A vassoura é um objeto humilde, vive escondido, envergonhado. Desde criança vi vassouras sem fim, sejam as de palha, como as feitas por galhos, dos varredores de rua. Vassoura é o símbolo da limpeza impossível, pois o pó e a sujeira sempre voltam. Tristes os maniáticos por limpeza bem como os que vivem no meio da sujeira total. Bobagem, é claro, cada um vive como pode, sem regras de limpeza ou de sujeira. No meio de certo tédio, fiquei espantado com uma vassoura que foi a ponte entre uma mendiga e um analista. Nunca li sobre a relação entre um colega e uma moradora de rua, pois um mendigo dificilmente conhece um psicanalista. Os que vivem em pobreza extrema são obrigados a pôr todos os seus esforços em se alimentar e dormir. Um mendigo tem uma vida de sobrevivência, já um analista teve a chance de estudar e assim vive de escutar histórias. Definitivamente, vivemos em uma sociedade desequilibrada, são muitas as injustiças. Logo, os personagens dessa história são quatro: a vassoura, uma mendiga, um analista e um mundo enlouquecido.

Tudo começou quando a mendiga que caminhava na rua perguntou ao analista: “Tens uma vassoura velha para me dar?”. Ela era uma senhora com roupas que arrastavam pelo chão, com duas panelas velhas e pedaços de papelão. Primeiro foi um choque, os dois se olharam intrigados, curiosos até, e ela então se aproximou do colega e perguntou se ele tinha uma vassoura. Não haveria história se o analista se fizesse de surdo, mas, felizmente, disse sim. Quando ela havia se aproximado, ele pensou que iria lhe pedir dinheiro ou comida e já pensava em dar uma esmola.

Quando a mendiga recebeu a vassoura, foi logo varrendo seu espaço na rua, pois desejava um lugar limpo para suas panelas e roupas. Às vezes, varria toda a rua, como se fosse uma dona de casa. Um dia, ela queria pegar água no jardim e perguntou se podia, e o colega, mais uma vez, disse que sim. Então, ela falou mais ou menos assim: “A vida não é fácil! Já tive carro, trabalhei em escritório, mas é tudo bobagem… Não quero saber de mais nada. Vou levando minha vida. As pessoas correm atrás disso, depois daquilo, e depois morrem. Vou levando minha vida, moro na rua. Tudo é bobagem. Não quero saber de nada, nada é importante…”. O colega poderia silenciar, no entanto, disse: “Uma vassoura, às vezes, é importante…”. Os olhos tristonhos da mendiga sorriram. O sorriso, muitas vezes, confirma a interpretação, pois o colega, ao dizer que uma vassoura, às vezes, é importante, surpreendeu a senhora, que havia falado com tanta raiva da vida.

Como e por que a mendiga deixara seu trabalho, sua casa, seu automóvel, para viver na rua? Abandonou tudo após uma desilusão, exilou-se do seu mundo para se tornar uma mulher de rua. Que traumas a levaram à mais terrível solidão? Eis uma história que daria um livro entre a ficção e a realidade. Interessante como o fato de pedir uma vassoura revelou sua educação de cuidado com a limpeza. Um dos aspectos dessa história da mendiga é que ela não tem nome, aliás, os mendigos em geral não têm nome conhecido, são ignorados em seu nome próprio. São completamente marginais na sociedade. Todos buscam passar longe deles, poucas vezes recebem alguma atenção.

Uma simples vassoura é importante, assim como um fogão, um brinquedo, um toca-discos, marcam a vida. São mais que simples objetos, fazem parte da história de cada um. A importante vassoura foi uma ponte entre a mendiga e o analista, num diálogo espantoso. As boas conversas são inesquecíveis, são carícias na alma.