Na inocência dos dias, Laura e sua irmã andavam de mãos dadas trocando sonhos pelas ruas do vilarejo quase inóspito.

As duas paravam de vez em quando para colher uma florzinha que teimava nascer entre o meio fio e a calçada. Elas se olhavam e a cumplicidade dessa alegria ingênua as levava a darem um passo alongado e gritavam: um, dois e três! Continuavam…

Como se a flor adivinhasse os sentimentos das duas, as pétalas iniciavam o processo de despedida da beleza que espraiava no concreto da vida, iam caindo e a leve brisa as levava para outros destinos.

Pairava de repente o silêncio do mundo e dos anseios das meninas. Laura apertava com mais força a mão da irmã entre a sua. Elas sabiam que no próximo verão tudo mudaria. O pai já havia determinado o destino de uma delas. A irmã teria que ir para outras plagas para trabalhar e ajudar à família que passava por tempos difíceis. Elas sabiam que não podiam recuar ou até mesmo interferir no assunto. O tio da capital já havia providenciado tudo.

Laura ousou dizer quase em sussurro a sua saudade e que nada mais seria tão venturoso. Ela teria que ler os livros e não ter com quem conversar, pois quem mais a incentivava era a irmã, pois após narrar a história, Laura escrevia uma carta ao personagem que ela mais gostava. Assim, ia desenvolvendo a arte da escrita e sua irmã empolgada com o fato, sempre dizia que ela seria uma grande escritora.

Laura solta a mão da irmã e para quebrar essa sensação de partida, fala: “quem chegar por último vai…” Não terminou a frase, ficou pálida e em um ínfimo segundo, caiu e desfaleceu. Sua irmã grita por socorro, mas nada a acordará.

Apenas três pedras e um livro foram colocados no túmulo de Laura. O verão chegou desalinhando a paisagem e sem muitos desejos, ela pensa mais uma vez em Laura, entra no trem e o vilarejos vai se distanciando sem nenhuma despedida. Apenas a certeza de nunca mais voltar.