Tenho descrito os fenômenos primários e secundários da pandemia da COVID-19 como uma verdadeira síndrome. Chamamos de síndrome quando um determinado conjunto consistente de sinais e sintomas se apresenta não tendo necessariamente as mesmas causas. A má resposta à pandemia em muitos países ou regiões, embora com os mesmos resultados catastróficos, pode ter raízes variáveis, desde as condições puramente biológicas determinadas por questões geográficas, demográficas, etnográficas, até aquelas que dependem unicamente da ação política de governos. Entretanto, vejo como participante obrigatório, ainda que em níveis diferentes de intensidade, o fator educação.
O que temos visto em diversas sociedades (que de algumas jamais se esperaria isto), é que a vulnerabilidade que populações inteiras tiveram aos fenômenos biológicos e políticos da pandemia foi determinada certamente por verdadeiros abismos desconhecidos nos processos educacionais, no que se inclui a educação médica, infelizmente. Sem estas imensas e profundas falhas na formação dos indivíduos, jamais haveria massa crítica ou caixas de ressonância para o volume de desinformação, na maioria das vezes, criminosa, que levou a perdas vultosas de vidas e tantos prejuízos aos sobreviventes, seus próximos, e à sociedade.
Um dos aspectos mais trágicos é o que se verificou consistentemente por estudos robustos, que encontraram uma correlação linear entre o perfil político de cidades ou regiões e o grau de acometimento fatal e não fatal pela COVID-19. Quanto maior a proporção de votantes no presidente Bolsonaro, maior a incidência e número de mortes, sendo a relação inversa também verificada com clareza.
Estima-se que no Brasil, só no ano de 2020 foram demandados 524 bilhões de reais em custos diretos relacionados à pandemia, número que certamente se repetirá em 2021 com viés de alta. Este número é talvez superior a todo o orçamento da educação de um ano no país.
Será uma tarefa vultosa a dos cientistas sociais, pedagogos, historiadores, jornalistas, filósofos e agentes políticos a de esmiuçar com voracidade o volume de dados e informações sobre este período sindrômico que vivemos, pois a próxima pandemia ou o próximo evento planetário está a caminho, é uma questão de tempo. A geração dos mais jovens e as que virão devem ser providos de vastas doses de novas “vacinas”, estas formadas por uma nova educação que tenha a competência de pelo menos reduzir significativamente a vulnerabilidade intelectual das populações aos embustes produzidos massivamente pelas mídias, por um lado, e por sistemas políticos perversos por outro lado, sob pena de perpetuarmos esses ciclos patológicos que geraram o nazifascismo, que retornaram na década de 1980 com o neoliberalismo, e que pavimentaram a eclosão desse sistema tão destrutivo que nos assola cruelmente no momento.