Estava a assistir uma série num desses aplicativos, e na cena que seguia, havia um hospital de campanha, muitos feridos, enfermeiras e médicos exaustos, quase anestesiados diante de tanta dor e sofrimento. Talvez eu conheça um tanto dessa pseudo sedação, às vezes é preciso endurecer a cerviz. Mas foi na cena seguinte, onde na saída daquele hospital, pessoas gritavam, buzinavam carros, e festejava, uma mulher parou diante da enfermeira exausta e que trazia em seu corpo e vestes, o sangue do último soldado que havia atendido, e a mulher sorridente, disse a enfermeira: você não sabe? Acabou a guerra, a guerra acabou, e entregou-lhe uma garrafa de bebida e seguiu com os demais, foram comemorar. A enfermeira permaneceu inerte, carente de emoções, abriu a garrafa que lhe foi entregue, e sorveu o líquido como se quisesse assim, resgatar a sua alma, que há muito, já a abandonara.
Olho o mundo a minha volta, o percebo tão cheio de enfermeiras exaustas e descrentes da vida, são seres com ausência de emoções, porque sobreviver a essa guerra é preciso. As batalhas se multiplicam a cada dia, são travadas em campos estéreis de emoção, alimentadas por tanta solidão. São fronteiras que se fecham, asas que já não conseguem voar, respirações ofegantes, pulmões que colavam. Existe uma guerra sombria, de razões obscuras, de mortalidade exacerbada, uma guerra que não respeita os civis, que desconhece as leis internacionais, e assim, é capaz de abater sem misericórdia, o inocente comum, a criança, a mulher, ainda que grávida. E eu, sinto que poderia ser essa enfermeira, que precisou abster-se dos sentimentos para sobreviver, porém, sigo lutando, resistindo e alimentando a esperança, de que dias melhores virão!