Na semana passada, o presidente do STF, Min. Luiz Fux, protagonizou, em harmonia com todas as formas de degradação moral, ética, filosófica, política e mental que o país empreende neste período indizível de nossa história, duas cenas horripilantes. Certamente os fatos não tiveram a devida repercussão nas grandes mídias, ressalva feita ao jornalista Reinaldo Azevedo, que em sua magistral aparição no programa “O é da coisa” edição de 27/11 verdadeiramente pontificou sobre a tragédia moral daquele ínclito cidadão ora comandando o maior tribunal da América do Sul.
Da mesma forma que Bolsonaro, Luiz Fux nunca escondeu quem é e o que é. A mais que famosa e emblemática entrevista que voluntariamente concedeu a Mônica Bérgamo na Folha de S.Paulo há alguns anos revela candidamente o tipo de sangue que corre naquelas veias de um ser rastejante e pobre de espírito, ainda que o seu cinismo possa denunciar alguma característica filogenética superior compatível com certos mamíferos de quatro patas.
Em evento do meio jurídico, Fux fez alusão ao “silêncio de muitos” que permitiu os horrores do Holocausto, colocando isto no mesmo nível que o “silêncio de muitos outros” que permite que a corrupção campeie nas planícies da República. Sim, o deplorável ministro colocou no mesmo nível o melhor exemplo de mal absoluto que a humanidade já perpetrou com a gatunagem vulgar mais que arraigada em todos os governos de todas as repúblicas. Comparou assim, propina com genocídio em massa orientado. Faltam palavras para descrever tamanho descalabro, tamanho sofisma, tamanha afronta à dignidade humana, aos milhões de mortos pelo nazismo. E o pior de tudo: Fux é judeu, e como tal, tem o dever moral, ético e intelectual de saber distinguir entre as categorias de corrupção que não são dirigidas a nenhum grupo e que não são específicas de qualquer categoria ou nação, que sempre estão ao alcance da lei – desde que o poder judiciário assim queira, de forma imparcial e democrática – e as categorias de corrupção fundadas na ação de estado e dirigidas e acumpliciadas pelo seu respectivo poder judiciário e que condena povos à morte da forma mais brutal que se possa imaginar.
Se não bastasse isso, Fux prega que “não vai tolerar ataques à Lava-a-Jato”, como se esta “grife” sórdida que se vende como combate à corrupção já não houvesse confessado de forma suficiente seus desvios e pecados que levaram a soberania do Brasil à banca rota. Agindo desta forma, Fux atinge diretamente colegas seus de tribunal que sabidamente posicionam-se há muito tempo contra os abusos de Sergio Moro, Dallagnol e outros, sobre quem a cada dia pairam seríssimos questionamentos sobre sua conduta ética, legal, e sobre a constitucionalidade de seus atos. É sabido que muitas vezes o STF dividiu-se em 6 a 5 sobre questões envolvendo direta e indiretamente os feitos da Lava-a-Jato. Com todo esse voluntarismo, Fux joga gasolina na fogueira que ainda está longe de esgotar seu combustível natural. Este comportamento de “juiz de condenação”, como bem descreveu Reinaldo Azevedo apenas consolida a visão da Lava-a-Jato como uma das mais distorcidas iniciativas jurídicas de nossa história. Novamente, recorrendo à sua origem judaica que com ele compartilho, para a minha vergonha no caso específico, comporta-se Fux de forma alheia à tradição ética talmúdica que serve a tantos grandes juristas como fonte de formação, informação e debate, mas acima de tudo, como fonte de parâmetros éticos para que os julgamentos sejam corretos, isentos, e baseados em princípios humanísticos.
Em certa medida, o Fux revelado na famosa entrevista não decepciona quase nunca, construindo assim pelo menos uma certa “segurança” que dá previsibilidade ao seu comportamento. Mas, infelizmente, seus comportamentos concernentes ao STF desde antes de sua indicação só fazem aumentar a percepção clara da tragédia que se constrói no STF desde a sua posse, e que só fará aumentar ao longo do tempo, até que alguma outra tragédia tire o “brilho” desta que é Fux, já que tudo indica que apenas um fim trágico pode interromper a trajetória deste ser tão detestável e envergonhante.