão à sexualidade é ideia fixa, pois sexualidade é, por esse grupo (bancada dos versículos!), relacionada diretamente com “espíritos imundos”.

As perversões religiosas e a repressão sexual não têm caráter de fé ou de crença, mas de domínio, haja vista que é na sexualidade que uma pessoa se liberta, especialmente da autoridade (artificial) e de toda organização hierarquicamente piramidal.

Para sustentar o poder e a exploração econômica é necessário manter a “ordem das coisas” e, por ordem das coisas a Bancada entende a manutenção da “família matrimonializada”, já que é ela – e não outra – a expressão maior da Propriedade, do “domus“, do “famulus“, da “patria potestas” e do “paterfamilias“!

Enfim, a única que atende à opressão e exploração que aí estão – e que aí pretendem continuar…

Por isso mesmo, o mais importante não é a pauta econômica, mas a pauta da sexualidade (que envolve muitas coisas!). Opor-se veementemente a tais pautas, projetos e desatinos é, a um só tempo, fazer guerra contra a repressão, contra a opressão, contra o retrocesso e contra a patifaria sistêmica no Parlamento, mormente contra a bancada dos versículos (neopentecostal!).

Opor-se a tais pautas é manter-se no processo de emancipação da Pessoa Humana e no processo da Libertação de toda e qualquer Pessoa Humana!

Prof. Pietro Nardella-Dellova, 2015