O voto pelo perdão das dívidas das Igrejas no Brasil de parte do PT e pela totalidade da bancada do PCdoB, e o colapso na gerência da pandemia em Israel, tem muito mais a ver do que parece a primeira vista. É a política mostrando suas incoerências, ou coerências, dependendo da perspectiva de quem lê. É a religião se prosmicuindo com a política.
A nota o PCdoB, para explicar seu voto, entre outras coisas disse o seguinte: ”Para o PCdoB, a ação fiscal do Estado deve estar dirigida ao combate à fraude e ser direcionada prioritariamente aos grandes sonegadores, às pessoas físicas detentoras de grande patrimônio e não mirar ações sociais realizadas por instituições religiosas.”
Em outras palavras, o partido justifica o seu voto ao lado de todos os partidos de centro, direita e extrema direita, com a justificativa de que não se deve cobrar imposto das igrejas, deve-se sim, cobrar dos grandes fraudadores.
Do outro lado do mundo, o governo israelense que havia se saído com mérito no combate a pandemia na primeira onda, se viu obrigado agora a impor um novo lockdown de duas semanas no país depois de chegar a mais de 4500 infectados em um único dia desta semana.
Como é possível tal desastre? Aqui também existe o fator religioso. O Covid-19 impera principalmente nas localidades de judeus ultra-relogiosos e nas árabes. Em ambas, o uso de máscaras, luvas e evitar aglomerações é desrespeitado a luz do dia e a noite. Casamentos com milhares de convidados, desobedecendo as normas, vem sendo uma constante nestes lugares.
O governo tentou uma solução paliativa. Criou o sistema de cores por cidades e aldeias e tentou impor um lockdown nas localidades de cor vermelha. Os partidos religiosos se rebelaram e ameaçaram deixar o governo. Por fim, aceitaram um lockdown a noite, mesmo assim desrespeitado, e que todos sabiam, uma medida inócua.
Com o número de novos doentes diários subindo as alturas, não teve remédio, e a única opção, antes do colapso do sistema de saúde, foi o lockdown geral. Era o que ninguém queria, é o que todos vão ter. Infelizmente, a política da sobrevivência do governo foi imperativa. Se não é possível uma quarentena somente onde é mais necessário, vamos todos entrar nela.
Por trás destes dois eventos, está a relação religião e estado. O fato é que o PCdoB sabe perfeitamente que nem todo religioso é anticomunista e que boa parte do seu eleitorado é composto de crentes. Estas pessoas precisam dos seus templos abertos e, como explicam (sic), o governo não pode cobrar impostos de locais de culto. Nem vou falar da casa do Bispo Macedo.
Em Israel, os partidos religiosos há muito se tornaram partidos ideologicamente de direita. Seus 15 votos em média, são cruciais para a formação de um governo no sistema parlamentarista. Seu peso portanto extrapola em muito os cerca de 12,5% de representatividade que possuem. Mesmo assim, são cortejados e sabem do seu valor para literalmente chantagear o primeiro ministro com suas exigências. Por conta disso, o país inteiro vai parar durante 15 dias e terá enormes restrições nas duas semanas seguintes.
O fato é, que quando se trata de política, a separação dela do estado, vira uma obra de ficção. O estado em ambos os países, Brasil e Israel é laico no papel, na prática o que acontece é uma submissão as necessidades de cada um. Diante da necessidade de angariar votos, ou de formar um governo, é a religião quem dá a última palavra.
Não acredito que caiba uma discussão sobre as questões éticas e morais do que verdadeiramente acontece. Não existe uma solução democrática para isso. Onde ocorrem eleições democráticas, sempre vamos ter este problema. Uma discussão neste sentido não vai levar a lugar nenhum.
O que fica é aquela sensação de ironia no ar. No Brasil, comunistas votando junto com fascistas. Em Israel, uma coalizão formada para resolver o problema da pandemia, não podendo resolver coisa alguma, e portanto, podendo se dispersar e convocar novas eleições.
E assim caminha a humanidade.